Para mim é bem claro que a monarquia do Brasil foi algo bem próprio nosso, começando pela Constituição, e indo para várias experiências, como a regência, a implantação do parlamentarismo nos anos 40, os mais diversos gabinetes, a nobreza não-hereditária, etc, tudo desenvolveu-se naturalmente a partir das dificuldades e vivências nacionais de então. Aliás, nossa monarquia já nasceu constitucional e liberal, diferente das monarquias europeias - claro, aqui entra uma influência do liberalismo europeu, mas querer imputar por causa disso um caráter "importado" ao nosso Estado de então é forçar a barra, menos importado que isso só se criássemos um modelo do zero.
Seguem trechos que pincelam o caráter essencialmente nacional e liberal da nossa monarquia - desde o reinado de D. Pedro I, que longe de contrapor o "liberal" D. Pedro II, tinha forte mentalidade liberal e com ela fundou o Império:
Como Imperador Constitucional, e mui especialmente como Defensor Perpétuo deste Império, disse ao povo no dia primeiro de dezembro do ano próximo passado, em que fui coroado e sagrado – que com a minha espada defenderia a Pátria, Nação e a Constituição, se fosse digna do Brasil e de mim…, uma Constituição em que os três poderes sejam bem divididos… uma Constituição que, pondo barreiras inacessíveis ao despotismo quer real, aristocrático, quer democrático, afugente a anarquia e plante a árvore da liberdade a cuja sombra deve crescer a união, tranquilidade e independência deste Império, que será o assombro do mundo novo e velho. Todas as Constituições, que à maneira de 1791 e 1792 têm estabelecido suas bases, e se têm querido organizar, a experiência nos tem mostrado que são totalmente teóricas e metafísicas, e por isso inexequíveis: assim o prova a França, a Espanha e, ultimamente, Portugal. Elas não tem feito, como deviam, a felicidade geral, mas sim, depois de uma licenciosa liberdade, vemos que em uns países já aparecem, e em outros ainda não tarda a aparecer, o despotismo em um, depois de ter sido exercido por muitos, sendo consequência necessária ficarem os povos reduzidos à triste situação de presenciarem e sofrerem todos os horrores da anarquia. (D. Pedro I nos idos da constituinte)
Meu filho tem sobre mim a vantagem de ser brasileiro, e todos os brasileiros gostam dele. Ele reinará sem dificuldade e a Constituição garantirá as suas prerrogativas. Descerei do trono com a glória de terminar como comecei, constitucionalmente. (D. Pedro I nos idos de sua abdicação)
O Presidente do Conselho no Brasil não era o chanceler russo, criatura do soberano, nem o primeiro-ministro britânico, feito apenas pela confiança dos Comuns: a delegação da Coroa era para ele tão necessária e importante quanto a delegação da câmara, e para exercer com segurança as suas funções, ele tinha que dominar o capricho, as oscilações e as ambições do Parlamento, bem como preservar sempre inalterável a boa vontade do imperador. (Joaquim Nabuco)
A diferença entre os dois imperadores é uma diferença em grau e não em essência, decorrente de seus diferentes contextos e temperamentos.
PS: No plebiscito de 1993, com condições bem adversas de campanha - censura estrita e difamação por um século, herdeiros dinastas não aparecendo na TV ou em grandes meios de comunicação, época anterior à internet - foram obtidos quase 7 milhões de eleitores em favor da monarquia, cerca de 10% dos eleitores de então. Comparemos isso com Eduardo Jorge e Luciana Genro, que representaram a "esquerda esclarecida" no Brasil em 2014, não atingiram sequer 3 milhões de votos, em um universo eleitoral bem maior e condições bem mais amenas de espalhar suas ideias. Então antes de rir de monarquistas por serem 'minoritários', temos no mínimo que rir dessa esquerda aí.