(daí que eu discordo um pouco de vc, Feanor, no que pra mim não interessa saber a fundo o que cada detalhesinho quer dizer, quem, no fim das contas é filho de quem, etc).
Ah, não, eu não queria dizer que seja realmente necessário saber a fundo sobre cada coisa; mas sim que é divertido pensar que cada coisa é um elemento cheio de possíveis explicações, algo com toda uma história por trás... mais ou menos como quando você lê O Senhor dos Anéis pela primeira vez e se depara com nomes e lugares associados a tempos passados, que você não tem ideia de quem ou o que sejam, mas que, pela maneira como são apresentados, dão uma noção de profundidade ao cenário e à história. Meio que um mise en abyme, o que é especialmente válido para o onírico lynchiano.
E muita gente pode ter ficado chateada com o final, por não ter as respostas respondidas, mas esse nunca foi o ponto, nunca foi saber o que exatamente é caixa de vidro, ou onde exatamente a Audrey está etc. O que o Lynch fez aqui foi uma série de situações que permitem que ele vá adensando os temas que ele quer tratar, cumulativamente, cena após cena enriquecimento a tapeçaria de ideias que passam pela cabeça do Lynch, e porque ele tem um dom de tornar tudo interessante, sua direção sendo tão impecável nesse (e em muitos outros) sentidos, enquanto vamos assistindo vamos sendo envolvidos nessa atmosfera sedutora e inquieta. E talvez também por ele ser tão bom em nós deixar envolvidos por aqueles personagens e aquelas histórias por tão pouco que ele entrega (as cenas do casal da caixa de vidro são poucas mas nos deixa próximos a eles, as da Amanda Seyfried tbm, que só com aquela imagem dela olhando pro céu dentro do carro já ganharia esse Twin Peaks pra mim) é que as pessoas se deixem enganar e esperam uma Resposta. Mas elas não podem deixar de lembrar que não é assim que se assiste ao Lynch...
Exato. Eu mesmo gosto de conjecturar e ler teorias (acho que isso já ficou nítido ), mas não tenho absolutamente nenhum problema com as coisas ficarem em aberto eternamente. Aliás, essas duas coisas meio que operam em conjunto: o(s) sentido(s) da obra fica(m) em aberto justamente para que as pessoas possam imaginar sentidos para ela, não para que fiquem simplesmente apáticas. É o engajamento com a obra, uma prova de que você se importou com a trama, com os personagens.
Eu não tenho dúvida de que seja. Inclusive, agora está na quinta posição das minhas obras favoritas dele, depois de, nessa ordem, Mulholland Dr, Inland Empire, Eraserhead e blue velvet...
Eu acho que coloco na frente dos filmes também. Embora adore cada um, Twin Peaks é uma obra maior, mais densa, mais instigante, e que me fará pensar e ler sobre ela por muito tempo ainda. Os livros sobre a série inclusive já estão na minha fila de leituras.
Até tentei um pouco antes rever a serie original, mas meio que não me empolguei, deixei no segundo episódio, que termina muito bem, mas acho que o conhecimento daquilo que esperava em The Return me fez ver aquilo como muito pouco, rsrs... Mas você deixar a poeira baixar e rever a série dos '90 e o Fire walk with me (Esse é bonzão mesmo :3) porque já quero rever o novo Twin peaks (e eu quase vi os episódios disponíveis e os revi antes do finale; nos dois primeiros dias não me aguentei e vi 11 partes, hehe, mas achei melhor depois disso ver um por dia no resto da semana, pq por mais delicioso que seja, foi tbm bem inquietante e tava meio que me sobrecarregando, rsrs)
Eu revi a série original alguns meses antes da atual. Aí já engatilhei também o Fire Walk With Me e o The Missing Pieces. E agora já estou com vontade de rever tudo