Nos artigos anteriores, relatei minhas experiências ao tentar produzir um curta- metragem que fosse ao mesmo tempo, bem produzido e inspirador o bastante para chamar a atenção do diretor Peter Jackson. Todavia, no meio do processo outro diretor foi nomeado e como bem sabemos, trata-se do mexicano Guillermo Del Toro. Confesso que fiquei um pouco desapontado de início, mas ao assistir ao filme “O Labirinto do Fauno” comecei então a apostar todas minhas fichas no Sr. Del toro. De certa forma, para o meu projeto pessoal de conseguir uma pontinha no “Hobbit”, essa foi uma conjunção perfeita. Peter Jackson e Guillermo Del Toro juntos! O neozelandês que todos amam e confiam produzindo e um diretor latino-americano, como….eu! Era isso!
Minhas chances aumentariam exponencialmente uma vez que um latino entende outro latino. Não é mesmo? Afinal, sabemos como é ser taxados de “resto do mundo” e sabemos que internacionalmente não temos as mesmas oportunidades que os norte-americanos e europeus. Sabemos das dificuldades de nosso povo, da corrupção em nossos países, da violência e de como a cultura pode ajudar em um cenário tão penoso e difícil e mesmo assim é pouco incentivada. Sabemos o poder que a fantasia possui mediante uma realidade penosa e desgastada. E acima de tudo, sabemos como é humilhante produzir um filme no limite de um orçamento pequeno, explorar ao máximo a criatividade para não cortar nossas idéias pela metade e encontrar todos os empecilhos possíveis. Era alguém que certamente saberia avaliar meus esforços, melhor do que ninguém.
Durante estes cinco anos, todos os dias eu convivi com o poder da fantasia e as mudanças que ela gerou em minha própria vida. Mas sempre chega o momento da batalha no qual chegamos perante a muralha mais alta. Eu havia me esquecido que o cinema é acima de tudo uma indústria. E uma indústria com cartéis bem definidos. É natural que em um dos ramos que mais movimenta capital no mundo, exista um imenso protecionismo. E onde estávamos mesmo, ah, sim, no “resto do mundo”. Então como eu, um mero latino, da periferia do globo, visava conseguir uma pontinha em uma mega produção hollywoodiana? Não, eu não estava delirando como muitos já supuseram. Eu confiava na acessibilidade dos diretores. Eles eram acessíveis quando produziam seus filmes independentes, quando tinham que ser mais criativos do que famosos, mas acabaram como todos expoentes artísticos, blindados pelas corporações. Ao produzir “O Senhor dos Anéis”, Peter Jackson afirmou que recebeu uma fita – teste do ator Elijah Wood para o papel de Frodo, e com apenas uma entrevista o ator havia conseguido o papel principal de uma mega produção. Coisas como essa, hoje são impensáveis. Em um contato recente que tive com a empresa Wingnut Films me foi revelado que Peter Jackson após os tremendos sucessos de bilheteria, não pode mais, sob pena judicial atestada em contrato formal, receber qualquer material, script, DVD, que ele não tenha pedido para ver. O mesmo acontece com o Sr. Del Toro, e fui informado por seu próprio agente, em pessoa. Aliás, em Hollywood existe agente para tudo. É isso que aprendemos quando vamos atrás de uma carreira internacional. Um bom agente abre portas, um péssimo agente te deixa no anonimato para sempre. Há uma enorme briga por papéis importantes, é tudo um imenso jogo de xadrez. E conseguir um bom representante é muito difícil. Mas alguns atores chegam lá, então não deve ser impossível. Prefiro pensar assim.
Mas nem tudo são perdas. Se eu não consigo chegar até quem eu quero, eu me contento com os representantes. E todos foram muito agradáveis comigo. Aliás, há exatamente uma semana, fui informado pela Wingnut que após um bom tempo, minha caixinha do Hobbit chegou lá. Foi recebida pelo escritório deles e está guardada até começarem a seleção de elenco, ocasião em que será mostrada para os diretores de casting nomeados pela produção. Como existe um padrão em Hollywood em relação às equipes de trabalho de cada diretor, resolvi investigar os prováveis diretores de casting e entrei em contato com eles. Gastei alguns dólares, é verdade, mas os contatos valeram a pena. Essa semana mesmo vou enviar meu material para alguns deles, que responderam afirmativamente, e seja o que Eru quiser. Um bolo de material para a Europa, E.U.A., Nova Zelândia. E lá vamos nós de novo.
Às vezes lemos algumas coisas na internet que nos desanimam, mas temos que ir atrás de outras formas. Em um artigo recente que li, um cara dizia que era pra pensar muito em antes de viajar para a Nova Zelândia esperando participar das filmagens do “Hobbit”, buscando um papel ou apenas figuração. Ele afirmava que os kiwis (neozelandeses) têm prioridade sobre todos e por lei os estrangeiros só podem ocupar cargos dos kiwis, quando os mesmos estiverem em falta. E que a probabilidade de conseguir uma figuração era muito baixa. Por um acaso, ele, um norte-americano, sabe a porcentagem de kiwis que participariam do filme, ou quantos figurantes serão necessários? Lendo coisas assim a gente aprende a se preservar mais. Talvez ele também esteja tentando.
Pra ser sincero, eu fiquei no fundo do poço depois que terminei “O Hobbit”, entrei em depressão, nada me animava muito, minha vida havia perdido o sentido. Acho que deve ter sido algo parecido com depressão pós- parto, como minha amiga sempre diz. Mas com o tempo fui tendo a idéia de produzir algo para os brasileiros, alguma coisa que signifique algo para a comunidade tolkieniana em geral e foi então que tive a idéia do Dragão Verde. Um programa de uma WEBTV que ultimamente tem consumido meus pensamentos. Mas parece que eu sempre esbarro em velhos problemas. Está difícil, mas eu sei que vou conseguir. Produzir um programa não é fácil. Essa semana terminei a animação inicial, uma coisa curta, simples, e que os fãs certamente vão curtir. Mas aí vai um desabafo. Como é difícil achar um dragão tridimensional decente. Tentei fazer um, mas acabei desistindo. Meu Dragão Verde ficou parecendo uma lagartixa “cor-de-burro-quando-foge”. Foi humilhante. Decidi comprar um na internet, mas sinceramente não dá pra gastar 299 dólares em dez segundos de animação. É, custa caro porque é difícil mesmo. Não sou tão inútil assim. Ufa! Acabei encontrando…bem, vocês verão se eu encontrei algo parecido com um dragão, em breve. O teaser deve sair até o final do ano, bem pertinho do Natal. E no início do ano que vem, após as típicas bebedeiras festivas e confraternizações universais, estrearemos no melhor estilo Tolkieniano. De fã para fã. No próximo e último artigo do ano, darei mais informações sobre o desenvolvimento do programa e sobre as idéias do piloto. Então aí vai nosso velho e famigerado amigo:
CONTINUA…