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Espiritismo em Children of Húrin

O espiritismo não é famoso na Europa (ou é?), mesmo tendo surgido na Europa. Duvido que Tolkien sequer o conhecesse.

Depois das duas grandes guerras o Espiritismo sofreu um certo declínio na Europa, mas isso não quer dizer exatamente que um homem culto como Tolkien não o tivesse conhecido. Não dá pra gente saber é se ele chegou a freqüentar um terreiro ou uma sala de desobsessão! :lol:

Mas eu, sinceramente, acho que ele deve ter pelo menos lido alguma coisa a respeito. :think:


Sim, para os espíritas a reencarnação acontece quando um espírito encarna novamente em um corpo diferente do anterior(o que é o contrário da ressureição)e ele se esquece ou não do passado de acordo com a sua evolução espiritual(o esquecimento do passado é um dos príncipios básicos da doutrina espírita). Afinal, se você descobrisse que foi algoz de sua mãe com a consciência que tem hoje, como você se sentiria? Basicamente isso.


"(...) Enterraram o corpo de Felagund no topo da colina de sua própria ilha, e ela voltou a ser pura. (...) Finrod, porém, caminha com Finarfin, seu pai, à sombra das árvores em Eldamar. (...)”


Lendo essas frases soltas assim, o meu entendimento puxa mais para "ascensão" do que para "reencarnação". Se ela volta a ser pura, estaria ela voltando a ser uma alma sem pecados?


....


:rofl: ...só alguém dispersa como eu mesma pra comentar coisas assim.


Aaa... mas voltando ao início do tópico. "Elfo" é masculino de "Fada", que são elementais do ar, como as Sílfides. Seres nem totalmente humanos, nem totalmente angélicos. Os elementais não são imortais, alguns vivem cerca de mil anos...e além disso, eles não são conscientes da morte.

Informações sobre eles vcs encontram fácil em sites de cultura celta.

No espiritismo, eu não sei se eles poderiam ser chamados de "guias". Até porque esta designação é dada a espíritos que ajudam e auxiliam na recuperação de outros e instrução aos seres humanos. Mas só pessoas com grau elevado de mediunidade conseguem vê-los (leia-se: eu nunca os verei! hahaha). Já um Elfo era facilmente visualizado, não?

Eu sempre acreditei que o universo de Tolkien gire mais em torno da cultura celta, que do espiritismo, por não tratar diretamente de "almas soltas", e sim, "seres elementais".

Mas meu conhecimento em relação a isso é tão infame, que talvez eu contradiga tudo isso daqui a algumas semanas. :dente:
 
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Lendo essas frases soltas assim, o meu entendimento puxa mais para "ascensão" do que para "reencarnação". Se ela volta a ser pura, estaria ela voltando a ser uma alma sem pecados?

Na verdade, ela "volta" para "consertar" seus "pecados" e evoluir moralmente, por escolha própria ou em alguns casos por imposição. Ninguém só porque nasce de novo está livre do que cometeu anteriormente.

O espiritismo não é famoso na Europa (ou é?), mesmo tendo surgido na Europa. Duvido que Tolkien sequer o conhecesse.

Isso é uma possibilidade, o espiritismo realmente tem seu berço na França, mas o Brasil é o lugar onde ele tem mais seguidores. Tolkien era extremamente politizado, portanto, creio que ele o conhecia, mas sua visão católica não o deixaria se influênciar por uma visão kardecista.
 
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O espiritismo não é famoso na Europa (ou é?), mesmo tendo surgido na Europa.

Famoso? Isso não é best-seller pra ser famoso. Conhecido com certeza é. Só não tem tantos adeptos por que as religiões mais antigas são muito mais fortes. E, dependendo da região ou país, as pessoas são extremamente conservadoras.


Duvido que Tolkien sequer o conhecesse.

Mas aí é suposição total. Tolkien era um homem muito culto. Lia bastante e conhecia muita coisa. Simplesmente dizer que ele não conhecia, é subestimar o professor.
 
Na verdade, ela "volta" para "consertar" seus "pecados" e evoluir moralmente, por escolha própria ou em alguns casos por imposição. Ninguém só porque nasce de novo está livre do que cometeu anteriormente.


Isso é uma possibilidade, o espiritismo realmente tem seu berço na França, mas o Brasil é o lugar onde ele tem mais seguidores. Tolkien era extremamente politizado, portanto, creio que ele o conhecia, mas sua visão católica não o deixaria se influênciar por uma visão kardecista.

Como parte de suas crenças espirituais católicas talvez não, mas como parte de uma criação ficcional ou "subcriativa", ou como uma condição que, no universo subcriado, fosse válida, não pra humanidade como um todo, mas pra alguns indivíduos em condições especiais ( como acontecia com os Pais dos Anões e o pai e filho de Lost Road), aparentemente, sim. Por mais que Tolkien tentasse seguir o pensamento teológico católico na sua Subcriação ele mesmo enfatizou que não fazia questão que a teologia do Mundo Secundário, a realidade da "Terra Média" ficasse adstrita ou servisse pra promover a ortodoxia cristã ( implicitamente) o tempo todo ou ao pé da letra. Vide carta 257.

Quando C. S. Lewis e eu jogamos cara ou coroa, e ele ficou de escrever sobre uma viagem espacial e eu sobre uma viagem no tempo, comecei um livro abortivo de viagem no tempo cujo final seria a presença de meu herói na submersão de Atlântida. Esta seria chamada Númenor, a Terra no Oeste. O fio da história seria a ocorrência repetidas vezes em famílias humanas (como Durin entre os Anões) de um pai e um filho chamados por nomes que poderiam ser interpretados como Amigo-da-Bem-aventurança e Amigo-dos- Elfos.

Tolkien foi incluenciado por idéias gnósticas e neoplatônicas de Owen Barfield, seu colega nos Inklings ( que , por sua vez, as recebeu da Antroposofia de Rudolf Steiner uma divisão da Teosofia da Blavatksy rival do Espiritismo Kardecista), Ele incorporou muita da filosofia da linguagem e da interação entre espírito e matéria antroposóficas na sua teoria da Unidade Semântica aplicada à filologia de Tolkien. Verlyn Flieger escreveu um livro inteiro sobre esse assunto, o Splintered Light.

E Tolkien , sem dúvida , estava ciente de que a crença na reencarnação que ele incorporou na metafísica de Lost Road e Notion Club Papers, assim como o retorno das almas na dinastia de Dúrin, tinha origem no Espiritismo Kardecista e/ou Espiritualismo Teosófico/Antroposófico. Vários autores da época dele , inclusive Charles Williams e Owen Barfield, que eram companheiros Inklings, foram ligados a movimentos religiosos/filosóficos onde essas idéias eram parte da doutrina. Não havia nenhuma maneira de Tolkien não saber de onde vinham essas idéias mesmo que ele nunca tenha cogitado sobre a sua aplicabilidade ou realidade no Mundo Primário ou questionado sua fé na ortodoxia católica.

Rider Haggard e Conan Doyle que foram influências sobre Tolkien discutiram abertamente essas idéias e as usaram de diversos modos em livros de ficção e não-ficção aos quais Tolkien indubitavelmente teve acesso.
 
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É. Li e reli o livro e o trecho e não acho que tenha qualquer coisa do espiritismo.
Como disse o Cisne (nos tópicos passado) mesmo a reencarnação dos elfos nada tem a ver com o espiritismo que conhecemos.
 
É. Li e reli o livro e o trecho e não acho que tenha qualquer coisa do espiritismo.
Como disse o Cisne (nos tópicos passado) mesmo a reencarnação dos elfos nada tem a ver com o espiritismo que conhecemos.

Mas na versão original, pré anos cinquenta, tinha e muito. Tanto é que é muito importante a noção de distinção de reencarnação como sendo renascimento ou reconstrução do corpo como bem explicada na Enciclopedia de Michael Drout

Na versão original os elfos renasciam por Graça de Eru em novos corpos de outras famílias, vindo a recuperar suas memórias de sua vida anterior gradualmente.

Foi só depois que Tolkien modificou a noção para incorporar a idéia de que os Valar e/ou os próprios espíritos desalojados recriavam um corpo idêntico ao original morto a partir de manipulação "mágica" da matéria que é a noção já tardia, criada nos anos sessenta . Então, originalmente, a reencarnação élfica era bem mais parecida com a "espírita" (ou espiritualista pra ser mais preciso já que bate mais com a vertente com a qual Tolkien teria tido mais contato indireto)

Na versão original, os elfos reencarnados também não eram literalmente o mesmo ser de antes como acontece nas diversas correntes espiritualistas. Foi só depois que Tolkien mudou essa concepção.

Em todo caso a noção "espírita" de reencarnação em Tolkien ainda parece ter bastante procedência pra alguns membros da raça dos Homens ( vide HoMEs 5 e 9) e na casa familiar dos Pais dos Anões , onde os patriarcas parecem reencarnar nos descendentes , dando origem aos diversos Durins por exemplo.

E justamente pra informar as pessoas pq eu também não sabia até recentemente: os judeus acreditam em reencarnação ( pelo menos alguns deles que adotam determinada leitura da Cabala) também e são devotos do mesmo Deus Cristão, Jeová/Elohim embora não acreditem na divindade de Jesus Cristo.

http://www.chabad.org/library/article_cdo/aid/361889/jewish/Reincarnation.htm

Então a noção de reencarnação no ocidente não começou a ser propagada com Alan Kardec ou com o Espiritualismo da Blavatsky, já existia antes da criação dessas "religiões" inclusive em redutos "cristãos" com grande influência judaica como a Maçonaria , onde a Cabala também é estudada.
 

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