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Bem maior quanto? Temos influência africana a rodo no Brasil. Na culinária, na música, na religião, no folclore... a chegada (forçada) dos negros mudou demais o país pra ser tão ignorada pelos livros de História. É como o Bruce falou. Hoje se fala da escravidão e ponto. Mais nada dito sobre a Africa, continente de onde descendem mais da metade da população brasileira. É algo que precisa sim ser revisto.
É difícil comparar quantitativamente, mas da cultura europeia herdamos a língua, a ciência, a filosofia, a religião mais fundamental do país (o cristianismo), o direito, a democracia e o Estado, também muitíssimo da arte (comparar influência de Portugal com a soma da África inteira), e por aí vai. Nem dá pra comparar a importância disso com rangos, religiões minoritárias, certas festas e costumes, etc.

É claro que algo adicional sobre a história da África é bem-vindo, mas seria um acréscimo e não uma mudança na estrutura curricular como um todo. Desafio qualquer um aqui a pegar um bom livro de história geral, localizar três capítulos que julga menos importante do que algum eventual capítulo de história da África...

Esse tipo de discussão, aliás, reforça minha crença em certo anarquismo educacional - o currículo deveria provir sobretudo da escolha dos pais: quer colocar seu filho em uma escola que ensine bastante da história da África, ou que reduza radicalmente as ciências exatas? À vontade, não tem porque o Estado querer decidir o que seu filho vai aprender, especialmente no Ensino Médio. Porém claro que em um país onde depositamos nossa confiança na escola pública isso é uma utopia. Mas poderíamos ao menos desregular o currículo em escolas particulares...
 
Para um Governo se propõe a abordar a cultura africana e ameríndia, a explanação do contéudo é beeeem rasa e genérica. Sempre fugindo pela tangente. Se a ideia é dar maior ênfase para a História do Brasil, então, que se revise tudo o que está nos livros sobre colonização e escravidão. Quero ver colocar nas páginas que o então Ministro Rui Barbosa, no início da República, mandou destruir todos os registros de compra de escravos em todos os cartórios do Brasil; para, assim, evitar não só uma futura indenização por parte dos senhores de escravos, como também dos próprios negros.

Ou seja, a História do Brasil já era jogada no lixo há muito tempo e nossos historiadores muito bem doutrinados ideologicamente.
 
É claro que algo adicional sobre a história da África é bem-vindo, mas seria um acréscimo e não uma mudança na estrutura curricular como um todo. Desafio qualquer um aqui a pegar um bom livro de história geral, localizar três capítulos que julga menos importante do que algum eventual capítulo de história da África...

Estranho, porque já fazemos isso dentro do ensino de história europeia - estabelecer o que é relevante para a nossa própria história, digo.
 
O texto do Vila tem um tom meio ridículo, mas ele tem razão quando diz que, com a Base Nacional Comum, os programas dos cursos de graduação em História foram jogados no lixo. O que está em curso é uma esculhambação multiculturalista do ensino de História. É um desserviço ao país.
A Associação Nacional de História (ANPUH), aliás, tem se posicionado contrariamente a esse currículo e está organizando eventos para debater suas implicações.

Como contribuição à discussão, uma das críticas mais interessantes que eu li veio de um cara em geral bastante antipático à esquerda - o Demétrio Magnoli - em parceria com a Elaine Senise Barbosa:

História sem tempo

Renato Janine, o Breve, transitou pela porta giratória do MEC em menos de seis meses. No curto reinado, antes da devolução do ministério a um “profissional da política”, teve tempo para proclamar a Base Nacional Comum (BNC), que equivale a um decreto ideológico de refundação do Brasil. Sob os auspícios do filósofo, a História foi abolida das escolas. No seu lugar, emerge uma sociologia do multiculturalismo destinada a apagar a lousa na qual gerações de professores ensinaram o processo histórico que conduziu à formação das modernas sociedades ocidentais, fundadas no princípio da igualdade dos indivíduos perante a lei.

O ensino de História, oficializado pelo Estado-nação no século 19, fixou o paradigma da narrativa histórica baseado no esquema temporal clássico: Antiguidade, Idade Média, Idade Moderna, Idade Contemporânea. A crítica historiográfica contesta esse paradigma, impregnado de positivismo, evolucionismo e eurocentrismo, desde os anos 60. Mas o MEC joga fora o nenê junto com a água do banho, eliminando o que caracteriza o ensino de História: uma narrativa que se organiza na perspectiva temporal. Segundo a BNC, no 6.º ano do ensino fundamental, alunos de 11 anos são convidados a “problematizar” o “modelo quadripartite francês”, que nunca mais reaparecerá. Muito depois, no ensino médio, aquilo que se chamava História Geral surgirá sob a forma fragmentária do estudo dos “mundos ameríndios, africanos e afrobrasileiros” (1.º ano), dos “mundos americanos” (2.º ano) e dos “mundos europeus e asiáticos” (3.º ano).

O esquema temporal clássico reconhecia que a mundialização da história humana derivou da expansão dos Estados europeus, num processo ritmado pelas Navegações, pelo Iluminismo, pela Revolução Industrial e pelo imperialismo. A tradição greco-romana, o cristianismo, o comércio, as tecnologias modernas e o advento da ideia de cidadania difundiram-se nesse amplo movimento que enlaçou, diferenciadamente, o mundo inteiro. A BNC rasga todas essas páginas para inaugurar o ensino de histórias paralelas de povos separados pela muralha da “cultura”. Os educadores do multiculturalismo que a elaboraram compartilham com os neoconservadores o paradigma do “choque de civilizações”, apenas invertendo os sinais de positividade e negatividade.

A ordem do dia é esculpir um Brasil descontaminado de heranças europeias. Na cartilha da BNC, o Brasil situa-se na intersecção dos “mundos ameríndios” com os “mundos afrobrasileiros”, sendo a Conquista, exclusivamente, uma irrupção genocida contra os povos autóctones e os povos africanos deslocados para a América Portuguesa. A mesma cartilha, com a finalidade de negar legitimidade às histórias nacionais, figura os “mundos americanos” como uma coleção das diásporas africana, indígena, asiática e europeia, “entre os séculos 16 e 21”. O conceito de nação deve ser derrubado para ceder espaço a uma história de grupos étnicos e culturais encaixados, pela força, na moldura das fronteiras políticas contemporâneas.

A historiografia liberal articula-se em torno do indivíduo e da política. A historiografia marxista organiza-se ao redor das classes sociais e da economia. Nas suas diferenças, ambas valorizam a historicidade, o movimento, a sucessão de “causas” e “consequências”. Já a Sociologia do Multiculturalismo é uma revolta reacionária contra a escritura da história. Seus sujeitos históricos são grupos etnoculturais sempre iguais a si mesmos, fechados na concha da tradição, que percorrem como cometas solitários o vazio do tempo. Na História da BNC, o que existe é apenas um recorrente cotejo moralista entre algoz e vítima, perfeito para o discurso de professores convertidos em doutrinadores.

Na BNC, não há menção à Grécia Clássica: sem a Ágora, os alunos nunca ouvirão falar das raízes do conceito de cidadania. Igualmente, inexistem referências sobre o medievo das catedrais, das cidades e do comércio: sem elas, nossas escolas cancelam o ensino do “império da Igreja” e das rupturas que originaram a modernidade. O MEC também decidiu excluir da narrativa histórica o Absolutismo e o Iluminismo, cancelando o estudo da formação do Estado-nação. A Revolução Francesa, por sua vez, surge apenas de passagem, no 8.º ano, como apêndice da análise das “incorporações do pensamento liberal no Brasil”.

Sob o sólido silêncio de nossas universidades, o MEC endossa propostas pedagógicas avessas à melhor produção universitária, que geram professores “obsoletos” em seus conhecimentos e métodos. Marc Bloch disse que “a História é a ciência dos homens no tempo”. Suas obras consagradas, bem como as de tantos outros, como Peter Burke, Jules Michelet, Perry Anderson, Maurice Dobb, Eric Hobsbawm, Joseph Ki-Zerbo, Marc Ferro, Albert Hourani, Caio Prado Jr., Sérgio Buarque de Holanda e José Murilo de Carvalho, não servem mais como fontes de inspiração para o nosso ensino. A partir de agora, em linha com o decreto firmado pelo ministro antes da defenestração, os professores devem curvar-se a autores obscuros, que ganharão selos de autenticidade política emitidos pelo MEC.

Não é incompetência, mas projeto político. Num parecer do Conselho Nacional de Educação de 2004, está escrito que o ensino de História e Cultura Afrobrasileira e Africana “deve orientar para o esclarecimento de equívocos quanto a uma identidade humana universal”. Equívocos! No altar de uma educação ideológica, voltada para promover a “cultura”, a etnia e a raça, o MEC imolava o universalismo, incinerando a Declaração Universal dos Direitos Humanos. A trajetória iniciada por meio daquele parecer conclui-se com uma BNC que descarta a historicidade para ocultar os princípios originários da democracia.

Doutrinação escolar? A intenção é essa, mas o verdadeiro resultado da abolição da História será um novo e brutal retrocesso nos indicadores de aprendizagem.

Fonte: www.gazetadopovo.com.br/opiniao/artigos/historia-sem-tempo-0z5is61fltk3abx48dlj30q3y
 
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Minha pergunta é como trabalhar as histórias pré-navegações de lugares como a África e as Américas, onde normalmente não havia escrita e muito menos registros históricos precisos dos acontecimentos. É claro que é possível fazer algo usando evidências antropológicas. Um exemplo: o fato de as línguas Tupi serem muito parecidas, embora tal grupo tenha se espalhado em território tão extenso, sugere que estes povos se expandiram de maneira rápida e, à época do Descobrimento, em um tempo muito recente, numa escala histórica.

Contudo, a historiografia com a qual nos relacionamos com o tempo foi aquela conferida pelos europeus, tendo sido eles os que teceram, para o bem ou para o mal, a rede da globalização. História ensinada do jeito proposto vai descambar muito para o lado da antropologia cultural. Nada contra o conteúdo em si, que é bem vindo nas propostas curriculares de humanidades para Ensino Médio. Só acho preferível que seja complementar.

A História é uma ciência e, como tal, lança mão de rigor científico para discernir os acontecimentos reais do passado daqueles ficcionais. Quem possibilitou esse campo do conhecimento foram os povos que dominaram as tecnologias que permitem gravar com precisão datas e fatos. E só olhando para material histórico aprende-se História, ao menos no sentido clássico do termo.
 
Acho que de consenso todos concordam o grande protagonismo que a história da Europa tem em nossa formação cultural. O que se discute apenas é a validade de abordar com um pouco mais de profundidade a história dos demais continentes e a história pré-colombiana, que na minha opinião merecem um espaço maior, mas não a ponto de serem os temas mais dominantes nos currículos.

Já falar de história do Brasil é sempre um "capítulo" mais delicado a parte, pois tradicionalmente se aborda no ensino fundamental/médio os principais fatos históricos desde o descobrimento que todos conhecemos e aprendemos, mas muita coisa é omitida ou não é devidamente aprofundada, passando uma imagem de que mencionar detalhes maiores de fatos negativos e/ou períodos ruins da história (coisa que todo país mais ou menos próspero já teve) não é e nunca será bom na formação do povo brasileiro e nessa "brincadeira" é que muitos se iludem achando que corrupção é algo que só existe e ganhou força nos tempos mais atuais.
 
@ExtraTerrestre , mas se você for pensar bem, a própria História surge com base nas tradições orais, passando pelas crônicas do Crescente Fértil, até haver o surgimento da escrita e o desenvolvimento do procedimento historiográfico dos gregos. Você diz que para estudos sobre povos que não tinham escrita, estaríamos fazendo uso de antropologia, mas isso já não ocorre dentro da própria disciplina de História quando se tenta verificar a exatidão dos eventos ou aspectos destes? Reconheço que uma dificuldade enorme se apresenta com base nisso, embora não consiga ver porque ignorar o que sabemos e interpretamos com as descobertas arqueológicas e os estudos antropológicos em sala de aula.
 
A discussão aqui está mais centrada no ensino médio, mas outro ponto sobre história que acho não menos importante estar bem presente no currículo em algum ano no ensino fundamental e que merece ser mencionada é a história regional, aquela que diz respeito mais a região onde você vive incluindo a sua cidade, pois faz parte de uma boa cidadania conhecer bem a história de onde você vive.

Pegando apenas uma cidade do tamanho de São Paulo com mais de 460 anos de idade que sozinha já rende muito assunto pra estar estudado, é notório o quanto boa parte dos habitantes nascidos lá desconhecem ou ainda são mal informados sobre vários fatos, como o nome e a localização exata dos rios e córregos que foram canalizados ou extintos, como se formaram os bairros, como a sociedade civil se organizava e desenvolveu nos séculos passados, a chegada da atividade industrial, dos imigrantes e o impacto dos mesmos na economia entre tantas coisas.
 
Então, pelo que eu entendi, esse plano é para 60% da grade curricular do EM. Os outros 40% seriam de responsabilidade da escola, e aí, creio eu, entraria a história regional, certo?
 
@ExtraTerrestre , mas se você for pensar bem, a própria História surge com base nas tradições orais, passando pelas crônicas do Crescente Fértil, até haver o surgimento da escrita e o desenvolvimento do procedimento historiográfico dos gregos. Você diz que para estudos sobre povos que não tinham escrita, estaríamos fazendo uso de antropologia, mas isso já não ocorre dentro da própria disciplina de História quando se tenta verificar a exatidão dos eventos ou aspectos destes? Reconheço que uma dificuldade enorme se apresenta com base nisso, embora não consiga ver porque ignorar o que sabemos e interpretamos com as descobertas arqueológicas e os estudos antropológicos em sala de aula.

Sim, por isso mesmo não falei em ignorar dados. O problema não é o uso de antropologia, até porque convenhamos, as fronteiras entre as diferentes ciências sociais são muuuuuuito difusas, de tal forma que está sempre se discutindo todas elas ao mesmo tempo.

Só acho um exagero enorme 2 (de 3) anos do Ensino Médio exclusivamente para isso. Com o advento do rigor historiográfico, a humanidade passou não só a analisar os fatos do passado, mas a se preocupar em gravar os fatos do presente de forma "legível" para os historiadores do futuro, e nisso - na crônica histórica - há algo de especial.
 
Não li o tópico ainda por falta de tempo, mas o ex ministro Renato Janine Ribeiro postou hoje no face que nunca assinou essa reformulação e que inclusive foi contra ela e à criticou publicamente.

Quanto a não assinar, eu não sabia, só fui ver depois que ele publicou o post. Mas que ele havia criticado a proposta, sim, isso é verdade.
 
Se trata da cosmogonia de povos indígenas de língua jê, ué. Peguei da primeira vez que você viu isso, é só um assunto que soa especialmente ridículo de ser exigido que seja estudado.
 
Conheço a palavra cosmogonia muito mais em Astronomia, referente ao estudo da origem do universo, mas já vi referente a origem de outras coisas como uma lenda ou idioma.
 
É, fui fazer uma pesquisa aqui e acabei descobrindo a mitopoética desses povos também. Bora ler Levi-Strauss. :D
 

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