O Yuri do Livrada fez seu book haul de julho só com livros recebidos de escritores iniciantes e com algumas dicas pra quem está começando (principalmente sobre como promover seu livro) nesses tempos em que se exige, além do talento, cada vez mais profissionalismo dos escritores.
Abaixo o artigo da Folha de S.Paulo que ele menciona no vídeo.
Abaixo o artigo da Folha de S.Paulo que ele menciona no vídeo.
Autores pedem até demissão para ir à Flip buscando entrada no mercado literário
Aspirantes chegam a abordar editores até dentro do banheiro durante feira literária
Chico Felitti
Paraty
Um homem de cabelos crespos e mais de um metro e noventa de altura está parado na frente da bilheteria principal da Flip. Ele carrega livros embaixo dos braços, dançando dentro de uma bata branca, e aponta para quem passa uma folha de sulfite que segura com a mão direita. No papel, está escrito “Procuro editor”.
O escritor Moacir Calarga passa pela cena sem reparar. Ele está numa situação parecida, tirando a placa. É a segunda vez que Calarga vem à Festa Literária Internacional de Paraty com um intuito: quer ser publicado.
O estudante de letras de 28 anos pediu demissão do seu emprego para descer a serra e ir de Araraquara, cidade no interior de São Paulo, a Paraty. Está fazendo uma oficina de como funciona o mercado --e de como conseguir publicar um livro, que no caso dele já está pronto há cinco anos, e que já foi finalista de prêmios de renome.
Calarga pagou R$ 600 para fazer o curso de quatro dias, oferecido pela Casa Paratodxs, uma união de editoras independentes que ganha uma sede durante a Flip. “Dão dicas de como se aproximar de um editor, de o que fazer e de o que não fazer”, diz ele. Por exemplo, Aprendeu que os e-mails que editoras grandes disponibilizam para que autores novatos mandem seus escritos costumam ser um buraco negro. “É muito raro que leiam qualquer coisa que venha sem indicação”, ensina o aluno.
Há outros tantos flipeiros que vão para o evento atrás de uma oportunidade. Na noite de quinta-feira, as escritoras Ana Lima, 23, e Carla Rigolo, 31, estão perdidas pelas ruas irregulares de Paraty. “Você sabe onde é a festa da Companhia?”. A Companhia, no caso, é a Das Letras, uma das maiores editoras do Brasil. Mas elas não querem ferver, e sim fechar negócio. Cada uma leva debaixo do braço um manuscrito de romance. Um deles tem 160 páginas e, o outro, 232. As duas trabalham em agência de publicidade mas já se consideram escritoras. “Não é uma profissão que nasce de uma hora para outra. Nasce com uma vontade”, diz Lima. Quando a Folha pede para ver os manuscritos, as duas ficam sem jeito. “A gente queria muito é mostrar prum editor. Vai que alguém pega a ideia [do livro] e usa.” Elas seguem adiante, com a informação de onde acontecia a festa, mas sem mostrar seu livro.
Numa festa no sábado, editores comentam em anonimato as abordagens de autores ávidos por publicação. “Já me perseguiram até o banheiro aqui em Paraty”, diz um editor que lançou nomes de sucesso no país. “Eu recebo manuscrito até no supermercado”, diz outro, de uma editora de alcance nacional que existe há três anos.
Moacir não tem a mesma audácia de abordar um editor ou uma editora que visse passando pela rua. “Eu acho chato parece que só estou conversando com a pessoa por interesse”, diz ele, que não pediu recomendação nem do escritor Marcelino Freire, que foi seu professor e já elogiou seu romance. “Rua de Ontem” é um livro sobre um homem preso sob a acusação de abusar da própria filha, após a mulher que tem um caso com seu irmão, e não foi elogiado só por Marcelino. Foi um dos finalistas do Prêmio Sesc em 2014, depois de ter chegado à final de outro concurso, o Ideal Clube em Fortaleza
“Eu achei que isso ia ajudar a publicar. Mas não muito.” Desde então, mandou o mesmo arquivo de PDF do texto para cinco ou seis editoras, avisando que tinha sido finalista no prêmio de renome. Recebeu só uma resposta genérica, agradecendo o contato e informando que não iam publicar o livro. Publicou a obra na Amazon, e foi lido por dezenas de pessoas. Mas não ganhou dinheiro.
Conseguiu um emprego como auxiliar administrativo em uma distribuidora de materiais para marmoraria. Foi o emprego que largou para ir à Flip. Estava prestes a terminar o período probatório, mas não esperou para saber se seria efetivado ou não: pediu demissão antes do fim do contrato, para conseguir ir à Flip. “O contrato acabou dia 11”, diz ele, no dia 11. A mãe teve de levar a carteira de trabalho para a empresa dar baixa do fim do emprego.
Exemplo de sucesso
Na noite da quinta, Moacir volta à Casa Paratodxs, onde tem aulas de manhã. Está para começar o lançamento do livro de uma ex-colega. Mariana Salomão Carrara, que fez o curso com ele no ano passado, teve seu romance escolhido para ser publicado, com uma tiragem de mil exemplares e distribuição nacional mais a noite de lançamento no maior evento de literatura do Brasil.
A casa colonial está lotada. As cadeiras de plástico branco estão ocupadas e há pessoas em pé assistindo ao discurso que precede o lançamento. “Tem muita porta fechada no mercado editorial porque a gente vive uma crise imensa. Daí a gente pensou em fazer esse encontro aqui para conversar sobre publicação”, diz a mulher que apresenta a autora.
No fim da noite, Mariana Salomão Carrara assina uma centena de livros. As pessoas fazem fila para pegar o autógrafo em “Se Deus Me Chamar Eu Não Vou.”O livro é narrado por uma criança de 11 anos que escreve cartas para o Homem-Aranha, enquanto sonha em ser escritora, e lida com temas como a solidão e a morte.
No dia seguinte ao lançamento, ela comenta o momento com alegria. “Desde os 20 eu tento mandar [escritos] para editoras. No começo, eram cartas. Hoje em dia, são e-mails.” Nunca recebeu uma resposta. Mas, agora que foi publicada por uma editora de renome, ela acredita que terá mais trânsito nesse mercado. “Eu tô me sentindo otimista.”
A Flip vai acabar no domingo, mas não a luta de Moacir: “A minha ideia era sair daqui, arrumar um outro empreguinho, consegue dinheiro e autopublicar, e me inscrever no Prêmio São Paulo”.
Se algum editor se interessar, eis uma amostra de “A Rua de Ontem”, romance original de Moacir Calarga que espera por publicação: “Há uma grande diferença entre amar para sempre e amar instantaneamente. A maioria das pessoas confunde seus sentimentos, achando ser o primeiro, quando na verdade trata-se do segundo. Assim fora com Camélia. Mas não comigo. Amei-a, desde sempre, e continuo a amá-la”.
Aspirantes chegam a abordar editores até dentro do banheiro durante feira literária
Chico Felitti
Paraty
Um homem de cabelos crespos e mais de um metro e noventa de altura está parado na frente da bilheteria principal da Flip. Ele carrega livros embaixo dos braços, dançando dentro de uma bata branca, e aponta para quem passa uma folha de sulfite que segura com a mão direita. No papel, está escrito “Procuro editor”.
O escritor Moacir Calarga passa pela cena sem reparar. Ele está numa situação parecida, tirando a placa. É a segunda vez que Calarga vem à Festa Literária Internacional de Paraty com um intuito: quer ser publicado.
O estudante de letras de 28 anos pediu demissão do seu emprego para descer a serra e ir de Araraquara, cidade no interior de São Paulo, a Paraty. Está fazendo uma oficina de como funciona o mercado --e de como conseguir publicar um livro, que no caso dele já está pronto há cinco anos, e que já foi finalista de prêmios de renome.
Calarga pagou R$ 600 para fazer o curso de quatro dias, oferecido pela Casa Paratodxs, uma união de editoras independentes que ganha uma sede durante a Flip. “Dão dicas de como se aproximar de um editor, de o que fazer e de o que não fazer”, diz ele. Por exemplo, Aprendeu que os e-mails que editoras grandes disponibilizam para que autores novatos mandem seus escritos costumam ser um buraco negro. “É muito raro que leiam qualquer coisa que venha sem indicação”, ensina o aluno.
Há outros tantos flipeiros que vão para o evento atrás de uma oportunidade. Na noite de quinta-feira, as escritoras Ana Lima, 23, e Carla Rigolo, 31, estão perdidas pelas ruas irregulares de Paraty. “Você sabe onde é a festa da Companhia?”. A Companhia, no caso, é a Das Letras, uma das maiores editoras do Brasil. Mas elas não querem ferver, e sim fechar negócio. Cada uma leva debaixo do braço um manuscrito de romance. Um deles tem 160 páginas e, o outro, 232. As duas trabalham em agência de publicidade mas já se consideram escritoras. “Não é uma profissão que nasce de uma hora para outra. Nasce com uma vontade”, diz Lima. Quando a Folha pede para ver os manuscritos, as duas ficam sem jeito. “A gente queria muito é mostrar prum editor. Vai que alguém pega a ideia [do livro] e usa.” Elas seguem adiante, com a informação de onde acontecia a festa, mas sem mostrar seu livro.
Numa festa no sábado, editores comentam em anonimato as abordagens de autores ávidos por publicação. “Já me perseguiram até o banheiro aqui em Paraty”, diz um editor que lançou nomes de sucesso no país. “Eu recebo manuscrito até no supermercado”, diz outro, de uma editora de alcance nacional que existe há três anos.
Moacir não tem a mesma audácia de abordar um editor ou uma editora que visse passando pela rua. “Eu acho chato parece que só estou conversando com a pessoa por interesse”, diz ele, que não pediu recomendação nem do escritor Marcelino Freire, que foi seu professor e já elogiou seu romance. “Rua de Ontem” é um livro sobre um homem preso sob a acusação de abusar da própria filha, após a mulher que tem um caso com seu irmão, e não foi elogiado só por Marcelino. Foi um dos finalistas do Prêmio Sesc em 2014, depois de ter chegado à final de outro concurso, o Ideal Clube em Fortaleza
“Eu achei que isso ia ajudar a publicar. Mas não muito.” Desde então, mandou o mesmo arquivo de PDF do texto para cinco ou seis editoras, avisando que tinha sido finalista no prêmio de renome. Recebeu só uma resposta genérica, agradecendo o contato e informando que não iam publicar o livro. Publicou a obra na Amazon, e foi lido por dezenas de pessoas. Mas não ganhou dinheiro.
Conseguiu um emprego como auxiliar administrativo em uma distribuidora de materiais para marmoraria. Foi o emprego que largou para ir à Flip. Estava prestes a terminar o período probatório, mas não esperou para saber se seria efetivado ou não: pediu demissão antes do fim do contrato, para conseguir ir à Flip. “O contrato acabou dia 11”, diz ele, no dia 11. A mãe teve de levar a carteira de trabalho para a empresa dar baixa do fim do emprego.
Exemplo de sucesso
Na noite da quinta, Moacir volta à Casa Paratodxs, onde tem aulas de manhã. Está para começar o lançamento do livro de uma ex-colega. Mariana Salomão Carrara, que fez o curso com ele no ano passado, teve seu romance escolhido para ser publicado, com uma tiragem de mil exemplares e distribuição nacional mais a noite de lançamento no maior evento de literatura do Brasil.
A casa colonial está lotada. As cadeiras de plástico branco estão ocupadas e há pessoas em pé assistindo ao discurso que precede o lançamento. “Tem muita porta fechada no mercado editorial porque a gente vive uma crise imensa. Daí a gente pensou em fazer esse encontro aqui para conversar sobre publicação”, diz a mulher que apresenta a autora.
No fim da noite, Mariana Salomão Carrara assina uma centena de livros. As pessoas fazem fila para pegar o autógrafo em “Se Deus Me Chamar Eu Não Vou.”O livro é narrado por uma criança de 11 anos que escreve cartas para o Homem-Aranha, enquanto sonha em ser escritora, e lida com temas como a solidão e a morte.
No dia seguinte ao lançamento, ela comenta o momento com alegria. “Desde os 20 eu tento mandar [escritos] para editoras. No começo, eram cartas. Hoje em dia, são e-mails.” Nunca recebeu uma resposta. Mas, agora que foi publicada por uma editora de renome, ela acredita que terá mais trânsito nesse mercado. “Eu tô me sentindo otimista.”
A Flip vai acabar no domingo, mas não a luta de Moacir: “A minha ideia era sair daqui, arrumar um outro empreguinho, consegue dinheiro e autopublicar, e me inscrever no Prêmio São Paulo”.
Se algum editor se interessar, eis uma amostra de “A Rua de Ontem”, romance original de Moacir Calarga que espera por publicação: “Há uma grande diferença entre amar para sempre e amar instantaneamente. A maioria das pessoas confunde seus sentimentos, achando ser o primeiro, quando na verdade trata-se do segundo. Assim fora com Camélia. Mas não comigo. Amei-a, desde sempre, e continuo a amá-la”.