A raposa assim o fez, para o enorme espanto de Rarum. Morit apenas mostrou um sorriso troçador como quem diz “Eu disse!”. Pois é, como sempre o velho e sábio mago já calculava.
Depois Rarum lançou um olhar surpreendido para Morit e o mago respondeu-lhe com outro olhar, desta vez encorajador. Era isso que Rarum queria. Que o mago o encorajasse a testar o animal. E assim o fez:
-Senta – disse-lhe, imperativo. O animal sentou-se.
-Deita – ordenou-lhe de novo. O animal deitou-se. E depois de cinco minutos de treinos o animal só obedecia ao pequeno anão. Depois Morit disse:
-Está a ver? Ele tem inteligência sim! A prova é que aprendeu a língua corrente, provavelmente a ouvir as canções dos elfos da floresta.
-Devo redimir-me… desta vez tinha razão. Bem agora é preciso arranjar-lhe um nome!
-Sim mas nada melhor que uma boa refeição para nos inspirarmos!
Rarum nem precisou que lhe dissessem mais nada: esticou o braço, e retirou o cesto das traseiras. Sentada na abertura onde o anão tinha dormido os quatro dias antes de chegarem á floresta, estava a alegre raposa, esperando o seu pequeno-almoço. Rarum retirou os alimentos do cesto, entregou uma grande fatia de bolo de mel ao mago e cortou cinco grossas fatias de presunto que deu à raposa. Depois, entre uma dentada e outra no pão com geleia, Rarum disse:
-Bom pelo que vi, se é que me entende, é um macho. Ora agora é puxar pela cabeça. Ora deixe ver… que tal “Nocturno”?
-Não! É um nome feio para uma raposa! Eu preferia “Comilão”!
-Bah é um nome muito vulgar e infantil! E se fosse “Fugitivo”?
-“Fugitivo” porquê?
-Ora essa, porque fugiu das montanhas, é claro!
-Mas isso não faz o menor sentido! Nesse caso deveria ser “Perdido”, porque ele se perdeu! Uma raposa das montanhas não foge das montanhas!
-“Perdido” soa mal! “Vigilante”! Ele vigiou-nos toda a noite!
-Também soa mal!
-Espere! Tive uma ideia! E se fosse o nome do seu deus?
-O quê? “Olguin”?
-Exactamente!
-Bem eu preferiria o antigo nome do deus… “Luin”! É mais bonito!
-Sim realmente tem razão! Então está feito. Da próxima vez que o chamar digo “Luin” até ele se habituar!
-Muito bem!
Um sorriso desenhou-se na face de ambos os companheiros. Depois de comerem prosseguiram caminho . Passaram-se três horas, sem que nenhum dos dois se pronunciasse até que Morit disse:
-É estranho… os elfos ainda não nos abordaram. Bem aguardemos um sinal. O seu sentido de boa educação e gentileza é demasiado apurado para não convidar um anão para um almoço.
-Olhe ontem estive a pensar… da última vez que nos vimos, fiquei com uma dúvida que agora me surgiu de novo. Qual é a diferença entre um mago e um feiticeiro?
-Bem, é simples. Enquanto um feiticeiro é um ser criado pelos deuses, genuinamente imortal e que nasce com os seus poderes, um mago é um homem, anão ou elfo completamente normal, mas que estudou e aprendeu a arte da magia.
-Mas não é possível, você é mortal?
-Já fui. Mas quando acabei os meus estudos, como acontece a todos os magos humanos, foi-me concedido o segredo da imortalidade. Ah e também é preciso fazer notar que apenas foram criados oito feiticeiros, dois deles, Itridin e Vigil, passaram-se para o mal, e cinco foram assassinados pelos guerreiros Albidan. Só resta Uimar, que se exilou no reino superior nórdico dos elfos do norte, e se tornou conselheiro do rei. Quanto aos magos, estes existem cerca de cinquenta humanos, trinta elfos e os anões deixaram de praticar a arte mágica.
-Então quer dizer que magos anões e magos elfos não precisam que lhes seja revelado o segredo da imortalidade, pois já o possuem, certo?
-Certíssimo.
Quando Rarum se preparava para prosseguir o seu questionário, um Elfo, vestido com muitas cores, uma armadura por cima e com uma espada élfica na cintura, leve como uma pena e rápido que nem um falcão, irrompeu por entre as árvores, lançando-se como uma flecha para a estrada. Repentinamente, Morit puxou as rédeas, forte e vigorosamente, e o cavalo estancou que nem uma estátua. O elfo alinhou-se com o cavalo, inclinou-se suave e respeitosamente e disse:
-O meu respeitável mestre, rei do reino sul da floresta central élfica, vice-rei da parte sul do reino élfico da floresta central e regente da cidade secreta de Luituin, a cidade secreta das copas, tem o prazer de vos convidar para o almoço em sua casa.
-De bom grado aceitamos! – disse Morit, enquanto Rarum esboçava um pequeno sorriso dissimulado por entre a sua barba frisada. Na verdade estava muito contente por pensar que iria ter uma refeição nas altas copas dos pinheiros e abetos. Sabia que os elfos os iriam receber como reis (é seu hábito tratarem muito bem os anões, e qualquer seu acompanhante) e que brevemente estaria sentado numa cadeira, a cem metros do chão, apoiado num chão de madeira construído sobre ramos e suportando o peso de mansões e jardins suspensos. Não conhecia nenhuma cidade élfica naquelas imediações da floresta, mas rapidamente a conversa que prosseguia entre o soldado e Morit lhe tirou essa dúvida: era uma cidade élfica secreta, devido à proximidade com o reino dos homens do sul, e querendo evitar que eles abusassem da sua hospitalidade e temendo que eles transformassem aquele paraíso suspenso numa zona de transição comercial entre o sul e o norte. Apenas elfos, anões, magos e homens do norte podiam habitar a cidade. Acabado o diálogo entre Morit e o elfo, os dois companheiros desceram da carroça, e seguiram o soldado, que guiou o cavalo por entre a floresta.
A ansiedade e fome de Rarum faziam com que ele andasse aos tropeções, tendo desagradáveis encontros com as raízes das árvores. O pequeno-almoço, tomado há horas, já estava digerido e o estômago do pobre anão queixava-se. Andaram cerca de quarenta minutos, passando sempre nos sítios onde havia mais espaço entre os troncos das árvores para não danificar a carroça, até que se deparararam com um vale, que descia uns cinquenta metros. Para descer a íngreme depressão tiveram de ajudar o cavalo com a carroça, e, quando chegaram ao fundo do vale notaram que uma casa circular, com um buraco no tecto por onde saia um enorme tronco envolto numa escada em caracol, com algumas janelas enfeitadas com bonitos cortinados com quadradinhos vermelhos e brancos e portadas de madeira e apenas com um portão mais ou menos com dois metros e meio mas bastante forte. O guarda deu três batidas leves mas vigorosas no portão e disse “Nultan apresenta-se”. Depois, do interior do edifico (que era de pedra e envolto em cal) ouviu-se uns passos muito leves, e o portão estalou ruidosamente. Depois, devagar, abriu-se e um homem de longos cabelos e barba brancos, velho e de pele enrugada disse, franzindo o olho e realçando as suas pestanas farfalhudas:
-São estes os convidados do rei?
-São sim, ó guarda do portão! – respondeu o soldado, num tom baixo.
-Então eles que entrem! O rei espera-vos! É com muita honra que eu, Tuimar, ex-pertencente ao reino dos homens do norte, guarda humano da Casa do Portão, entrada para a cidade secreta Luituin, cidade das copas, recebo um anão, amigo de elfos, e um mago, aliado de elfos. Mas por todos os deuses, apressem-se, não devemos chamar a atenção de ninguém, esta casa situa-se num vale secreto! – respondeu o guarda, preocupado e olhando o cimo da depressão, ansiosamente.
Morit, Rarum, o soldado e a raposa (que se tinha adaptado perfeitamente ao seu dono) entraram, pararam no hall de entrada, que tinha as paredes brancas com muitas velas e um chão de madeira com muitos tapetes, enquanto esperavam que o guarda fechasse a porta. O cavalo ficou lá fora, juntamente com a carroça, e quando Rarum ia perguntar porque o animal tinha ficado no exterior, Morit deu-lhe uma valente cotovelada. Muita luz jorrava por um pátio interior. Quando a porta se fechou, uma enorme hera nasceu do chão, cobrindo a casa e o tronco, dissimulando as escadas, e inúmeras pequenas fadas voadoras da floresta, acompanhadas por pirilampos mágicos sentaram-se nos finos ramos da planta conversando baixinho, na sua língua secreta. No interior, Rarum e Morit deixaram-se guiar, pelo corredor de entrada, até ao pátio. Aí o corredor desfazia-se num outro circular, que dava a volta ao pátio. Tinha quatro pequenos portões e, no lado oposto, inúmeras portas que davam para quartos que os nossos amigos desconheciam. Ora os quatro, mago, anão, elfo e homem, entraram no pátio, que tinha chão de calçada e quatro pequenos bancos de pedra entre os quatro pequenos portões de madeira. No centro, um grande tronco erguia-se, em direcção à copa da árvore, com umas longas escadas em caracol a percorrê-lo. A partir da parte que se encontrava ao nível do telhado, um manto de folhas de hera debruçava-se sobre o tronco e cobria-o (cobrindo também as escadas) e formando uma abóbada. Rarum franziu o olho e perguntou ao guarda:
-Mas… não vimos esta hera de fora!
-É normal. – disse Tuimar – Isto é uma hera mágica. Quando eu lhe ordeno que se recolha, ela vai para debaixo da terra, junto aos alicerces da casa. Mas quando eu lhe ordeno que se levante, ela volta a cobrir a casa, o tronco e as escadas. Agora estava retirada porque as pequenas fadas voadoras disseram-me que hoje a floresta está livre de caminhantes e não há perigo… mas visto que mais vale prevenir que remediar, disse à hera para se reerguer.
-Então e o cavalo e a carroça? – perguntou Rarum, desta vez, sem que Morit se opusesse.
-Neste momento estão a ser levados lá para cima pelas fadas da floresta. Elas sabem o que fazem e falaram com o cavalo antes de o levarem, para evitar sustos. Quando lá chegarmos, ele estará no estábulo. – respondeu o guarda.
-Muito bem… então podemos começar a subir a escadaria? – perguntou Morit
-Podemos sim. Permitam-me que vá á frente, para que os guardas, no cimo da escada me identifiquem. – disse, Tuimar, que recebeu de imediato um aceno de Morit.
O experiente guarda começou a subir a escada, seguido de Rarum, Luin, Morit e, por fim, o soldado. O corrimão era de madeira escura e forte, e nele se apoiaram os quatro, enquanto penetravam no túnel de hera. A luz entrava, com dificuldade, por entre os ramos e folhas da enorme planta, mas era luz suficiente para não deixar que nenhum deles tropeçasse. Subiram a escadaria, dando voltas e voltas sobre o grosso tronco. O tronco havia sido cortado pelos próprios elfos e esculpido para se colocar a escada e Rarum apenas o notou pela falta de ramos. Quando chegaram ao cimo, onde a escada abandonava o tronco e desembocava numa enorme plataforma de madeira, ligava a outra plataforma e a outra e ainda a mais outra, por pontes de madeira, sem pilares, e com tectos extremamente bem esculpidos, em formas de botões de rosa. Era construída uma casa em casa plataforma. A cidade devia ter mais de vinte quilómetros, pois tinha bonitas casas ao ar livre, a perder de vista.
Como conseguiram eles construir casas nas copas com todos aqueles ramos? E como conseguiram aquelas plataformas de madeira aguentar as casas? E como conseguiram os troncos das árvores, por mais grossos que fossem, aguentar as plataformas e as respectivas casas? Apesar de parecer complicado, é mais simples do que aquilo que se possa imaginar: em cada copa de árvore, eles cortavam todos os ramos num raio de cinco metros, a vinte metros do fim da árvore. Depois, regavam as árvores, durante um ano, com seiva de papoila misturada com água de nascente o que conservava o seu aspecto e textura mas lhes conferia uma enorme dureza. Aplicavam seiva de rosa no espaço de vinte metros em que tinha cortado os ramos (para que eles não crescessem mais) e depois, tomando como centro o tronco, construíam plataformas de madeira do norte, a madeira de pinheiro que os homens do norte enriquecem e endurecem, onde constroem casas (igualmente de madeira do norte), com uma abertura ou pátio no centro por onde sai o tronco.
Ora o edifício que se encontrava naquela plataforma, era o registo, onde um funcionário registava quem entrava e quem saia na cidade. O guarda da casa do portão deixou-os ali, enquanto recuava e fazia o caminho oposto ao anterior. Depois o soldado, seguido dos nossos companheiros e da sua mascote, entraram na casa de registo onde foram brevemente interrogados por um elfo de cabelo negro e olhos azuis, agarrado a um caderno com milhares de folhas.
-De onde vêem?
-De Alin. – respondeu Morit.
-Para onde vão?
-Para o vale de Ortich, mas faremos algumas escalas. Fomos convidados pelo rei para o almoço – respondeu de novo Morit.
-Então podem prosseguir, peço desculpa pelas moléstias.
O soldado, calado e apressado, saiu de novo, sempre seguido pelo mago, o anão e a raposa. A cidade era magnífica. Milhares de plataformas, ostentando fantásticos edifícios, alguns troncos com dois, três ou mesmo quatro andares. Aquelas árvores não pereciam abetos nem pinheiros. Tinham uma copa mais grossa. Os longos ramos debruçavam-se sobre a cidade suspensa. Magníficos jardins suspensos eram construídos em pátios de madeira esculpida. Todas as plataformas possuíam corrimãos que as contornavam, excepcionalmente trabalhados, apenas deixando aberturas para bonitas pontes sem pilares que parecia flutuar no ar. A cidade era silenciosa mas alegre, cheia de pirilampos mágicos, com todas as cores imagináveis, voando seguidos por fadas da floresta, pequenas e graciosas, com seus olhos vigilantes. A leve humidade que se fazia sentir no ar puro da cidade acariciava os pulmões de Rarum, que, com a maior das satisfações, olhava tudo á sua volta. Atravessando de ponte em ponte, de plataforma para plataforma, os três estranhos atravessaram a cidade, sob o olhar discreto de um ou outro elfo mais curioso. Era um povo discreto, nobre, e a curiosidade era apenas coisa de anões. Passaram pelo mercado, a única loja daquela cidade, que não era confuso como os outros dos anões e homens. Pelo contrario. Era discreto, e apenas tinha uma banca de alquimia e outra de especiarias, pois os elfos tinham o hábito de apanhar a sua comida. Todos os domingos e quartas-feiras, a casa do portão era aberta todo o dia, e o seu guarda tinha descanso, enquanto os elfos, calmamente, saíam e entravam, com cestos de frutos silvestres e temperos, vinham as mulheres. Com as carnes vinham os homens.
Quando chegaram a uma enorme plataforma, os nossos amigos depararam-se com um enorme terraço, onde degraus davam acesso a entrada de uma grande casa, habilidosamente construída e encaixada entre a vegetação. Á entrada do terraço, o soldado parou e disse:
-Aqui será o vosso banquete, na casa do nosso senhor, a casa das copas.
Morit inclinou a cabeça, em sinal de agradecimento. Mas Rarum não agradeceu, estava completamente hipnotizado pelo que se erguia á frente dos seus olhos: uma enorme mesa rectangular estava posta no centro do terraço com uma toalha branca, e enormes quantidades de comida por cima dela: javali assado, bolachas élficas, saladas, amoras, uvas, maçãs, pêssegos, morangos, pudins de todo o tipo, presunto, chouriços, vinhos, pão de cinco qualidades, bolos, doces, arroz com passas, arroz com fiambre e queijo, arroz de tomate, arroz de cenoura, arroz de ervilhas, batatas cozidas, sopas de cremes de vegetais, frango assado, inúmeros temperos e especiarias, perdizes, arroz de cabidela, cosido de grão, feijoada, mel, compotas e doces de fruta, biscoitos, empadas, croquetes, rissóis e pastelaria de todo o tipo. Rarum ficou vidrado.
Depois de alguns segundos calado, Morit, tendo acabado de observar a mesa, pois também ele tinha ficado espantado, soltou um chamamento que desviou a atenção do esfomeado anão.
-Então, meu velho? O gato comeu-lhe a língua, foi? – disse o mago, com um grande sorriso estampado nos seus lábios.
-Am? O quê? Ah… peço desculpa, meu amigo. Mas… onde se encontra o nosso anfitrião?
-Ele deve estar a sair. Oh!… veja! Olhe para a porta!
Saindo pelo pequeno portão aberto da grande mansão das copas, vinha uma majestosa figura, um elfo de seu metro e oitenta, com longos cabelos (loiros, como é hábito) mas excepcionalmente brilhante e reluzente, avançando sobre o terraço leve mas altivo, arrastando uma leve capa, quase transparente, sobreposta a uma túnica feita de verde cristalino. Era a pessoa mais imponente e altiva que alguma vez Rarum tinha visto e, sem hesitar, o pobre anão avançou pelo terraço, seguido de Morit e de Luin, até chegar a meio, onde se encontrava a mesa e onde o rei, com uma coroa de prata incrustada de esmeraldas, rubis e diamantes, e um anel de prata, parou. De seguida, Rarum e Morit inclinaram-se perante o rei, que vergou levemente, ordenou-lhes que se levantassem, com um gesto ordenativo e disse:
-Sejam bem vindos, meus novos amigos, a Luituin, a cidade secreta das copas, e ao meu terraço onde se banquetearam enquanto falamos e os bardos cantam para nós. Eu sou Uirragon o rei da parte sul do reino élfico da floresta central, colega de Artîr, rei da parte norte do reino élfico da floresta central e submisso de Fuliamer, rei de todo o rei élfico da floresta central. Mas, meus amigos, abandonemos as formalidades. Por favor, Rarum e Morit, os meus guardas informaram-me de tudo o que preciso de saber sobre vocês. É um prazer receber um anão e um mago na minha cidade.
-E é um prazer sermos convidados por um rei élfico, tão importante quanto o senhor, para um banquete no seu terraço!
O grande terraço, que saia da casa do rei e se debruçava sobre a floresta, ligado á cidade por uma ponte rodeada de heras, era coberto por jardins suspenso. Arbustos cresciam em vasos, roseiras erguiam-se entre o corrimão, heras cobriam as paredes exteriores da casa, hibiscos exibiam as suas flores ao sabor do vento que penetrava entre as árvores e inumares flores ornamentavam o agradável terraço, enorme, mas extremamente acolhedor. Escadas larguíssimas ligavam o patamar suspenso á mansão.
Sem grandes hesitações, Rarum perguntou, descaradamente, ao rei:
-Bem, e quando vamos almoçar?
-Oh!… vejo que tendes um amigo apressado, sábio mago! – responde o experiente rei – Não se preocupe, mestre anão, estou á espera que tragam um pequeno presente que consegui providenciar, á pressa, esta noite, enquanto esperava que vocês chegassem. É uma coisa muito útil e bonita, capturados á noite. Mas, enfim, é surpresa, apenas mandei trazer para estar á mão.
-Mas não era necessário, nobre rei! – interveio Morit.
-Sim, não era preciso, nós apenas queríamos uma boa refeição para partimos de volta á estrada! – disse Rarum, incentivado por uma cotovelada valente e encorajadora de Morit.
-Não foi nada, foi só para não os deixar irem-se embora sem uma recordaçãozinha de cá… Oh mas, vejam, vem ai o súbito a quem pedi que fosse buscar o vosso presente! Sentemo-nos, ele sabe onde deixar o presente.
Com efeito, o rápido elfo chegou rapidamente á mesa e colocou ma caixa de madeira, mais ou menos do tamanho de coelho, vermelha e com uma bonita fechadura dourada. O anão, sem cerimónias, sentou-se numa cadeira, á frente de Morit, paralela á do rei. Aí surgiu-lhe uma pergunta:
-Mas… nobre anfitrião, porquê tanta comida para apenas três pessoas? E porquê uma mesa tão grande?
-Um anão é sempre bem servido numa cidade élfica, bem como o seu companheiro!
-Mil agradecimentos! – disse Morit – Mas para mim basta um ou dois croquetezitos e estou arranjado!
-Tal é a mania! Com tanta comida e ele contenta-se com um “croquetezito”! – disse Rarum, de boca cheia, mastigando uma grande fatia de presunto, com salada e rissóis no prato.
-Já devia estar habituado aos rigores dos magos, mestre anão! – respondeu-lhe o rei, risonho, e comendo bolacha élfica com compota de alperce.
Os três continuaram ali, falando dos seus assuntos, comendo e bebendo, com Morit de prato vazio e apenas bebendo vinho. Todos os assuntos vinham á baila: receitas de comida élfica ancestral, a ausência de queda de água na época das chuvas, a densidade populacional élfica, como construíram os arquitectos élficos as cidades suspensas nas árvores, as guerras com as ilhas negras, os reinos distantes da tundra nórdica e muitos outros temas.