Muito difícil escolher quem sofreu mais. Todos sofreram muito, é um mundo de dificuldades. Por isso que na enquete tem alguns nomes que se encaixam muito melhor como vilões que heróis, como Ar-Phârazon, por exemplo.
Imagina viver e morrer sabendo que naquela ilha a oeste, que é proibida aos homens, existem pessoas que vivem para sempre, e mais para o leste ainda existem as chamadas “terras imortais”. Como não enlouquecer e aceitar docilmente a morte sendo que a imortalidade está tão próxima? Tão ao alcance das mãos? É possível ver Casadelfos! É compreensível a dor e o sofrimento de Ar-Phârazon. É como colocar um gordinho de dieta e todo dia após o almoço passar com um carrinho de sobremesas ao lado dele. É uma dieta fadada ao fracasso, claro que não vai dar certo. Claro que vai gerar dor e sofrimento.
Outro personagem que sofreu muito, mas não está na enquete é Théoden. Meu, ele começa sendo rei de um país pobre. Ele foi criado em Gondor e só depois foi viver em Rohan. Imagina ser criado numa sociedade bem avançada e depois ter que ser o líder de uma mais atrasada?
Além disso, quando ele aprende a amar o seu país, falha com ele, pois cai nos feitiços do traidor Grima e por isso acaba permitindo que inimigos andem livremente no país e a perseguir aliados (como seu sobrinho Éomer). O povo morre por causa disso. Fazendas são queimadas, vilas atacadas.
E para completar com “chave de ouro”, quando finalmente Théoden desperta para o mundo real: seu filho está morto. Morreu defendendo seu país, coisa que Théoden deveria ter feito. E o rei rohirrim não pôde nem se despedir dele, pois estava enfeitiçado. Quando ele finalmente acorda, seu filho único está morto e enterrado. Imagina a dor desse homem? Não é a toa que ele busca a morte desesperadamente depois, no Abismo de Helm e em Minas Tirith. Só uma morte gloriosa em batalha para acabar com seu sofrimento e redimir seus pecados. Por isso suas últimas palavras são: “Vou agora para os palácios de meus antepassados, cujo em grande companhia não me sentirei envergonhado”.
Em matéria de dor, há também na enquete dois grandes sofredores: Húrin e Túrin. O primeiro foi atormentado pelo próprio mal em pessoa. Ele conversava com Morgoth em sua prisão enquanto assistia os infortúnios de sua família. Tudo isso, acorrentado, mãos e pés, sem nada poder fazer. Difícil calcular o quanto esse pai sofreu.
Túrin então, nem se fala, toda sua vida foi desgraçada. Foi proscrito, foi o Espada Negra, perdeu a mãe, matou melhor amigo, se apaixonou pela irmã. Parece que tudo que poderia acontecer de errado na vida dele, aconteceu. Mesmo ele sendo o grande herói que foi.
Mas para mim, não houve sofrimento maior que o do Frodo. Ele foi o Portador do Anel. Ele nunca quis o Anel, não o desejou como Isildur, não matou por ele como Smeagol, não o encontrou e usou-o durante uma grande jornada como Bilbo. Ele começa sendo vítima porque ele herdou o Anel, sem nunca ter feito nada para merecer esse fardo. Por conta disso, toda a sua vida muda. Se ele planejava ser um simples hobbit do Condado cuidando de seus afazeres mundanos, ele não pode mais. Se ele pensava em casar e ter filhos, ele não pode mais. Se ele quisesse qualquer outra coisa para sua vida, se envolver em outras aventuras, desenvolver outros projetos ou simplesmente apenas ir empurrando a vida com a barriga, ele não pode mais. Agora o objetivo da sua vida está totalmente ligado ao destino do Um. Imagina? . Ao herdar o Anel, Frodo perdeu sua vida!
Só por isso eu já o considero o maior sofredor de Arda. Mas sua dor não acaba ainda, ao contrário, está só começando:
Frodo entrega sua vida abertamente a essa tarefa que ele nunca pediu. Ele se entrega totalmente e com todas as suas forças e consegue o que ninguém poderia conseguir, o que Sauron não consegue nem pensar: Frodo consegue destruir o maldito artefato. E agora? Ele está livre para ser um hobbit feliz e retomar sua vida? Não. Ele nunca mais será um hobbit feliz, nunca mais vai retomar sua vida. Agora o mundo para ele é monocromático, sem cor, nem sabor. Seu mundo se restringe à dor e cicatrizes que doem toda vez que fazem aniversário: a ferida no Topo do Vento e a ferida pela Laracna. Ele não pertence mais ao Condado. Os hobbits são enfadonhos e têm objetivos e vidas menores. Por outro lado, os Grandes e os Sábios não têm mais nenhuma demanda para ele. Ele já salvou o mundo! Os destinos de Arda não necessitam mais da interferência dele. Agora ele não tem mais um lugar no mundo, nem entre os Grandes, nem entre os Pequenos. Tanto que ele decide por ir à Valinor e deixar não apenas tudo o que ele conheceu para trás, mas principalmente ele deixa para trás tudo o que ele poderia ter conhecido, ele deixa a sua vida roubada.