Primula disse:
Mas acho que existe sim o "errado" na fala. Não o menos prestigiado.
Isso é preconceito lingüístico
Primula disse:
Como língua, acho que o português é a que mais incorpora gírias... o tempo todo. Para não dizer que a cada novo verão surge uma nova gíria.
Por mais dinâmica que seja uma língua, acho que existe um limite para "inovar". Chega um ponto que uma pessoa, saindo do país por míseros dez anos, ao voltar para casa não entende metade da conversação. (algo parecido acontece no Japão, com a "americanização" das palavras japonesas)
Entendo a língua como sendo o instrumento de comunicação entre as pessoas. Um código usado por elas para se entenderem. Se o código muda a cada segundo é impossível as pessoas se comunicarem.
Eu entendi o que você está querendo dizer e concordo, Primula. Vai soar como uma tremenda contradição da minha parte, mas vou te explicar me baseando em Saussure, ok? Segundo ele, há dois princípios básicos com relação ao significante: o da imutabilidade e da mutabilidade do signo.
O da mutabilidade, foi o que já falamos aqui nesse tópico: a língua é viva, ela varia e reage de acordo com o meio. É o que faz o português do Brasil ser tão diferente do português de Portugal, ou o português de alguém do Nordeste tão diferente do português de alguém do Sul. São as variações lingüísticas (e é por isso que digo que não há "certo" ou "errado", e sim diferente).
Por outro lado, há o princípio da imutabilidade. Para Saussure,
o significante pode ser escolhido livremente, em compensação, com relação a comunidade lingüística que o emprega, não é livre: é imposto. O que em outras palavras quer dizer que não adianta você criar uma palavra, se ela não será aceita e reconhecida por toda a comunidade de falantes.
Partindo para o lado mais prático, um exemplo. Por que quando escutamos um "ocê" não podemos dizer "Ei, isso está errado!"? Por que, para começar: você compreende que "ocê" é "você" (isso é o mais importante, passar a mensagem), além disso, há um grupo de falantes que aceita o "ocê" como padrão. Não é o prestigiado, não é o que vemos no Jornal Nacional, mas é reconhecido. Ao contrário, se eu falasse "pikyz", você não compreenderia o sentido e, além disso: não há uma comunidade que utilize essa palavra.
Se você quiser ler mais sobre o assunto, dá uma olhada no
Curso de Lingüística Geral, do Saussure. Acho que ele explica bem melhor do que eu
