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Jair Bolsonaro e a Síndrome de Boromir na política

  • Criador do tópico Criador do tópico Imrahil
  • Data de Criação Data de Criação
Já faz alguns dias, vi a frase mais famosa do Faramir em “O Senhor dos Anéis” (a clássica sobre “não amar a espada luzente por sua agudeza, nem o guerreiro por sua glória”, mas “amar apenas o que eles defendem”) usada num meme do Bolsonaro. Achei curioso, porque, dos dois filhos de Denethor, é difícil associar o Capitão ao mais novo. Do meu ponto de vista, pensando em termos tolkienianos, o problema do candidato (um deles, ao menos) é sofrer de Síndrome de Boromir.

Reparem: Boromir não é um vilão. Pode até ser considerado um herói trágico, segundo a tradição clássica. (Não sei se Bolsonaro tem as virtudes de Boromir. Se, como diz o Senhor, a boca fala do que o coração está cheio, parece que não, mas não sou Deus pra julgar o que está no coração do cara.) O problema do Boromir está muito claro no texto de “O Senhor dos Anéis”, no entanto:

“A coragem precisa de força e, depois, de uma arma. Que o Anel seja vossa arma, se tem tal poder como dizeis. Tomai-o e avançai para a vitória!”

Ou, na conversa fatídica com o Frodo:

“É loucura não usá-lo, não usar o poder do Inimigo contra ele. Os indômitos, os impiedosos, apenas esses alcançarão a vitória. O que não poderia um guerreiro fazer nesta hora, um grande líder?”

E então ele começa um monólogo sobre “muralhas e armas, e a reunião de homens; e fez planos para grandes alianças e vitórias gloriosas que viriam; e derrotou Mordor, e se tornou ele próprio um grande rei, benevolente e sábio.”

A resposta do Elrond?

“Ai de nós, não. (...) O mero desejo do Anel corrompe o coração.”

Chamo a atenção de vocês para o ponto que me parece crucial: o desejo que move o Boromir é “mau”? NÃO! É perfeitamente legítimo (fora a parte em que ele, sem querer, usurpa o trono do Aragorn, mas deixa pra lá...). A questão são os MEIOS. A ideia de que é possível “derrotar o mal” na base da força superior, sem levar em conta as consequências do uso dessa força, é que “corrompe o coração”.

E outra força corruptora poderosa é justamente a crença de que, estando disposto a ir até as últimas consequências para impor o “bem”, você não corre o risco de se transformar naquilo que está combatendo. É justamente o contrário: é quando você está nessa posição que você corre o maior risco imaginável.

É essa crença “boromiriana” inabalável na própria bondade e justiça que vejo no Bolsonaro e numa parcela significativa de seus apoiadores. (Uma crença que, paradoxalmente, também está presente em muitos na esquerda.) O que eu sugeriria a eles (não me perguntaram, mas como alguns são meus amigos e outros são colegas fãs de Tolkien, digo assim mesmo): duvidem um pouco mais dos seus próprios motivos antes de agir. Se vocês acham que “sabem” o que fariam quando chegassem às Sammath Naur, é porque não se olharam direito no espelho.

O paradoxo da política é esse: com frequência, a fé excessiva na própria virtude é que produz os males. Sujeitos levemente venais, mas que têm crença menos ferrenha na capacidade de produzir o bem absoluto, às vezes causam menos estrago.

Um último ponto: acho difícil questionar o fato de que o centro de gravidade ético da obra de Tolkien é a compaixão. Poder sem compaixão é tirania. Independentemente de quem vença o atual certame, essa é a verdadeira prova dos nove.
 
Acho complicado querer enxergar relações tão próximas entre personagens de Tolkien e personalidades do mundo real. Seria o mesmo que fazê-lo com personagens da Bíblia. Sempre haverá uma dose de subjetivismo e arbitrariedade, do contrário não teríamos tantos cristãos interpretando a Bíblia de forma tão diferente e fazendo escolhas tão diferentes entre si. A verdade em obras como O Senhor dos Anéis é uma verdade de tipo simbólica, espiritual, que tende a escapar até mesmo a racionalizações, quanto mais a aplicações tão diretas à realidade.

Mas se insistirmos por esse caminho, o que temos na obra? Temos Boromir querendo usar a arma do Inimigo para construir boas coisas com ela, mas colocado sob o risco de acabar se tornando algo parecido ao Inimigo. Bem, isso é um padrão bem genérico, com criatividade dá pra se encaixar muita coisa nisso...

Um jeito de tentar diminuir a subjetividade é se perguntar: o que é o Anel? Isso foi objeto de discussão no tópico O propósito do Um Anel, e a conclusão que chego é que o Anel é uma máquina de dominação (cujo modo de funcionamento é irrelevante para os contos):[1]

Acho que o grosso da questão pode ser respondido rapidamente encarando o Anel simplesmente como uma máquina de dominação:

Já o anel, vejo-o como uma desvirtuação desse caráter "artístico" para um caráter científico e tecnológico. Sauron ensina os elfos a fazer anéis (estes, parece-me, sendo feitos de uma técnica criada pelo próprio Sauron) e eles são criados aos montes, como tecnologias e não obras de artes que tem tiragem limitada, quando não única. Além disso, os anéis tem um caráter bastante tecnológico, quase de uma máquina (de um computador, em especial): Sauron consegue "invadir" (Sauron o hacker?) os anéis élficos mesmo sem nunca ter tocado neles, como um técnico que conhece e faz o que quiser com um determinado tipo de máquina de sua especialização.[2]

É de se esperar que, sendo uma máquina de dominação tão poderosa, requeira do criador um grande depósito de "energia vital", naquele sentido que se diz que os elfos "colocam parte de si da criação". Fosse uma obra comum, como as Duas Árvores ou as silmarilli, isso implicaria em Sauron abrir mão dessa energia, que estaria retida para sempre na obra (ou, no máximo, poderia ser recuperada caso Sauron destruísse o Anel e tomasse a energia para si, assim como Yavanna quisera as silmarilli para reconstruir as Duas Árvores). Porém, pode ser que a energia seja tão grande, justamente por ser uma máquina tão singular, que Sauron não pudesse abrir mão dessa energia, caso o fizesse implicaria em sua destruição - então fez do Anel uma máquina de tal forma que essa energia fosse acessível a ele, como uma extensão de seu corpo. Então, embora Sauron tenha sim dividido sua energia entre seu corpo e o Anel, a vantagem é que o Anel é uma máquina que cumpre melhor seus objetivos.

O funcionamento dessa máquina eu encaro mais como uma questão secundária - pode-se tentar explicar o funcionamento dessa máquina, se ele manipula o "elemento Morgoth", ou manipula os maus pensamentos de todos habitantes da Terra-Média, ou qualquer coisa que o valha, mas são respostas que pouco me agradam, afinal é uma "máquina mítica", seria o mesmo que tentar explicar o funcionamento das palantíri ou da Ferroada - a explicação encontra-se numa "ciência mítica" inacessível à lógica comum. O próprio Tolkien me parece pouco preocupado com isso, pelo menos enquanto escrevia O Senhor dos Anéis, e se posteriormente ligou o "elemento Morgoth" ao Anel, fora porque conjecturava mais sobre o elemento e a corrupção de Arda, e não sobre o funcionamento do Anel.

No cenário brasileiro atual, qual seria a máquina de dominação que Bolsonaro e Haddad estão buscando? O poder através do Estado. "Ih, lá vai o cara querer enfiar Estado Mínimo em Tolkien, nada a ver, o Estado somos todos nós". Pois é, mas o próprio Tolkien parece subscrever uma forte aversão ao Estado, defendendo uma forma de "anarco-monarquismo":

De uma carta para Christopher Tolkien 9 de novembro de 1943
[No verão de 1943, Christopher, então com dezoito anos, foi convocado pela Força Aérea. Quando esta carta foi escrita, ele estava em um campo de treinamento em Manchester.]

Minhas opiniões políticas tendem cada vez mais para a anarquia (filosoficamente compreendida como significando a abolição do controle, não homens barbados com bombas) — ou para a monarquia “inconstitucional”.

Eu prenderia qualquer um que use a palavra Estado (em qualquer outro sentido que não o do reino inanimado da Inglaterra e seus habitantes, uma coisa que não tem poder, direitos nem uma mente); e, após uma chance de retratação, executaria todos se permanecessem obstinados! Seria muito melhor se pudéssemos voltar aos nomes pessoais. Governo é um substantivo abstrato que significa a arte e o processo de governar, e deveria ser uma ofensa escrevê-lo com um G maiúsculo ou usá-lo para se referir a pessoas.

Se as pessoas estivessem acostumadas a se referirem ao “conselho do Rei George, Winston e sua turma”, isso ajudaria a desanuviar certas concepções e a reduzir a assustadora vitória esmagadora da Elescracia. Em todo caso, o estudo apropriado do Homem é tudo, menos o Homem; e o trabalho mais impróprio a qualquer homem, mesmo os santos (os quais, de qualquer maneira, ao menos relutavam em realizá-lo), é mandar em outros homens. Nem mesmo um homem em um milhão é adequado para tal, e menos ainda aqueles que buscam a oportunidade. E pelo menos isso é feito apenas a um pequeno grupo de homens que sabem quem é seu mestre.

Os medievais estavam certíssimos ao considerar nolo efiscopari como a melhor razão que um homem poderia dar aos outros para que dele fizessem um bispo. Dê-me um rei cujo principal interesse na vida seja selos, estradas de ferro ou corridas de cavalos; e que possui o poder de mandar embora seu vizir (ou seja lá do que for que você queira chamá-lo) se não gostar do corte de suas calças. E assim por diante, o tempo todo. Mas, é claro, o ponto fraco de tudo isso — afinal de contas, apenas o ponto fraco de todas as coisas naturais boas em um mundo mau, corrupto e não-natural — é que só tem como funcionar e tem funcionado quando o mundo inteiro está bagunçado da mesma boa, velha e ineficiente maneira humana. Os briguentos e vaidosos gregos conseguiram derrotar Xerxes; mas os abomináveis químicos e engenheiros colocaram um poder tal nas mãos de Xerxes e em todas as colônias de formigas que as pessoas decentes parecem não ter qualquer chance.

Estamos todos tentando fazer uso do toque alexandrino — e que, como a história ensina, orientalizou Alexandre e todos os seus generais. O pobre tolo imaginava-se (ou gostava que as pessoas imaginassem-no) como o filho de Dionísio, e ele morreu por causa da bebida. A Grécia que valia a pena salvar da Pérsia pereceu, de qualquer forma, e tornou-se um tipo de Hellas-Vichy, ou Hellas-Lutadora (que não lutou), falando sobre honra e cultura helênicas e prosperando com a venda dos equivalentes mais antigos dos cartões postais obscenos. Mas o horror particular do mundo atual é que toda a maldita coisa está num mesmo saco. Não há para onde fugir.

Até mesmo os infelizes pequenos samoiedas, desconfio, têm comida enlatada e um auto-falante na aldeia contando histórias de ninar de Stalin sobre a democracia e sobre os malvados fascistas que comem bebês e roubam cães de trenós. Há apenas um único ponto brilhante, e esse é o crescente hábito de homens descontentes de dinamitar fábricas e estações de energia; espero que isso, agora encorajado como “patriotismo”, possa permanecer um hábito! Mas isso não causará bem algum se não for universal.

Bem, até logo e tudo o mais para você, filho querido. Nascemos em uma era sombria fora do tempo devido (para nós). Porém, há este consolo: de outro modo não saberíamos, ou muito amaríamos, o que amamos. Imagino que o peixe fora d’água é o único peixe a ter uma noção da água. Também temos ainda pequenas palavras para usar. “Eu não me curvo à Coroa de Ferro, nem meu cetrozinho dourado enterro.”2 Enfrente os Orcs, com palavras aladas, hildenáeddran (víboras-de-guerra), dardos mordentes — mas tenha certeza do alvo antes de atirar.

(52) 1. Latim, "Não desejo me tornar um bispo". 2. Dois versos do poema não-publicado de Tolkien "Mythopoeia", escrito para C.S. Lewis.

[3] Retirado de As Cartas de J.R.R.Tolkien, editora Arte & Letra, tradutor Gabriel Oliva Brum, o @Tilion do fórum.

É divertido ver Tolkien parecendo um anarcocapitalista moderno, falando inclusive que quer prender e matar quem usa a palavra "Estado". :lol: Uma brincadeira, obviamente. Mas se ele estivesse aqui no Brasil de hoje, é capaz que, com esse trecho, ele saísse em uma matéria da Folha sobre o aumento da intolerância e radicalismo contra aqueles que têm visões diferentes.

Logo após a crítica ao poder controlador e impessoal do Estado, ele utiliza a imagem de Alexandre, de um reino decadente, derrotando o grande poderio de Xerxes, mas ao final se orientalizando e decaindo de vez. Isso é bastante similar à imagem de Boromir, de um reino decadente, derrotando o grande poderio de Sauron, mas ao final se "sauronizando" (por usar o Anel) e decaindo de vez. Dessa forma, não parece tão forçado associar ao Anel algum tipo de poder estatal. Além disso, o "anarco-monarquismo" também está presente na estrutura política dos bons povos da Terra-Média. Especialmente no Condado, onde o Thain exerce um poder bem simbólico. Mesmo os reis de Gondor e Rohan parecem ter poucas funções, exercendo funções mínimas para o funcionamento do reino. Sequer impostos são mencionados nas obras, se me lembro bem.

Alguém poderá falar que isso é inevitável em um épico de caráter medieval, afinal na Idade Média as monarquias exerciam menos funções se comparadas ao Estado moderno. Bem, Game of Thrones está aí para desmentir isso: os reis de G.R.R. Martin têm também um caráter medieval, mas é feita uma crítica bem direta ao poder demasiado dos reis e dos aristocratas, que oprimiriam seu povo com impostos e guerras inúteis. Dá até pra tentar extrair um ataque à desigualdade social e à opressão por parte dos privilegiados. Em Tolkien, por outro lado, as desigualdades são naturais e desejadas por Deus, sejam as desigualdades de caráter monárquico e aristocrático, ou mesmo as de caráter material (visíveis especialmente nos bolseiros do Condado). E naturalizar as desigualdades é uma definição clássica (ainda que eu julgue inadequada) do que é direita política.

Agora, das forças políticas aí presentes no cenário político brasileiro, evidentemente nenhuma delas será totalmente condizente com a visão "anarco-monarquista" de Tolkien, o próprio Tolkien admite que não é possível aplicá-la ao mundo como o temos hoje. Mas me parece evidente que tanto a direita conservadora quanto a direita liberal se aproximam mais desse espírito de pensamento do que a esquerda, especialmente no que diz respeito a busca pela redução do poder estatal, redução que se daria (entre outras coisas) através da subsidiariedade, isso é, fortalecimento dos municípios e redução do poder central. Liberal-conservadores monarquistas e tradicionalistas monarquistas parecem seguir ainda melhor a receita tolkienriana (os tradicionalistas, aliás, têm o mesmo ressentimento de Tolkien em relação a industrialização e urbanização desenfreadas, o que não é presente nos liberais e conservadores como um todo). Enfim, a equipe do Bolsonaro está comprometida em fazer um novo pacto federativo que visa privilegiar a subsidiariedade e reduzir o poder estatal... O alerta contra a tentação do Anel é sempre útil, mas é muito mais necessário à esquerda política do que a Jair Bolsonaro.










Pegando um gancho no tópico, tem sido comum usar a frase de Gandalf...

Muitos que vivem merecem morrer. Alguns que morrem merecem viver. Você pode lhes dar a vida? Então não seja tão ávido para julgar e condenar alguém a morte, pois mesmo os mais sábios não podem ver os dois lados.​

...para criticar Bolsonaro. Uma crítica pode até ser feita sim, mas não é possível interpretar a frase tão literalmente e cair em um cenário em não é possível tirar a vida do mal-feitor em hipótese alguma, até porque em Tolkien há diversos trechos em que está presente uma certa legitimação da pena de morte:

- Agora eu o tenho bem na mira - disse Anborn - Não devo atirar, Capitão? Nossa pena para os que vêm a este lugar sem permissão é a morte.

(....)

Gollum soltou o peixe da mão. - Não quero peixe. - disse ele.
- O preço não está fixado no peixe - disse Faramir. - Apenas vir aqui e olhar para o lago acarreta pena de morte. Poupei-o agora por causa das súplicas de Frodo, (...)

(...)

Então digo a você - disse Faramir, voltando-se para Gollum - Você está sob uma sentença de morte; mas enquanto acompanhar Frodo estará livre, de nossa parte. Mas se alguma vez for encontrado por qualquer homem de Gondor sozinho, sem estar na companhia dele, a sentença será cumprida. E que a morte possa encontrá-lo depressa, dentro ou fora de Gondor, se você não lhe servir bem. (...)

E o Rei disse a ele:
— Beregond, através de sua espada o sangue se espalhou nos Fanos, onde isso não é permitido. Além disso, você abandonou seu posto sem a permissão do Senhor ou do Capitão. Por essas coisas, antigamente, a pena era a morte. Portanto agora vou pronunciar sua sentença.
"Toda a pena fica remitida devido ao seu valor em batalha, e mais ainda porque tudo o que fez foi por amor ao Senhor Faramir. (...)"

Lentamente Aragorn desafivelou o cinto e colocou ele mesmo sua espada de pé contra a parede. - Aqui a coloco - disse ele -; mas ordeno que não a toquem, nem permitam que qualquer outra pessoa ponha as mãos nela. Nesta bainha élfica está a Espada que foi Quebrada, e foi forjada de novo. A morte virá para qualquer um que brandir a espada de Elendil, a não ser o seu herdeiro.
O guarda deu um passo para trás e olhou espantado para Aragorn. - Ao que parece, você chegou nas asas da canção, vindo de dias esquecidos - disse ele. - Será, senhor, como ordena.

A guerra foi bem sucedida, e a ruína limitada à pequena (embora bela) região de Beleriand. Morgoth foi então de fato feito prisioneiro em forma física (9), e naquela forma tomado como um mero criminoso para Aman e entregue a Namo Mandos como juiz – e executor. Ele foi julgado, e eventualmente levado para fora do Reino Abençoado e executado: isto é, morto como um dos Encarnados. [Mitos Transformados VI]

Logo, quando Eöl foi levado à presença de Turgon, não obteve misericórdia alguma. E o levaram até o Caragdûr, um precipício de rocha negra no lado norte do monte de Gondolin, para ali jogá-la do alto das muralhas escarpadas da cidade. E Maeglin estava presente sem nada dizer; mas no último instante, Eöl exclamou - Quer dizer que você renuncia a seu pai e a sua gente, filho desnaturado! Aqui você vai perder todas as suas esperanças; e que aqui você um dia morra a mesma morte que eu.
Lançaram então Eöl do alto do Caragdûr, e foi esse seu fim. Para todos em Gondolin, isso pareceu justo, mas Idril se sentiu confusa e, daquele dia em diante, não mais confiou em seu parente. (...)

Isso não é grande surpresa, já que a própria Igreja Católica legitima a pena de morte. O padre mostra que a aplicabilidade da pena de morte é menor nos dias de hoje, mas a ideia em si é legítima. E se a pena de morte é legítima, também o é a morte em situações mais delicadas, em que o mal-feitor não está neutralizado e acaba inevitavelmente sendo morto no processo de neutralização.
 
Última edição:
Isso não é grande surpresa, já que a própria Igreja Católica legitima a pena de morte. O padre mostra que a aplicabilidade da pena de morte é menor nos dias de hoje, mas a ideia em si é legítima. E se a pena de morte é legítima, também o é a morte em situações mais delicadas, em que o mal-feitor não está neutralizado e acaba inevitavelmente sendo morto no processo de neutralização.
Ahn, na verdade, recentemente (esse mês) a Igreja mudou o trecho do Catecismo, mudando de posição e afirmando que a pena de morte é sempre inadmissível.
 
Interessante. Mas eu não diria que a Igreja mudou "de posição", apenas de texto e de direcionamento pastoral. O ensinamento é essencialmente o mesmo nos dois textos, o que difere é que o texto recente frisa a situação atual da aplicabilidade da pena de morte. Até porque os redatores atuais do catecismo não poderiam simplesmente contrariar a tradição de dois mil anos de Magistério.

Nesse sentido, o novo texto do catecismo me parece de acordo com o vídeo que postei, que aponta que a pena de morte enquanto possibilidade é legítima, mas torna-se menos aplicável nos dias de hoje, na medida em que hoje há meios viáveis de apartar definitivamente o criminoso da sociedade. O texto anterior do catecismo era:

O ensino tradicional da Igreja não exclui, depois de comprovadas cabalmente a identidade e a responsabilidade do culpado, o recurso à pena de morte, se essa for a única praticável para defender eficazmente a vida humana contra o agressor injusto.

Se os meios incruentos bastarem para defender as vidas humanas contra o agressor e para proteger a ordem pública e a segurança das pessoas, a autoridade se limitará a esses meios, porque correspondem melhor às condições concretas do bem comum e estão mais conformes à dignidade da pessoa humana.​

A "novidade" que o texto recente do catecismo reconhece é que, de fato, hoje "todos meios incruentos" bastam para "defender as vidas humanas contra o agressor (...)", então a pena de morte perde aplicabilidade no presente. Repare que o texto recente afirma que "foram desenvolvidos sistemas de detenção mais eficazes" e logo em seguida aponta que "Por isso a Igreja ensina, à luz do Evangelho, que a pena de morte é inadmissível". Essa tendência já estava presente nos textos anteriores. E não significa que a pena de morte é "sempre inadmissível", a qualquer momento as condições podem mudar novamente e a pena de morte se tornar admissível, assim como fora admissível no passado. Portanto, não é que seja ilegítima a pena de morte enquanto tal, como uma leitura equivocada da fala do Gandalf pode levar a crer, e sim que, na presente situação penitenciária, não há motivos para aplicar a pena de morte.
 
Última edição:
Duas cartas que são muito reveladoras para a discussão que vinha sendo feita no tópico:

(...)

(...) Parece-me claro que o dever de Frodo era “humano”, não político. Ele naturalmente pensou primeiro no Condado, uma vez que suas raízes estavam lá, mas a busca tinha como seu objetivo não a preservação deste ou daquele regime, tal como a parte república, parte aristocracia do Condado, mas a libertação de uma tirania maligna de todos os “humanos”* — incluindo aqueles, tais como os “orientais” e os Haradrim, que ainda eram servos da tirania. Denethor foi maculado por mera política: daí seu fracasso e sua desconfiança em Faramir. Tornara-se para ele um motivo primário preservar o regime de Gondor, tal como era, contra outro potentado, que tornara a si mesmo mais forte e deveria ser temido e oposto por essa razão do que por ele ser cruel e malévolo. Denethor desprezava homens inferiores, e pode-se ter certeza de que não fazia distinção entre orcs e os aliados de Mordor. Se tivesse sobrevivido como vencedor, mesmo sem o uso do Anel, ele teria dado um longo passo para tornar-se um tirano, e os termos e o tratamento que ele daria aos povos iludidos do leste e do sul teriam sido cruéis e vingativos. Tornara-se um líder “político”: isto é, Gondor contra o resto. Essa, porém, não foi a política ou a obrigação estabelecidas pelo Conselho de Elrond. Somente depois de ouvir o debate e perceber a natureza da busca Frodo aceitou o fardo de sua missão. De fato, os Elfos destruíram seu próprio regime em busca de uma obrigação “humana”. Isso não ocorreu meramente como um dano desafortunado da Guerra; era do conhecimento deles ser um resultado inevitável da vitória, que de modo algum poderia ser vantajoso para os Elfos. Não se pode dizer que Elrond tenha uma obrigação ou propósito político.

(* humanos: isso (estando em um conto de fadas) obviamente inclui os Elfos e, de fato, todas as “criaturas falantes”)

(...)

Na minha história não lido com o Mal Absoluto. Não creio que haja tal coisa, uma vez que ela é Nula. Não creio, de qualquer modo, que qualquer “ser racional” seja completamente mau. Satã caiu. Em meu mito, Morgoth caiu antes da Criação do mundo físico. Na minha história, Sauron representa uma aproximação do completamente mau tão próximo quanto possível. Ele seguiu o caminho de todos os tiranos: começando bem, pelo menos no nível que, apesar de desejar ordenar todas as coisas de acordo com sua própria sabedoria, ele no início ainda levava em consideração o bem-estar (econômico) de outros habitantes da Terra. Mas ele foi além dos tiranos humanos no orgulho e na ânsia pela dominação, sendo em origem um espírito (angelical) imortal*. Em O Senhor dos Anéis o conflito não é basicamente sobre “liberdade”, embora ela esteja naturalmente envolvida. É sobre Deus e Seu direito único à honra divina. Os Eldar e os Númenóreanos acreditavam n’O Único, o Deus verdadeiro, e consideravam a devoção a qualquer outra pessoa uma abominação. Sauron desejava ser um Rei-Deus, e assim era considerado por seus servidores*; se tivesse sido vitorioso, ele teria exigido honras divinas de todas as criaturas racionais e poder temporal absoluto sobre o mundo inteiro. Assim, mesmo se em desespero “o Oeste” tivesse gerado ou contratado hordas de orcs e tivesse cruelmente assolado as terras de outros Homens enquanto aliados de Sauron, ou meramente para impedi-los de auxiliá-lo, sua Causa teria permanecido irrevogavelmente certa, como permanece a Causa daqueles que se opõem agora ao Deus-Estado e ao Oficial Disso ou Daquilo como seu Sumo-Sacerdote, mesmo que seja verdade (como infelizmente é) que muitos de seus atos sejam errados, mesmo que fosse verdade (como não é) que os habitantes do “Oeste”, com exceção de uma minoria de líderes abastados, vivem com medo e na miséria, enquanto os adoradores do Deus-Estado vivem em paz e abundância e em estima e confiança mútuas.

(...) Não creio que mesmo o Poder ou a Dominação sejam o verdadeiro centro de minha história. Isso fornece o tema de uma guerra, sobre alguma coisa suficientemente sombria e ameaçadora para parecer-se naquele momento de suprema importância, mas é principalmente “um cenário” para os personagens mostrarem-se. O verdadeiro tema para mim é sobre algo muito mais permanente e difícil: Morte e Imortalidade — o mistério do amor pelo mundo nos corações de uma raça “fadada” a deixá-lo e aparentemente perdê-lo; a angústia nos corações de uma raça “fadada” a não deixá-lo até que toda a história deste mundo estimulada pelo mal esteja completa. Mas caso tenha agora lido o Vol. III e a história de Aragorn, a senhora terá percebido isso. (Essa história foi colocada em um apêndice, pois a contei por completo mais ou menos através dos “hobbits”; e isso porque outro ponto principal para mim na história é a observação de Elrond no Vol. I: “Assim é com freqüência o curso dos atos que movem as rodas do mundo: as mãos pequenas realizam-nos porque precisam, enquanto os olhos dos grandes estão voltados para outros lugares.” Embora igualmente importante seja a observação de Merry (Vol. III p. 146): “o solo do Condado é profundo. Mas ainda há coisas mais profundas e mais elevadas, e nenhum feitor conseguiria cuidar de seu jardim no que ele chama de paz se não fosse por elas”.) Não sou um “democrata” apenas porque a “humildade” e a igualdade são princípios espirituais corrompidos pela tentativa de mecanizar e formalizá-los, com o resultado de que conseguimos não pequenez e humildade universais, mas grandeza e orgulho universais, até que algum Orc apodere-se de um anel de poder — e então recebemos e estamos recebendo a escravidão. Porém, tudo isso é mais “reflexão posterior”. A história é realmente uma história do que aconteceu em a.C. ano X, e simplesmente aconteceu a pessoas que eram assim!....

Tem muita coisa interessante aí...

Primeiramente, Tolkien aponta que os grandes heróis de O Senhor dos Anéis não têm "propósitos políticos". Essa mania moderna de querer enxergar política em tudo não teria, para Tolkien, cabimento. Não se trata assim de defender a "preservação deste ou daquele regime", "tal como a parte república, parte aristocracia do Condado". Em especial, não se trata de defender a democracia ou o igualitarismo - Tolkien diz explicitamente que não é entusiasta dos conceitos de igualdade e democracia, porque na prática estes seriam "princípios espirituais corrompidos" especialmente quando "algum Orc apodere-se de um anel de poder — e então recebemos e estamos recebendo a escravidão". Isso vai ao encontro do que procurei defender no meu post anterior, sobre como o Anel do Poder teria em seu melhor correlato, na modernidade, o poder estatal. Inclusive, Tolkien chega ao extremo de afirmar que o "Deus-Estado" seria digno de oposição MESMO SE trouxesse bem-estar a todos cidadãos. Quer dizer, a oposição ao Estado não é meramente utilitária, mas movida por princípios fundamentais.

Também no meu post eu havia apontado que um caráter anti-igualitário estaria presente em O Senhor dos Anéis e que seria um indicativo, por definição, de um caráter direitista da obra. Ora, nas Cartas vemos Tolkien explicitamente desprezando o conceito de igualdade como um conceito útil politicamente.

Tolkien descreve Denethor como alguém politicamente sectário. Repito a citação:

Denethor foi maculado por mera política (...) Tornara-se para ele um motivo primário preservar o regime de Gondor. (...) pode-se ter certeza de que não fazia distinção entre orcs e os aliados de Mordor. Se tivesse sobrevivido como vencedor, mesmo sem o uso do Anel, ele teria dado um longo passo para tornar-se um tirano, e os termos e o tratamento que ele daria aos povos iludidos do leste e do sul teriam sido cruéis e vingativos. Tornara-se um líder “político”: isto é, Gondor contra o resto.​

Huuuum.... Nós contra eles? Prioridade é preservar o regime? Preocupações sobretudo políticas? Visão pouco nuançada dos opositores? Anseios "vingativos" contra os opositores? :think: Por outro lado, oposta a esse espírito é essa cena de Band of Brothers, que enxerga os alemães não como monstros, mas como também um "band of brothers" sujeitos a uma situação adversa. Também a fala de Faramir sobre os Haradrim vai na mesma linha. E olha que o alvo de sectarismo no cenário político atual não são alemães ou Haradrim invasores, mas meramente, por exemplo, eleitores de Bolsonaro ou gente que se desvia da cartilha mainstream em certos pontos-chave... :hxhx:

Tudo isso não significa condescendência com a tirania. Tolkien aponta inclusive que, se necessário fosse, os povos do Oeste poderiam ter "gerado ou contratado hordas de orcs e (...) cruelmente assolado as terras de outros Homens enquanto aliados de Sauron". A tirania aqui, porém, não é sinônimo de não-democracia: não vejo motivo para crer que Gondor e Rohan fossem minimamente democráticos, o próprio Tolkien não se considera democrata, e é sintomático que descreva o Condado como "república" ou "aristocracia", mas não como "democracia". A tirania aqui é aquele poder anti-natural, no sentido cristão do termo "natureza": um poder exercido contra a ordem das coisas idealizada por Deus, enfim, um poder demoníaco. E isso poderia até englobar democracias laicas modernas, nas quais, por exemplo, "todo poder emana do povo" - haja idolatria...! Daí que Tolkien se opõe ao "Deus-Estado" e não ao "Deus-Estado-de-tipo-A", "-B", ou "-C".

Tolkien também afirma que, nos seus livros, "o conflito não é basicamente sobre 'liberdade', embora ela esteja naturalmente envolvida". Eu diria o mesmo sobre a compaixão. Lendo os trechos todos, sou levado a crer que a temática do legendário não é bem descrita por qualquer conceito que soe bem aos ouvidos modernos, mas sim por valores intrinsecamente católicos: como o próprio Tolkien diz, "é sobre Deus e Seu direito único à honra divina". Se eu fosse resumir a temática do legendário em poucas palavras, seria "sacrifício em amor a Deus" - o que embarca

(1) a admiração e respeito à ordem natural das coisas - claros, por exemplo, (a) na fala de Merry citada por Tolkien, (b) no episódio da estrela em Mordor, (c) no respeito à natureza, (d) na fé na Providência Divina, (e) na sina dos Homens e como melhor encará-la;​
(2) o sacrífico cristão evidente em (a) Gandalf, Aragorn, Frodo e Sam, e, com menor visibilidade, nos (b) heróis benevolentes como Tuor, Eärendil, Beren, Théoden, os rohirrim e os edain como um todo. Já (c) os noldor, que justamente buscavam a "liberdade" e "autodeterminação" em relação ao julgo dos valar (e repare que pretendiam combater o "autoritário" Melkor), são considerados rebeldes, e só são redimidos justamente por um ato de sacrifício, como Fingolfin, Ecthelion, Glorfindel, Finrod. (d) Isso também ocorre com os Elfos da Terceira Era: repare que Tolkien afirma que esses elfos "destruíram seu próprio regime" e que isso "era do conhecimento deles ser um resultado inevitável da vitória". Com a perda dos Anéis do Poder élficos, encerra-se o regime de poder dos elfos na Terra-Média. "Não se pode dizer que Elrond tenha uma obrigação ou propósito político". Isso fica ainda mais evidente em Galadriel, que renega a tentação do Um, e afirma que irá "diminish, and go into the West and remain Galadriel". (e) Nem os hobbits como um todo são poupados do sacrifício, vide o Expurgo do Condado.​
(3) uma cosmovisão que desemboca em eucatástrofe.​

Enfim, a obra tem um viés católico, no sentido milenar no termo, e não em um sentido modernizante, politicamente correto, que soa bem a ouvidos laicos.

Seguem abaixo dois trechos, um pouco menos reveladores mas ainda assim dignos de nota. No primeiro, Tolkien parece se esforçar para tirar da democracia os méritos da Grécia Antiga. No segundo, Tolkien mostra-se simpático a Francisco Franco como um defensor do catolicismo na Espanha, isso em um contexto onde não era segredo que ele comandava um regime similar ao fascismo italiano, mas de viés catolizante.

(...)
O Sr. Eden na câmara outro dia expressou dor pelos acontecimentos na Grécia, “o lar da democracia”. Ele é ignorante ou insincero? "Democracia" não era em grego uma palavra de aprovação, mas era quase equivalente a “governo da plebe”; e ele esqueceu de observar que os filósofos gregos — e muito mais é a Grécia o lar da filosofia — não a aprovavam. E os grandes estados gregos, esp. Atenas na época de sua alta arte e poder, eram ditaduras, quando não eram monarquias militares como Esparta! E a Grécia moderna possui uma conexão pequena com a antiga Hellas, como temos com a Grã-Bretanha de antes de Julius Agricola.....

(...) Eis aqui [Roy Campbell] um herdeiro de uma família prot. de Ulster residente na África do S., a maioria da qual lutou em ambas as guerras, que se tornou católico após abrigar os padres carmelitas em Barcelona — em vão: eles foram pegos e mortos, e R.C. quase perdeu sua vida. Mas ele tirou os arquivos carmelitas da biblioteca em chamas e os levou através do País Vermelho. Ele fala espanhol fluentemente (ele foi um toureiro profissional). Como você sabe, ele então lutou na guerra no lado de Franco e, entre outras coisas, estava na vanguarda da companhia que enxotou os vermelhos de Málaga com tal pressa que o general deles (Villalba, acredito) não pôde levar seu saque — e deixou em sua mesa a mão de Sta. Teresa com todas as suas jóias. Ele tinha coisas muito interessantes a dizer sobre a situação em Gib desde a guerra (na Espanha). Mas ele é um homem patriótico e tem lutado pelo Exército B. desde então. Bem, bem. (...) não é possível transmitir uma impressão de tal personagem raro, tanto soldado como poeta e um cristão convertido. O quão diferente d’Aqueles que Partiram — os “panzers de veludo cotelê” que fugiram para os Estados Unidos (Auden entre eles que, com seus amigos, fez com que as obras de R.C. fossem “banidas” pelo Conselho M. de Birmingham!). Espero ver novamente este homem na semana que vem. Não saímos de Magdalen até a meia-noite, e caminhei até a Beaumont Street com ele. As reações de C.S.L. foram estranhas. Nada é um tributo maior à Propaganda Vermelha do que o fato de que ele (que sabe que em todos as outras questões eles são mentirosos e difamadores) acredita em tudo o que é dito contra Franco e em nada que é dito a favor dele. Até mesmo o discurso franco de Churchill no Parlamento não o abalou. Mas o ódio por nossa igreja é, no final das contas, o único fundamento final verdadeiro da Igr. da Ingl. — tão profundamente enraizado que permanece mesmo quando toda a superestrutura parece ser removida (C.S.L., por exemplo, reverencia o Sagrado Sacramento e admira as freiras!). Ainda assim, se um luterano é mandado para a cadeia, ele se prepara para entrar em combate; mas se padres católicos são massacrados, ele não acredita (e é provável que ele realmente acredite que eles tenham pedido por isso). Mas R.C. o balançou um pouco.....

Essa crítica ao potencial demoníaco do Estado, aliás, não é estranho a "fascismos" de viés catolizante, como o caso português. Enquanto, em 33, Churchill era todo elogios a Mussolini, Salazar já dizia, no ano anterior...

A nossa ditadura aproxima-se, evidentemente, da ditadura fascista no reforça da autoridade, na guerra declarada a certos princípios da democracia, no seu caráter acentuadamente nacionalista, nas suas preocupações de ordem social. Afasta-se, porém, nos seus processos de renovação. A ditadura fascista tende para um cesarismo pagão, para um estado que não conhece limitações de ordem jurídica ou moral, que marcha apra o seu fim sem encontrar embaraços nem obstáculos. Mussolini, como se sabe é um admirável oportunista da ação: ora marcha para a direta, ora marcha para a esquerda: combate hoje a Igreja, mas, pouco depois, é ele próprio quem faz o tratado de Latrão para mandar encerrar, meses passados, as associações católicas (...) Não nos esqueçamos de que Mussolini é um italiano descendente dos condottieri da Idade Média, e não esqueçamos, igualmente, as suas origens, a sua formação socialista, quase comunista. (...) O Estado Novo português, ao contrário, não pode fugir, nem pensa fugir, a certa limitações de ordem moral que julga indispensável manter, como balizas, à sua ação reformadora.​
(...)​
Outra diferença que separa as duas ditaduras é a diferença dos seus meios de ação, a mecânica da sua renovação. A violência, processo direto e constante da ditadura fascista, não é aplicável, por exemplo, ao nosso meio, não se adapta à brandura dos nossos costumes... (...) A violência pode ter vantagens, efetivamente, em certas horas históricas, mas não é na nossa raça, nem com os nossos hábitos. Em Portugal não há homens sistematicamente violentos. Fraquejam todos a meio caminho e acabam por ser as primeiras vítimas dessas violências falhadas. O caso das nossas revoluções é significativo. (...) A Ditadura para realizar a sua obra tem de ser calma, generosa, um tudo-nada transigente, vagarosa até (...) uma Ditadura de direito sem dar grandes asas ao poder pessoal. (...)​

A impressão que eu tenho é que o "anti-fascismo" de Tolkien vai mais nessa linha, quer dizer, uma oposição à ameaça do Estado em perverter a lógica natural da sociedade, e não um grande viés em prol da democracia, igualdade, liberdade. Tanto é que Tolkien se mostra simpático ao franquismo. Mas claro, a simpatia é apenas parcial, já que o ideal de Tolkien é o utópico anarco-monarquismo, e Tolkien não esperava encontrar em nenhum sistema político real algo próximo de seu modelo ideal.

"Actually I am a Christian, and indeed a Roman Catholic, so that I do not expect 'history' to be anything but a 'long defeat' - though it contains (and in a legend may contain more clearly and movingly) some samples or glimpses of final victory."​
 
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THE LORD OF THE RINGS---A CATHOLIC VIEW
By Charles A. Coulombe​
Mr. Paul Edwin Zimmer, of Greyhaven, remarked to me once that most analysis of the work of J.R.R. Tolkien was undertaken from the Evangelical Protestant or from the Anglican point of view. As Tolkien himself was a fervent Catholic, he reasoned, a Catholic critique might shed new light. Thus encouraged, I began.​
It will be the contention of this paper that much of Mr. Tolkien's unique vision was directly shaped by recurring images in the Catholic culture which shaped JRRT, and which are not shared by non-Catholics generally. The expression of these images in Lord of the Rings will then concern us.​
To begin with, it must be remembered that Catholic culture and Catholic faith, while mutually supportive and symbiotic, are not the same thing. Mr. Walker Percy, in his Lost in the Cosmos, explored the difference, and pointed out that, culturally, Catholics in Cleveland are much more Protestant than Presbyterians in say, Taos, New Orleans, or the South of France. Erik, Ritter von Kuehnelt-Leddihn, points out that the effects of this dichotomy upon politics, attributing the multi-party system in Catholic countries to the Catholic adherence to absolutes; he further ascribes the two-party system to the Protestant willingness to compromise. However this may be, it does point up a constant element in Catholic thought---the pursuit of the absolute.​
Here we must make an aside in regard to the U.S. Catholic culture in America is practically non-existent, except in attenuated form among such peoples as the Hispanos and Indians of Northern New Mexico, the Cajuns and Creoles of Louisiana and the other Gulf States, and theold English Catholic settlements of Maryland and Kentucky. Elsewhere the Faith was brought by immigrants, and its attendant culture has, like all imported ones in the States, veered between preservation and assimilation. This was exacerbated by the fact that Catholic leadership in the United States was early committed to a programme of cultural melding. In addition, this leadership was primarily Irish, a nationality which had been deprived of much of its native culture by centuries of Protestant Ascendancy. Hence it has been extremely difficult for Americans, even American Catholics, to understand or appreciate the Catholic thing (as Chesterton described it) in a cultural context. I am reminded of the astonishment of a classmateof mine (from a typical American Catholic High School) at seeing an anthology of Catholic poetry. This situation has been greatly accentuated in the past twenty years by the changes occurring after Vatican II.​
This being so, it will be necessary to describe a little of the uniquely Catholic world view. In fine, it is a sacramental one. At the heart of all Catholic life is a miracle, a mystery, the Blessed Sacrament. Surrounded traditionally by ritual and awe, it has been the formative aspect of Catholic art, drama, and poetry. The coronation of Kings, swearing of oaths, marriages, celebrations of feast-days, all have a Eucharistic character. Before the advent of Cartesianism, it was held (among other and higher things) to be the highest act of Magic, before which all other acts of theurgy, goetia, or sympathetic magic were as nought. It was the unitive force of the Catholic world, mystically uniting in sacrificial bond all the altars across the globe.​
This great miracle was held to be prefigured by the sacrifice of the Jewish temple, and indeed to have been foreseen in some dim way also by the mysteries and philosophies of the ancient world. Hence nothing that was not evil in these older faiths was rejected out of hand, although a clear distinction was made between them and Catholicism.​
Under this influence, Catholic societies were societies of wonder. Life was held to be a series of miracles. With God Himself appearing on the altar, in consumable form, how difficult were wizards, elves, or the change of seasons? As Aragorn replied to Eothain: "The green earth, say you? That is a mighty matter of legend, though you tread it under the light of day!" So might reply any European of the past, or a Cajun, Galwayman, Sicilian, Micmac, Tagalog, Alfur, or Baganda of today. It is this quality which leads us to dub those peoples "mythopoeic," and their modern equivalents "superstitious" or "backward."​
Politically, traditional Catholic culture has been hierarchical. Feudalism itself was formed in great degree by the Faith, as is shown by the great difference between the Feudal system of European history, and its equivalents in the India of the Mughals, the Japan of the Tokugawa, and the China of the Warring States. Ideas of Chivalry and Hierarchy suggested by the Church did not merely shape European Catholic polity, but continue to determine political structures in such settings as Catholicised African tribes, ethnic Catholic Asian settlements, and Latin America. The relationships of King to Subject, of Lord to Vassal, of Comrade to Comrade-in-Arms remain, though often under other names.​
In traditional Catholic societies, the King is, in a lessened sense, the Vicar of God. While not approximating the Sacral Kingship of non-Catholic peoples, the Catholic Monarchy nevertheless retains a certain sacredness. This remains the case, even when in conflict with the Church. After the calamities of the Reformation, English Civil War, Glorious, French, Industrial, and Russian Revolutions, etc., the King became more than that; he became the exiled leader of the faithful, whose return alone would bring a return to the old ways, and an end to change and unrest.​
These various themes continue to affect Catholic consciousness today. We will observe how far Tolkien was a cultural as well as a doctrinal Catholic (despite being raised in a Protestant land) and how these themes emerge in Lord of the Rings.​
The Birmingham Oratory which provided the backdrop of JRRT's life from 1904 to 1911, was founded by Cardinal Newman and remained a stronghold of cultural Catholicism. Fr. Francis Morgan, JRRT's guardian, he described as a "Welsh-Spanish Tory," surely as Ultramontane a combination as one could wish for. Even today, with some few exceptions, the houses of the Oratory around the world are renowned for both orthodoxy and learning. It was here that our author's religious sense was formed, and during this time that his literary and linguistic interests began. Later, his studies were confined primarily to works of the pre-Reformation. Beyond Chaucer, he had little interest. Judging by his later work, his early environment and studies supplied that which would have been supplied had he lived in a Catholic country. Had he lived away from the Oratory, a living example of Catholic culture, one wonders what the effect on his work would have been.​
In the sphere of doctrine, of course, the influence of Catholicism upon JRRT is readily apparent. In this regard he himself admitted as much, when he wrote in a letter to Deborah Webster of 25 October 1958, "far greater things may colour the mind in dealing with the lesser things of a fairy-story."​
The Blessed Sacrament was very much at the heart of JRRT's devotional life. As he informs his son on p. 339 of his Collected Letters:​
I myself am convinced by the Petrine claims, nor looking around the world does there seem much doubt which (if Christianity is true) is the True Church, the temple of the Spirit dying but living, corrupt but holy, self-reforming and rearising. But for me that Church of which the Pope is the acknowledged head on earth has as chief claim that it is the one that has (and still does) ever defended the Blessed Sacrament, and given it most honour, and put (as Christ plainly intended) in the prime place. "Feed my sheep" was His last charge to St. Peter; and since His words are always first to be understood literally, I suppose them to refer primarily to the Bread of Life. It was against this that the W. European revolt (or Reformation) was really launched---"the blasphemous fable of the Mass"---and faith/works a mere red herring.​
This one finds echoed in the figure of lembas, which "had a potency that increased as travellers relied on it alone, and did not mingle it with other foods. It fed the will, and it gave strength to endure..." (Vol. III, p. 262). This is all very reminiscent of the large literature of Eucharistic miracles, and of such people as St. Lydwine, St. Francis Borgia, and Theresa Neumann, who lived off only the Blessed Sacrament.​
Another unique feature of Catholic life which distinguishes it from that of other Christians is the veneration of the Blessed Virgin Mary, which JRRT shared enthusiastically. As an example, we cite a letter to Robert Murray, S.J., in which he speaks of "...Our Lady, upon which all my own small perception of beauty, both in majesty and simplicity is founded." To a degree in the figure of Galadriel, but more particularly in that of Elbereth may one discern the shadow of Mary:​
Snow-white! Snow-white! O Lady clear!
O Queen beyond the Western Seas!
O Light to us that wander here
Amid the world of woven trees!
Gilthoniel! O Elbereth!
Clear are thy eyes and bright thy breath,
Snow-white! Snow-white! We sing to thee
In a far land beyond the sea.
O stars that in the Sunless Year
With shining hand by her were sown,
In windy fields now bright and clear
We see your silver blossom blown!
O Elbereth! Gilthoniel!
We still remember, we who dwell
In this far land beneath the trees,
Thy Starlight on the Western Seas.
One is immediately reminded of the English hymn by John Lingard, with which JRRT was certainly familiar:​
Hail, Queen of Heaven, the ocean star,
Guide of the wand'rer here below:
Thrown on life's surge, we claim thy care---
Save us from peril and from woe.
Mother of Christ, star of the sea,
Pray for the wanderer, pray for me.
Sojourners in this vale of tears,
To thee, blest advocate, we cry;
Pity our sorrows, calm our fears,
And soothe with hope our misery.
Refuge in grief, star of the sea,
Pray for the mourner, pray for me.
As earlier observed, the Catholic view of the world is a sacramental one; the centre of Catholic life, according to C. G. Jung, "...is a living mystery, and that is the thing that works..." Opponents of the Church have often claimed that the sacraments are "mere" magic. The phrase hocus pocus is a parody of the words of consecration, Hoc est enim corpus meum. As Galadriel observes, "...this is what your folk would call magic, I believe; though I do not understand clearly what they mean; and they seem also to use the same words of the deceits of the enemy." Indeed, one may go so far as to say that the effect of magic, wielded for good, is in Lord of the Rings the same as that of the Sacraments upon the life of the devout Catholic. Protection, nourishment, knowledge, all are held to flow in supernatural abundance from them. In his prayer after communion, St. Thomas Aquinas asks that the Blessed Sacrament be "...a strong defence against the snares of all enemies, visible and invisible." St. Bonaventure declares it to be "...the fountain of life, the fountain of wisdom and knowledge, the fountain of eternal light..." In a word, as the Sacraments are the means of Grace in the Catholic world, magic---wielded by the wise---is the means of Grace in Middle Earth.​
The Sacraments are the centre and cause of all authentic Catholic Mysticism, and the Saints have owed their remarkable careers to them. Certainly, in terms of the physical phenomena of Mysticism (Eucharistic miracles; ecstasies; the stigmata; levitation; bilocation; luminous irradiance; supernatural fragrances; infused knowledge; vision through opaque bodies; supernatural power over objects, etc.) the great mystics have often performed wonders worthy of Gandalf and Elrond (one thinks of St. Jean Vianney, the Cure d'Ars, for example, or of Padre Pio). This too is something of which JRRT would have been aware. As Arthur Machen observed, the only realities are sanctity and sorcery.​
From the realm of Myth, Magic, and Mystery, we now descend to that of history. There is a particularly Catholic view of history, summed up by JRRT in a letter to Amy Ronald of 15 December 1956: "actually, I'm a Christian, and indeed a Roman Catholic, so that I do not expect 'history' to be anything but a long defeat---though it contains (and in a legend may contain more clearly and movingly) some samples or glimpses of final victory."​
In the range of modern Catholic history, there are certain archetypes, which, it may be argued, are reflected in Lord of the Rings, in the manner he described. The ones we will examine are: a) the age of Faith, or the organic state; b) Church versus State; c) the great King; d) the onset of modernity and the martyr-King; e) the Restoration (successful or otherwise).​
The concept of society as an organic whole, without class conflict, with a communal structure, is one that has characterised Catholic social thought since the Roman Empire. In many ways the Shire expresses perfectly the economic and political ideals of the Church, as expressed by Leo XIII in Rerum novarum, and Pius XI in Quadragesimo anno. Traditional authority (the Thain), limited except in times of crisis; popular representation (the Mayor of Michel Delving), likewise limited; subsidiarity; and above all, minimal organisation and conflict. It is the sort of society envisioned by Distributists Belloc and Chesterton in Britain, by Salazar in Portugal, by the framers of the Irish Constitution, by Dollfuss in Austria, and by Smetona in Lithuania. How ever far short or close these dwellers in the real world came to their goal, the fact remains that it is something very close to the Shire they had in mind.​
In the ages of faith, while both Church and State were dedicated to roughly the same ends, they often differed as to how to go about achieving them. Then too, human nature and greed often sowed discord. Sometimes the life-and-death struggle with Islam was hindered by these quarrels. In Lord of the Rings, we see these struggles reflected in the tension between Gandalf and Denethor II. Gandalf, indeed, partakes of much of the nature of the Papacy. He belongs to no one nation, and in a very real sense he is leader of all the free and faithful. This is so because his power is magical rather than temporal, just as the Pope's is sacramental. Denethor's interest is wholly national. To his statement "...there is no purpose higher in the world as it now stands than the good of Gondor," Gandalf replies, "the rule of no realm is mine, neither Gondor nor any other, great or small. But all worthy things that are in peril as the world now stands, those are my care...For I also am a steward." Thus might Boniface VIII have spoken to Philip the fair, or Gregory VII to Henry IV, or Innocent III to King John. Gandalf also reminds one of the Fisher-King in the Grail legends, who himself is a symbol of Peter-in-the-Boat.​
On the other hand, the Catholic imagination was also haunted by the image of the great Kings, like Arthur, St. Ferdinand III, and St. Louis IX. These were held to have been the ideal prototypes for rulers: pious, brave, wonderful in a manner unapproachable for those of later times. In three characters in particular, Elendil, Gil-Galad, and Durin, do we find the yearning for the great King in terms with which Western Catholics of yesteryear and Third World Catholics of today would be familiar:​
Gil-Galad was an Elven-King.
Of him the harpers sadly sing!
The last whose realm was fair and free
Between the Mountains and the Sea.
and again:​
The world was young, the mountains green,
No stain yet on the moon was seen.
No words were laid on stream or stone,
When Durin woke and walked alone.
The world was fair, the mountains tall,
In Elder days before the fall
Of mighty kings in Narthgarond
and Gondolin who now beyond
Western Seas have passed away:
The world was fair in Durin's day.
So might have a Medieval minstrel mourned the Nine Worthies; so might a modern one mourn the Negus, or the Mwami, or the Kabaka. The forms change, but for a Catholic, the subject rarely does.​
The upheavals earlier referred to destroyed Catholic unity, splintered society, and destroyed much that was beautiful. The enclosures and various other economic measures ended Western Society's communal nature. The great present-day expressions of these forces of modernity are Capitalism and Communism, with all they represent. JRRT's feelings about such things are clear. In The Hobbit, we are told of Goblins that "they invented some of the machines that have since troubled our world, especially the ingenious devices for killing large numbers of people at once, for wheels and engines and explosions have always delighted them..." Of course, the descriptions given in "The Scouring of the Shire" are particularly apropos.​
In the struggle between Tradition and Modernity, three famous monarchs lost their lives: Charles I, Louis XVI, and Nicholas II. While the first and last were not officially Catholics, they were at least culturally so. Traditional forces in England, France, and Russia were solemnly canonised by the Anglican and Russian Orthodox Churches; Louis XVI is still regarded as a martyr by thousands of French Royalists. Each owed their deaths to two items: a desire to uphold the Traditional constitution of Church and State in their respective realms, and a personal weakness or flaw which reduced their effectiveness in so doing. They also shared heroic deaths which, to great degree, redeemed their mistakes in the eyes of many of their subjects. All of this applies to Isildur as well.​
The social ideas earlier referred to were contradicted by the events of history. With their end as fact, they became hope. This hope became concentrated in the cause of the deposed sovereign, who would, upon his return to power, set all things to rights again:​
'Till then, upon Ararat's hill
My hope shall cast her anchor still,
Until I see some peaceful dove,
Bring home the branch she dearly love;
Then will I wait, till the waters abate,
Which now disturb my troubled brain:
Else never rejoice, till I hear the voice,
That the King enjoys his own again.
As time passed, the claims went to heirs, but the ever hopeful adherents continued their struggle. Thus, the Jacobites fought for the Stuarts in 1689-1690, 1715, 1719, and 1745-46; the Carlists in Spain rebelled in 1833-39, during the 1840s and 50s, and in 1872-76---they also played a key role in the Spanish Civil War on the Nationalist side. The Chouans and the Vendeens continued guerrilla warfare against the French Republic all through the Revolution; even today, French Royalism flourishes. The Miguelists of Portugal continued their agitation against first the liberal monarchy and then the republic down to the present. Since the fall of the Austro-Hungarian Empire, Habsburg adherents have pursued dreams of restoration. So greatly did Hitler fear this possibility that he named the planned invasion of Austria Case Otto, after the exiled heir. Whatever may become of their political hopes, the canonisation of Charles, the last Emperor, may be presaged by the incorruptibility of his remains at Madeira.​
However this may be, such people looked to a restoration to restore the Church to prominence, curb industry, revive the smallholder and the old order of society. As Robert Burns observed:​
The Church is in ruins, the State is in jars,
delusions, oppressions, and murderous wars.
We dare nae well say it, but we ken wha's to blame,
There'll never be peace 'till Jamie comes hame.
As it became apparent that Jamie would not come home, nor would Don Carlos, nor Dom Miguel, nor the Comte de Chambord, many looked for less regal saviours. From such desires emerged (and emerge) such men as Franco, Pilsudski, and many of the better Latin American Caudillos. In a sense, this Catholic political messianism is even present in the careers of such diverse figures as Kennedy and Castro.​
Aragorn succeeds where Bonnie Prince Charlie and the others failed. Instead of the field of Culloden's defeat and mourning, we have the field of Cormallen's victory and rejoicing. In Middle Earth, the "good old cause" triumphs. The Dunedain, so like the Jacobites, Carlists, and Legitimists for most of their history, gain at last the victory. From being the Young Pretender, Aragorn becomes Charlemagne, restorer of the Empire. Indeed, his restored kingdom has much in common with the Carolingian Renaissance. It would not be unfair to say that it is this which Catholics have at the bottom of their minds when they consider things political. In Middle Earth, all things do become well, for the King indeed enjoys his own again.​
There are other symbols time does not allow us to explore: the dark Lord's forces might represent not only Modernity, but the Islam which was Christendom's greatest previous enemy; the Tower of Guard, Minas Tirith, might be seen as a symbol of the Church Militant, of the Res Publica Christiana. But we have examined a few of the most evocative motifs in terms of the Catholic Psyche.​
In his Hieroglyphics: Notes on the Ecstatic in Literature, Mr. Arthur Machen declares, "Literature is the expression, through the artistic medium of words, of the dogmas of the Catholic Church, and that which is in anyway out of harmony with these dogmas is not literature," for "Catholic dogma is merely the witness, under a special symbolism of the enduring facts of human nature and the universe." Whether or no JRRT would have agreed with this definition, he did say, in the letter to Fr. Murray, S.J., already cited, "Lord of the Rings is of course a fundamentally religious and Catholic work; unconsciously so at first, but consciously in the revision...For the religious element is absorbed into the story and the symbolism."​
It has been said that the dominant note of the traditional Catholic liturgy was intense longing. This is also true of her art, her literature, her whole life. It is a longing for things that cannot be in this world: unearthly truth, unearthly purity, unearthly justice, unearthly beauty. By all these earmarks, Lord of the Rings is indeed a Catholic work, as its author believed; but it is more. It is this age's great Catholic epic, fit to stand beside the Grail legends, Le Morte d'Arthur, and The Canterbury Tales. It is at once a great comfort to the individual Catholic, and a tribute to the enduring power and greatness of the Catholic tradition, that JRRT created this work. In an age which has seen an almost total rejection of the Faith on the part of the Civilisation she created, the loss of the Faith on the part of many lay Catholics, and apparent uncertainty among her hierarchy, Lord of the Rings assures us, both by its existence and its message, that the darkness cannot triumph forever.​

Negritos meus. Texto interessante e que também cita o salazarismo ("fascismo" português) como uma doutrina afim ao espírito tolkienriano, o que se soma ao que eu apontei anteriormente sobre essa correlação.

Também Michael Moorcock, importante escritor de fantasia, não acha Tolkien tão "anti-fascista" assim.[1]
 
Última edição:
No começo do ano fui ler sobre a origem da eficiência do exército britânico* que historicamente apenas seria derrotado em sua época de glória pelo exército americano (afinal o homem de armas era um dado da vida de Tolkien) e fui pesquisar nos livros no site Project Gutenberg sobre a enfermeira Florence Nightingale (lá por 1820, em parte para ver outras crises de saúde parecidas ao comunovírus chinês), mais especificamente a origem da inspiração do trabalho dela que influenciaria do secretário de estado da rainha Vitória ao Rei de Portugal e o governo da Índia e tem notas da influência cristã devocional em conseguir enxergar o rosto de Cristo em cada paciente, da experiência mística do chamado divino e até dela cogitar se juntar ao catolicismo. A Verlyn Flieger parece ter comentado algo assim nas cartas sobre o que movia o JRR, de Tolkien ter conseguido "atravessar para o outro lado" deste mundo. Que no tempo dele e com a vida que ele teve havia a presença da morte que estava nos campos sempre próxima.

Dificilmente um mundo demasiadamente velhaco entenderia o significado de inocência ou das raízes puras sondadas por Tolkien (tem coisa que não dá pra entender nem por simulação). E como só entra no céu quem for como uma criança os cínicos demais poderiam reduzir Tolkien a um esqueleto vazio (um mero criador de imaginações e falsidades lúdicas), mas que isso seria algo bem longe da verdade do que aconteceu nos tempos dele. Virou tudo uma mera troca de estados mentais gratuita, banalizada com hiper crises de ansiedade, etc... Se para enxergar a realidade já anda difícil imagina enxergar o sagrado nas coisas lá dos anos 30.

*Além de que eu queria imagens inéditas das guerras americanas (Civil, Independência, etc...).
 
Última edição:
Também Michael Moorcock, importante escritor de fantasia, não acha Tolkien tão "anti-fascista" assim.[1]

Como vc sabe, @Haran Alkarin, a opinião de Michael Moorcock sobre Tolkien, em particular, e os Inklings, no geral, não é exatamente das mais isentas ou daquelas que um tolkieniano deveria aceitar at face value.

Um dos principais problemas é que ele parte/ia do pressuposto que Tolkien tinha exatamente as mesmas posições reacionárias de C.S. Lewis em termos de assuntos como feminismo, continência e/ou diversidade sexual, compatibilidade do monoteísmo com a reverência aos santos, home rule irlandês, divisão classista e muitos outros tópicos espinhosos.

Moorcock, aparentemente, ignora que a disparidade entre Tolkien e C.S. Lewis era tão grande que Tolkien proibiu que um livro que ele escreveu em resposta a uma obra póstuma de Lewis, o Cartas pra Malcom, viesse a público. E, por isso, vai levar ainda, talvez, uns vinte anos para vermos o Motivo Ulsterior publicado.

Sendo que Tolkien, inclusive, era muito mais simpático às posições neoplatonistas da Antroposofia de Owen Barfield do que Lewis* (principalmente no tocante à noção de Consciência Cósmica-vide Fogo Secreto-comparado ao Espírito Santo**). E sendo que o próprio Moorcock é filiado à antroposofia de Rudolf Steiner (o guru de Barfield) e-ou pelo menos foi criado dentro dela.

* vide aí as similaridades e disparidades entre Lewis e Barfield. Esse sumário e lista sugere, penso, tomando como base uma leitura cerrada das cartas e do corpus do Silmarillion, incluindo os materiais Pós Senhor dos Anéis, que Tolkien se alinha muito mais com Barfield do que com Lewis.


Mais sobre Lewis, Tolkien e Barfield aí

A noção de Moorcock de que Tolkien era um tory empedernido, um conservador da direita britânica fanático, não bate de maneira alguma com posições que Tolkien, sabidamente, defendeu em suas cartas.

Especialmente no tocante a esse aspecto aí como esse texto do Bradley Birzer* explica muito bem (inclusive Tolkien não era muito apegado à noção de "Estado" como ente político e, portanto, naturalmente avesso aos regimes "fascistas", tanto de direita quanto de esquerda):





Second, though a conservative, Tolkien was not a very devout Tory, sometimes mocking Winston Churchill.
Third, Tolkien referred to himself in his letters as an anarchist of the non-violent variety. Almost certainly, Tolkien’s anarchism is neither the modern anarcho-capitalism of a Murray Rothbard nor the anarcho-socialism of the Chicago Haymarket rioters. Given his writings on the Shire, in particular, Tolkien almost certainly meant this in the sense that he was a Catholic and, therefore, that he believed in subsidiarity– that is the principle that power should reside at the most immediate level possible.


Seventh, Tolkien equally despised racism and tribalism. When the Germans wanted to publish The Hobbit, requesting any information on possible Jewish ancestry, Tolkien mocked them. Sadly, he noted, he possessed no such noble blood.



The Ten Points of Tolkien’s Politics

By Bradley J. Birzer|January 3rd, 2015|Categories: Bradley J. Birzer, Christianity, Conservatism, J.R.R. Tolkien



Today, January 3, 2015, J.R.R. Tolkien would have turned 123. Considering that he thought Bilbo’s birthday 111 (Eleventy-one) an important age, what would he have thought of “Twelvety-three?” I assume time no longer has any meaning for him, and he is smiling down from above. I know of several nuns who are praying for the cause of his sainthood, and I certainly join in such a prayer. Yet, 123: An interesting and impressive number.
Now that Peter Jackson has completed his demolition and adulteration (sorry, I am not a fan of his work) of J.R.R. Tolkien’s work, I hope we—as a Western people—can reclaim Tolkien from Hollywood and all of its shuddering perversities. I enjoyed Jackson’s version of the Fellowship of the Ring, tolerated The Two Towers, and despised The Return of the King. I have not seen a single scene of the Hobbit trilogy. And I plan never to see it. I do not want Jackson to get a single penny of my money. Indeed, I would rather hoist myself on the nearest barbed wire fence than give that guy anything.
Back to happiness—one of my resolutions of the new year is to be more positive about life. Part of my resolution in rediscovering the good in the world is to reexamine my love of Tolkien and all things Inklings. I hope to do this throughout the year of our Lord 2015.
As a person who has written on Tolkien for almost fifteen years and read Tolkien for thirty-six years, I am often asked about his political views. In a sense, this is a funny question, as Tolkien really despised most politics. In fact, he really thought of himself as very anti-political. His few statements on the matter reveal just how unpolitical and apolitical and anti-political he could be.
It is also, however, a natural question for someone to ask about the great man, as we live in a highly politicized age.
So, what do we know?
First, Tolkien was a conservative and a Burkean. His wife confirmed the former, and C.S. Lewis’s letters seem to confirm the latter.
Second, though a conservative, Tolkien was not a very devout Tory, sometimes mocking Winston Churchill.
Third, Tolkien referred to himself in his letters as an anarchist of the non-violent variety. Almost certainly, Tolkien’s anarchism is neither the modern anarcho-capitalism of a Murray Rothbard nor the anarcho-socialism of the Chicago Haymarket rioters. Given his writings on the Shire, in particular, Tolkien almost certainly meant this in the sense that he was a Catholic and, therefore, that he believed in subsidiarity– that is the principle that power should reside at the most immediate level possible.
Fourth, in the same letter that Tolkien called himself an anarchist, philosophically understood, he also argued that he would support an unconstitutional monarchy. Puzzling, to be sure. But, again, given Tolkien’s writings regarding Middle-earth, and especially on Aragorn, Tolkien almost certainly meant that a king should be bound by his oath to his people and, especially to Christ. Philosophically, Tolkien would have identified with St. Thomas Aquinas, especially in the great saint’s letter On Kingship. For Aquinas, the only true king was the king who behaved as would Christ, willing to sacrifice himself for love.
Fifth, when Tolkien writes “unconstitutional,” he is likely thinking of an Alfred the Great, restrained by tradition, custom, and common law, as opposed to King John, supposedly restrained by the Magna Carta. There is nothing in Tolkien’s writings to claim that Tolkien opposed a constitution, only that a real king stood his word and his oath. Beowulf rather than Henry VIII.
Sixth, Tolkien despised imperialism. When he spoke of patriotism, he spoke of England, not Great Britain.
Seventh, Tolkien equally despised racism and tribalism. When the Germans wanted to publish The Hobbit, requesting any information on possible Jewish ancestry, Tolkien mocked them. Sadly, he noted, he possessed no such noble blood.
Eighth, Tolkien feared modern technology, but especially when used by governments. When a student brought a tape recorder to his house in the early 1950s, as Tolkien was having trouble selling The Lord of the Rings to any publisher, the author agreed to read some of his works into the device. Convinced such technology could only be devilish, he agreed to use the recording only after reciting the Lord’s Prayer in Gothic (Old German) to exorcise any evil at work in it. When the great professor learned of the American development and use of the Atomic bomb in 1945, words could never express his horror at the act.
Ninth, Tolkien feared the corruption of language by governments. He wrote: Languages “are the chief distinguishing marks of peoples. No people in fact comes into being until it speaks a language of its own; let the languages perish and the peoples perish too.” He considered language the most essential aspect of continuity in a people. Governments, however, recognized this fact long before the scholars did. For control and neatness, political rulers demand control over language, thus also controlling the past and the future.
Tenth, if Tolkien had to be pegged as anything, he should be pegged as an imaginative conservative, finding the work of Winston Elliott and Steve Klugewicz more than agreeable.
But, let me end with Tolkien’s words. Before a group of Dutch honoring him for his many achievements, Tolkien stated:
“I look East, West, North, South, and I do not see Sauron. But I see that Saruman has many descendants. We Hobbits have against them no magic weapons. Yet, my gentle hobbits, I give you this toast: To the Hobbits. May they outlast the Sarumans and see spring again in the trees.”
Happy Birthday, Professor Tolkien.

Se alguém duvida da não idoneidade do Moorcock só ler aí Epic Pooh (versão original de 1978-mesmo ano em que o SdA chegou às salas de cinema no desenho animado do Ralph Bakshi-prestem atenção nesse padrão)

A última versão atualizada postada na WEB (2002-logo depois da estréia do primeiro filme da trilogia do Peter Jackson que foi em dezembro de 2001( 19/12/01)

Fizeram uma longa análise e réplica pras considerações dele aí Defending Tolkien Against Michael Moorcock’s Condemnation Cock-and-Bull about Epic Fantasy

Essa crítica ao ensaio do Moorcock é ainda mais direta ao ponto e mordaz já no seu título: Epic Pooh Pooh

E tem mais isso ai: https://ajcarlisle.wordpress.com/20...rary-critics-of-tolkien-bloom-moorcock-et-al/

E Dale J. Nelson (Extollager) deu início a um ótimo bate papo a respeito do tema em inglês ( que, claro, também ocorre com igual ou maior vigor em muitos outros lugares e ocasiões). Eu mesmo, inclusive, estou na iminência de fazer um texto a respeito da sanha moorcockiana contra Tolkien que, suspeito, vai franzir algumas testas e sobrancelhas e arregalar alguns olhos por(r)a aí...
 
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Bozoignaro ( à semelhança de seu "mestre", Donald Trump*) é tipologia do Anticristo como Sauron também era.
Explicado do que se trata e porque no link aí atrás.

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Infelizmente, a síndrome que acomete o ex-militar e nosso atual pré-incidente da República não era "sindrome de Boromir", era síndrome de Iznogud, aquela de querer ser "o Chefe do Lugar do Chefe", ou o "Califa no lugar do Califa" dos quadrinhos e desenho animado francês. Ou seja, a versão "Saurônica" do mero acometimento "bravura" e busca pela glória do Boromir.


Jair Bozoignaro, padece de uma das piores versões secundárias da queda "demiúrgica" em desgraça, "sub-criativa" de Melkor, tendente ao Caos puro, à desierarquização e atomização das coisas, haja vista que Glaurung nem foi chamado de volta da queda de Nargothrond na Primeira Era e Balrog de Moria, depois de desperto, inclusive pela "maldade do próprio Sauron" nem tentou sair de Moria entre 1980 e 3018 da Terceira Era.


C. S. Lewis Quote on Tyrannies

“Of all the tyrannies, a tyranny sincerely exercised for the good of its victims may be the most oppressive. It may be better to live under robber barons than under the omnipotent moral busybodies. The robber barons cruelty may sometimes sleep, his cupidity may at some point be satiated; but those who torment us for our own good will torment us without end, for they do so with the approval of their own conscience.”

A queda do "Trump de Saurobozo" é a queda "ordeira" daquele que, genuinamente, a principio, almeja a "prosperidade material" de seus comandados e cuja dedicação à sua versão totalitária-absolutista-maquiavélica do que seja "ordem e progresso" se torna, não mais uma "fase do plano", mas sim O PLANO, o objetivo, em si mesmo, como Tolkien disse que já se passou com vários grandes líderes na história da Terra ( entre eles com destaque recente para Hitler e Stálin ( por assim dizer a esse tempo as "Duas Torres", plural dual antigo numenoriano "zigurat").

Confiram aí meu estudo de caso sobre a analogia do exemplo de Sauron em Númenor e seu derivado-rebento (uiai!!)próximo de 1978, Garokk da Terra Selvagem nas histórias dos X-Men de Chris Claremont, John Byrne e Terry Austin, onde as observações feitas tb são aplicáveis a Umbridge-Voldemort-Grindelwald na Joan Kathleeen Rowling e ao Drácula-Magneto-Doutor Destino-Mastermind-Master of the World-Sublime-Apocalipse da Marvel Comics bem como ao Trigon-Ares-Darkseid-Komander-Rãs-Al-Ghul-Luthor-Overmaster-Ocean Master-Slizzath-Sensei-Circe da DC Comics.

X-Men e Tolkien -Reunião de Cúpulas escondida em plena vista


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"E o primeiro fogo sobre o altar de Sauron foi aceso com a lenha cortada de Nimloth; e ela crepitou e foi consumida. Mas os homens se admiraram com o fumaceiro que dela emanou, tal que a Terra ficou à sombra de uma nuvem durante sete dias, até que ela lentamente se dissipou para o oeste. (...)E tudo estava

à espera da palavra de Ar-Pharazôn; e Sauron se recolheu para o círculo mais retirado do Templo, e os homens lhe traziam vítimas a serem incineradas".

Muitas pessoas às vezes acham meio difícil perceber as referências tolkienianas nos trabalhos da Marvel e DC pós anos 60. Várias alegam que somente histórias com criaturinhas fantásticas "hobbitianas" e cenários pseudo-medievais com necromantes e exércitos de goblinóides poderiam trair algum débito com Tolkien. Assim só Thor ou histórias na era hiboriana poderiam realmente conter tolkienismos ou , então, tramas ocasionais fantásticas de Vingadores ou X-Men

Em réplica a isso eu poderia dizer o seguinte: não são , realmente, os traços superficiais que qualificam um trabalho como sendo influenciado pela fantasia do autor britânico. Por motivos variados, por exemplo, digo pra quem quiser ouvir: Dragonlance , o cenário de fantasia medieval de Margareth Weiss e Tracy Hickman, com goblins, elfos,deuses e dragões é menos tolkieniano em muitos pontos essenciais do que a série Harry Potter, que, carecendo dos elementos superficiais, contém, todavia, simbolismos, imagens e nomes tão reminiscentes do Senhor dos Anéis que acho muito mais justo reconhecer o débito de Rowling para com Tolkien do que o de Weiss.

Nesse contexto, o exemplo visual abaixo é bem ilustrativo. No ano de 1977 saiu o Silmarillion , editado por Christopher Tolkien depois de uma longa espera por parte dos fãs. O texto do Akhalabêth continha essa descrição do templo de Sauron em Númenor, erguido como uma idolatria profana a seu mestre Morgoth na própria terra com que os Valar haviam presenteado os Edain, os humanos "fiéis" , redimidos parcialmente da Queda "bíblica".

Pois, depois da invasão, o Rei cedeu a Sauron e derrubou a Árvore Branca,dando então as costas totalmente à aliança de seus antepassados. Já Sauron fez com que fosse construído no topo da colina, no meio da cidade dos númenorianos, Armenelos, a Dourada, um templo enorme. E. na base, sua forma era a de um circulo. Ali, as paredes tinham quinze metros de espessura, e a largura da base era de cento e cinqüenta metros de um lado a outro, ao passo que as paredes se elevavam a cento e cinqüenta metros do piso e eram coroadas por uma enorme cúpula. E essa cúpula era toda recoberta de prata e se erguia cintilante ao Sol, de tal modo que sua luz podia ser vista a grande distância; mas logo a luz escureceu, e a prata ficounegra. Pois havia um altar de fogo no centro do templo, e na parte mais alta da cúpula havia um lanternim, por onde saía grande quantidade de fumaça
.

E não é que em uma história dos X-Men de 1978, Chris Claremont e John Byrne introduziram a cidadela do falso deus , Garokk, que havia dominado a Terra Selvagem , construindo sobre suas fossas geotérmicas uma cidade que era um domo abobadado, no centro do qual havia um templo onde Garokk fazia sacrifícios humanos queimando suas vítimas? Detalhe que a cidadela usando a energia que mantinha o clima da Terra Selvagem aquecido em relação ao restante do continente antártico estava causando uma "era glacial" no local, condenando toda a fauna e flora locais à morte pelo frio, tudo para garantir a noção garokkiana de " ordem e progresso". Comparem a descrição acima com a arte monumental de John Byrne ( no auge de sua inspiração) e seu parceiro Terry Austin.



Maiorzinha aí pra quem quiser ver direito:


(...)

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Juntemos isso com o comentário de C.S.Lewis


Of all tyrannies, a tyranny sincerely exercised for the good of its victims may be the most oppressive. It would be better to live under robber barons than under omnipotent moral busybodies. The robber baron's cruelty may sometimes sleep, his cupidity may at some point be satiated; but those who torment us for our own good will torment us without end for they do so with the approval of their own conscience

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