Um artista chinês afirma que os "Na'vi" do filme "Avatar" foram inspirados em seus "manimals", uma mistura entre animais e seres humanos que ele criou na década de 90 e que atualmente é exibida em Pequim.
"Acredito na teoria darwinista",
afirmou em entrevista à Agência Efe Daniel Lee (Chongqing, 1945).
"Se pensarmos que o ser humano tem mais de 50 milhões de anos de evolução, a civilização começou praticamente ontem",
completou o artista.
Isto significa
"que dentro de você e de mim ainda há uma grande quantidade de instintos animais. Isso é o que me fez começar a criar esta série",
declarou Lee, um artista formado no Taiwan e nos Estados Unidos, cujo nome em chinês é Li Xiaojing.
Lee não é um desconhecido: suas fotografias estão incluídas em coleções públicas e privadas no Brooklyn Museum of Art de Nova York, no Museu de Arte de Xangai, no Museu Nacional de Arte de Taiwan e no Museu da Moda de Paris.
Em sua retrospectiva, inaugurada em outubro na galeria Bridge, localizada no distrito artístico de Dashanzi em Pequim, seus personagens humanos com cara de macacos e olhos de lagarto observam os visitantes nas séries "Manimals", "Origins" e "Nightlife" que Lee criou nas últimas duas décadas.
A semelhança com os habitantes azuis do fictício planeta Pandora de "Avatar" (2009) é mais do que evidente, mas Lee mede cada uma de suas palavras ao falar do assunto com medo de qualquer conflito com a produtora e distribuidora 20th Century Fox.
"É preciso levar em conta que nos Estados Unidos há um problema com os direitos autorais e de propriedade intelectual. Se um indivíduo ou uma companhia copia alguém com modificação superior a 25% não há como denunciá-los",
explicou Lee.
Após alguns segundos de reflexão, o artista prossegue:
"De certo modo, é bom que ocorra algo assim em uma era de informação compartilhada, o que significa que tenho certeza de que usaram minhas imagens, fui eu quem criou os personagens antes do filme. Mas a Fox é uma companhia muito, muito grande. Não posso lutar contra eles".
Lee não colaborou com o diretor de "Avatar", James Cameron, mas contou que trabalhou
"com outro cineasta, também para a Fox, na criação de um conceito similar há sete anos".
Na época, a tecnologia 3D não estava tão desenvolvida e a ideia foi abandonada. Isso até Cameron retomar o
"projeto com uma história diferente, baseada na biodiversidade e no imperialismo, mas com o mesmo conceito de animação",
declarou Lee, quem atualmente mora em Nova York.
"Não sei em que medida eles se inspiraram em meu desenho original, mas certamente não estou muito contente. Muitos me recomendaram denunciá-los, mas nos Estados Unidos não há justiça, tudo se regula pelo dinheiro, pelo dólar",
resignou-se Lee.
A Agência Efe entrou em contato com representantes da 20th Century Fox Internacional na China para confirmar a versão do criador, mas a pergunta foi encaminhada para a sede nos Estados Unidos, que até o momento não se manifestou a respeito.
Os críticos de arte classificam Lee mais como um escultor do que como um criador de fotografias, já que seus "manimals" não são uma simples combinação de humanos e animais. Os personagens do artista revelam a natureza animal das pessoas mediante a descoberta da fera em cada um de seus personagens.
Em sua última coleção, "Circus", os "manimals" evoluíram em direção ao grotesco a partir da recriação dos 12 animais do horóscopo chinês: o rato, o boi, o tigre, o coelho, o dragão, a serpente, o cavalo, a cabra, o macaco, o galo, o cachorro e o javali.
Em sua série "Origins" (1999), Lee esmiuçou a evolução do peixe até o ser humano, passando por seres grotescos que lembram o personagem "Smeagol", da série "O Senhor dos Anéis", e que em sua faceta mais urbana irão povoar o mundo sonâmbulo e tatuado de "Nightlife" (2001) e "Xintiandi" (2006).