Por mais que existam rascunhos, como o The New Shadow, são apenas rascunhos. Tolkien nunca os desenvolveu totalmente, e acredito que o motivo era não descaracterizar seu estilo "romance histórico" (ou seja lá como se chama essa ficção fantasiada de realidade que ele faz).
E eu não conhecia o livro do Lewis que está pra ser lançado. Procurarei.
Aí é que está Snaga, Tolkien, nos últimos vinte anos de vida, parecia estar é de saco cheio do formato de crônica histórica estilo fake document ou romance epistolar, tanto é que enchia todo texto dele de notas de rodapé que não podiam ser escritas por nenhum cronista mas só por ele mesmo, autor onisciente. Boa parte do material dos 4 últimos HoMEs já era assim. O problema que ele e/ou Lewis podiam ter pra contar mesmo a História do Apocalipse não era mesmo realmente estilística a rigor , mas temática. Como fazer isso sem "bater de frente" com a Ortodoxia cristã?
Naquele tempo ninguém tinha ainda se aventurado a fazê-lo mas, partindo do pressuposto que, também, todo o conteúdo do Apocalipse bíblico é na verdade "simbólico", codificado como imagens repletas de metafísica, personificação e transfiguração, os próprios autores cristãos de décadas subsequentes aos dois não vêem mais problema em escrever o que, na prática, é Science-fantasy apocalíptica tendo lugar no futuro
sem que isso passe a ser visto como sacrilégio ou mistificação da "verdade" bíblica.
Haja vista que a série de Left Behind, Deixados pra Trás, é escrita por autores que fazem parte da linha mais dura do Pentecostalismo norte-americano e nem por isso eles tiveram qualquer reserva em escrever uma ficção-científica fantástica em cima da Revelação.
Left Behind
Left Behind em português
“Deixados para Trás”: Má Ficção, Péssima Teologia!
ótima leitura pra entender a noção de Escatologia ( pra vcs terem idéia não é todo mundo no Cristianismo que entende as profecias do Apocalipse como sendo, integralmente, parte de uma visão futura do Mundo.
Até o século XIX , inclusive, o ponto de vista dominante entre os Cristãos, coisa válida ainda pros teólogos católicos, é de que os eventos do Apocalipse já aconteceram desde antes do fim do primeiro milênio ou ainda estão acontecendo nesse exato momento e não, necesssariamente, no nosso futuro próximo ou distante).
Diferenças escatológicas cristãs
Eu inclusive, nesse gênero tenho até um
livro favorito:O Último Dia de Glenn Kleier, provavelmente junto com o livro do Spohr, a
Batalha do Apocalipse. O primeiro é inspirado em dois livros que são influência de Tolkien: Ela e a Volta de Ela de Rider Haggard. O
segundo também tem como principal fonte um livro que Tolkien tb conhecia bem: o Paraíso Perdido de John Milton.
O problema de Tolkien é que ele tinha a sua energia consumida na tarefa de reorganizar o Silmarillion, condição sine qua nom pra escrever qualquer Apocalipse em Arda e ele não tinha mais a disposição pra tal. Se Tolkien não tivesse publicado o SdA já com sessenta e um anos pode ser que ele ainda tivesse bons anos ainda fecundos pra dominar um estilo novo mas, da maneira que foi, a tarefa ficou mesmo pros seus herdeiros ficcionais.
Sobre a trilogia do Lewis: a coisa fica mesmo Apocalíptica a partir do fim do segundo volume. O Perelandra é o melhor dos 3 na minha opinião, também era o de que Tolkien mais gostava. Detalhe: o protagonista, filólogo da saga, é considerado como sendo uma versão ficcionalizada do próprio Tolkien que reconhece em Ransom "algumas de suas idéias lewsificadas".
Onde você leu isso Ilmarinen? Nunca ouvi falar dessa informação.
Constatação óbvia de quem lê as obras dos dois autores com atenção Anwel, incluindo o material de HoMEs 9 a 12. Quase ninguém que leu chega a comentar porque ,inclusive, muita gente acha o conteúdo cristão do Legendarium difícil de digerir e , por isso, não gosta de analisar a intertextualidade com a obra de Lewis onde o simbolismo cristão é explícito.
Tolkien introduziu expressões como Far Heaven pra se referir ao espaço sideral na década de 50, aludindo ao termo Deep Heaven usado por Lewis,
inseriu o conceito de valar extraterrenos e outros mundos possivelmente habitados no seu Cosmo lembrando o panteão de Eldila ( plural, singular Eldil)que rege os outros mundos do nosso sistema solar e , basicamente, inverteu a premissa de C.S. Lewis de que o Senhor das Trevas estaria confinado no nosso planeta Terra e exilado do espaço, justamente, exilando Melkor pro Espaço interestelar,
comparando Melkor e o Arconte Negro ( Dark Archon) de Lewis nas entrelinhas do texto publicado em Mitos Transformados.
Melkor was not just a local Evil on Earth, nor a Guardian Angel of Earth who had gone wrong: he was the Spirit of Evil, arising even before the making of Eä. His attempt to dominate the structure of Eä, and of Arda in particular, and alter the designs of Eru (which governed all the operations of the faithful Valar), had introduced evil, or a tendency to aberration from the design, into all the physical matter of Arda.
In Morgoth's Ring (HoME 10), Tolkien several times insists that Melkor is not merely an evil being who has inflicted our own world (as he was in C.S. Lewis's interplanetary trilogy), but is the single primval evil being who attempts to take over and control and destroy the material universe, Eä, by dispersing himself into matter
Excelente análise feita por Jallan sobre o status satânico de Melkor no Legendarium
Análise da origem do nome Melkor e suas ramificações hebraicas
Tolkien também usou a expressão "hnau" cunhada por Lewis pra se referir a ser senciente( membros dos povos falantes) ao falar de Fangorn nos rascunhos de SdA.
O esboço de profecia apocalíptica do fim de Perelandra meio que prefigura as noções de
indivíduos ressuscitados (e/ou transfigurados, transformados em valar ou em oyerésu) pra Última Batalha como descrita em HoME XII. E a visualização que Tolkien deu dos Homens que morrem na Graça, "se tornando valar para enriquecer o Céu" é aplicação da teologia de Sto Tomás de Aquino primeiro usada por Lewis em Perelandra.É só comparar Beren e Túrin com Ramson e Tor ( vide minha análise sobre a noção de que Túrin é um análogo etimológico e teológico do papel de Thor no Ragnarök o qual, por sua vez, já foi comparado no século XIX com o Cristo na Parusia no retorno pro Apocalipse).
The problem was shared by many Christian antiquarians in
the nineteenth century, from Grundtvig's countryman and antagonist Peter Erasmus Muller - eventually Bishop of Sjaelland, who nevertheless published a book 'On the Genuineness of the Asa-Teaching' first in German and then in Danish in 1811/1812. using the terms Echtheit and Asalehre,JEgthed and Asalceren respectively - to George Stephens, the passionately,anti-German English professor in Copenhagen, who in 1878 published a very strange book indeed,
Thunor the Thunderer carved on a Scandinavian font of about the year 1000: the first yet found god figure of our Scando-Gothic forefathers, in which
he tried to argue, in curiously roundabout fashion, that Thor. Thunor and Christ were all in some way to be identified.
Stephens actually defies paraphrase, but Tolkienists will understand it if I say simply that like Miiller he is putting forward a 'splintered light" thesis.
Em suma: a reelaboração da mitologia do Silmarillion pra fazer dela mais cientificamente plausível feita a partir dos anos cinquenta é em grande parte, um empreendimento tremendamente influenciado pela Trilogia do Espaço Exterior que é, por sua vez, influenciada pela mitologia do Silmarillion Pré Anos 40.
É como se , na tentativa de compensar a amizade que havia esfriado entre os dois e a dissolução do grupo dos Inklings, Tolkien tivesse tentado aproximar as obras ficcionais homenageando os amigos na sua Subcriação. Se vc quiser ler sobre outras influências dos Inklings, no caso de Charles Williams sobre a mitologia tardia do Silmarillion pode ler esse texto aí
A Alquimia do Fogo Secreto e o "fogo" dos Silmarils