Calion Alcarinollon
Cristão Católico
By the first time in all the history of Mankind, a catholic wanted to kiss an atheist.
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Chega a ser engraçado aproveitar o embalo da Primavera Árabe (cujas flores não são todas lá muito perfumadas) para chamar isso de Primavera Brasileira.
Não ouvi ninguém reclamando da qualidade do transporte.
Existe uma explicação plausível e perfeitamente lógica pra essa atitude do policial: ele fechou a porta com a chave da viatura lá dentro.
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Mas a questão é que concordar ou não com a causa não tira o direito de todos os que a consideram válida de se manifestarem e protestarem.Chega a ser engraçado aproveitar o embalo da Primavera Árabe (cujas flores não são todas lá muito perfumadas) para chamar isso de Primavera Brasileira. Nego lutando pra se livrar de ditaduras sangrentas e nós aqui brigando pelo pseudo-direito ao transporte público gratuito.
Eu entendo que não são só 20 centavos. Entendo que há muita insatisfação com uma série de problemas e um constante sentimento de frustração do cidadão nesse país. Só que nesse caso específico, querem vender uma causa que eu não compro. Não ouvi ninguém reclamando da qualidade do transporte. A reclamação é que o aumento é um abuso, mesmo estando abaixo da inflação. A reclamação é que o aumento fere o direito de ir e vir, mesmo que isso não seja verdade. A reclamação é que o transporte público não é gratuito, mesmo que o dicionário diga que a palavra "público" tem mais de um sentido.
Acho justo, isso sim, reclamar dos abusos dos policiais. Se bem que, verdade seja dita, não vi absurdo algum na primeira abordagem dos policias sobre o caso do vinagre. Já a segunda abordagem...
Mas a questão é que concordar ou não com a causa não tira o direito de todos os que a consideram válida de se manifestarem e protestarem.
Sem molotovs.
[...]
Talvez tivesse sido mais nobre ter ocorrido em outros assuntos como educação se tivessemos abraçado a greve dos professores por uma carreira melhor no ano passado, ou contra os mensaleiros anos atrás, etc.
Ainda assim não tira a legitimidade de uma briga contra uma porcaria que é nosso sistema de transporte, que menos ou mais, também é de importancia.
Não sei se estou muito por fora dos acontecimentos, mas esse é o resumo da ópera:
1) Pleitos válidos: Melhor serviço e reajustes de acordo com a inflação
2) Pleitos surreais do mundo de Cthulhu: "Se é público, pq é pago?"
Até onde eu li e ouvi da boca dos próprios manifestantes, essa é a bandeira maior do movimento. Sério isso? Alguém aqui realmente concorda com esse pleito? Em que dimensão o público implica gratuidade? Não é na minha.
3) Formas de manifestação válidas: Protestos nas ruas e talvez o fechamento de algumas vias.
4) Formas de manifestação não-democráticas: Coloquetel molotov (quem é que leva isso para uma passeata pacífica?), quebrar patrimônio público, botar fogo em sacos de lixo no meio das ruas e etc (estou falando sobre isso e isso).
Pronto, simples assim.
A primavera teve sua legitimidade por derrubar regimes ditatoriais. Em nenhum momento falei q os resultados finais foram flores democraticas.
Ah quer saber? Foda-se. Eu vou nos protestos em Santos e dane-se os partidos, a esquerda, a direita, os liberais, a Globo, o Alckmin, foda-se a porra toda. Se vocês gostam de uma enrabada, relaxem e gozem; no meu cu não, cazzo!
Sei que existem interesses de certos partidos políticos e sei que os manifestantes de SP tem, principalmente os universitários, uma ideologia, uma forma de pensar o país, suas instituições que é nociva, degradante, vil, delirante, apaixonada. Mas é claro que é, jovem é assim mesmo, é besta, pode ter lido muito, ser muito crítico mas quando se trata de militancia todo mundo é meio babaca, se deixa influenciar, inchar como um balão, enfim, se iludem. E isso também só reforça uma imagem ruim pra uma população que pode não compactuar com esses pressupostos, mas isso aqui parece estar mudando porque o apoio aos protestos já não é uma coisa de intelligentsia, é uma coisa de paixão popular mesmo, de luta, de ódio a tanta injustiça. A coisa se catalisa nesse sentido e é bom que assim seja, as coisas exatamente por sua fluidez e falta de ordem, de direção, pode carregar em si uma energia suficiente pra pelo menos marcar o país com um combatividade que talvez nunca nos abandone. Isso é essencial.
Mas que linguajar chulo é esse, mocinho?
Esquecestes dos ensinamentos do grande filósofo Calion? "Não fales palavrão que deus te fode."
Os manifestantes agrediram policiais sem motivo ? Provável que sim.
Policiais agrediram protestantes sem motivos ? Provável que sim.
Policiais ganham pouco para obedecer ordens. Não significa que TODOS concordem com as ordens que lhe são dadas.
Porem, a vários momentos da historia em que protestos pacíficos não adiantaram nada.
Não estou justificando ações como a de quebrar o patrimônio de alguém que não tem nada ver.
Eu acho muito estranho a galera que vê teoria da conspiração em todo lugar. Dizendo que isso foi organizado por partido. Que não é popular. Qual partido faria isso que atingiria governo e oposição? PSTU? PSOL? PCO? Eles não tem esse poder e se algum partido fizesse isso, estaria fora da lei? Há alguma lei que proíba manifestação? Pois na Constituição está dito que o direito de se manifestar é garantido.
Hoje participei da manifestação que ocorreu em Belo Horizonte e sinto-me à vontade para dizer algo: Geraldo Alckmin conseguiu o que queria e entrou para a História do Brasil. Não como sonhava entrar, mas seu nome já está garantido ao menos como nota de rodapé nos livros didáticos.
Explico: até a noite de quinta-feira, 13 de junho, o movimento que ocorria pontualmente ao redor do Brasil em protesto ao aumento das passagens de ônibus era algo relativamente difuso, sem muito potencial para crescimento. Havia duas opções de desfecho: as passagens seriam reduzidas (como ocorreu em Porto Alegre) e tudo voltaria ao normal ou eventualmente a negativa das empresas e do governo deixaria claro que nada poderia ser feito quanto à questão. No entanto, a partir do instante em que Alckmin agiu como Alckmin (e Serra) e ordenou que a PM reprimisse a manifestação popular com força desproporcional, catalisou um processo que talvez levasse um tempo infinitamente maior para se cristalizar. Ninguém gosta de um bully – e o governo tucano, como já havia se mostrado em tantas outras ocasiões (com professores da rede pública, estudantes da USP, habitantes do Pinheirinhos e até mesmo com a Polícia Civil), não hesita em se entregar ao bullying sempre que questionado.
Desta vez, porém, Alckmin errou feio seu cálculo e criou um monstro que se espalhou por todo o país. A partir de quinta-feira, a questão definitivamente já não girava mais em torno de 20 centavos ou mesmo do transporte público livre; era uma questão de cidadania. E, como tal, deixou também de ser algo contra o governo tucano ou a prefeitura petista, passando a ser um grito de revolta generalizado, um berro de “chega!”.
Mas “chega” o quê?
E foi esta pergunta que vi tantos jovens se fazendo durante o manifesto em BH – mesmo que não percebessem o questionamento. Assim, voltei para casa feliz por testemunhar o despertar de uma juventude repleta de potencial, mas também inquieto por perceber claramente que ela não tem ainda uma ideia muito clara do que está fazendo ou de como prosseguir.
O que resulta numa combinação muito, muito perigosa.
(Aqui peço licença para um breve flashback pessoal para estabelecer por que me julgo detentor de certa experiência para discutir a questão: em 1992, depois de fundar e presidir por dois anos o grêmio do colégio no qual estudava – Promove Savassi -, fui eleito em assembleia estudantil como líder do movimento secundarista no Fora Collor. Como tal, participei da organização das manifestações em Belo Horizonte, discursei em carro de som na Praça da Liberdade e na Praça Sete e fui o rosto de meus colegas sempre que uma entrevista à imprensa era necessária – e certamente há fitas embaraçosas nas emissoras mineiras que trazem meu rosto moleque tentando parecer sério enquanto discute os motivos que tornavam necessária a saída do Presidente. Na época, fui um dos estrategistas do movimento em Minas, ajudando a decidir datas, locais e focos de protesto – e mais tarde presidiria DA da faculdade até abandonar o movimento estudantil ao perceber que precisava me focar nos estudos. Não sou, portanto, um mero palpiteiro, creio eu. Fim do flashback.)
Ao caminhar entre a multidão de milhares de pessoas neste sábado, percebi duas coisas muito óbvias: uma imensa empolgação e uma preocupante falta de foco.
A primeira é fácil compreender: há anos a juventude não ia às ruas – e, como toda geração, eventualmente era inevitável que ela se questionasse acerca de sua própria revolução. A geração anterior teve o “Fora Collor!”; antes dessa, houve a luta contra a Ditadura. O que a geração pós-anos 90 tinha para protestar, porém? Quando e como poderia extravasar o impulso rebelde que faz parte do DNA jovem e que é algo tão belo e fundamental para o avanço da Humanidade?
Os últimos dias trouxeram esta oportunidade – e não é à toa que um jovem amigo pelo qual tenho imenso carinho me enviou uma mensagem por telefone na qual dizia, em parte, “estar em êxtase” após a passeata. Como não estaria? Lembro-me de meus dias de líder estudantil e ainda sinto o calor nostálgico da sensação de dever cumprido: como tantos antes de mim, eu estava deixando minha marca na História.
É um sentimento lindo, único, precioso. E sinto-me privilegiado por ter testemunhado o brilho que este trouxe aos olhos de tantos jovens hoje em Belo Horizonte. Eu olhava ao meu redor e via este êxtase em todos os rostos lisos que me cercavam – e sentia a vontade de abraçá-los com força e dizer: “Eu sei. É lindo, não é?”.
Sim, é lindo.
Mas eu também me sentia inquieto ao observar que, ao lado da euforia, havia uma clara dispersão de objetivos. Assim, puxei papo com vários jovens e observei atentamente os cartazes que carregavam.
“Pela humanização das prostitutas!”
“O corpo é meu! Legalizem o aborto!”
“Fora, Lacerda!”
“Viva o casamento gay!”
“Passe Livre já!”
“Passagem a 2,80 é assalto!”
“Pelo fim da PM no Brasil!”
“Cadê a Dilma da guerrilha?”
“Fuck you, PSTU!”
“Aécio NEVER!”
“Não à Copa no Brasil!”
E por aí afora. Era um festival desconjuntado de causas, ideologias e revoltas. Os cartazes tratavam dos sintomas, não da doença – e ao berrarem os sintomas pelas ruas de BH em vez de identificarem a patologia que os provocavam, aqueles jovens pareciam felizes, sim, mas também um pouco perdidos.
Passei a caminhar silencioso pela multidão. Sentia a energia gostosa, positiva, da ação juvenil, mas mergulhava cada vez mais em uma reflexão preocupada sobre o que via. Seria apenas um sinal dos tempos? Uma revolução do tempo das redes sociais, nos quais você pode “curtir” uma mensagem, uma causa, a cada segundo? Havia, sim, um componente de hiperlink até nos bordões cantados pela massa: um refrão sobre os ônibus levava a outro sobre a PM que levava a outro sobre a Copa que levava a outro sobre Lacerda que levava a outro sobre…
… sobre o quê?
Ao chegar em casa, manifestei esta dúvida no Twitter e alguns jovens imediatamente responderam: “Ninguém nos representa!” e “Sim, estamos contra tudo!”.
Mas “estar contra tudo” não é ideologia.
E sem ideologia não há movimento que se sustente. Ou, no mínimo, que se sustente de maneira consistente – o que abre espaço para a manipulação.
Foi isto, enfim, que me angustiou profundamente.
Vivemos em tempos perigosos: a direita religiosa se torna cada vez mais influente e as grandes empresas da mídia já perceberam que o PSDB não é uma oposição viável – e, assim, decidiram ser elas mesmas a Oposição. Não é à toa que, contradizendo todos os índices econômicos divulgados por órgãos independentes, a Globo, a Foxlha, a Veja e o Estadão vêm pintando um quadro de instabilidade crescente: inflação alta, dólar alto, PIB decrescente e por aí afora, pintando um país em crise que, sejamos honestos, não corresponde ao que vemos todos os dias nas ruas.
Enquanto isso, o aliado histórico dos movimentos populares, o PT, parece ter se esquecido de suas origens: tímido em sua resposta à brutalidade da PM, Haddad apenas embaraçou-se ao relativizar os excessos da polícia – e sua proposta de se reunir com as lideranças do movimento Passe Livre vem tardio, já que estas já não representam mais as massas na rua. Enquanto isso, Dilma é vaiada num estádio lotado por representar o poder – mesmo que, há pouco tempo, tenha oferecido subsídios justamente para diminuir as passagens de ônibus que, ironicamente, serviram como estopim da revolta.
Ora, se o PT não é visto mais como representante popular pelos manifestantes (e nem tem projeto que o aproxime da juventude) e o PSDB é claramente a mão pesada da repressão, para onde os jovens podem se voltar? Além disso, como não têm uma causa específica a defender, estes empolgados rapazes e moças criam um problema impossível, já que não há solução viável que os acalme. Como resultado, surge apenas um clima imponderável de insatisfação política generalizada – um clima complexo, intenso, raivoso e insolúvel.
É deste tipo de contexto que nascem os golpes.
E esta não seria uma solução que desagradaria os barões da mídia – lembrem-se das manchetes dO Globo pós-golpe em 64.
Claro que esta não é a única resolução possível para o quadro que se desenha. Uma revolução sem foco é uma revolução em busca de um líder, de um emblema, de uma figura messiânica. E não há, hoje, uma estrutura política mais equipada para preencher este vácuo que a direita religiosa.
A guinada reacionário-fascista, portanto, é uma possibilidade nada absurda para este movimento que nasce tão bem intencionado.
Isto, aliás, é que me deixa tão preocupado: os jovens que vi hoje na rua eram… lindos. Lindos. Felizes em seu papel democrático, acreditavam estar desempenhando uma função histórica fundamental. E estão. Mas se não surgir um foco para esta embrionária revolução, o perigo para que ela se desvirtue e seja cooptada pelo que temos de mais reacionário, conservador, atrasado e estúpido é real e imediato.
E veríamos, então, a destruição dos resultados trazidos por dez anos de um projeto político voltado de forma inédita para o crescimento social dos miseráveis. Ninguém duvida que, do ponto de vista social, o Brasil de 2013 seja infinitamente melhor que o de 2003. Mas se esta massa juvenil maravilhosa não encontrar o foco necessário, corremos um grande risco de regressarmos a 1993.
Foi isto, afinal, que me deixou tão triste após uma tarde de alegria ao lado daqueles admiráveis jovens.