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Asas dos Balrogs

  • Criador do tópico Criador do tópico Neithan
  • Data de Criação Data de Criação

Balrogs Tinham asas

  • SIM

    Votos: 79 47,3%
  • NÃO

    Votos: 73 43,7%
  • ALGUNS

    Votos: 15 9,0%

  • Total de votantes
    167

(...)

A descrição "moderna" (leia-se de HoME 10 pra frente, até o 12, pós redação do SdA, concluída em 1949) que Tolkien fez do episódio do resgate de Morgoth em Lammoth, combinando-se com o fato de Tolkien ter acrescentado a distância de 450 kms entre Angband e Lammoth, incluindo aí todo d diâmetro de Hithlum, vide mapa ( antes o ataque de Ungoliant a Morgoth foi, literalmente às portas de Angband), junto com a noção, muito tardia, de que os Balrogss de Morgoth, ao invés de formarem uma "hoste", sugerindo uma centena a mil deles, eram "no máximo sete", dá a entender que o último posicionamento de Tolkien era revisar os textos com o cânon anti-asista para torná-los todos compatíveis com o Durin's Bane e sua caracterização "Senhor dos Anéizica"....

Ou seja: parece, sim, que a preferência final de Tolkien era tornar os balrogs alados mesmo, capazes de voar e "teleportar"-desfanizar e refanizar, ( como Melkor tinha andando "unclad", desnudo, sem fana, em Valinor antes da destruição das árvores), até, pelo menos o final, do Cerco de Angband. E e eles seriam IMENSAMENTE mais poderosos que suas contrapartes dos textos pré 37-38; ( vide os Valar dando vários " um para subir, senhor Scotty" )aí:



Beam me up, Scotty,

(...)
 
Última edição:
Uma coisa que não é possível perceber no relato de Gandalf é a duração de sua luta com o balrog. Ele cai da ponte de Khazad-dûm em 15 de janeiro, e só no dia 23 chega ao pico de Zirak-zigil e no dia 25 mata o balrog... Menciona luta na parte de baixo e menciona luta no topo, inclusive com raios e explosões. Quer dizer, houve bastante tempo para Gandalf ferir o balrog, incluindo, talvez, ferir alguma de suas asas, até que pudesse ferí-lo mortalmente e viesse a derrubá-lo.

Além disso, Gandalf diz que “long time I fell", isso é, "caí por muito tempo". Gandalf menciona que lutou em local onde apenas seres "mais velhos do que Sauron" estiveram. Não parece nem de perto se tratar de uma altura próxima da qual humanos conseguem sobreviver quando mergulham. Quer dizer, nem Gandalf e nem o balrog parecem sujeitos a morrer por simples queda. O que não é tão surpreendente, pois mesmo hröar podem apresentar resistência e capacidades 'sobrenaturais'. Se ao ser derrotado o balrog caiu do pico, ele não teria morrido por causa da queda, quer tenha asas ou não.

As lutas de Glorfindel e Ecthelion, por sua vez, foram escritas em um contexto literário no qual os balrogs ainda não tinham asas. Mas vendo como foram as lutas, os dois balrogs são feridos no tronco antes de morrer, quer dizer, a luta poderia ser facilmente adaptada para um contexto em que os balrogs tivessem asas e que caíssem por levarem golpes fatais. Gothmog, morto por Ecthelion, inclusive cai numa fonte, decerto não morreu por carecer de vôo... Aliás, Ecthelion banca a lança humana e se joga, com seu elmo pontudo, no corpo do balrog (wtf?).

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Quem não vê que tão faltando as asas? O bicho tá até corcunda, como se de fato tivesse algum peso nas costas... E o Ted Nasmith até enche as costas de fogo só pra compensar a ausência de asas.... E outra, nessas ilustrações, como haveria asas apenas de sombra (no capítulo A Ponte de Khazad-dûm), se justamente nas costas é onde tem mais luz no bicho? Enfim, dá pra perceber que o ilustrador teve que se esforçar para pensar no balrog sem asas... :hxhx:

Sou mais John Howe nesse quesito.

Nuff said. Quem prestou atenção na conversa nas páginas anteriores entende de boas. Agora quem não leu...
@Rodrigo Correia, aqui foi feita referência a vossa senhoria. Só pra avisar mesmo... ¯\_(ツ)_/¯
 
Última edição:
Aqui o Ted Nasmith foi mais feliz e consonante com o que temos nos livros:


Comparando com os outros desenhos dele, a sua interpretação como artista é de que o balrog "pegaria fogo" enquanto estivesse lutando, daí o fogo substituiria as asas de sombra. Questionável, pra dizer o mínimo - como discuti na página anterior, a própria Sociedade parece aceitar a hipótese de que o balrog tenha asas e possa voar.
 
Última edição:
Os Balrogs não são uma raça biológica, mas sim uma classe específica dos espíritos que se bandearam para o lado de Melkor. Assim sendo, não espero que eles tenham uma forma específica e padronizada. O que era comum a todos, e talvez o que os distinguia de outros espíritos, era sua conexão com o elemento fogo e com a manipulação de sombras. Nada faz-me crer que todos assumiram forma similar, e muito menos, que mantiveram essa forma inalterada.
Sauron, por exemplo, assumiu diversas formas. No auge do seu poder, trocava de forma como quem troca de roupa. Até mais fácil que isso, como ocorre na luta luta contra Huan (na qual Sauron inclusive assume uma forma alada em dado momento).

Arien era da mesma classe espiritual que os Balrogs. Duvido que ela usava uma forma similar a deles. E quando foi incumbida de carregar a flor de Laurelin, nem forma física devia ter, provavelmente voava pelos céus descarnada.

Isso posto, acredito que cada Balrog, individualmente, poderiam ter asas se e quando o quisessem. E poderiam voar com ou sem asas, não estando presos ao seu corpo físico.

A dúvida então é se eles o fizeram, e se sim, qual a natureza dessas asas? Ilusão? Física? De carne e osso? De sombras?

Particularmente eu gosto de imaginá-los como asas de sombra ao invés de asas de carne e osso. A manipulação de sombras combinaria com a facilidade de moldar sua forma a seu bel prazer e casa bem com a descrição dada em Moria. Um fána que seja fluido ao invés da troca de fána (o que não exclui a segunda alternativa, mas faz seu uso menos frequente). E como Ainur poderosos que eram, a sombra não precisaria ser necessariamente apenas a ausência de luz, mas algo mais denso, com algum tipo de manifestação corpórea que drena a luz e assume formas ao seu redor com capacidade de transferir momento.
 
A luta entre Huan e Sauron se deu da seguinte forma:

Contudo, nem feitiço nem encanto, nem garra nem veneno, nem arte demoníaca nem força​
animal, nada conseguiu derrubar: Huan de Valinor. E ele pegou o adversário pela garganta e o​
dominou. Sauron, então, mudou de forma, de lobo para serpente, e de monstro para sua forma
costumeira, mas não conseguiu se livrar de Huan sem abandonar totalmente seu corpo. Antes
que seu espírito imundo deixasse sua casa sinistra, Lúthien veio até ele e disse que ele perderia
sua vestimenta de carne, e seu espectro seria mandado trêmulo de volta a Morgoth.
- Lá para todo o sempre - disse-lhe Lúthien - teu eu nu suportará o tormento do escárnio de​
Morgoth e será perfurado pelos seus olhos, a menos que me cedas o comando de tua torre;
Sauron então se rendeu, e Lúthien assumiu o comando da ilha e de tudo o que ali se encontrava.​
E Huan o libertou. De imediato, Sauron assumiu a forma de um vampiro, imenso como uma​
nuvem escura que encobre a lua, fugiu, gotejando sangue da garganta sobre as árvores, e foi​
para a Taur-nu-Fuin, onde permaneceu, enchendo a região de horror.​

O que eu depreendo do texto é que Sauron já na Primeira Era tinha um corpo que ele temia perder, uma "vestimenta de carne", a despeito de poder mudar de forma. E isso não é estranho se lembrarmos que, no próprio conto, Beren e Lúthien se transformam em lobisomem e vampiro,[1] basicamente por "magia", e bem mais tarde também Elwing assume, nos Portos de Sirion, a "forma" de uma ave. Quer dizer, mesmo um hröa pode assumir uma "forma" diferente de sua "forma costumeira". Talvez isso soe estranho aos modernos que, acostumados a um certo materialismo, crêem numa correlação estreita entre a estrutura microscópica do corpo, sua aparência macroscópica, e sua essência - disso resulta uma divisão corpo/alma mais similar ao espiritismo do que ao pensamento cristão tradicional. Se pensarmos sob uma mentalidade mais aristotélica ou tomista, aquela correlação é menos estreita, e, por exemplo, o corpo de Jesus pode ser (≠parecer) até o pão da Eucarista, sem perder a sua essência e dignidade enquanto corpo, ainda que o pão seja, sob aspectos materiais e empíricos, idênticos a um pão comum.

Essa hipótese vai de encontro à nota 5 do Ósanwë-kenta,[2] que racionaliza um processo pelo qual os maiar e Melkor podem deixar a forma sublime dos anjos e assumir uma forma mais córporea e material semelhante aos corpos dos filhos de Deus. Essa "queda" pode se dar gradualmente, diferentemente do caso dos istari, que assumiram formas humanas de forma repentina, para cumprir sua missão na Terra-Média. O texto de O Silmarillion, somado à nota, me faz crer que Sauron já na Primeira Era não vestia um mero fána, uma mera aparência angélica ao modo dos Valar, pois, se esse fosse o caso, ele não temeria a perda do corpo, mas, tal qual um anjo (ou Gandalf ressuscitado [3]) não poderia ser ferido ou ameaçado. Sauron, apesar de poder mudar de forma, parece já preso (afeito?) a um corpo. Após a queda de Númenor, ele perde a habilidade de assumir uma forma bela, o que seria um degrau mais baixo rumo a um corpo cada vez mais preso às limitações da matéria ordinária, mas essa nova limitação de seu caráter corpóreo seria uma mudança em grau e não em essência.

O caso dos balrogs seria, a meu ver, essencialmente idêntico. Não creio que eles fossem mais livres das limitações do corpo, e, tal qual aos Valar (e diferentemente de Melkor e Sauron), pudessem se locomover desencarnados, ou sequer mudar sua forma relativamente à vontade, tal qual Sauron na Primeira Era (como se eles pudessem, sei lá, se transformar num "morcego de fogo" e fugir). O seu processo de "hröarização" já estaria mais avançado, e eles assumem uma forma mais limitante, material, do tipo da que vemos em A Sociedade do Anel. A descrição não é clara: o corpo emana ou é constituído de uma parte menos sólida, o misto de fogo e sombra, mas há também atributos humanos: o balrog é descrito como tendo uma forma "talvez humanóide, mas maior", tendo duas mãos que seguravam chicote e espada, e inclusive tendo "nostrils" (narinas/ventas) das quais saem fogo. Talvez esses atributos humanos fossem de um corpo de "carne" mais biológica do qual emanassem fogo e sombra; ou talvez o corpo como um todo fosse constituído de fogo e sombra - seja como for, é um corpo material, que torna concebível que o balrog pudesse ser morto por inimigos. Também disso se explica que o balrog tenha ficado preso no subterrâneo, e só após os anões cavarem fundo demais, tenha emergido. Quer dizer, ainda que seja de fogo e sombra, se trataria de matéria, e não mera aparência angélica.

Daí faz sentido perguntar se as asas em si eram mera emanação/magia/ilusão temporária, ou parte essencial de seu corpo em sua "forma costumeira" (tal qual as mãos). Esse é, em outras palavras, o dilema eterno: balrogs têm ou não asas? Há a terceira hipótese: de que balrogs não tenham asas, porque também não tinham mãos, seriam só fogo e sombra amorfos, o resto é acidental ou temporário - mas em geral não é isso que é pensado quando se diz que balrogs não têm asas, e por isso frisam textos antigos em que os balrogs só caminhavam, ou o "like" de "like two vast wings", etc. Eu, como creio que o balrog era encarnado, também dispenso essa hipótese, pois penso que a encarnação já pressupõe uma "forma costumeira", que seria uma imagem que de alguma forma retrataria materialmente o espírito, forma essa que é suficientemente frágil a ponto de poder ser morta. Não é o caso dos Valar, que por não serem mundanos, mantinham a forma sublime dos anjos, extremamente maleável pelo espírito. Decerto o mesmo vale para Arien.
 
Última edição:
Essa diferenciação entre hröa, fána e propriedades dos descarnados não é lá muito clara. Tem várias inconsistências de um escrito pra outro, dependendo da época, principalmente.

Nota-se que no Ósanwë-kenta não aparece a palavra fána nenhuma vez. Mas mostra claramente que há um degradê entre o que seria uma simples veste dos espíritos ao que seria um espírito totalmente encarnado. Nesse texto, portanto, não existe uma separação clara sobre o que é fána e o que é hröa, mas uma transformação gradativa, de acordo com o uso que é feito, de um estado a outro.
O texto explicita Melian como um caso único de um Ainu plenamente "hröarizado". Mas um pouco a frente dá entender que Morgoth e Sauron acabaram caindo na mesma situação. Ou pelo menos algo muito próximo disso. Como não se trata de estado binários (ou é fána, ou é hröa), pode ser que tanto Melkor quando Sauron chegaram muito próximos do que seria um hröa puro, mas não completamente como o fez Melian.
Em escritos mais tardios, quando fána e hröa aparecem como estados binários, temos os Istari. Galdalf é o exemplo que sai de um hröa e retorna em um fána. Mas não me lembro de ter visto nada dizendo que não havia nenhuma possibilidade desse fána ser hröarizado, dependendo do uso que Galdalf fizesse como ele. Então acho que a hipótese não binária ainda é válida.

Isto posto, o grau de "hröarização" do Balrog de Moria na Terceira Era provavelmente era bem diferente do mesmo quando do ataque dos Balrogs, feito uma tempestade, contra Ungoliant, em socorro à Melkor. É muito provável que na Primeira Era (no início desta ao menos) os Balrogs estivem muito menos presos às suas vestes, com uma maior liberdade de trocar de forma e descarnar. Na Terceira Era eu já acho bem difícil, talvez até o final da Primeira a coisa já estivesse bastante encarnada.

Sauron, na luta contra Huan me parece ter bastante liberdade em alterar as suas vestes. Isso me faz crer que nessa época ele ainda estava longe do processo de "hröarização" que viria a cair tempos depois (mais especificamente após a queda de Númenor), embora já ocorresse em algum grau menor.
Não espero que os Balrogs tenham a mesma habilidade que Suron tinham quanto a isso, ele parece ter sido mesmo um caso único de poder além da medida. Além do mais, Sauron era conhecido como feiticeiro e ilusionista. Até que ponto ele realmente mudava de forma com tanta facilidade, e até que ponto ele apenas iludia seus oponentes? É uma pergunta em aberto.
Luthien e Beren usam de ilusão quando se passam por Lobisomem e Morcego. Nesse caso acho que é claro o fator ilusão, porque eles precisam dos dois cadáveres para conseguir se disfarçar. Então não foi o seu próprio corpo que alteraram, mas a imagem que eles aparentavam.
Elwing é algo totalmente fora da curva, que mais parece lenda do que qualquer outra coisa.

Ainda no embate de Sauron e Huan, acho que é diferente quando um Ainu descarna "na paz" ou quando descarna por causa de um trauma físico muito grande, o que seria o similar à morte de um fána. No segundo caso é uma separação corpo e alma bastante traumática. Por isso não há relatos de um Balrog morto retornando à vida. Mais uma vez Sauron se mostra único em poder entre os Maiar.

O meu ponto, é que, pelo menos no início da Primeira Era, os Balrogs ainda estavam menos presos aos seus corpos, e poderiam alterar sua forma (não tão facilmente como o fazia Sauron). Habilidade que provavelmente já tinham perdido no fim da Primeira Era. Por isso creio que seria possível sim eles aparecerem com asas em algum momento, e sem asas depois.
A forma do Balrog de Moria, portanto, seria um bom indicativo de qual seria sua forma mais costumeira, uma vez que provavelmente ele já estava bastante preso nela desde o fim da Primeira Era.
Mas aqui entra meu outro ponto, a forma que o Balrog de Moria se apresenta na Terceira Era provavelmente condiz com SUA forma constumeira utilizada na Primeira Era (ou pelo menos mais pro fim dela). Mas não quer dizer em absoluto que era a forma costumeira de TODOS os outros Balrogs. Cada um podia ter assumido a forma costumeira que melhor lhes conviesse, mantendo apenas as características intrínsecas de tais espíritos que estão associadas ao fogo e às sombras. Lembrando novamente que o que definia os Balrogs como Balrogs era a sua classe de espíritos, e não seus corpos.

Continuo crendo que provavelmente cada Balrog tinha sua própria forma costumeira, alguns podendo ser alados, outros não. Mas que, nos primórdios da Primeira Era, eles ainda mudavam de forma eventualmente.

Por isso acho difícil chegar a um consenso quando se compara o Balrog de Moria com os Balrogs da Primeira Era, e mesmo entre diferentes períodos da Primeira Era. Não tem como ter consenso mesmo. Não só a opinião do autor mudou com o tempo, quanto a natureza desses seres é, por si só, variável.

Quanto ao Balrog em Moria especificamente, ele tinha asas. A questão é se as asas faziam parte do corpo que foi "hröarizado", portanto seriam de carne e osso, ou se seriam de alguma outra matéria mais difusa, como uma ilusão criada a partir do controle das sombras e das chamas que parecia ser inerente a tais espíritos. Minha opinião continua sendo a segunda.
 
Ah não...

Sobre essa diferenciação acima entre hröa e fána, ela parece remeter à diferenciação hebraica mais antiga entre nephesh e neshamá, que será repetido depois pelos teólogos relacionando carne e espírito. O que chamamos de alma seria o elemento de ligação, o sopro (ruach), que vivifica o corpo e expressa a energia ou potência espiritual. Ou seja, é o sopro divino atuando em cada ser humano que permite que o espírito se manifeste, já que se manifestação procede exatamente da carna, da instância da corporalidade.

Em termos psicológicos, uma pessoa com problemas neurológicos ou traumas físicos intensos, por ferir seu veículo de manifestação, mesmo que o espírito se mantenha perfeito, não conseguirá manifestar essa perfeição. A expressão será sempre defeituosa, imperfeita, deficiente, ou, mais do que a expressão, o próprio entendimento, já que o entendimento e a compreensão são formas diferentes, em níveis diferentes, de se manifestar algo, no caso, se manifestar o espírito (ideia) na carne do sentido (ideia objetificada, conceito), através de uma alma, no caso, a palavra, que é menos ideal e perfeita que a ideia e mais sutil e etérea que a coisa do qual se diz algo, seja ela concreta ou abstrata. A palavra é esse meio de ligação. Daí a ligação consubstancial que os antigos faziam entre ideia, forma e expressão.

É por essa linha de raciocínio idealista que os hindus do Advaida Vedanta chegarão à ideia de atman como o espírito absolutamente livre, perfeito que se identifica com o Brahman, o Absoluto, de modo que suas percepções, paixões, não passam de efeitos da ignorância que maya exerce sobre o intelecto (budha). Na verdade, tanto o intelecto agente sobre os fenômenos sensoriais quanto a pura intelecção estão no modo da paixão porque o elemento de ligação e expressão perfeita do atman através do corpo manifestado é justamente a energia divina que mantém a ilusão, o jogo divino (lilá), ou seja, maya. Em outras palavras, em sentido último, maya é a ilusão da independência e autosubsistência dos fenômenos isolados em si, mas em sentido particular, é essa ilusão de continuidade separada, digamos, que liga o atman ao corpo, permitindo que o primeiro se expresse pelo segundo, sob que forma? De mantras. Que são justamente unidades básicas e fundamentais de som com um sentido, função terapêutica, mágico-ritual e meditativa justamente porque são particularizações ativas da própria maya. É o mesmo raciocínio cabalístico para as letras hebraicas, a partir das quais Ha'Kadosh Baruch Hu formou o mundo de Si, e estão na base do funcionamento da existência, são suas 'chaves'.

O que isso traz de relevante aqui? Parece que Tolkien seguiu o tomismo e a tradição teológica ocidental em ignorar o papel desse elemento de mediação, e funcionalizá-lo através da ideia de apreensão e de intelecto agente. A percepção é ativamente trabalhada pelo intelecto que forma da coisa uma ideia geral, um conceito formal que é universalmente reconhecido e apreendido, mas esse salto não é explicado justamente porque a ideia aristotélica de alma foi confundida com a ideia cristã de alma, que tem absolutamente outra função e estrutura. Em outras palavras, o salto é funcional, parte-se da universalidade do conceito formado para se explicar a universalidade do intelecto e vice-versa, um looping idealista que cosmologicamente não se relaciona nem com a Criação nem com a função espiritual da palavra ou de qualquer outro elemento mediador, permitindo a reificação da linguagem em um sistema de códigos. Essa parece ser a dificuldade aqui, sabemos que há fána, que há hröa, mas não sabemos como se articulam, como se relacionam, e em que medida se interpenetram e sob quais leis operam no mundo.

Dá pra dizer, em termos gerais, até pelo que se pega no Silma, que conforme a escuridão se adensa, o processo de corporificação se intensifica, os anjos se tornam mais corpóreos e ligados à Terra. Por outro lado, o Bem se nubla, se esconde, fica cada vez mais oculto (ocultamento de Valinor), perdido (queda de Númenor), as antigas belezas e recordações de tempos harmoniosos e pacíficos retrocedem ao nível de lendas, histórias distantes, mitos, e os próprios Valar não passam de recordações do passado, da época em que 'gigantes andavam na Terra'. Isso faz parte da narrativa religiosa tradicional, e que Tolkien soube transportar bem, mas o signo específico dessa relação é que com o adensamento e aprofundamento do Mal, da Queda ontológica, ontologicamente o mundo se frustra, se sujeita, se torna mais escuro, sombrio, denso, grosseiro, isto é, se hröariza, enquanto o fánismo, que representa justamente a liberdade espiritual (seja para se transformar corporalmente, seja para se locomover, falar, ter liberdade artística, de opinião, política etc.) se torna mais e mais exilado. É um processo irreversível, pelo menos até a Encarnação de Eru em Cristo, tanto que mesmo a derrota dos grandes príncipes do Mal (Morgoth e Sauron, e seus exércitos) não impede a fuga em massa dos elfos, a constante decadência do mundo e o desaparecimento da magia e das raças e formas de vida mais mágicas (hobbits se escondem em suas tocas, anões se enclausuram em suas cavernas, fuga dos elfos pelos Portos, desaparecimento de raças élficas nas matas), porque a falta de diversidade é justamente um desses sintomas de progressiva sujeição à corporalidade, a perda da liberdade espiritual.

Paralelos com a Cabalá, que duvido terem escapado a Tolkien, estão em como esse processo retrata a Quebra dos Vasos

Shevira - Quebra dos vasos sefirot​

A primeira configuração divina dentro do vácuo compreende Adamo Kadmon , o primeiro reino espiritual intocado descrito na Cabalá anterior. É a manifestação da vontade divina específica para a criação subseqüente, dentro da estrutura relativa da criação. Seu nome antropomórfico indica metaforicamente o paradoxo da criação (Adam - homem) e manifestação ( Kadmon - divindade primordial). O homem pretende ser a futura incorporação na criação subsequente, ainda não surgida, das manifestações divinas. O Kav forma as sefirot , ainda apenas latente, de Adam Kadmon em dois estágios: primeiro como Iggulim (Círculos), então englobado como Yosher.(Vertical), os dois esquemas de organizar as sefirot. Na explicação sistemática de Luria dos termos encontrados na Cabalá clássica:

  • Iggulim é o sephirot atuando como dez princípios "concêntricos" independentes;
  • Yosher é um Partzuf (configuração) no qual as sefirot agem em harmonia um com o outro no esquema de três colunas.
"Erante" é assim chamado por meio de uma analogia com a alma e o corpo do homem. No homem, os dez poderes sefiróticos da alma agem em harmonia, refletidos nos diferentes membros do corpo, cada um com uma função particular. Luria explicou que é a configuração de Yosher da sefirot a que se refere Gênesis 1:27: "Deus criou o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou, macho e fêmea os criou". No entanto, em Adam Kadmon, ambas as configurações das sefirot permanecem apenas em potencial. Adam Kadmon é pura luz divina, sem vasos, limitado pela sua futura vontade potencial de criar vasos, e pelo efeito limitador da Reshimo.

Da configuração figurativa não-corporal de Adam Kadmon emanam cinco luzes: metaforicamente dos "olhos", "orelhas", "nariz", "boca" e "testa". Estas interagem umas com as outras para criar três Mundos Espirituais particulares após Adam Kadmon: Akudim (Limite - caos estável), Nekudim (Pontos - caos instável) e Berudim (Conectado - início da retificação). Cada reino é um estágio sequencial no primeiro surgimento dos vasos sefiróticos, antes do mundo de Atziluth (Emanação), o primeiro dos abrangentes quatro mundos espirituais da criação descritos na Cabalá previamente. À medida que as sefirot emergiram nos vasos, elas atuaram como dez forças independentes "Iggulim", sem inter-relacionamento. Hesed (Gentileza) se opunha a Guevurá (Severidade), e assim com as emoções subsequentes. Nesse estado, o mundo de Tohu (Caos), precipitou uma catástrofe cósmica no reino Divino. Tohu é caracterizado pela grande Ohr (Luz) divina em vasos fracos, imaturos e não harmonizados. Quando a luz divina se derramou na primeira sefirá intelectual, seus vasos estavam próximos o suficiente de sua fonte para conter a abundância de vitalidade. No entanto, como o estouro continuou, a subsequente sefirá emocional quebrou (Shevirat HaKelim - Destruição dos Vasos) de Biná (Entendimento) até Yesod (a Fundação) sob a intensidade da luz. A última sefirá Malkut (Reino) permanece parcialmente intacta como a Shekiná exilada (imanência divina feminina) na criação. Este é o relato esotérico em Gênesis e Crônicas dos oito reis de Edom que reinaram antes que qualquer rei reinasse em Israel. Os fragmentos dos vasos quebrados caíram do reino de Tohu para a subsequente ordem criada de Tikun (Retificação), dividindo- se em inumeráveis fragmentos, cada um animado pelo exilado Nitzutzot (Faíscas) de sua luz original. As faíscas divinas mais sutis foram assimiladas nos reinos espirituais mais elevados, como força vital criativa. Os fragmentos animados mais grossos caíram em nosso reino material, com fragmentos menores alimentando os Klipot (Conchas/Cascas) em seus reinos de impureza.[16][17]

, em que a energia divina, quando das contrações e expansões do tsimtsum que caracterizam a emanação do Universo, irrompe violentamente sobre formas vazias pré-fixadas que, rompidas, inundam o Universo de cascas (qliphot) de energias negativas, antiluz, potenciais impessoais de esgotamento de forças vitais e criativas. Da mesma forma, as referência no Silma aos Ainur e a como vários foram seduzidos por Melkor, se faz referência ao mito de Lúcifer, que é exclusivamente cristão, também remetem ao livro de Enoque, aos nephilim, seres angélicos 'caídos' que, ao se envolverem com as 'filhas dos homens' (que a tradição rabínica associa às paixões, sentimentos negativos e às próprias qliphot), decaem de sua condição gloriosa e se tornam seres mais e mais encerrados na matéria, a ponto de seus filhos, produto da união com as filhas, não são nem anjos nem humanos, mas gigantes, criaturas híbridas, poderosas mas cruéis, que não faziam parte do plano divino original, fadados a cair diante dos primeiros grandes impérios e do próprio Israel (como Amalec que a própria Torá define como sendo da raça dos gigantes ainda na época de Moisés). Os paralelos com os balrogs, sua revolta, degradação ontológica e hröarização, corporificação grosseira, até mesmo sua demonização, de modelo de liberdade espiritual (lembrando que os espíritos menores, anjos, elohim, são manifestações do próprio Eterno) em suprema força de sombra e chama oscilando entre o espírito (ainda que enclausurado) de máximo poder e máxima corporalidade grosseira (que se deixa ser atacado, banido, encerrado nas profundezas da terra), isso é inclusive uma metáfora para a explicação ontológica da magia negra, feitiçaria.

Acredito que essas correlações cabalísticas lançam algumas luzes, por exemplo, sobre os istaris e o processo progressivo de Queda ontológica, com o adensamento do acinzentamento de Eä, pois é como verdadeiros anjos, emissários de Eru, que os magos são enviados à Terra-média, na sua época de maior necessidade. O caráter um tanto quanto precário e pouco 'crístico' de sua manifestação se deve não apenas ao nível ontológico do mundo na época e ao nível de compreensão dos seus destinatários de sua rela natureza e função, quanto da necessidade própria do Tikkun daquele momento, isto é, do tipo de retificação necessária para que as forças livres, em avançado estado de sujeição e desagregação (dominados pelo estado qliphótico), assumissem a plena liberdade fánica do espírito. Não se trata aqui de submeter o legendarium à interpretação judaica, mas de oferecer um espectro amplo o bastante para enquadrar esse processo de hröarização.

Sobre a relação entre uma coisa e outra, o Ragnaros fez isso de forma muito mais brilhante e competente do que eu poderia fazer aqui.
 
Última edição:
Muita coisa foi dita no tópico, vou fazer um resumão do que achei mais convincente.

Trechos relevantes (de O Senhor dos Anéis e pós-O Senhor dos Anéis):

His enemy halted again, facing him, and the shadow about it reached out like two vast wings. (The Lord of the Rings, The Bridge of Khazad-dûm)

...suddenly it drew itself up to a great height, and its wings were spread from wall to wall... (The Lord of the Rings, The Bridge of Khazad-dûm)
Thus they roused from sleep a thing of terror that, flying from Thangorodrim, had lain hidden at the foundations of the earth since the coming of the Host of the West: a Balrog of Morgoth. (The Lord of the Rings, Appendix A, Durin's Folk)
Swiftly they arose, and they passed with winged speed over Hithlum, and they came to Lammoth as a tempest of fire. (Morgoth's Ring, The Later Quenta Silmarillion: Of the Rape of the Silmarils)

Uma coisa a se observar na discussão é que, como o César falou...

Todas as citações dos textos escritos antes dos anos 40, que indicam a inexistência mesma de asas nos Balrogs - como no trecho que indica que eles marcharam até Morgoth, ou no que diz respeito a Ancalagon como a primeira criatura de Morgoth a ser lançada aos ares, ou a batalha em Gondolin - são inúteis. (...) Não adianta nada usar esses trechos que só comprovam que eles não tinham asas ANTES da finalização da redação do Senhor dos Anéis.

De fato, os balrogs nas primeiras fases do legendário eram mais numerosos e menos poderosos.[1] Assim sendo, Tolkien pode muito bem ter adotado, durante a escrita de O Senhor dos Anéis, novas concepções também sobre a aparência dos balrogs. É o que o Ilmarinen defende aqui (ele aponta que a mudança teria se dado, possivelmente, por influência do filme Fantasia da Disney). Destaco a discussão sobre a propositada dubialidade por parte de Tolkien ao descrever o balrog:

(...)
A coisa toda nasce de duas descrições incluídas na passagem por Moria, "a sombra que o envolvia se estendeu como duas imensas asas" e, em seguida, "suas asas se estenderam de parede a parede". (...) O dilema com as duas passagens em Moria não é o fato delas poderem ou não ser interpretadas em conjunto. Elas têm que ser interpretadas juntas porque o "suas asas se estenderam de parede a parede" precisa, pelo contexto, estar ligado às "asas" mencionadas antes, independente de qual for a sua natureza. (...) A questão é que, como o Conrad Dunkerson explicou, a interpretação que coloca a segunda passagem sendo metafórica depende da primeira ser interpretada como símile (o "como duas imensas asas") e essa é só uma de duas possibilidades distintas, já que pode indicar, também, evolução de distinção de incerteza pra claridade. (...) Similar ao poço em Moria no mesmo capítulo, que era "like a well", "como um poço", e depois foi confirmado pelo Gimli como sendo precisamente isso mesmo. Também como a sombra de Gwaihir salvando Gandalf no sonho na casa de Bombadil, onde ela era "como a sombra de grandes asas". Foi só depois do Conselho de Elrond, vários capítulos depois, que ficou realmente claro que era mesmo uma águia, um animal alado, que projetou a sombra.
Nós, em português também usamos a expressão "como" em contextos assim pra descrever algo que parece difícil de definir à primeira vista. A evolução de "como duas imensas asas" pra "suas asas se estenderam de parede à parede", nessa interpretação, revelaria uma percepção mais acurada do que antes era difícil de discernir na figura do Balrog. Quando ele se aproximou, a escuridão que o cercava teria deixado entrever as asas "reais" que antes se confundiam com o cloak of darkness do Balrog. Então é mesmo o caso de haver duas interpretações diferentes para a mesma passagem e não há como saber qual das duas é a correta.
Além disso, Conrad Dunkerson aventa a hipótese de que Tolkien tenha usado a linguagem de forma ambígua e optado por usar verbos ambivalentes como o "flying from Thangorodrim" ("fugindo" de Thangorodrim) e expressões dúbias como "winged speed" (velocidade "alada") porque, nos escritos mais tardios, ele queria que os Balrogs tivessem asas e, talvez, até voassem, mas se deparou com a necessidade de rever toda a cronologia pra introduzir a nova idéia preferindo ficar no meio do caminho enquanto não revisasse completamente a mitologia do Silmarillion.
(....)

Aqui o Snaga chamou a atenção para um trecho que tende a aparecer menos nos debates:

- Elbereth Gilthoniel! — suspirou Legolas ao erguer os olhos. No momento em que falava, uma forma escura, como uma nuvem mas que não era uma nuvem, pois movia-se muito mais rápido, surgiu do negrume do Sul, correndo em direção à Comitiva, vedando toda a luz conforme se aproximava. Logo se definiu como uma grande criatura alada, mais negra que os abismos da noite. (...)
(...)
- Louvados sejam o arco de Galadriel e a mão e o olho de Legolas - disse Gimli, enquanto mastigava um pedaço de lembas. - Aquele foi um belo tiro no escuro, meu amigo!
- Mas quem poderia dizer o que o tiro atingiu? - disse Legolas.
- Eu não - disse Gimli. - Mas fico feliz em pensar que a sombra não se aproximou mais. Não gostei dela nem um pouco. Pareceu-me semelhante demais à sombra em Moria - a sombra do balrog - finalizou ele, num sussurro.
- Não era um balrog - disse Frodo, ainda tremendo pelo frio que o assaltara. - Era algo mais gelado. Acho que era... - Parou neste ponto, e ficou em silêncio.

...no original...

'Elbereth Gilthoniel!' sighed Legolas as he looked up. Even as he did so, a dark shape, like a cloud and yet not a cloud, for it moved far more swiftly, came out of the blackness in the South, and sped towards the Company, blotting out all light as it approached. Soon it appeared as a great winged creature, blacker than the pits in the night. (...)
(...)
'Praised be the bow of Galadriel, and the hand and eye of Legolas! ' said Gimli, as he munched a wafer of lembas. 'That was a mighty shot in the dark, my friend!'
'But who can say what it hit?' said Legolas.
'I cannot,' said Gimli. `But I am glad that the shadow came no nearer. I liked it not at all. Too much it reminded me of the shadow in Moria - the shadow of the Balrog,' he ended in a whisper.
''It was not a Balrog,' said Frodo, still shivering with the chill that had come upon him. 'It was something colder. I think it was—' Then he paused and fell silent.
O Ilmarinen discutiu aqui a significância desse trecho:

(...)​
Tremendamente significante é o fato que nenhum dos dois mencionou o detalhe de que a Besta Alada estava voando como elemento discriminador. Voando com asas "pterodáctilicas" como esclareceu Tolkien ao falar das "fell beasts". Isso sugere que nem o anão e nem o hobbit achavam estranho que o Balrog, no fim, pudesse ser capaz de voar já que na Terra-Média - até onde sabemos, vôo é prerrogativa de seres dotados de asas.
Ou seja: as sombras das "asas" no Balrog se assemelhavam o suficiente a asas reais capazes de produzir vôo para que o próprio Frodo tivesse que se pautar em um sentido além da visão para distinguir as duas sombras.
Lido no seu contexto, o diálogo entre os personagens parece ser indicativo de que as asas do Balrog em Moria, com certeza, PARECIAM com asas reais o bastante para justificar a confusão. A descrição dada no texto do Livro Vermelho da Marca Ocidental, em passagens como essa, necessariamente reflete um consenso entre as percepções de todos os membros presentes da Fellowship, e não uma impressão visual subjetiva do Gimli sozinho, que é o que alguns tentam usar como argumento para refutar a confiabilidade do relato.

Em resumo, acho bastante defensável que a linguagem dúbia adotada por Tolkien espelha-se na visão turva que a Sociedade teve do balrog, e que a situação era tal que era bem possível sim que o balrog tivesse asas, tanto é que os membros da Sociedade discutiram se a besta alada do nazgûl era ou não um balrog. Que Tolkien repita essa linguagem dúbia tanto no apêndice quanto em texto tardio mostraria que se trata de uma escolha consciente por parte do autor em deixar a questão aberta.
Desde este post, tenho poucas dúvidas sobre o dilema. Eram asas, sim.
 
Sim, é bobo dar tanta ênfase à incapacidade de voo como argumento. O pavão até consegue voar, por exemplo, mas não conseguiria fazê-lo se estivesse caindo de um precipício.

Por outro lado, acho que o ônus da prova, por assim dizer, seria de quem defende a tese das asas. E não parece haver nada que indique as tais asas, se formos ao texto (nas passagens que ele cita, pelo menos). Num caso é símile, noutro é só força de expressão. Não acho que um traço tão marcante assim teria passado sem uma expressa descrição, se eles de fato tivessem asas. :think:


Edit: eu lembro de ter ficado com a impressão, depois de vários posts neste tópico, de que os balrogs pré-SdA tinham asas, mas que depois o Tolkien teria mudado isso. Só não tenho paciência pra catar os comentários que me deram essa impressão :dente:
 
Ah gente, vocês acham maneiro o Balrog ser a galinha da Terra-média? Tem asas, mas não voa? Se não voa, prefiro que não tenha asas mesmo. E o cara deu argumentos também em relação ao trechos que sustentariam que Balrogs tem asas, embora o segundo trecho ("they flew" = "they ran away fast") seja bastante questionável.

Sério, ter asa e não voar é muito escroto.
 
Ah gente, vocês acham maneiro o Balrog ser a galinha da Terra-média? Tem asas, mas não voa? Se não voa, prefiro que não tenha asas mesmo. E o cara deu argumentos também em relação ao trechos que sustentariam que Balrogs tem asas, embora o segundo trecho ("they flew" = "they ran away fast") seja bastante questionável.

Sério, ter asa e não voar é muito escroto.
Eu acho. Faz muito sentido até pela tese da hröarização, de crescente degradação e corrupção dos seres em direção a uma materialidade mais e mais grosseira. Você pode entender, por exemplo, que o vôo sem asas é mais etéreo ou espiritual, mais perto da fonte divina, do propósito original que a dependência mecânica e puramente física em aparatos físicos, ainda que orgânicos.

Acho que o Lovecraft tem uma tese parecida nas obras dele.

O pássaro é símbolo da alma em várias tradições, porque se associa muito naturalmente o vôo ao intelecto, à capacidade humana de se alçar a vôos imaginativos e conceituais, fazer da massa seca da matéria uma fonte de criações poéticas e formas lógico-racionais. Idear que esse puro espírito criador, se degradando com o progressivo afastamente da Coroa (Kether), se torna um vôo menos livre e mais condicionado (dependente de asas) poderia explicar a decadência do balrog de um espírito de pura força em uma entidade demoníaca e materialmente difusa.
Usando a analogia da galinha, pode-se idealizar uma fase primitiva em que tais asas não seriam inúteis, mas a escravidão para atender às necessidades dos homens, intelectualmente superiores, mantém um aspecto da natureza para o qual já não concorre a vontade (querer ser livre). Eu acho uma metáfora perfeita e que pode ser aplicada aos balrogs de forma analógica, sim, ao menos nesse processo de descida, manifestação, descensão cósmica.

Sério, ter asa e não voar é muito escroto.
Achei engraçado esse comentário porque ele é muito real, descreve bem as potencialidades e natureza da nossa própria condição humana, degradada, afastada da Fonte. Não foi Diógenes quem interpelou Platão ao dizer que o homem não passava de um bípede sem penas, contra o idealismo platônico que afirmava exatamente que essa é exatamente a condição humana: ter asas, o poder do intelecto, como os deuses e não poder voar até o Olimpo?
 
Última edição:

Outro excelente vídeo. Esse, inclusive, esbarra no também excelente ponto trazido pelo Caio, sobre asas e o divino, ou então sobre o voo em si como um grande poder nada trivial de ser reproduzido por Melkor e muito pelos espíritos de fogo.

Não voavam, mas pode ser que tivessem asas, sejam decrepitudes físicas ou de fogo e sombra. A causalidade "dado que não voa, não tem asa" pode ser boba, mas o fato em si de não voar parece bastante relevante não só pelo que representa metaforicamente, mas também pela coerência quando consideramos o uso dos dragões alados como um trunfo de Melkor na Guerra da Ira.
 
P
Eu acho. Faz muito sentido até pela tese da hröarização, de crescente degradação e corrupção dos seres em direção a uma materialidade mais e mais grosseira. Você pode entender, por exemplo, que o vôo sem asas é mais etéreo ou espiritual, mais perto da fonte divina, do propósito original que a dependência mecânica e puramente física em aparatos físicos, ainda que orgânicos.

Acho que o Lovecraft tem uma tese parecida nas obras dele.

O pássaro é símbolo da alma em várias tradições, porque se associa muito naturalmente o vôo ao intelecto, à capacidade humana de se alçar a vôos imaginativos e conceituais, fazer da massa seca da matéria uma fonte de criações poéticas e formas lógico-racionais. Idear que esse puro espírito criador, se degradando com o progressivo afastamente da Coroa (Kether), se torna um vôo menos livre e mais condicionado (dependente de asas) poderia explicar a decadência do balrog de um espírito de pura força em uma entidade demoníaca e materialmente difusa.
Usando a analogia da galinha, pode-se idealizar uma fase primitiva em que tais asas não seriam inúteis, mas a escravidão para atender às necessidades dos homens, intelectualmente superiores, mantém um aspecto da natureza para o qual já não concorre a vontade (querer ser livre). Eu acho uma metáfora perfeita e que pode ser aplicada aos balrogs de forma analógica, sim, ao menos nesse processo de descida, manifestação, descensão cósmica.


Achei engraçado esse comentário porque ele é muito real, descreve bem as potencialidades e natureza da nossa própria condição humana, degradada, afastada da Fonte. Não foi Diógenes quem interpelou Platão ao dizer que o homem não passava de um bípede sem penas, contra o idealismo platônico que afirmava exatamente que essa é exatamente a condição humana: ter asas, o poder do intelecto, como os deuses e não poder voar até o Olimpo?
Paganus, seus textos, suas explicações teológicas são fodas!

Tiro meu chapéu!

Muito boas de ler. 👏🏻👏🏻👏🏻
 

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