Depois dos últimos três artigos, sobrou pouca coisa a ser descrita sobre as filmagens do Hobbit em si. Às vezes me pego rindo muito com alguns acontecimentos esparsos que nem eu lembrava direito e que de repente vêm à minha mente. Aos poucos vou compartilhando estes momentos com vocês. Mas confesso que ao lembrar destes momentos, das filmagens, das inúmeras viagens a 25 de março, dos ensaios de roteiro, das madrugadas escrevendo e pesquisando, percebi um imenso vazio. E isso é algo que preciso compartilhar com vocês neste atual momento porque depois que enviei todo o material para a Nova Zelândia percebi o quanto eu era apegado a tudo isso. Digo, trabalhar nesse curta consumiu tempo, energia, disposição, dinheiro. Mas era algo que ocupava meus pensamentos todo santo dia. Mesmo que nada pudesse ser feito naquele momento, eu esquematizava tudo o tempo todo. Eu sabia que nos meus planos de vida ir para São Paulo tinha uma razão. Eu iria estudar, ganhar algum dinheiro e fazer O Hobbit a qualquer custo. E assim o fiz. Isso me impelia a deixar o interior que amava para me perder na cidade grande em busca desse sonho. E agora?
Digamos que tudo o que restou foi a expectativa. No próprio correio fui informado que a Nova Zelândia não aceita madeira vinda de fora. Adivinhem do que era a caixinha que mandei? BINGO! Nem preciso dizer que fiquei desesperado né? A atendente do correio disse que se não fosse madeira pura estava tudo bem, que eles implicam mesmo com madeira maciça. Estou na expectativa. Durmo com meu celular do lado, coisa que sempre odiei fazer, e a cada ligação tenho um sobressalto. É ele, é o Peter Jackson! Mas não é. Se bobear a caixinha nem chegou por lá ainda, e talvez nem caia nas mãos dele diretamente. Começo a lidar com a realidade e não sou muito bom nisso. Mas agora é só deixar nas mãos do destino. Se alguém da alfândega ousar destruir minha caixinha mando quantas outras forem preciso. De papel, metal, pedra. Mas mando! E se nada der certo, sou capaz de levar em mãos e bater na porta da WingNut Films.
Foi ao escrever isso que me dei conta da atual situação. Estou preso entre dois mundos que não me satisfazem mais. De um lado, o interior que eu amava tanto mas que hoje só me mostra a sombra de alguém que um dia fui. De outro, a gigantesca metrópole de São Paulo que em nada me encanta mas me foi necessária. Mas nenhum dos lugares me satisfaz. Embora em São Paulo eu esteja começando a árduos passos produzir um programa sobre Tolkien para internet, é um lugar que não me satisfaz mais. Sempre me perguntei por que Frodo e Bilbo não conseguiram ficar no Condado após suas respectivas jornadas. Agora, finalmente eu entendo. Você simplesmente não se adapta mais. Você fica inquieto e tem a sensação de não pertencer mais àquele lugar. E então decidi que vou continuar com meus planos em relação ao programa mas em outro lugar. Vou cruzar o Grande oceano rumo às Terras Imortais, vulgo Nova Zelândia.
Muitas pessoas devem achar que estou pirando ou algo assim mas há uma lógica enorme nisso tudo. Primeiro, vou garantir que meu material chegue onde quero sem intermediários e malditos agentes alfandegários destruidores de caixas de madeira. Segundo, vou produzir parte do programa lá o que será muito mais interessante pelo fato de eu estar próximo às locações e à produção do filme. Creio que com isso os brasileiros poderão ter mais acesso às informações em tempo real do que acontece por lá. Atualmente me correspondo com algumas pessoas de lá, especificamente da produtora dos filmes. E nada ainda foi iniciado, mas já estão marcando a montagem dos primeiros sets e unidades de trabalho para o começo de 2009. Creio que as filmagens só comecem a ocorrer no meio do ano. Claro que pretendo ir antes disso.
Mas enquanto junto dinheiro e isso não acontece, posso falar um pouquinho das agruras de produzir um programa piloto mesmo que para internet.
Bom, digamos que depois de um bom tempo, eu e minha sócia e amiga Lígia Frigatto, conseguimos uma pequena equipe, parte daquela que me ajudou com o Hobbit. Sim, os Sams do artigo anterior. Comprei iluminação, discutimos o roteiro do piloto e no atual momento estamos preparando um teaser bem curtinho que deve ser disponibilizado para vocês em breve por aqui. Sentimos uma responsabilidade enorme pelo fato de ser um programa único e com 40 minutos de duração. Parece pouco, mas para produzir cada minuto leva-se uma eternidade de pesquisa, ensaios, ilumina aqui e acolá, retoca a maquiagem, etc. Mas podemos garantir que tudo está sendo feito com o maior capricho. Em breve pretendemos filmar a abertura e voluntários são bem vindos sempre. Enfim, estou descobrindo a cada dia que às vezes um sonho impulsiona outro ainda maior e temos que abrir as portas para que as coisas aconteçam.
Agora só nos resta trabalhar bastante, suar a camisa mesmo e ir para a Nova Zelândia buscar uma nova estrada, pois:
“A estrada em frente vai seguindo,
Deixando a porta onde começa.
Agora longe já vai indo,
devo seguir nada me impeça”
Não é mesmo?