Motoristas da Uber aplicam golpe e cobram valores altos por viagens sem passageiro
Empresa diz estar comprometida em atualizar processos internos e proteger usuários; companhia pede a passageiros que não compartilhem código de segurança pelo chat do aplicativo
Vinícius Barboza
São Paulo
Motoristas da
Uber têm usado uma funcionalidade do aplicativo para aplicar um
golpe nos passageiros. Trata-se do "golpe do código de segurança".
Funciona assim: antes de chegar ao local de embarque, golpistas usam o chat do app para perguntar ao usuário o código de segurança da corrida. Se o passageiro informar o número, os motoristas conseguem acionar viagens longas por preços altos.
O U-Código, conhecido como código de segurança ou de verificação, é uma das ferramentas da Uber para tornar as viagens mais seguras. A ferramenta pode ser ativada pelo próprio usuário nas configurações do aplicativo. Ao ativá-la, toda vez que o passageiro solicitar uma corrida, aparecerá em sua tela o código, com quatro dígitos, que deverá ser fornecido ao motorista para que a viagem seja iniciada. A ideia é que o código seja um meio de verificação para o passageiro e para o motorista de que estão na viagem certa.
À
Folha a Uber confirmou que há casos de fraude envolvendo o código de segurança. Em nota, disse que "está comprometida em atualizar e fortalecer os seus processos internos para proteger a plataforma e os seus usuários".
A companhia afirmou que possui a ferramenta chamada U-Código, "que consiste em uma senha de quatro dígitos, criada pelo app para cada viagem e que deverá ser fornecida verbalmente pelo usuário ao motorista ao entrar no veículo, para que então ele consiga iniciar a viagem".
"Reforçamos em comunicações que, para que o código de verificação cumpra seu papel, é importante que a pessoa não compartilhe os quatro dígitos com o motorista antes que ele chegue ao ponto de embarque. Isto é, o código não deve ser compartilhado pelo chat ou pelo telefone em nenhuma hipótese, apenas pessoalmente, no momento em que há o encontro com o motorista", disse em nota.
No último mês, usuários relataram nas redes sociais terem passado pelo golpe ou escapado dele. As situações variam, mas a dinâmica é a mesma: antes de chegar ao local onde os passageiros estão, motoristas solicitam o código de segurança.
Uma das pessoas lesadas é a coordenadora de eventos Fernanda Gasparino, 30. Em entrevista à
Folha, ela afirmou que, em 18 de junho, voltava do trabalho para casa às 23h30. Ela mora próximo de onde trabalha, em Santana, zona norte de
São Paulo. Após pedir a corrida pela Uber, ela afirma que o golpe aconteceu.
"Assim que a motorista aceitou [a corrida], mandou uma mensagem no chat pedindo o código. Não sabia como funcionava e passei. O aplicativo ficou instável, a corrida começou sem mim e foi redirecionada para outros lugares. Veio a notificação de que a viagem havia terminado, com uma cobrança de R$ 50", disse.
A corrida deveria ter sido curta e entre dois pontos do bairro de Santana. Foi redirecionada para uma rua em Arujá (cidade da região metropolitana de SP a 40 km de onde estava), em uma corrida que durou três minutos. Por meio do
Google Maps, a reportagem calculou que são necessários 40 minutos, em média, para ir do bairro de Santana até Arujá.
"Na tarde do dia seguinte, sem ter uma resposta da Uber, resolvi postar nas redes sociais, porque vi que outras pessoas postaram e foram respondidas."
A empresa respondeu o post nas redes sociais, solicitou a confirmação de dados pessoais e efetuou o reembolso do valor. A vítima não fez boletim de ocorrência.
As justificativas dos motoristas para pedirem o código de segurança variam, segundo Gasparino. "No meu caso, a motorista disse que 'não conhecia a região e queria ter acesso ao trajeto'. Já vi relatos de vítimas sobre o golpista alegar que o aplicativo não estava funcionando", afirmou.
Gasparino disse que não havia acionado a funcionalidade do código de segurança, e que testou algumas corridas após sofrer o golpe. Nelas, o código não apareceu. Em resposta ao relato da usuária, a Uber afirmou que "não foi possível verificar o caso relatado, pois as informações necessárias para checagem não foram fornecidas à empresa".
A Uber disparou um email para toda sua base de clientes na última terça (11). Nele, explicou como funciona o U-Código e pediu para que o usuário não forneça o número antes de embarcar no veículo.
Procurada, a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP-SP) disse que não tem dados sobre esse tipo de golpe e que pode responder apenas por casos formalizados. O órgão pediu que as vítimas façam boletim de ocorrência para que haja apuração dos fatos.
O que fazer ao cair no golpe do código de segurança da Uber
Lucas Marcon, advogado do programa de Telecomunicações e Direitos Digitais do Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor), orienta que os usuários tirem print (captura da tela do celular), caso o motorista peça o código antes de chegar ao local de embarque.
"O usuário deve cancelar a corrida, entrar em contato com a empresa informando o ocorrido e exigindo que não seja cobrada taxa de cancelamento", afirmou o especialista.
"Se o consumidor sofreu um golpe como esse ou teve alguma cobrança indevida, é importante que saiba que a empresa pode ser responsabilizada, já que foi por meio do seu aplicativo e serviço que ocorreu o dano ao consumidor. A empresa deve tomar todas as medidas necessárias para que esse tipo de fraude não ocorra", disse.
"Em um primeiro momento, a sugestão é entrar em contato com a empresa e pedir o reembolso. Esse contato pode ser feito pelo SAC da empresa ou pelo site
consumidor.gov.br, da Secretaria Nacional do Consumidor (Senacon). Outro caminho é acionar o Procon de seu estado."
Para denunciar o motorista, o Idec recomenda que o consumidor tenha um comprovante de que o motorista pediu o código antes de chegar ao local de embarque. Dessa forma, poderá abrir um boletim de ocorrência na
Polícia Civil por tentativa de fraude.
O que diz a Uber
Leia a seguir a íntegra da nota enviada pela Uber:
Os esquemas de fraude estão em constante evolução e é por isso que a Uber está comprometida em atualizar e fortalecer os seus processos internos para proteger a plataforma e os seus usuários. Nossas equipes de detecção de fraudes usam análises manuais e sistemas automatizados de aprendizado que analisam mais de 600 tipos de sinais diferentes à procura de comportamentos fraudulentos. Estamos permanentemente implementando novos processos e tecnologias para evitar fraudes e aprimoramos o treinamento dos nossos agentes, enquanto seguimos trabalhando para ficar à frente dos golpes mais recentes.
A empresa esclarece ainda que possui uma ferramenta chamada U-Código, que consiste em uma senha de quatro dígitos, criada pelo app para cada viagem, que deverá ser fornecida verbalmente pelo usuário ao motorista ao entrar no veículo, para que então ele consiga iniciar a viagem.
Reforçamos em comunicações que, para que o código de verificação cumpra seu papel, é importante que a pessoa não compartilhe os 4 dígitos com o motorista antes que ele chegue ao ponto de embarque. Isto é, o código não deve ser compartilhado pelo chat ou pelo telefone em nenhuma hipótese, apenas pessoalmente, no momento em que há o encontro com o motorista. O código serve para confirmar que tanto usuário quanto o parceiro estão na viagem correta e para que o motorista possa começar a viagem.
Caso a pessoa acredite ter sido vítima de crime cometido pela outra parte, a empresa encoraja que sejam acionadas as autoridades competentes. A Uber possui uma equipe formada por ex-policiais e um time de resposta a autoridades prontos a colaborar com as investigações, na forma da lei.