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A Cor Vinda do Espaço (H.P. Lovecraft)

Meia Palavra

Usuário
Há exatos 121 anos nascia o escritor norte-americano H.P. Lovecraft, nome importantíssimo da literatura de ficção e horror. Reconhecidamente influenciou grandes nomes do gênero, de Stephen King a Neil Gaiman, além de artistas de outras mídias (como o Metallica com a música ou Guillermo Del Toro no cinema). Portanto, especialmente para os amantes do horror, não é exagero afirmar que muito do que se cria nos dias de hoje seria bastante diferente se naquele 20 de agosto de 1890 Lovecraft não tivesse nascido.

E é para celebrar o aniversário do autor que o Meia Palavra traz uma tradução de Fabio Bettega para “A cor vinda do espaço”, conto do autor escrito e publicado em 1927. Conta a história de um meteoro que cai em uma fazenda na cidade de Arkham, Massachussetts, fazendo com que uma estranha cor sugue toda a vida da área atingida, deixando os animais loucos e deformados, os vegetais sem gosto entre outros estranhos fenômenos. Clique aqui para fazer o download do arquivo pdf com o conto (agora também disponível na Biblioteca Meia Palavra), caso queira ler em algum e-reader. Para a versão online, basta continuar lendo este post.

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Anexos

Última edição por um moderador:
Bacana!
Obrigada pessoal do Meia!

Li, fiz o download e coloquei no Tumblr um link pra o blog do Meia Palavra com essa ilustração aqui, da autoria de Bryan Baugh:

[attachment=3905]
 
Eu li O Chamado de Cthulhu e outros contos e me decepcionei com o Lovecraft. Essa literatura fantástica dele e do Poe (à exceção de C. Auguste Dupin...) não me apetecem.
 
Provavelmente porque não é o tipo de fantasia que você costuma ler. Quem gosta de livros de fantasia mais corriqueiros e vai ler Lovecraft ou Poe esperando encontrar algo parecido, acaba se decepcionando mesmo.
 
Ha, que susto! vi aquele post enorme no blog e pensei que aquilo tudo fosse a resenha... depois que vi que era o conto desponibilizado na página:vergonha:
 
Pescaldo disse:
Provavelmente porque não é o tipo de fantasia que você costuma ler. Quem gosta de livros de fantasia mais corriqueiros e vai ler Lovecraft ou Poe esperando encontrar algo parecido, acaba se decepcionando mesmo.

Quando comprei, já esperava uma fantasia diferente, só que simplesmente eu não gostei. Não acho que seja questão de costume, mas de gosto.
 
me parte o coração qdo colocam poe e lovecraft no mesmo balaio. ambos escrevem histórias de horror mas são tão, tão diferentes em tema, desenvolvimento de narrativa e afins que me parece até injusto querer equipará-los.
 
Esse conto foi a primeira coisa que li do Hovercraft (ops...) mas não vai ser a última :rofl:

Gostei muito. Terror é assim, sem explicar o Mal.
 
Shiryu disse:
Quando comprei, já esperava uma fantasia diferente, só que simplesmente eu não gostei. Não acho que seja questão de costume, mas de gosto.

É que Lovecraft não é só uma fantasia "diferente". Ele é bem único no trato dos seus mitos. Eu prefiro dizer que, pra ler Lovecraft, você não pode esperar encontrar algo conhecido.

Enquanto que a maioria das obras de outros autores fazem uma distinção entre moralidade e imoralidade (ou uma junção das duas), as criaturas do Lovecraft são completamente amorais.

Anica disse:
me parte o coração qdo colocam poe e lovecraft no mesmo balaio. ambos escrevem histórias de horror mas são tão, tão diferentes em tema, desenvolvimento de narrativa e afins que me parece até injusto querer equipará-los.

E também tem isso.

Eu sei disso, mas realmente pareceu que eu coloquei no mesmo carrinho.

Não lembro que teórico comentou que o Lovecraft passou a vida toda tentando continuar a obra do Poe, mas acabou tomando um rumo próprio no meio do caminho. Então, por mais que Poe tenho influenciado Lovecraft (e muita gente lê o Ofício Amoroso por conta do Poe), acaba tendo um choque.
 
A questão é que os "Mitos" (e ponham aspas nesta palavra) elencados nos contos do autor não se coadunam em específico com os gêneros "clichês" que vemos por aí: é ocultismo, é horror, é fantasia, é realismo fantástico? O que gera a esta "meia indefinição" a respeito das obras de Lovecraft tem muito ligação com sua visão pessoal de mundo e sua predisposição ao chamado Cosminicismo - filosófico:

A filosofia do cosmicismo declara que não há presença divina reconhecível, tal como um deus, e também exprime a idéia de que os seres humanos são particularmente insignificantes no esquema maior de existência intergaláctica, e que talvez não passem de uma pequena espécie projetando suas próprias idolatrias mentais ao vasto cosmos, estando eternamente susceptível à possibilidade de ser varrida da existência a qualquer momento. Esta idéia também sugeriu que a humanidade inteira não passa de criaturas que possuem exatamente a mesma relevância e significância que plantas e insetos, mas em uma luta muito maior com forças igualmente muito maiores que, dada a pequeníssima e insignificante natureza desprovida de visão do ser humano, o mesmo não reconhece.

Talvez o mais proeminente tema no cosmicismo seja a completa insignificância da humanidade. Lovecraft acreditava que "a espécie humana desaparecerá. Outras espécies aparecerão e, por sua vez, desaparecerão no lugar. O céu há de tornar-se gelado e vazio, perfurado por fraca luminosidade e semimortas estrelas, estas que por sua vez também hão de desaparecer. Tudo há de desaparecer. E tudo o que os seres humanos fazem é mover partículas elementares, em sua liberdade de movimento. Bem, mal, moral, sentimentos? Puras ficções vitorianas. Apenas o egotismo existe."2

Ou seja, a grosso modo, a vida humana é insignificante perante a existência do universo e tudo o mais; as divindades dos Mythos se afastam desse conceito de deidade - pessoal, que zela por seus adeptos ou mandam sinais, milagres, acontecimentos, fenômenos ou evidenciam grandes ciclos de renovação/desaparecimento, justamente por estarem além de uma importância religiosa ou com a necessidade de existirem (conforme a noção religiosa comum da existência de deidades).

Então para quem amou a Antropomorfia criacionista no Ainulindalë com o Ainur-humanos de Tolkien que prenunciam o Universo em prol dos homens e elfos, se horroriza em saber que os cosmos são nada mais nada menos que as emanações psiônicas de uma corte insana do deus idiota, letárgico e demiurgo Azathoth rodeado por seus "músicos", no intento de manterem coeso a própria existência do universo: https://en.wikipedia.org/wiki/Azathoth - uma vez que é o sono do Deus-Burro que mantém o tempo e espaço:

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A humanidade não importa, é supérflua, não prioritária quanta suas ações ou protagonismo. Não há um Béren, não há um Tyrion Lannister. O que temos é um Charles Dexter Ward um louco teosofista numa história filosoficamente Pessimista/Realista que trata (ou melhor, destrata) qualquer noção de vida após a morte - nos levando à uma discussão incômoda que não vamos querer (em geral) em nossa existência. Em vez disso:

A morte é seu destino, o dom de Iluvatar, que, com o passar do tempo, até os PODERES hão de invejar. Melkor, porém, lançou sua sombras sobre esse dom, confundindo-o com as trevas, e fez surgir o mal do bem; e o medo da esperança

Seríamos isso:

A coisa mais misericordiosa do mundo, acho eu, é a incapacidade da mente humana correlacionar tudo que ela contém. Vivemos em uma plácida ilha de ignorância em meio a mares tenebrosos de infinidade, e não está v amos destinados a chegar longe.

As ciências, cada uma puxando para seu próprio lado, nos causaram poucos dano
s até agora, mas algum dia a junção das peças do conhecimento disperso descortinar á
visões tão terríveis da realidade e de nossa pavorosa posição dentro dela que só nos restar á enlouquecer com a revelação ou fugir da iluminação mortal para a paz e a segurança de uma nova idade das trevas.

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Seu estilo de escrita, para alguns decadentistas, para outros um realismo fantástico em que os interlocutores são arqueólogos e agem como arqueólogos. Ou são investigadores desprovidos de uma "Femme-Fatale", mas que enlouquecem diante da sua insignificância e insignificância cósmica de tudo o que fizermos diante do colosso do universo. É assustadora essa percepção.

Vide, por exemplo, nas "Montanhas da Loucura". A melhor obra do escritor, na minha opinião. Não pelo detalhismo dos geólogos retratados ou pela civilização dos "Elder Things" e seus confrontos titânicos pela supremacia na Terra. A parte que mais me choca é o que trata da origem da humanidade: A grosso modo, para as ciências somos resultados de vários e vários anos de processos químicos + seleção natural. Já Lovecraft (cruelmente) deturpa o que na visão idealizada/sentido religioso trata da atribuição divina à origem do homem. O homem nada mais nada é do que um monstro de laboratório dos "Seres mais velhos" - apenas experimentos que fugiram de um protocolo de segurança - ou seja, engloba o sentido científico para a origem da humanidade ao mesmo tempo que une a visão mítica.

500px-ElderThing.jpg


É um "escárnio" (se é que há/houve a intenção de Lovecraft) à ideia de um construto perfeito na formação humana, na sua origem, no tal design inteligente à essa máquina perfeita que somos ou dizemos que somos. Os monstros, demônios e deuses são bem mais as leis, teorias e fenômenos cósmicos-naturais, indiferentes a existência da vida 0u a importância que damos a ela. Em termos atuais, quem mais se aproximou desta premissa foi o Alan Moore:

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Última edição:
Enquanto que a maioria das obras de outros autores fazem uma distinção entre moralidade e imoralidade (ou uma junção das duas), as criaturas do Lovecraft são completamente amorais.
E frequentemente, indiferentes.
Para elas, nós não passamos de vermes indignos de atenção.
Os demônios tradicionais desejam o ser humano. Os demônios "lovecraftanos" não estão nem aí.
 
HP Lovecraft é um autor ainda hoje incompreendido e desconhecido em parte. Seus contos têm ganhado certa visibilidade e aprecio qualquer atitute voltada para sua divulgação! Quem nunca leu não sabe o que está perdendo!!
A obra de Lovecraft (para íntimos rsr) feita realmente para não ser compreendida em sua totalidade, pois mostra a própria intenção da filosofia do autor de que o mundo é um mistério para os seres humanos e que nós nada compreendemos. Nossa ciência, nossas leis, sentimentos, desejos e aflições nada significam diante da grandeza do universo. Nossa ignorância é nossa salvação.
A vida desse grande escritor foi bem difícil e reflete diretamente na suas obras. Sempre digo que adoro ler porque, muito mais que o prazer proporcionado pela história, é possível assimilar algum traço, alguma característica de quem a escreveu. E no caso de Lovecraft, pode-se inclusive conhecer sua alma, pois ele se colocou inteiramente nos seus contos. Por isso é impossível classifica-lo como simples escritor gótico. Ele simplesmente criou toda uma concepção de filosofia sobre o entendimento do universo e do papel do homem, podendo inclusive ser correlacionada com a perspectiva existencialista. É sem dúvidas um dos meus preferidos!!!
 

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