Trazendo esta história para nós mesmos, irei associar muitos dos elementos desta vivência de Frodo com a teoria Psicanalítica, em uma visão Freudiana. O baú em que tantas vezes o hobbit foi ao encontro, corresponde ao nosso inconsciente – lugar escuro, pouco visitado e que carrega tantos mistérios. Já o Um Anel representa o Super-ego. Este nada mais é do que a autoridade externa que introjetamos e que passa a ser nosso direcionador em tudo o que fazemos ou pensamos em fazer – a partir dele passamos a nos punir e nos sacrificar em nome daquilo que ele considera correto para nós.
Podemos verificar que ao passar da história, o poder do Anel vai crescendo e se fortificando, passando a dominar cada segundo da vida de Frodo: assim também o é conosco – a partir da infância, passamos a interiorizar essa autoridade do super-ego de forma cada vez maior e quando chegamos à fase adulta, somos completamente controlados por ele e perdemos a noção do que nos proporciona prazer.
Se há um personagem em SDA que perde a noção de si e passa a se dedicar inteiramente em favor de uma coletiva, este é Frodo. O hobbit abdica de toda a libido (instinto de prazer) em prol de vencer as maiores dificuldades a fim de destruir o Anel.
O que acho importante de analisar os derradeiros momentos de Frodo é o quanto nos assemelhamos com ele. Na civilização do século XXI, o mal-estar que nos toma conta é grande demais e é quase como se tivéssemos um Sauron a correr em nosso encalço todo o tempo! Já não nos damos ao direito de fazer o que nos dá prazer ou alegria porque temos que trabalhar, pensar em algo para ganhar dinheiro, ver o outro ser humano como um ser que só quer competir conosco etc. É quase como se dia após dia nos tornássemos nâzgul e abandonássemos toda a essência humana que possuímos dentro de nós.
Thomas Hobbes já dizia que “o homem é lobo do homem”. Mas talvez estejamos indo longe demais e nos tornamos nossos próprios inimigos ao permitir que nosso super-ego se converta em um dragão de nós mesmos que somente visa a auto-destruição e flagelamento da condição de indivíduo. Não somos mais meras pessoas como no século XV: abandonamos a condição servil em favor da liberdade de cada um e a nossa construção de indivíduos. Então, não podemos ser nós mesmos os culpados pela nossa desgraça.