Jovem tenista sul-coreano busca top 100 sem ouvir nada dentro de quadra
JEAN CHUNG/NYT
O tenista sul-coreano Lee Duck-hee,18, durante competição na Coreia do Sul
O impacto entre a raquete e a bolinha, os gritos do adversário após rebater e as marcações do árbitro: nenhum desses sons é ouvido em quadra por Lee Duck-hee.
O sul-coreano de 18 anos é um dos raríssimos casos de tenistas surdos nos principais torneios do esporte. Atual 149º colocado no ranking da ATP (Associação dos Tenistas Profissionais), ele tem metas realistas para a temporada 2017, mas que se forem alcançadas o colocarão em outro patamar na modalidade.
"Em primeiro lugar quero entrar no top 100. Também ser campeão de um challenger [um nível abaixo dos torneios da ATP] e ganhar um jogo na chave principal de um Grand Slam", afirmou à
Folha por e-mail.
A deficiência auditiva acompanha o tenista desde o seu nascimento. Ao longo dos anos, ele aprendeu a fazer leitura labial e a falar. Em alguns casos, porém, conta com a ajuda de seu primo, treinador e grande incentivador da carreira, Woo Chung-hyo, para se comunicar.
Ouvir os golpes dos adversários é considerado crucial para antecipar os movimentos no tênis. Segundo um estudo do Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos publicado em 2015, o tempo de reação médio para estímulos visuais é 0,04 segundo mais lento se comparado à reação a estímulos auditivos.
É comum que os tenistas reclamem de barulhos que possam interferir durante os pontos. Em setembro do ano passado, o som da chuva caindo sobre o novo teto retrátil da quadra central do Aberto dos EUA incomodou o britânico Andy Murray.
"Usamos nossos ouvidos quando jogamos, não apenas os olhos. Isso nos ajuda a pegar a velocidade da bola, o efeito colocado e quão forte foi batida", disse à época.
Lee, no entanto, não considera sua deficiência uma desvantagem. "Eu jogo tênis sem nenhum som desde a primeira vez que joguei. Então, pelo menos para mim, isso não afeta muito", afirma.
De acordo com ele, a maior dificuldade é não ouvir as marcações do árbitro ao sacar, principalmente quando a bola toca a rede e passa para o lado do rival.
Nesse caso, se ela quica dentro da área de saque, o primeiro serviço é repetido, é o chamado "let". Se quicar fora, o tenista dá um segundo saque, normalmente com menos força e mais precisão.
"Se o árbitro não faz gestos corporais, eu não sei se ainda tenho duas chances para sacar ou apenas uma. Às vezes perco a oportunidade de sacar forte por achar que era um segundo saque", afirma.
ASCENSÃO
Finalista em um challenger em setembro de 2016, quando perdeu para o compatriota Hyeon Chung, 20, Lee está em ascensão.
Ele começou o ano passado na 229ª posição do ranking e chegou a atingir o 143º lugar, o melhor da carreira. Atualmente, é o segundo mais bem colocado da sua idade.
A primeira semana de 2017, porém, não foi boa para Lee, que era o terceiro favorito no challenger de Nouméa (Nova Caledônia), mas caiu logo na partida de estreia.
As chances de recuperação, todavia, estão logo à frente. Na próxima semana, o sul-coreano deve tentar uma vaga no Aberto da Austrália pelo qualificatório.
Ainda não há previsão de quando ele disputará um torneio no Brasil, mas o jovem já tem um pedido especial.
"Vi uma reportagem sobre o Aberto do Brasil, que treinou cachorros abandonados para que eles fossem pegadores de bola. Eu amo cães, então fiquei impressionado. Se eu tiver a chance de jogar no país, eu quero receber as bolas desses cachorros", disse.
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Já venho desde a metade do ano passado acompanhando os feitos desse sul-coreano no circuito mundial.
As pretensões dele podem parecer modestas para um tenista normal, mas para ele são fantásticas e históricas.