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Cite um trecho do livro que você está lendo! [Leia o 1º post]

  • Criador do tópico Criador do tópico Anica
  • Data de Criação Data de Criação
"E no entanto, ele sofre em silêncio. Quanta ternura recalcada, quanto gesto de carícia e de complacência corre no gelo do silêncio e da imobilidade. Ele olha para todas as criaturas e para todas as coisas com uma profunda simpatia, mas com uma simpatia que jamais se transforma em gestos ou palavras. Às vezes tem uma vontade inenarrável de sorrir para toda a gente que o cerca, de revelar toda a sua cordialidade e toda a sua compreensão numa frase, num sorriso, num acto... Mas o espírito de análise intervém, destruidor, disseca todas as ideias, e mata o gesto... Fica ecoando no ar a pergunta que os lábios não fizeram, mas que a mente não cansa de formular: para quê? E depois, mais forte que tudo a sua timidez..."
(Clarissa - Érico Veríssimo)

Me identifiquei com esse trecho, parece que está me descrevendo. :(
 
"Eu sou é eu mesmo. Diverjo de todo o mundo... Eu quase que nada não sei. Mas desconfio de muita coisa."

Estou relendo o nosso maior tesouro literário, Grande Sertão: Veredas, do Guima.
 
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"A jornalista Florence Amalou explica como a publicidade é utilizada como forma de pressão e até de repressão por anunciantes que querem influenciar uma linha editorial: represálias publicitárias (...) boicote de novos títulos que se afastem do "pensamento único" a serviço do empresariado, jornalistas demitidos ou afastados pelas agências de publicidade(...).
Obviamente, essas práticas só são possíveis por parte dos grandes anunciantes e questionam profundamente a confiabilidade das informações sobre eles. E quanto mais a imprensa estiver em dificuldades financeiras, mas a publicidade comprará seu silêncio e sua complacência. E o cúmulo é que, quanto mais um anunciante compra, melhor o tratamento dado a ele pelas redações. (...)
A dependência da maioria dos jornais em relação aos anunciantes aumenta na medida em que, hoje, são as marcas, e não os políticos, os juridicamente intocáveis. E as grandes empresas são as potências 'políticas' mais nocivas, já que são elas que 'transformam o mundo'. As decisões que modificam ou podem modificar profundamente nosso cotidiano (transgênicos, nanotecnologia, flexibilidades etc.) não são tomadas nos parlamentos, mas em conselhos administrativos e laboratórios tecnocientíficos - e as instâncias políticas tradicionais apenas se encarregam de nos fazer engolir a pílula."

Sobre a Miséria Humana no Meio Publicitário - Grupo Marcuse
 
Não mais lendo, mas terminei hoje, À Sombra do Olmo (Anatole France)

“Enquanto o Estado se contenta com os recursos que lhe fornecem os pobres, enquanto conta com subsídios bastantes que, com regularidade mecânica, lhe asseguram aqueles que trabalham com as próprias mãos, ele vive feliz, tranquilo, respeitado; os economistas e os financistas se aprazem em atestar-lhe a probidade; mas, do instante em que esse infeliz Estado, movido pela necessidade, faz menção de exigir dinheiro de quem o tem, e de tirar dos ricos alguma exígua contribuição, fazem-no sentir que ele comete um atentado odioso, que viola todos os direitos, que falta ao respeito com as coisas consagradas, que destrói o comércio e a indústria, que esmaga os pobres ao tocar nos opulentos. Não mais se dissimula seu descrédito. E ele fica entregue ao desprezo dos bons cidadãos. Entrementes, a ruína avança, lenta e infalivelmente. O Estado ameaçou as rendas. Está perdido. Os nossos ministros zombam de nós, falando do perigo clerical ou socialista. Não há senão um perigo, o perigo financeiro. A República começa a percebê-lo.”​
 
Todos os dias
um espectro sobe triste da tumba
retornando do país da amargura, da terra mais distante
e visita a cidade, as praças, os asilos
derretido como chumbo.

Árvore (trecho); Estação das árvores: Adonis [poemas], p. 112.
 
"Clarissa está de cabeça baixa. As lágrimas pingam no prato de doce e se misturam com a calda da compota.
- Eu sei que papai queria que eu fosse homem...
- Deixa disso...
- Eu sei. Ele disse que a família vai acabar, que o Vasco é uma peste e que eu devia era ter nascido homem ...
- Que ideia, menina!
- Mas eu... eu não tenho culpa de ter nascido mulher..."
(Música Ao Longe - Érico Veríssimo)

:cry:
 
"— Veja bem, uma vez Arthur me contou um feito dele — observou Henry Wellesley. — E não é um feito do qual ele emerge com muito crédito. — O embaixador soltou uma nuvem de fumaça na direção do lustre de cristal. Sir Thomas e lorde Pumphrey estavam sentados imóveis, como se soubessem que algo acontecia na sala, enquanto Sharpe, sentindo a atmosfera tensa, deixava as patas de caranguejo em paz. — Ele perdeu o cavalo em Assay e — continuou o embaixador. — Acho que era esse o nome do lugar. De qualquer modo, ele foi jogado nas fileiras inimigas, todos os outros continuaram galopando e Arthur me contou que tinha certeza de que ia morrer. Foi cercado pelo inimigo, todos ferozes como ladrões. E então, vindo de lugar nenhum, aparece um sargento inglês. De lugar nenhum, disse ele! — Henry Wellesley balançou o charuto como se fosse um mágico que o tivesse feito surgir de repente. — E o que aconteceu em seguida, segundo Arthur, foi a melhor demonstração de qualidade militar que jamais
testemunhou. Ele diz que aquele sargento matou cinco homens. Pelo menos cinco homens, disse ele. O sujeito os trucidou sozinho!
— Cinco homens! — disse lorde Pumphrey com admiração sincera.
— Pelo menos cinco — repetiu o embaixador.
— As lembranças das batalhas podem ser muito confusas — comentou Moon.
— Ah! Você acha que Arthur enfeitou a história? — perguntou Henry Wellesley com educação exagerada.
— Um homem contra cinco? — sugeriu Moon. — Eu ficaria muito surpreso, Excelência.
— Então vamos perguntar ao sargento que lutou contra eles — disse Henry Wellesley, jogando sua armadilha. — De quantos homens você lembra, Sharpe?
Moon pareceu picado por uma vespa enquanto Sharpe, de novo sem graça, apenas deu de ombros.
— E então, Sharpe? — instigou Sir Thomas Graham.
— Havia alguns, senhor — respondeu Sharpe, desconfortável. — Mas, claro, o general estava lutando comigo, senhor.
— Arthur me contou que estava atordoado — contrapôs Henry Wellesley. — Disse que estava incapaz de se defender.
— Ele estava lutando para se libertar, senhor — disse Sharpe. Na verdade, Sharpe havia empurrado o tonto Sir Arthur Wellesley por baixo de um dos canhões indianos e o havia abrigado ali. Haviam sido mesmo cinco homens? Não conseguia lembrar. — E a ajuda veio bem depressa, senhor — continuou rapidamente. — Muito depressa.(...)
(...)— Eram mesmo cinco homens, Richard? Seja sincero. Cinco?
— Sete — respondeu Sharpe, mas não conseguia lembrar. E não importava. Ele era ladrão, era assassino e era soldado, e agora precisava cuidar de um chantagista."
(As Aventuras de Sharpe Vol. 11 : A Fúria de Sharpe - Bernard Cornwell)

8-)
 
"- Estou fazendo isso - disse - porque prefiro carregá-lo vivo em vez de ter de carregar seu peso morto pelo resto da minha vida." :grinlove:

Cem Anos de Solidão
, GGM.
 
"Roberto não era alto nem atlético, mas tinha belos olhos e uma boca bem desenhada. Seus cabelos encaracolados estavam um pouco crescidos — o que lhe dava um aspecto algo romântico. — Mas as orelhas! Oh!... Nora mirava-as num fascínio. Eram largas e de pontas afastadas do crânio. Pareciam orelhas de elefante — refletia ela. No entanto, não prejudicavam o conjunto, acrescentavam antes uma graça toda especial à cabeça. Nas raras vezes em que Roberto sorria, apareciam-lhe os dentes claros, sãos e regulares, a cara ganhava luz e as orelhas como que se afastavam ainda mais."
(O resto é silêncio - Érico Veríssimo)

:lol:
 
"— Vosmecê já pensou no que lhe pode acontecer depois da morte?
— Não.
— Não tem medo de ir para o inferno?
Rodrigo cruzou as pernas, atirou o busto para trás e recostou-se contra a porta da capela.
— Padre, ouvi dizer que no céu não tem jogo nem bebida nem carreiras nem baile nem mulher. Se é assim, prefiro ir pro inferno. Além disso, as tais pessoas que todo mundo diz que vão pro céu por serem direitas e sem pecado são a gente mais aborrecida que tenho encontrado em toda a minha vida. Tenho conhecido muito patife simpático, muito pecador bom companheiro. Se eles vão para o inferno, é para lá mesmo que eu quero ir."
(O Tempo E O Vento Parte 1: O Continente - Érico Veríssimo)

:lol:
 
"Pouco depois, Toríbio e Rodrigo saíram. Já na rua, o primeiro disse:
— Que história foi essa de aceitar café com pão? Não tomaste em casa antes de sair?
— Claro que tomei. Mas não compreendes que o pobre do Chico ia ficar honrado se tomássemos café à mesa dele? Não vês que não custa nada a gente fazer os outros felizes?"
(O tempo e o vento Parte 2: O Retrato Vol. 1 - Erico Verissimo)
 
De joelhos, com o rosto entre as mãos, e apoiado ao meu leito, revi-me criança e lembrei-me da transformação que nela se fez, em momentos, e com grande perturbação de minha alma infantil, quando se deu a mudança da luz do gás para a elétrica, em nossa casa.
Sucedendo à luz suave e difusa do bico que se mantinha sempre aceso em meu quarto, com sua borboleta azul e ouro vacilando e crepitando misteriosamente, veio a luz nova, muito branca, cortando as sombras em secos e compactos blocos.
As noites passaram a ser longas e angustiosas, e me parecia estar fora do mundo, dentro de uma prisão mágica, e a minha detestável infância tornou-se ainda mais inerte e triste, espantada e assustada por aquela súbita claridade, que varria de golpe os meus queridos e pequenos fantasmas, e me deixava exaustivamente só, em minha própria presença.
(É um drama ignorado, depressa esquecido, o da meninice sem Deus.)


Fronteira, Cornélio Penna
 
"(...) Ajoelhou-se junto dela sem dizer palavra e sentiu um nó na garganta, seus olhos se encheram de lágrimas, com os braços rodeou seu corpo magro, o ergueu e a cabeça se abandonou para trás e o grande rubi que tinha no oco do pescoço derramou um jatinho pelo queixo. Ele pôs uma mão em sua nuca, sentiu a neve fria que havia no cabelo e apertou sua face contra a dela e se pôs a chorar porque Teresa estava morta.

Tinha as mãos na neve, as mãos frias e geladas de cavalgar, mas ela ainda estava quente. Esse calor desapareceria. A segurou contra si como se pudesse conseguir que a vida regressasse ao corpo e soluçou entre o cabelo negro. Ela o amara com um amor simples e puro que perdoava, entendia; assim o havia amado.

Sharpe chorava sem se importar quem olhava. Balançou-a em seus braços e a apertou contra si porque não o tinha feito o suficiente em vida. Conheceram-se na guerra, a guerra os mantinha separados e agora a guerra havia feito isto. Ele é que devia ter morrido, pensou, não ela, e seu pesar era informe, incoerente, uma dor que era amor atraiçoado e que enchia o universo.

Nairn lhe tocou o ombro, mas Sharpe não ouvia, não via, só balançava o corpo entre seus braços. Tinha o braço esquerdo entre seus cabelos, agarrava-os porque não queria perdê-la, não queria ficar sozinho. Ela era a mãe de sua filha, sua filha órfã de mãe, e Nairn ouviu o gemido, um meio uivo, que surgiu da garganta de Sharpe. (...)"
(As Aventuras de Sharpe Vol. 15 : O Inimigo de Sharpe - Bernard Cornwell)

:cry:
 
Muito bom esse tópico, hein?

Vou colocar uns trechinhos de um livro do filósofo estóico Sêneca, chamado "Aprendendo a viver":

"Não acredites que um homem possa ser feliz se sua estabilidade depende da sua fortuna. Apóia-se em bases frágeis quem faz sua felicidade depender de elementos externos. Toda alegria que assim surge logo se vai; no entanto, aquela que vem do interior é firme e sólida. Ela cresce e nos acompanha até o final. Quanto aos objetos de admiração da plebe, esses são bens de apenas um dia. "Então deles não se pode tirar nenhum proveito e prazer?" Não é isso que se diz, desde que eles de nós dependam e não nós deles".

"Tudo que vem da riqueza não gera frutos, não proporciona satisfação, se o possuidor não possui a si próprio e não toma posse do que lhe pertence. É uma tolice, Lucílio, pensar que a riqueza pode nos fazer algum bem ou mal; ela apenas fornece material para os nossos bens e os nossos males, os elementos daquilo que, junto a nós poderá se desenvolver em bem ou mal".

"Bem mais poderosa que a fortuna é nossa alma. Para o melhor ou o pior, é ela que conduz os nossos destinos, e é ela responsável pela nossa felicidade ou miséria".

"Tu ficas indignado e te queixas! Não compreende que todo mal provém não do que acontece, mas sim de tua indignação e de tuas reclamações?"

"Tua bexiga te incomoda? Chegaram más notícias pelo correio? Há perdas incessantes? Indo mais longe, temes pela tua vida? Pensa bem, não sabias que desejava tudo isso ao querer envelhecer? Tudo isso faz parte do percurso de uma longa vida, como a poeira, a lama e a chuva durante uma viagem".

Essas são algumas. Tem várias passagens muito interessantes.
 
Última edição:
"Richard Sharpe, como sucedia com frequência à primeira hora da manhã, estava de mau humor. Tinha a boca azeda do vinho da noite anterior. Esperava com ânsia um segundo desjejum e se sentia somente um pouco culpado por seu novo posto lhe permitir tais luxos. Havia furtado alguns ovos de Isabel, tinha uma fatia de bacon que pertencia à refeição dos oficiais e Sharpe quase já podia saborear a comida."
(As Aventuras de Sharpe Vol. 16: A Honra de Sharpe - Bernard Cornwell)

Segundo desjejum? Sharpe tem um lado hobbit que eu desconhecia. :lol:
 
"Ficamos andando entre os túmulos, pensativos. Aluísio parou diante de uma sepultura, que sempre gostávamos de olhar, toda em pedra preta. À cabeceira havia uma jardineira de bronze, onde já há muitos anos ninguém depunha uma flor.

Aluísio leu de novo a inscrição:
'Repousa aqui
DONA AMÉLIA SAMPAIO RIBEIRO
Falecida aos 19 anos
Saudades de seu esposo e filhos'.

— Dezenove anos, você viu, Guta? E já enterrada, deixando atrás de si um viúvo, um filho, uma vida toda ... Parece que a gente dos outros tempos vivia mais rápido, gastando-se mais depressa.

Não, não! Que importância tinham o filho, o viúvo, a vida vivida, diante daqueles 19 anos?

— Dezenove anos têm sempre a mesma força de mocidade, neste tempo ou naquele, casada ou solteira! Quando eu vejo retratos da gente do outro tempo, penso sempre é nos corpos que andavam debaixo das anquinhas e das casacas, jovens como os nossos. Olhe a minha mão: deixava de ser a minha mão, em qualquer tempo? Assim o coração também... Essa pode ter deixado um filho, um marido, mas o que há aqui é uma menina enterrada..."
(As Três Marias - Rachel de Queiroz)
 
"No campo de pouso da Esquadra, saí pelo portão com o nariz empinado, enquanto avançava até o balcão da quarentena para carimbar minhas ordens. Enquanto fazia isso, ouvi uma voz educada e respeitosa atrás de mim:

- Desculpe, Sargento, mas aquele veículo que acabou de descer... ele é da Rodger...

Virei-me para ver quem estava falando, bati meus olhos em suas mangas, vi que era um cabo de baixa estatura e ombros um tanto curvados, sem dúvidas um dos nossos...

- Pai!!

Logo em seguida, os braços do cabo estavam ao meu redor.

- Juan! Juan! Ah, meu pequeno Johnnie!

Eu o beijei, abracei e comecei a chorar."[...]

Tropas Estelares - Robert A. Heinlein
 
"A calmaria era total, absoluta; nenhum vento com o qual enforcar um marinheiro e por isso Richard Sharpe deixaria o inimigo partir e diria que o fez pela honra, ou porque a guerra já estava tão próxima do fim que não havia necessidade de mais mortes ou porque simplesmente fazê-lo era um prazer."
(As Aventuras de Sharpe Vol. 18: O Cerco de Sharpe - Bernard Cornwell)
 
A vida verdadeira não pode ser reduzida a palavras ditas ou escritas, por ninguém, nunca. A vida verdadeira ocorre quando estamos sozinhos, pensando, sentindo, perdidos na memória, autoconscientes em pleno devaneio, os momentos submicroscópicos. Ele, Elster, disse isso mais de uma vez, de mais de uma maneira. Sua vida acontecia, ele disse, quando estava sentado numa cadeira olhando para uma parede lisa, pensando sobre o jantar.
Uma biografia de oitocentas páginas não passa de conjecturas mortas, ele disse.


Ponto Ômega - Don DeLillo
 
Última edição:
Quanto mais profunda é a dor, mais impotentes nos sentimos diante dos problemas e mais arrogantes ficamos em compensação.

A Sutil Arte de Ligar o F*da-se - Mark Manson
 

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