Haran
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Sobre a questão da qualidade dos artigos científicos... Tornou-se senso comum apontar que os os artigos brasileiros são numerosos e poucos citados, isto é, teriam grande quantidade e pouca qualidade. Por exemplo, é o que faz esses dois artigos: [1][2]. Esse trecho retrata a essência da crítica:
Ou também estes gráficos, que mostram a posição ruim do Brasil no ranking de citações por publicação (cpp):
O autor usa dados do Scimago Jornal & Country Rank. São dados bem interessantes, é possível selecionar o país, área de pesquisa e até sub-área, e conhecer o número de artigos, citações, cpp, etc.
Também é possível conferir os dados que ele postou ali. Selecionando os países que publicaram mais de 3000 artigos em 2017, a Estônia de fato esteve em quinto lugar na posição de cpp, e o Brasil na posição 58, bem distante. Parece que o Brasil é bem incompetente em produzir artigos que recebam um número apreciável de citações...
Olhando a lista, porém, percebe-se várias peculiaridades.... por exemplo, encontramos o Quênia (17) na frente dos Estados Unidos (29), Reino Unido (22) e Alemanha (29)... Curioso, né? Analisando os números, fica evidente que o xis da questão é que o Quênia e a Estônia publicam pouco. Se o critério de 3000 artigos for reduzido para 1500 artigos, por exemplo, a Islândia surge como o país mais competente no que se refere ao número de cpp.
É um mérito da Quênia, Estônia e Islândia, claro, mas também é evidente que, em termos de desenvolvimento científico, não cabe comparação entre esses países e os Estados Unidos, Reino Unido e Alemanha. Disso fica patente que, assim como o número absoluto de artigos não é um bom critério, também não o é o mero critério de cpp. Não basta analisar só a quantidade ou só a qualidade, pois para um país é relativamente fácil manter uma qualidade altíssima em um número diminuto de trabalhos. Mas isso não é tão vantajoso ao país. Em menor escala, mais vale um pesquisador com 200 artigos com 2 citações cada, do que um pesquisador com um único artigo na vida com 20 citações.
Daí a necessidade de um índice que meça tanto a qualidade quanto a quantidade. Um índice que busca fazê-lo é o índice h. Trata-se do número máximo h de artigos (de um dado país/universidade/pesquisador) que receberam no mínimo h citações. É um tanto quanto abstrato, mas lendo o artigo da wiki fica mais fácil entender o conceito e como ele tenta englobar tanto qualidade quanto quantidade. Há quem argumente que não há grande vantagem em adotar o índice H, pois ele seria análogo a outras grandezas mais intuitivas [3][4]. De qualquer forma, é um índice comumente adotado para medir "both the productivity and citation impact of the publications", e é adotado pelo Scimago Jornal & Country Rank.
Analisando a lista de países por índice h, aí não temos nenhuma surpresa, os grandes atores da ciência mundial ficam nas primeiras posições. No ano de 2017, em sequência, estão Estados Unidos, Reino Unido, Alemanha, Canadá, França, Japão, etc. O Brasil fica na posição 24, o que não é excelente, mas está muito melhor do que a posição 58 que tínhamos anteriormente....
Ao invés de focarmos na Estônia, podemos analisar algumas potências em produção científica. Na tabela abaixo, separei os dados de cinco áreas científicas e escolhi quatro países para comparar com o Brasil: Estados Unidos, Alemanha, Japão e China. Esses países são indubitavelmente potências científicas, são países populosos, e a China e os USA são, em muitos aspectos, similares ao Brasil.
Nessas cinco áreas que eu selecionei, em termos de citações por publicação (cpp), China e Japão têm números bem parecidos ao do Brasil. Isso é, se é verdade que os artigos do Brasil são de "pouca qualidade" porque são "pouco citados", penso que teríamos que concluir o mesmo em relação à China e ao Japão - o que seria absurdo. Por outro lado, o que se percebe nos dados é que Estados Unidos e China publicam pra caramba e em quantidade similar, Alemanha e Japão publicam cerca de 1/3 da produção americana, e o Brasil publica menos do que 1/10. O cenário não muda tanto se abrangermos todas as áreas, incluindo as não-científicas. Em suma, dentre qualidade (cpp) ou quantidade (número de publicações), a maior fraqueza brasileira parece ser a quantidade mesmo...
Ou também estes gráficos, que mostram a posição ruim do Brasil no ranking de citações por publicação (cpp):
O autor usa dados do Scimago Jornal & Country Rank. São dados bem interessantes, é possível selecionar o país, área de pesquisa e até sub-área, e conhecer o número de artigos, citações, cpp, etc.
Também é possível conferir os dados que ele postou ali. Selecionando os países que publicaram mais de 3000 artigos em 2017, a Estônia de fato esteve em quinto lugar na posição de cpp, e o Brasil na posição 58, bem distante. Parece que o Brasil é bem incompetente em produzir artigos que recebam um número apreciável de citações...
Olhando a lista, porém, percebe-se várias peculiaridades.... por exemplo, encontramos o Quênia (17) na frente dos Estados Unidos (29), Reino Unido (22) e Alemanha (29)... Curioso, né? Analisando os números, fica evidente que o xis da questão é que o Quênia e a Estônia publicam pouco. Se o critério de 3000 artigos for reduzido para 1500 artigos, por exemplo, a Islândia surge como o país mais competente no que se refere ao número de cpp.
É um mérito da Quênia, Estônia e Islândia, claro, mas também é evidente que, em termos de desenvolvimento científico, não cabe comparação entre esses países e os Estados Unidos, Reino Unido e Alemanha. Disso fica patente que, assim como o número absoluto de artigos não é um bom critério, também não o é o mero critério de cpp. Não basta analisar só a quantidade ou só a qualidade, pois para um país é relativamente fácil manter uma qualidade altíssima em um número diminuto de trabalhos. Mas isso não é tão vantajoso ao país. Em menor escala, mais vale um pesquisador com 200 artigos com 2 citações cada, do que um pesquisador com um único artigo na vida com 20 citações.
Daí a necessidade de um índice que meça tanto a qualidade quanto a quantidade. Um índice que busca fazê-lo é o índice h. Trata-se do número máximo h de artigos (de um dado país/universidade/pesquisador) que receberam no mínimo h citações. É um tanto quanto abstrato, mas lendo o artigo da wiki fica mais fácil entender o conceito e como ele tenta englobar tanto qualidade quanto quantidade. Há quem argumente que não há grande vantagem em adotar o índice H, pois ele seria análogo a outras grandezas mais intuitivas [3][4]. De qualquer forma, é um índice comumente adotado para medir "both the productivity and citation impact of the publications", e é adotado pelo Scimago Jornal & Country Rank.
Analisando a lista de países por índice h, aí não temos nenhuma surpresa, os grandes atores da ciência mundial ficam nas primeiras posições. No ano de 2017, em sequência, estão Estados Unidos, Reino Unido, Alemanha, Canadá, França, Japão, etc. O Brasil fica na posição 24, o que não é excelente, mas está muito melhor do que a posição 58 que tínhamos anteriormente....
Ao invés de focarmos na Estônia, podemos analisar algumas potências em produção científica. Na tabela abaixo, separei os dados de cinco áreas científicas e escolhi quatro países para comparar com o Brasil: Estados Unidos, Alemanha, Japão e China. Esses países são indubitavelmente potências científicas, são países populosos, e a China e os USA são, em muitos aspectos, similares ao Brasil.
Nessas cinco áreas que eu selecionei, em termos de citações por publicação (cpp), China e Japão têm números bem parecidos ao do Brasil. Isso é, se é verdade que os artigos do Brasil são de "pouca qualidade" porque são "pouco citados", penso que teríamos que concluir o mesmo em relação à China e ao Japão - o que seria absurdo. Por outro lado, o que se percebe nos dados é que Estados Unidos e China publicam pra caramba e em quantidade similar, Alemanha e Japão publicam cerca de 1/3 da produção americana, e o Brasil publica menos do que 1/10. O cenário não muda tanto se abrangermos todas as áreas, incluindo as não-científicas. Em suma, dentre qualidade (cpp) ou quantidade (número de publicações), a maior fraqueza brasileira parece ser a quantidade mesmo...
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