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Tintim e Popeye fazem 90 anos e tentam sobreviver à modernidade

Fúria da cidade

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Nascidos em 1929, personagens são geradores de bordões e ficaram mais conhecidos no Brasil por causa da TV

Corria o ano de 1929, a quebra da Bolsa de Nova York chacoalhava meio mundo, o Oscar preparava a sua primeira cerimônia, enquanto Martin Luther King e Anne Frank nasciam, ele nos Estados Unidos, ela, na Alemanha.

Foi no meio desse caldo, também entre a Europa e a América, que surgiram dois personagens que marcaram a história dos quadrinhos.
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Em 10 de janeiro, há exatos 90 anos, Hergé publicava no suplemento infantil belga Le Petit Vingtième os primeiros traços do jornalista viajante Tintim. Uma semana depois, no dia 17, o americano Elzie Crisler Segar lançava o marinheiro Popeye em sua tirinha do New York Journal.

“Com mil trovoadas!”, poderia dizer o Capitão Haddock, amigo de Tintim nas HQs, ao descobrir que seu companheiro de voltas ao mundo se tornou um noventão. “Macacos me mordam!”, provavelmente devolveria Popeye.

Mesmo com um Atlântico de distância, os personagens apresentam mais em comum do que só a idade —suas narrativas, por exemplo, são recheadas de bordões que duram décadas (Haddock tem ainda o curioso “Papagaio louro!”, que rivaliza com o nonsense “Pelas barbas do camarão!”, do marinheiro).
“Outra coincidência é que eles não ficaram famosos no Brasil por causa dos gibis. A fama veio com os seriados da TV”, afirma Kendi Sakamoto, colecionador de histórias em quadrinhos, com um acervo de mais de 140 mil itens.
Popeye faz 90 anos

Mesmo que Popeye tenha aparecido para o mundo nas páginas do jornal, ele logo embicou a proa de seu barco para o cinema e a televisão.

A estreia ocorreu em 1933, no desenho da Betty Boop, em que apareceu na tela em preto e branco, já cantando “Eu Sou o Marinheiro Popeye”, enquanto caminhava fumando pelo navio e distribuindo sopapos a torto e a direito.

Foi com essas produções também que sua principal característica foi reforçada —o consumo sem freios de espinafre, um doping natureba que lhe dá força sobre-humana e o torna imbatível.
Fato que o ajudou na Segunda Guerra. Assim como diversos personagens americanos (Super-Homem, Capitão América, entre outros), o comedor de verduras também foi ao front e chegou a se alistar na Marinha dos Estados Unidos.

A primeira menção surge no curta “The Mighty Navy” (a poderosa Marinha), o início de uma série de filmes em que Popeye faz parte das Forças Armadas e usa o uniforme branco dos militares.
A produção foi lançada em 1941, ano em que tropas japonesas atacaram Pearl Harbor, no Havaí, o que marcou a entrada dos Estados Unidos no conflito. Em vídeos posteriores, Popeye chega a lutar sozinho contra tropas e a surrar uma legião de soldados estereotipados de olhos puxados.
Tintim faz 90 anos

Do outro lado do oceano, a Segunda Guerra é assunto mais delicado para Tintim e o belga Hergé, pseudônimo de Georges Remi criado a partir da pronúncia em francês de suas iniciais invertidas: RG.
Até a invasão da Bélgica pela Alemanha, em 1940, o personagem que resolve mistérios ao redor do mundo ao lado do cachorro Milu até combateu vilões germânicos. O principal caso está em “Tintim no País do Ouro Negro”, em que o jornalista enfrenta um sinistro doutor Müller.

Com o avanço das tropas alemãs, a trama precisou ser interrompida. E, depois disso, o que se viu foi, no máximo, uma neutralidade de Tintim e de seu criador em relação aos nazistas. Mas há quem defenda o apoio do autor ao regime.

Para poder continuar publicando suas aventuras, o cartunista colaborou com o jornal Le Soir, que tinha autorização dos alemães para circular e servia como certo porta-voz das políticas de Hitler.

É quando as HQs passam a mostrar vilões judeus mais caricaturais. Mas é também a época em que o universo da série se consolida. Tanto que na aventura seguinte, “O Caranguejo das Pinças de Ouro”
(1941), cambaleia pela primeira vez um dos marcos desse universo: o sempre meio bêbado Capitão Haddock.

Já a trama contra o tal doutor Müller só seria lançada com o fim da guerra.

As HQs, porém, dificilmente chegavam ao Brasil nesse período. Quando disponibilizadas, eram importadas, em francês, e circulavam apenas nos círculos de iniciados e fãs.

O topete do jornalista, que curiosamente quase nunca é visto escrevendo suas reportagens, só ficaria mais popular nos anos 1990, com o lançamento do desenho “As Aventuras de Tintim”. E rodaria o mundo com o filme homônimo de 2011, de Steven Spielberg e Peter Jackson, vencedor do Globo de Ouro.

“Só dá para fazer conjecturas. Mas diria que nunca houve um investimento forte das editoras brasileiras nem dos titulares franco-belgas em fazer Tintim pegar no Brasil —em comparação com o estímulo que existe nos quadrinhos americanos, por exemplo”, afirma Érico Assis, tradutor da obra de Hergé para a editora Globo.

Após o sucesso televisivo, os quadrinhos passaram a ser mais traduzidos no país, principalmente pela Companhia das Letras, que publicou mais de 20 livros do belga entre 2005 e 2008. Desde 2016, a Globo está lançando edições fac-similares das nove primeiras histórias de Tintim, feitas ainda em preto e branco. Seis estão à venda, e as últimas três devem sair no próximo ano.

“Hoje os jovens têm mais familiaridade com o Tintim do que com o Popeye. O que é preocupante, porque quem não é visto não é lembrado. E corre o risco de não existir”, diz Sakamoto, o colecionador.

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Essa parte das HQs desses dois personagens de fato foi bem pouco conhecida aqui. Até cheguei a ler uma HQ do Popeye dos anos 80, mas que teve uma fase bem curta de publicação no Brasil
 
Ouvi dizer que no novo desenho o Popeye não vai mais fumar cachimbo, o qual será substituído por um... apito? Se essa for a sua maneira de sobreviver à modernidade, era melhor ter morrido com alguma dignidade.
 
Pra mim foi muito sofrível ter visto esse novo episódio. É tipo de coisa que vi agora e depois não quero ver nunca mais.
 
Ouvi dizer que no novo desenho o Popeye não vai mais fumar cachimbo, o qual será substituído por um... apito? Se essa for a sua maneira de sobreviver à modernidade, era melhor ter morrido com alguma dignidade.
Um Popeye que não fuma, um Conan que não mata, um Holmes que não se droga... o sonho de consumo da horda fofinha.
 
Tópico que dos tempos em que o Béla escrevia todo "coloridinho". Assim como não veremos o cachimbo do Popeye, não veremos mais isso também :lol:
 
Um Popeye que não fuma, um Conan que não mata, um Holmes que não se droga... o sonho de consumo da horda fofinha.
Parece que a Mônica também não dá mais sopapos no Cebolinha e nos demais, e eles não falam mais da aparência dela:

Você acha que hoje em dia a relação da Mônica com os amigos meninos é diferente?

A sociedade vai evoluindo e a discussão de como vivemos também vai. Hoje temos o politicamente correto que nos diz o que é uma ofensa e que antes passava batido. Estamos atentos a isso e, por esta razão, nas historinhas da turminha clássica, a Mônica apenas roda o coelhinho, mas não mais aparece batendo nos meninos.

Eles pararam ou vão parar de falar da aparência dela?

Sim, pela mesma razão.

 

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