Ocorre que, na época em que Tolkien escrevia "O Senhor dos Anéis", havia uma lacuna importantíssima no conhecimento geológico. É que a comunidade científica não aceitava a tese da deriva continental, que postula que os continentes navegam lentamente pela crosta terrestre, na velocidade em que as unhas da sua mão crescem, boiando sobre "balsas" — as chamadas placas tectônicas. A deriva dessas placas explica porque um dia Brasil e África estiveram ligados no pedaço onde hoje existe o oceano Atlântico.
Ora, sem o conhecimento desse fato, os geólogos eram obrigados a postular, entre outras coisas, inundações catastróficas para explicar por que as conexões entre os continentes (indicadas pela presença de faunas parecidas, por exemplo) desapareceram. Desse ponto de vista, inúmeras "pontes de terra" teriam sido soterradas mundo afora na mais remota antiguidade.
Ora, se pararmos para pensar um pouquinho, veremos que é justamente esse tipo de fenômeno que explica o desaparecimento de terras que foram parar "debaixo das ondas", como Beleriand, o continente da Primeira Era, ou a grande ilha de Númenor no fim da Segunda Era. Noves fora a intervenção dos Valar e de Ilúvatar, Tolkien estava modelando a modificação da Terra-média nos cataclismas que os geólogos andavam propondo.
Meneltarma da vida real
O mais engraçado é que, embora, esse cenário não seja mais crível, geólogos como David G. Roberts decidiram render suas homenagens ao professor ao descrever a esquisitíssima ilhota de Rockall, um pedacinho de pedra perdido no Atlântico, a mais de 300 km da costa da Escócia. Lembra-se da história do Meneltarma, a maior montanha de Númenor, cuja pontinha emergiu mesmo depois da destruição da ilha? Pois Rockall é exatamente isso — uma ponta de um platô submarino mais ou menos do tamanho da Irlanda inteira.
Ao descrever características geológicas do platô de Rockall, Roberts resolveu usar nomes da obra tolkieniana. Temos, portanto, as encostas de Lórien, Fangorn e Edoras, as elevações de Rohan, Gondor, Eriador e Espora de Gandalf; e até um Abismo de Helm — um grande canyon submarino que lembra vagamente a região onde ficava a fortaleza de Rohan. Taí um lugar pra visitar se você for um fã de Tolkien e um aficcionado por pesca oceânica.