Brasil novamente sem fazer amistosos contra seleções europeias e novamente eliminado por uma seleção europeia nas quartas.
Eu critiquei isto antes da Copa e muitos defenderam os adversários falando que não precisava. Eis mais uma eliminação.
Quem falou que "não precisava"? O problema dessa crítica são dois:
1) Não foi uma
opção de Tite ou da CBF não jogar amistosos contra europeus. Simplesmente não houve calendário. Está cheio de declarações de Juninho e de Tite antes da Copa lamentando não ter sido possível encontrar uma data FIFA para enfrentar uma seleção europeia de ponta, por causa da Eurocopa e da Liga das Nações. As outras seleções sul-americanas também não conseguiram, pelo mesmo motivo; e treinadores das próprias seleções europeias também lamentaram e foram criticados, do lado de lá, chegarem na Copa sem terem se testado contra um Brasil ou uma Argentina;
2) Amistoso é amistoso. Não há grau real de enfrentamento e competitividade em amistosos; fora que é muita forçação de barra deduzir que um amistoso contra uma seleção europeia qualquer (mesmo em se falando das principais) teria feito diferença determinante para o enfrentamento de uma europeia específica, dado que não há um "estilo de jogo europeu" ou coisa que o valha. Prova disso é que na preparação para 2018 o Brasil enfrentou e venceu, jogando melhor, Alemanha e Croácia, entre outras, e acabou surpreendida pela Bélgica, que jogou o 1º tempo de uma forma diferente da que ela própria costumava jogar.
Tite cometeu erros graves, mas não há nenhum erro evidente na filosofia ou na preparação. Tem que se ter cuidado com o velho "engenheiro de obra pronta". É muito fácil achar que tá tudo errado depois do resultado negativo, assim como é muito fácil não enxergar os erros quando dá tudo certo. Nossas últimas seleções campeãs seriam escrachadas se alguns detalhes - que dependem mais da sorte do que de outros aspectos - tivessem sido desfavoráveis. E futebol em Copa do Mundo é assim mesmo: um pequeno erro do seu time pode pôr tudo a perder, e um pequeno erro do adversário pode lhe valer o mundo.
Eu acho que o principal erro de Tite - e repito: é mais fácil falar isso depois que deu errado - foi insistir numa única estrutura de jogo e nos mesmos jogadores. Em outras ocasiões, o gol surgiu na teimosia, e pareceu que valeu a pena insistir, mas a Copa do Mundo não lhe dá tempo. Ele já havia cometido esse erro em 2018, e cometeu de novo em 2022:
tem que botar pra jogar quem está melhor, e
tem que adaptar o time ao que pedem as circunstâncias. O meio-campo do Brasil foi engolido pela Croácia. Ou faltou o estudo correto antes da partida, ou sobrou inteligência tática do treinador croata sobre o nosso, como sobrou do belga, em 2018. E talvez tenha faltado treinar a capacidade de ser um time que joga sem a posse de bola, como acabamos precisando durante o jogo todo, e especialmente depois do 1º gol.
Mas no fim das contas não perdemos por isso. Perdemos pelos detalhes: a precisão das finalizações, o que depende apenas do jogador (foram 19 contra 1, pelo amor de Deus), e a inexplicável, inaceitável e inacreditável tomada de um contra-ataque num 2º tempo de prorrogação estando vencendo o jogo. E aqui, ressalvada essa culpa por provavelmente não ter treinado esse cenário de jogo, não pode se atribuir ao treinador. No contra-ataque nosso que deu origem a esse contra-ataque final, pode-se ver ele próprio mandando o pessoal segurar a bola, e depois mandando voltar. O erro ali foi de Pedro - que entrou justo pra segurar essa bola no ataque! - em forçar a bola para Fred, e deste em tentar alcançá-la. Depois, os jogadores tentaram fazer o que estava no DNA do que é a nossa transição defensiva base: fazer pressão para recuperar a bola, e esse foi o erro fatal, porque a Croácia demonstrou desde o início da partida perfeição em fugir dessa pressão, e com os nossos jogadores cansados isso foi fichinha.
Houve o erro terrível também, juvenil, de não aproveitar todas as nossas substituições. Só usamos 3 das 5 substituições a que tínhamos direito no tempo regulamentar. Perdemos a oportunidade de pôr Martinelli em campo e de substituir Danilo, cuja caimbra foi decisiva para o contra-ataque que sofremos.
Fora tudo isso houve o outro erro inadmissível, já falado, de o melhor batedor de pênaltis da atualidade não bater o seu. Eu até entendo a decisão de Neymar não ser o primeiro: se ele perde, desmorona o moral do time; mas se a lógica era deixá-lo bater o pênalti crítico (o último), pela forma como a disputa se desenrolou, esse pênalti crítico se tornou a quarta cobrança! É óbvio que era para ele ter batido ali, no lugar de Marquinhos, exatamente pela lógica que o fez ser inicialmente escalado por último.
Eu estou até agora devastado. Foi, de longe, a derrota mais sofrida que eu já acompanhei no futebol. Em parte pelas expectativas, mas especialmente pela forma como foi: com a vitória na mão. O nosso gol deve ter sido o momento de maior explosão da minha vida. Estava pintando uma história tão bonita: era para estarmos falando do golaço de Neymar na prorrogação (porque foi realmente um golaço) que levou a uma semifinal histórica de Brasil x Argentina. Estávamos construindo uma história parecida com a da Alemanha em 2014, que - agora ninguém lembra, né? - penou contra a Argélia, jogando mal, e também precisou de um gol na prorrogação.
Eu tô igual àquele meme de Narcos. O que quer que esteja fazendo, me pego deprimido: "Era só segurar 5 minutos", "Por que caralhos tinham 5 jogadores no campo de ataque dando 1x0?", "E Neymar não bate um pênalti!". Foda.