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Tolkien x Vaticano

Uma das dificuldades hoje em dia tem sido a sociedade adquirir a perspectiva correta dos valores universais e perceber que existe um método para aplicá-los. Inclusive um dos pontos mais fracos no brasileiro (e nas universidades) é o uso de laboratórios e exames complementares ou referências na hora de fazer ciência. Essa fraqueza na sociedade se manifesta no não conhecimento de referências universais criando professores universitários enviesados ou ideologizados ao invés de sábios. Em tempos cada vez mais desumanos como o nosso as massas não olham para o importante porque desejam apenas velocidade na hora de resolver um problema e não procuram resolver o problema da forma adequada.

Antigamente demorávamos 5 ou 10 anos para aprendermos uma solução. Aprender também significa mudar a memória do próprio corpo, em vários níveis, ao longo do tempo para marcar a mente com uma certa intensidade de experiência. Todavia o corpo humano não foi feito para que isso seja feito com velocidade demasiada e as pessoas se vêem alterando a memória sem antes prepararem um terreno mais justo e neutro em que possam aproveitar a experiência de forma saudável. Lembro do sumô em que se joga o sal para "purificar" o ringue antes de começar a batalha e que se trata de estabelecer antes uma reverência superior ao que existe de justiça universal, numa perspectiva que dê a todos um combate mais justo. Atualmente as pessoas não se preocupam mais em "purificar" o local antes de usá-lo, e dar uma chance as regras universais e sim apenas usá-lo, rápido, sem tempo para tentar de novo e desistindo com rapidez umas das outras. A carência tem sido enorme e a válvula de escape tem aparecido na forma de marcar o corpo, colocar 100 tatuagens, obedecer o que manda uma música agressiva ou qualquer tipo de mecanismo que acelere a mudança da memória.

E tudo se resolveria sabendo que existe um sistema que conecta não apenas todo conhecimento humano, mas também aquelas partes do universo que não possam ser descritas e analisadas ou sejam cognoscíveis por qualquer meio que seja e dos quais a melhor aproximação é a matemática (apesar de ter também seus limites). A comunicação humana forma vórtices semânticos, com cada vórtice girando ao redor de assuntos principais, que mudam de segundo a segundo, dos quais a internet é uma mínima parte dependente com alguns desses vórtices. E que esses vórtices se entreleçam em muitos níveis e em variedades infinitas. E em outros planetas, outras civilizações devem existir outros vórtices não dependentes do nosso com algum grau de semelhança de comunicação com o nosso.

O estudo universal é lucrativo para todos, mas tem sido pouco considerado diante da importância que tem. Até mesmo o saudável conceito de que o homem é o centro que une todas as línguas tem se apagado da mente da sociedade. A comunicação que deveria sempre ser repensada , periodicamente, tem sofrido um bocado de dilapidação e precisa de uma restauração ou haverá um atulhamento de produtos culturais (livros, filmes, etc) recriando grandes erros do passado.
 
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Uma das dificuldades hoje em dia tem sido a sociedade adquirir a perspectiva correta dos valores universais e perceber que existe um método para aplicá-los. Inclusive um dos pontos mais fracos no brasileiro (e nas universidades) é o uso de laboratórios e exames complementares ou referências na hora de fazer ciência. Essa fraqueza na sociedade se manifesta no não conhecimento de referências universais criando professores universitários enviesados ou ideologizados ao invés de sábios. Em tempos cada vez mais desumanos como o nosso as massas não olham para o importante porque desejam apenas velocidade na hora de resolver um problema e não procuram resolver o problema da forma adequada.

Antigamente demorávamos 5 ou 10 anos para aprendermos uma solução. Aprender também significa mudar a memória do próprio corpo, em vários níveis, ao longo do tempo para marcar a mente com uma certa intensidade de experiência. Todavia o corpo humano não foi feito para que isso seja feito com velocidade demasiada e as pessoas se vêem alterando a memória sem antes prepararem um terreno mais justo e neutro em que possam aproveitar a experiência de forma saudável. Lembro do sumô em que se joga o sal para "purificar" o ringue antes de começar a batalha e que se trata de estabelecer antes uma reverência superior ao que existe de justiça universal, numa perspectiva que dê a todos um combate mais justo. Atualmente as pessoas não se preocupam mais em "purificar" o local antes de usá-lo, e dar uma chance as regras universais e sim apenas usá-lo, rápido, sem tempo para tentar de novo e desistindo com rapidez umas das outras. A carência tem sido enorme e a válvula de escape tem aparecido na forma de marcar o corpo, colocar 100 tatuagens, obedecer o que manda uma música agressiva ou qualquer tipo de mecanismo que acelere a mudança da memória.

E tudo se resolveria sabendo que existe um sistema que conecta não apenas todo conhecimento humano, mas também aquelas partes do universo que não possam ser descritas e analisadas ou sejam cognoscíveis por qualquer meio que seja e dos quais a melhor aproximação é a matemática (apesar de ter também seus limites). A comunicação humana forma vórtices semânticos, com cada vórtice girando ao redor de assuntos principais, que mudam de segundo a segundo, dos quais a internet é uma mínima parte dependente com alguns desses vórtices. E que esses vórtices se entreleçam em muitos níveis e em variedades infinitas. E em outros planetas, outras civilizações devem existir outros vórtices não dependentes do nosso com algum grau de semelhança de comunicação com o nosso.

O estudo universal é lucrativo para todos, mas tem sido pouco considerado diante da importância que tem. Até mesmo o saudável conceito de que o homem é o centro que une todas as línguas tem se apagado da mente da sociedade. A comunicação que deveria sempre ser repensada , periodicamente, tem sofrido um bocado de dilapidação e precisa de uma restauração ou haverá um atulhamento de produtos culturais (livros, filmes, etc) recriando grandes erros do passado.
Não consegui apreender muito não do que vc disse, mas no que eu entendi acho que isso não é só um defeito brasileiro não, acredito que seja mundial. Principalmente vindo ao brasil do vies Estadounidense que influencia nossa cultura. Agora lendo alguns dos ultimos post percebi umas certas alfinetadas no cristianismo protestante. Muitos dos cristão protestantes reconhecem o vies cristão da obra de tolkien e não simplesmente a classificam como pagã. Assim como o fazem tambem com a obra do C.S Lewis.
 
O Ilmarinen disse tudo o que poderia ser dito e mais sobre o assunto. Nem vou comentar mais nada pra não estragar.

E o texto do Akira foi excelente e elucidativo de uma forma profunda. Ilustra bem qual o problema aqui e nele mergulha.
 
Muitos dos cristão protestantes reconhecem o vies cristão da obra de tolkien e não simplesmente a classificam como pagã. Assim como o fazem tambem com a obra do C.S Lewis.

Não negamos que isso é um fato, mas, dentre os cristãos, o segmento que propugna pela identificação de Tolkien, exclusivamente, com idéias pagãs ou neo-pagãs e/ou que condena o ecletismo sincrético da obra de Tolkien tende a ser, infelizmente, setores ultraconservadores do Protestantismo estadunidense que resultaram nas Igrejas Pentecostais que são os Evangélicos, uma ramificação das igrejas Protestantes.

Óbvio que, com tantas denominações e posições doutrinárias divergentes, isso não é uma regra universal válida pra todos os protestantes, vide a posição do (ex?)pastor presbiteriano Caio Fábio, mas, de modo geral, é um comentário muito pertinente como vc poderá comprovar lendo textos como esse daí no segundo dos links nesse post.


Uma vez que os assuntos estão intimamente interligados aqui vai o posicionamento integral e verdadeiro do Observatório Romano a respeito do Avatar do Cameron.

Decent Films Blog

Avatar: What the Vatican Really Said
Posted Jan 22nd 2010, 05:47 AM
Recently, as I noted in a blog post at NCRegister.com, the mainstream media cocked a bemused eye at critical reactions to the film Avatar originating from the vicinity of the Holy See.

“Vatican Lashes Out at ‘Avatar’” was the headline at an ABC News story. (Of course it does. It wouldn’t be the Vatican if it didn’t “lash out,” would it?) “Avatar is being slammed by the Vatican,” adds USA Today.

In reality, coverage of the film at L’Osservatore Romano (the Vatican’s quasi-official paper of record) and at Vatican Radio was more or less comparable to the mainstream of wider critical reaction, though obviously the Vatican gave greater attention to spiritual issues than critics generally.

Gaetano Vallini’s review in L’Osservatore Romano could hardly be called a “slam.” (He ends by noting “The visual spectacle alone is well worth the ticket price,” and calls Cameron’s Pandora “exceptionally well imagined and created.” At the same time, like many critics he is critical of the emotional hollowness of the “forgettable” plot, and offers critical perspective on the film’s spiritual and political dimensions.)

Getting the straight dope should be as easy as going to the Vatican website and pulling up the English edition of L’Osservatore Romano. Unfortunately, although the Church’s teachings consistently accord the communications media great importance, her practice lags behind her principles. There is a weekly English edition of L’Osservatore Romano, but it’s spotty (the Italian edition is daily), and as far as I can tell the Vatican website offers only articles from the current issue. (You can get previous issues on CD-ROM — up to 2008.)

A priest friend, frustrated by dodgy media coverage, recently sent me his own translation of the entire L’Osservatore Romano review, as well as of a segment that ran of Vatican Radio.

Here’s the L’Osservatore Romano piece (translation courtesy Fr. Shane Johnson).

AVATAR, JAMES CAMERON’S NEW FILM: SPECIAL EFFECTS WRAPPED AROUND EMPTINESS, SCARES AND HARMLESS PANTHEISM

Massive cost and the latest special effects in James Cameron’s Avatar, about to hit Italian theaters
Very little below the surface
By Gaetano Vallini

Lots of mind-blowing technology dazzles us, but there are few real emotions, human emotions at least, in this world of aliens which is exceptionally well imagined and created. Still, Avatar, the highly awaited film by James Cameron, which comes out in Italy on January 15, a month after the rest of the world, will not disappoint the expectations of science fiction fans. In fact, with Avatar, the most expensive film in history (over $400 million including promotion), the magic of cinema comes alive again with all its creative power.

As for the rest, the film’s relevance lies more in its visual impact than in the plot, which is forgettable. Nor is it in the messages transmitted, which are hardly new; they’re already present in the other films that the director evokes more or less openly: from Little Big Man to Dances with Wolves, from A Man Called Horse to Pocahontas. The innovative 3D, along with revolutionary performance capturing technology which captures the actors’ movements and turns them into digital animation, brings the visual experience to levels never before seen.

It starts with the quality of the backdrop in which the action takes place, with a three-dimensionality that isn’t aimed at “punching a hole” in the screen, but making the scene surround the viewer, with a depth that gets very close to reality and with better sharpness in the image quality. Cameron had this project on the back burner for ten years — the first idea came in 1995 and the project began in 2005 — because the technology wasn’t available to bring to the screen what he was imagining. And because he likes to experiment, the director didn’t limit himself to using normal CGI technology, but invented new ones.

The result is fascinating. The story takes place in 2154. Jake Sully (Sam Worthington), a Marine paralyzed from the waist down, is the protagonist. He’s been sent to the planet Pandora, a primordial world rich in precious material resources which humans seek to exploit. The planet is inhabited by the Na’vi, gigantic blue men, a warrior race determined to defend their own territory. There is no oxygen on Pandora, so humans can’t survive.

To get closer to the native beings, “Avatars” are used, artificial Na’vi created by scientist Grace Augustine (Sigourney Weaver), which can be “put on” by humans through a consciousness link. For Jake, it’s a way to regain the use of his legs and get back on the front lines. However, the Marine quickly falls in love with the native Neytiri (Zoë Saldana), and begins to understand their civilization and what they fight for, ending up going over to the side of the Na’vi to fight against the human invaders.

Cameron’s story therefore has a universal dimension to it, easily shared in its simplicity and effectiveness, since the same story has been repeated over and over in human history: violence, abuse, often culminating in genocide; the most advanced civilizations seeking to conquer indigenous cultures out of lust for power and wealth. In America, it’s a topic refracted through the myth of the frontier and the war of white men against native peoples, but which can easily be seen in other ages of colonization and even the most recent wars.

But Cameron, more focused on the creation of his Pandora fantasy world, chooses a less offensive [Italian: “blando”… translated by many news agencies as “bland”, it really means “mild”, “gentle”, “less offensive”, not “bland” in the sense of blasé or boring] approach: he tells the story without going deep, and ends by falling into sentimentality. The whole thing is reduced to a simplistic anti-imperialist, anti-militarist parable, which doesn’t have the same incisiveness as other such films more committed to exploring the theme. Similarly, the subtle environmentalism gets bogged down in a spiritualism linked to nature-worship which hints at one of so many fashions of our time. Making nature-destroyers of the invaders, and environmentalists of the indigenous, seems to be an over-simplification which lessens the scope of the plot.

But, all of that aside, the film has indisputable value for its exceptional visual impact. The new frontier for science fiction cinema that Avatar has traced out is far beyond anything to date. And the record for box office take — which Cameron’s other film Titanic (1997) still holds — could be broken as well. The visual spectacle alone is well worth the ticket price.

(© L’Osservatore Romano, January 10, 2010)
Here’s the Vatican Radio transcript.

Having obtained sweeping success and stratospheric box office takes in many countries around the world, James Cameron’s much-anticipated film Avatar was presented yesterday to the Italian press, ahead of the Friday cinema debut at 800 cinemas, with distribution by Fox. The technologically sophisticated epic film, with the splendor of its never-before-seen special effects, tells the story of a man, his Avatar, and his love for an upstanding and righteous alien woman. The plot outline, nothing new, denounces once again the immoral behavior of greedy and belligerent humans set against the peaceful and tolerant conduct of aliens, ennobled by their vague pantheistic spirituality. Luca Pellegrini reports:

On the stricken Titanic, we saw horrific struggles, as humanity, understandably stricken by panic, shows its true nature: greed, pride, cowardice, arrogance, which leads to acts of shameful violence and humiliating abuse. Twelve years after having brought to the screen on the decks of the Titanic one of the most beautiful and epic stories of love, James Cameron again pushes the limits of technology and takes in head-spinning box office totals, taking the spectator to the planet Pandora, an unending wonder of flora and fauna which is cared for by the courageous Na’vi, a race of blue hominoids 10 feet tall living in peace, or rather in total and physical symbiosis with the nature which surrounds them, sustains them and defends them.

Its art and technology have made Avatar one of the most hyped and expensive movies in the history of cinema; it has amply repaid both hype and money with its billion-dollar take and unprecedented media attention. There have truly never been more surprising images, which we discover through the eyes and experience of Jake Scully. He is an ex-Marine grafted into the body of a Na’vi, his Avatar, to seek not so much the reconciliation as the submission and total annihilation of the peaceful indigenous population. Humans, in fact, have come to the planet for purely economic reasons, in order to exploit its energy resources. The lives and the beliefs of the aliens, being seen as different, count for nothing next to wealth and power.

Avatar, therefore, is a film which from the director’s point of view takes on topics of great current relevance and ethical depth, seen on a technological backdrop unsurpassed in history, thanks as well to the 3D which surrounds the spectator with amazing detail. With its simplistic, unoriginal plot of an exploited planet, vicious humanity, and a civilization unappreciated for its beliefs about to be swept away by unscrupulous colonizers, Avatar will at least be an obligatory point of reference because the visuals leave us speechless and breathless: flights on colored dragons, phosphorescent flowers which float into the air, six-legged horses which communicate empathically with their riders, colossal trees, mountains hanging in the sky, a fantastic backdrop for the Avatar’s adventures and for his slow but inevitable fascination with the Na’vi and their beliefs, along with a love affair that develops slowly between him and the king’s daughter.

But the enchantment has less enchanting motives, too: Pandora is a planet which flashes before our eyes all the pseudo-doctrines which have made ecology the religion of the millennium. Nature is no longer a Creation to be defended, but a divinity to be adored, while transcendence is emptied by incarnating itself in a plant and in its white vines which nourish spirits, branching off into real pantheism. Avatar seems harmless, and certainly is not the first to propagate the eco-spiritualist tendencies shown through the beauty of the planet Pandora; tendencies born in the Age of Aquarius and seemingly confirmed only in 2154, the year in which the story takes place.

In its jaw-dropping spectacle, Avatar could define a new genre. It is more doubtful if — aside from its special effects — it is truly an heir to the masterpieces of science fiction which have defined the history of film[/spoiler]
 
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É realmente complicado. Geralmente nós temos o instinto de juntar tudo e botar no mesmo grupo. Eu mesmo como cristão batista, tenho uma grande identificação com tolkien. No entanto conheço gente da minha mesma denominação que pensa diferente.
 
É realmente complicado. Geralmente nós temos o instinto de juntar tudo e botar no mesmo grupo. Eu mesmo como cristão batista, tenho uma grande identificação com tolkien. No entanto conheço gente da minha mesma denominação que pensa diferente.

Não sei porque mas eu separo isso quando vejo filmes e leio livros como os de Tolkien.

Na minha cabeça trata-se de um momento de relaxar, pois se eu tivesse intuito de procurar a religião eu leria a bíblia.. assistiria a filmes e documentários de religião e arqueologia religiosa.

Um escritor é um plagiador da vida, pelas influencias que tem durante a suas existência dês do seu nascimento, e a religião - seja ela qual for - fez e faz parte desse percurso. Sabemos que a religião mais "popular" - a mais conhecida na história da humanidade - é a católica. E ele sofreu essa influencia também.. assim como outras religiões e culturas que passamos a conhecer no decorrer da vida.

Assim como quando um artista faz um desenho e ele coloca na sua obra o que ele é.
 
Um escritor é um plagiador da vida, pelas influencias que tem durante a suas existência dês do seu nascimento, e a religião - seja ela qual for - fez e faz parte desse percurso. Sabemos que a religião mais "popular" - a mais conhecida na história da humanidade - é a católica. E ele sofreu essa influencia também.. assim como outras religiões e culturas que passamos a conhecer no decorrer da vida.

Assim como quando um artista faz um desenho e ele coloca na sua obra o que ele é.
Não é esse mais um motivo pra NÃO separar?
 
Não é esse mais um motivo pra NÃO separar?

Eu expliquei como funciona quando um artista faz sua obra, a forma como ele coloca em sua arte aquilo que ele é e suas influencia naturais ou não.

O fato de eu separar é simples. Eu não noto essas coisas, esses detalhes, à primeira vista, só quando penso sobre o que vi ou li.

Porque eu vejo a estória contada através da arte. Se quisesse ver religião procuraria religião, se quisesse ver arquitetura procuraria arquitetura...
Você deixa de separar a partir do momento em que deixa de relaxar, vendo um filme ou lendo um livro, para analisar o mesmo.
A analise une e a observação não percebe as ligações por traz da arte.
 
Eu acho até que, no caso da primeira fruição, o primeiro contato com uma obra de arte, a abordagem não analítica é até preferível, mas cada vez mais difícil de ser feita com o passar do tempo ( com a idade o leitor começa a acumular mais e mais bagagem). Ambas as leituras a meu ver são válidas, Caio e Lady Galadriel.

Feitas as ressalvas comentadas nesse post meu...

Nem um, nem outro. O legal em Tolkien é nos desligarmos desses conceitos de nosso mundo, é adentrar num outro completamente diferente. Apesar de influências dessa nossa "dimensão" (da qual Tolkien bebeu na fonte como inspiração), é legal ler sem pensar muito nessas coisas. Senão perde o encanto, né? Ademais, Gandalf era um istari! .

Eu, particularmente, discordo dessa forma de fruir o trabalho de Tolkien. Acho que dá tanta margem a mal-entendidos que não vale o dilema no qual, eventual mas invariavelmente, tende a desembocar, já que lança uma "cortina de fumaça" sobre uma obra que, Tolkien mesmo disse, teve a "fé cristã como, de longe, a sua fonte mais poderosa". Haja vista a confusão que ignorar esse subtexto lança , por exemplo, sobre a questão da natureza da demonicidade dos Balrogs e sobre a origem do Mal.

É válida se contribui pra fruição pessoal de cada um; e muita gente, deve-se reconhecer,como expliquei logo adiante, prefere "laicizar" a obra, mas, na pergunta de se Gandalf é cristão ou pagão, a melhor resposta, sempre que nos dedicamos, principalmente em grupo, a refletir sobre o significado do trabalho de JRRT em geral ou sobre o que ele quis ou não dizer, é que o que é realmente aplicável é, como já explicado antes, que ambos os conceitos são pertinentes, até porque a "dimensão" da qual a Terra-Média faz parte só está removida da nossa no tempo e não no espaço, por força do que o próprio Tolkien já disse. A Terra-Média não era um outro mundo em outra dimensão mas a nossa Terra mesmo no passado distante da nossa realidade
Ilmarinen
Humano Saltitante

Reconhecimentos

Total de Prêmios: 1
Re: Dúvida: Sauron pode ser enquandrado como Deus Menor, Deus Intermediária ou semi-D

Mas o que eu acho, de verdade, é que não deveríamos comparar o legendarium tolkieniano com as diversas culturas e religiões existentes. Sabemos que Tolkien era católico fervoroso e que inspirou-se em muitas culturas européias, mas é bom relembrar que o legal de Tolkien é vivenciar tudo sem comparações.

Aí eu discordo. Por mais que nesse ponto entre um certo grau de gosto pessoal (sempre há os que gostam de comparações e aqueles que não gostam) o próprio Tolkien usava comparações para explicar os conceitos de maneira sintética nas cartas e tem coisas no Legendarium dele que , simplesmente, não são inteligíveis sem essas comparações e analogias como é, por exemplo, a noção de que os Valar recebiam uma veneração estilo culto católico aos Santos no Catolicismo e como é o caso das referências à Providência e a Graça Divinas para as quais Tolkien aludiu ao explicar o que estava ocorrendo nos "bastidores" da cena entre Gollum e Frodo nas Sammath Naur (carta 246).Se Tolkien não quisesse que as comparações fossem feitas não iria rechear a mitologia dele de Easter Eggs, "prêmios" sob a forma de alusões metatextuais pra diversas mitologias, já com a intenção de telegrafar a intenção dele ou a filosofia subjacente na criação das histórias.

As comparações não só ajudam a compreender o que já está escrito na obra como, inclusive, já ajudaram a adivinhar coisas pensadas por ele antes mesmo de aparecer os textos que comprovavam o raciocínio do autor. Logo mais à frente tem um exemplo simples.

Comparações não só com o Cristianismo que fique bem entendido.Paralelos com o mito celta ajudam a entender o status dos Nazgûl, o paradeiro de Aman e Erëssea, a questão da Mudança do Mundo, a provável origem de Tom Bombadil ( e da reticência de Tolkien em falar sobre ele).

Ajudam a compreender o que realmente teria acontecido entre Thingol e Melian quando os dois ficaram 230 anos em Nal Elmoth( pessoalmente eu não acho que eles ficaram , literalmente, parados na clareira com as mãos dadas debaixo de chuva, sol, queda de folhas das árvores, neve, neblina, e coisas assim durante 2 séculos, que é o que a leitura ao pé da letra do texto do Silmarillion poderia dar a entender.

É por essas e outras que eu também falo que não se deve interpretar o texto do Silmarillion à ferro e a fogo pq nem tudo que está lá é verdade "literal" mas, sim , a versão "artística" , poética, dos fatos "reais"..

Comparações com Nietzsche ajudam a entender a função teológica de Melkor no Legendarium e a terminologia adotada por Tolkien em Mitos Transformados, assim como comparações com H.G.Wells ajudam a entender o que poderia constituir "Outer Darkness"( do qual Ungoliant era uma encarnação no Book of Lost Tales) do ponto de vista metafísico e teológico

A sensação de que o mundo criado por Tolkien é tão real, que temos muitas e muitas teorias psicológicas, filosóficas, etmológicas, sociológicas, religiosas, históricas e etc. para tentar analisá-la.
Tolkien usou teorias e idéias psicológicas, mitológicas e teológicas preexistentes no nosso mundo para criar o Legendarium dele como ele mesmo falou em uma das "novas cartas" que eu fui achar recentemente.


'' Tolkien states his belief that ``no one of us can really invent or ``create'' in a void, we can only reconstruct and perhaps impress a personal pattern on ``ancestral'' material...''


Pra mim é simples: entre nele e vivencie. E ponto. Era isso que o Professor queria.

O "vivenciar" para Tolkien, em se tratando de obras literárias como a dele e de C.S.Lewis, implicava em fazer esse tipo de "comparação" ou analogia com idéias e noções de teologia, filosofia, história, moral e linguística existentes no nosso mundo.Tentar desentranhar isso tudo só na letra da obra dele sem fazer analogias só conduz a erros de julgamento ao se analisá-lo.

Olhe só o que Tolkien falou sobre Voyage to Arturus um dos livros modernos teológico-espirituais prediletos dele e de C.S.Lewis ao comentar o Além do Planeta Silencioso( o primeiro romance de ficção-científica/fantasia de Lewis.

Carta 26 para Stanley Unwin (seu editor do Hobbit)Mas eu deveria ter dito que a história possuía para o leitor mais inteligente um grande número de implicações filosóficas e míticas que a aprimoram sem depreciar a “aventura” superficial´(...)

Achei a combinação de vera historia com mythos irresistível. Existem, é claro, certos elementos satíricos,inevitáveis em qualquer história similar de viajantes, e também uma pitada de sátira sobre outras obras de ficção “científica” superficialmente similares —tal como a referência à noção de que uma inteligência superior estará inevitavelmente combinada com crueldade. O mito subjacente é obviamente aquele da Queda dos Anjos (e da queda do homem neste nosso planeta silencioso); e o ponto central é a escultura dos planetas, que revela o apagamento do sinal do Anjo deste mundo. Não consigo compreender como alguém pode dizer que esta história lhe incomode, a menos que (a) eleconsidere esse mito em particular uma “balela”, que não é digno de uma atenção adulta (mesmo em um plano mítico); ou (b) veja uma aplicação injustificada ou talvez mal-sucedida da história.

Li “Voyage to Arcturus” com avidez — a obra mais comparável a do Sr. Lewis, embora seja tanto mais poderosa como mais mítica (e menos racional, e também menos como uma história — ninguém pode lê-la meramente como um thriller e sem interesse em filosofia, religião e moral). Fico pensando o que o seu leitor acha dela. Mesmo assim, ficarei aliviado, em meu próprio nome, se o segundo leitor apoiar o meu gosto um pouco mais!

Foi essa tendência de fazer a leitura do Senhor dos Anéis e do Silmarillion só com base em experiência ou crença(ou falta dela) pessoal descurando das analogias intencionais de Tolkien que levou à criação de "lendas urbanas" brasileiras como a dos orcs ( e balrogs) não demoníacos e sem características não-humanas.

Foi isso também que fez algumas pessoas saírem entendendo que Melkor era "menor" que Sauron por causa de uma leitura ao pé da letra ( mais uma!) de uma carta onde Tolkien falava só sobre o Senhor dos Anéis e dizia que Sauron era o"mais próximo do Mal Absoluto existente na sua "estória" (SdA e não o Legendarium como um todo). Isso pq a pessoa em questão não dava importância ou não sabia que Tolkien chamava explicitamente Melkor de Diabolos ( e de Satã em uma das cartas novas) enquanto Sauron (e semelhantes) eram só "daemons"( demônios de menor estatura).

Como é que alguém, seriamente, consegue ler o Silmarillion( se é que realmente leu) e não saca que Melkor é o análogo de Satã e, portanto, a entidade suprema do Mal no Universo tolkieniano mesmo sem ter lido as cartas em questão? Algo assim acontecendo num país predominantemente cristão(e(ainda) católico!) é uma anomalia tragicômica, vão me perdoar a franqueza.

Esse tipo de leitura tende a fazer com que o leitor insira no texto de JRRT a sua ideologia pessoal sem prestar a devida atenção no que está colocado lá por simbolismo ou inferência pelo próprio Tolkien (já que ele mesmo admitiu ter colocado simbolismo católico inconscientemente na redação mas conscientemente na revisão). E foi Jorge Luis Borges (na introdução da Máquina do Tempo de Wells) mesmo que comentou que "aquele que fala que obra de arte não deve propagar ideologias costuma se referir a ideologias contrárias às próprias".

O que, no caso de alguns brasileiros ( e alguns estrangeiros tb), na leitura "pessoal" do público médio contemporâneo, parece que anda implicando em "paganismo puro" ou agnosticismo/ateísmo, coisas como se interpretar Melkor como herói injustiçado prometeano e similares.

E, no meu entender, isso seria levar a aplicabilidade da qual ele falava muito mais longe do que ele queria. Foi esse tipo de "aplicabilidade" que fez Hitler usar o Anel do Nibelungo para propagar o Nazismo enquanto outros leitores como Bernard Shaw o viam como um libelo pró-socialista, exatamente o extremo oposto.

E ambos estavam limitando completamente a própria leitura do material e cooptando Wagner e sua obra para seus próprios interesses.Acho que brasileiro talvez tenha que começar a pensar que leitura "não-cristã" da mitologia do Silmarillion ou o não uso de analogias também serve para propagar ideologias e "agendas" pessoais. O autor tinha a dele, quem publicou a obra também, mas quantas mais será lícito ver no meio dela por "aplicabilidade"? Quantas ou quais mais? Tudo isso é coisa pra gente pensar.
__________________
So great is the bounty with which he has been treated that he may now, perhaps, fairly dare to guess that in Fantasy he may actually assist in the effoliation and multiple enrichment of creation.

Tolkien no ensaio "On Fairy Stories"

... eu acho, sim, como já disse antes que, uma vez passada essa fase, da fruição individual é natural e até indicado que se parta para a análise porque pra aprender sobre uma história a gente acaba, em seguida, intelectualizando a danada pra introjetá-la pra além da primeira reação emocional. Eu juro que, por exemplo, na primeira vez que li a história de Númenor, não pensei que ela era um análogo da Atlântida. Entretanto, outras analogias como as bíblicas ou as que existiam com mitologia grega eram totalmente na cara, pelo menos pra mim que lia isso desde criança...

É impossível haver uma abordagem "pura" onde esses dois tipos de fruição, não analítica e a desconstrutivista, sejam mutuamente excludentes. A maioria de nós oscila entre um e outro o tempo todo e ambas são válidas; o que não acontece é ambas serem igualmente adequadas pra todo tipo de interação ou comentário.

Analisar, infelizmente, é praticamente pré-requisito pra se obter consenso e denominador comum a respeito das coisas. Um jeito de ler não é mais "certo" que o outro mas a desconstrução é praticamente inevitável a partir do momento em que a fruiçao da obra de arte passa a ser "transpessoal".
 
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