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Fascismo no Brasil

Existe a possibilidade do Brasil virar um país fascista?

  • Sim, e vai ser bom para o Brasil

    Votos: 0 0,0%

  • Total de votantes
    18
@Elring não sei se vale a pena vc ficar postando por aqui. Vc é claramente só um flamer, não vale a pena.

Se trouxer algum conteúdo, argumento ou contraposição, aí acho que a galera vai te responder. To dizendo isso mais como dica mesmo.
 
A definição de fascismo é de um poder centralizado, militarizado, com heróis, de partido único e sem respeito a instituições.
E cá estou eu. Ao mesmo tempo que defendo diálogo, o nego :rofl:

Tá certo que diálogo tem algumas premissas, mas acho que vale flexibilizar.

Então vamos lá. Eu tinha falado brevemente ali sobre um entendimento geral do que é fascismo, vou entrar em maior especificidade num paralelo com o governo do Bolsonaro.

- Partido único
Bolsonaro prega abertamente que o cidadão de bem, que o seu eleitorado, é o único que deve ter acesso aos benefícios da democracia e liberdade de expressão. Que as minorias devem se curvar a essa suposta maioria (que, de longe, não é maioria). Ou seja, idealmente, o benefício de fazer valer uma ideologia no Brasil se restringiria aos que tem a mesma ideologia, religião e comportamento do Bolsonaro.

- Militarizado
Bolsonaro defende abertamente a militarização das instituições - tanto que seu corpo de ministros e apoiadores é de origem essencialmente militar

- Heróis
Reparou que pouco se fala sobre instituições? Quer dizer; não existia justiça, existia o Moro (até ele virar comunista). Não existe legislativo, existem os inimigos Alexandre de Moraes, Toffolli e cia. Não existe o congresso, existe o Maia. Não existe executivo, existe o Bolsonaro; o Mito! Num sistema saudável, o funcionamento das instituições jamais dependerá de pessoas, de “campeões das instituições”, e jamais será centralizado da forma que está.

- Falta de respeito a instituições
Bem, nem precisa falar muito sobre esse ponto, certo? Não há a menor consideração sobre o processo estabelecido, há apenas a dicotomia do certo e errado. O exemplo mais claro e crítico que temos recentemente é o do ministério da saúde. Há um processo inteiro para estabelecer os protocolos de combate ao COVID que está sendo constantemente violado pelo executivo através da dança das cadeiras dos ministros da saúde.

- Poder centralizado
Bolsonaro defende abertamente a centralização de poderes para resolver problemas pontuais, exceto na esfera de mercado. Eu pessoalmente acredito que esse discurso mudará com o advento da crise que está por vir, removendo a ideologia liberal do Guedes em prol de uma economia centralizada.

Tinha esquecido de citar um item muito importante: ultranacionalismo.
Brasil acima de tudo, Deus acima de todos. Camisas da CBF. Viu por aí alguns desses? Porém, esse é um conflito que eu não vejo o Bolsonaro resolvendo - a submissão que ele promove ao Trump/EUA e Israel é tão intensa que vai ser difícil estabelecer um ícone essencialmente fascista nesse quesito.

- - -

Temos a história para demonstrar o quão poderosos são os símbolos fascistas quando bem usados. Apesar de vê-los todos os dias, continuamos insistindo no discurso de que isso é bobagem ineficaz. Quer dizer, quem vai parar o fascismo no Brasil? As instituições? A população? O exército? Os EUA? Se ocorrer uma tentativa, qual vai ser a linha de frente?

O meu entendimento é que o fascismo é, contrário a nossa expectativa, enraizado no pensamento brasileiro. Pelo menos no paulista, de onde posso falar. Eu identifico, até hoje, uma miríade de estética fascista em muitas das minhas ideias, involuntariamente. E fico sem entender o pq vcs pensam que essa hipótese é tão absurda e distante da realidade do Brasil enquanto, contrariando a realidade, estamos mais próximos do que nunca.
 
Última edição:
Aí eu estaria militando e fazendo propaganda do Governo. E faz um bom tempo que nem comento mais sobre o atual governo Bolsonaro, ainda mais depois da adesão ao centrão.
Também não pretendo soltar foguetes cada vez que o número de infectados sobe no país, aonde trabalho já teve 3 casos confirmados e o máximo que a empresa fez foi colocar uma planilha e anotar a matrícula e a temperatura dos funcionários.
Mas já vi que Fascismo aqui é só no discurso mesmo, nada mais.

você já fez lá no tópico do covid um contorcionismo de retórica semelhante para defender a mesma ideia (proporção de posts falando sobre algo), e continua não fazendo o menor sentido aqui. então vamos lá, para deixar claro o meu ponto e você não precisar da ginástica: o problema nesse tipo de comentário que você faz é que dá a entender que não toleramos vozes que apoiam o governo no fórum.

eu não vou te dizer o que você pode ou não postar, mas vou te lembrar que o fórum está aberto para posts favoráveis ao governo, e que só não temos mais no momento porque os apoiadores que ocuparam muitos tópicos por aqui em tempos de impeachment (tinha até tópico para FASE da lava-jato :rofl: ) e eleição parecem ter debandado (ou não veem motivos para falar bem).

e, vale ressaltar, não faz o menor sentido criticar a falta de posicionamento positivo e depois dizer que não vai se posicionar. o ônus é totalmente seu, especialmente quando você reclama da falta de posicionamento favorável.


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achei essa entrevista da bbc com o antropólogo piero leirner relevante para o que estão discutindo aqui no tópico:

Bolsonaro tem papel de 'causar explosão' para permitir ação 'reparadora' de militares, diz antropólogo



Desde o começo dos anos 90, o antropólogo e professor da Universidade Federal de São Carlos Piero Leirner faz pesquisas com militares. Durante esse período, estabeleceu com integrantes das Forças Armadas uma relação que classifica como sendo de "desconfiança mútua".

Apesar das dificuldades, ele conseguiu manter pesquisas que tratam principalmente da hierarquia nas organizações militares do Exército Brasileiro, como a Escola de Comando e Estado Maior.

Em entrevista à BBC News Brasil, ele afirma que a atual escalada do conflito político não é acidental. Para Leirner, ela faz parte do projeto dos militares para o país e inclui Bolsonaro em um papel bem específico: "funcionar como uma espécie de 'para-raios sem fio terra'".

"Ele causa a explosão, para possibilitar a ação reparadora dos bombeiros", diz o antropólogo, que está prestes a publicar um livro sobre guerras híbridas.


Leia os principais trechos da entrevista, concedida por e-mail:

BBC News Brasil - Como os militares embarcaram no governo Bolsonaro?

Piero Leirner -
A pergunta poderia ser invertida: "Como Bolsonaro embarcou no governo dos militares?" Vejo matérias e entrevistas com alguns generais que já estavam na reserva, e agora estão no núcleo do governo, dizendo que "aderiram" à candidatura "em cima da hora", em 2018, e fico me perguntando: por que, então, os colegas deles que estavam na ativa começaram a campanha pró-Bolsonaro tão antes?

Embora representasse um risco e até uma ilegalidade, isso era visível desde novembro de 2014. Dias após o segundo turno que reelegeu Dilma Rousseff, Bolsonaro foi à formatura dos cadetes na Academia Militar das Agulhas Negras e fez um discurso se lançando candidato em 2018. Saiu de lá aclamado como "líder!". Esse tipo de ato só é possível se houver autorização do comandante da Academia. E, como Bolsonaro repetiu a visita em 2015, 2016, 2017 e 2018, posso afirmar que ele contou com o conhecimento do Comandante do Exército e com o descaso dos Ministros da Defesa e dos Presidentes da República.

Deixar a política entrar nos quartéis dessa maneira compromete o Estado como um todo. Por um lado, os civis não deram a menor bola para esses eventos, pois não conseguiram pensar o papel da instituição militar no país. De outro, os militares sabem muito bem o que significa um político entrar numa instalação militar e fazer campanha, lobby, articulação etc... Bolsonaro fez tudo isso sozinho? Não. Foi o topo da cadeia de comando que ligou a ignição para um projeto político de, pelo menos, quatro anos.


BBC Brasil - Em linhas gerais, qual é o projeto das Forças Armadas para o país?

Piero Leirner -
Trata-se de um projeto de refundação do Estado. Fazendo um paralelo com sistemas de informática, pense na ideia de "reiniciar o sistema", como um "reboot em modo de segurança", ou seja, quando o "administrador" tem total controle sobre o que "roda" e o que "não roda" naquele sistema.

Para isso, ele aciona ferramentas. As principais sempre foram - e tudo indica que continuarão a ser - o Poder Judiciário e o aparato policial. Entram aí também órgãos de controle e fiscalização e "aparelhos ideológicos", que mobilizam setores estratégicos da sociedade.

Os militares têm um jargão próprio para nomear essa interação. É a ideia de "sinergia". O ex-comandante Villas Bôas, por exemplo, falava da "sinergia entre Exército e TRF-4" (Tribunal Regional Federal da quarta região, responsável pelo julgamento dos processos da Lava Jato em segunda instância). Essa "sinergia" está presente no STF (Supremo Tribunal Federal), com os "assessores militares" que apareceram por lá, como os generais Fernando Azevedo (atual ministro da Defesa) e Ajax Porto Pinheiro (assessor da presidência do STF). Mas também existe em lugares menos visíveis, como na Escola Superior de Guerra (ESG), na concessão de medalhas e homenagens, no Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República e em redes de parentesco.

Toda essa maquinaria permaneceu mais ou menos latente depois do regime militar, mas voltou a rodar seus protocolos em meados dos anos 2000. Galvanizou cada vez mais os militares, com capturas ideológicas nas fileiras das Força Armadas, por volta de 2010, 2011. Mas tudo de forma sutil.

BBC Brasil - Se os militares estão tão presentes no governo, por que aceitam que Jair Bolsonaro dê declarações vistas como estapafúrdias a respeito da pandemia de covid-19 e entre em rota de colisão com os poderes Judiciário, Legislativo e com governadores e prefeitos, em vez de buscar ações que promovam a união nacional para combater a doença?

Piero Leirner -
As declarações de Bolsonaro não são estapafúrdias apenas diante da pandemia. São diante de tudo. Seu papel é funcionar como uma espécie de "para-raios sem fio terra". Ele causa a explosão, para possibilitar a ação reparadora dos bombeiros.

Esse foi o modelo escolhido, e foi escolhido justamente por ser assim: Bolsonaro atrai o caos para si, enquanto a "solução da ordem" emerge das "instituições que estão funcionando". Dentre elas, a que se considera mais funcional e que fez um trabalho de convencimento da opinião pública para parecer assim é a instituição militar. Então, não é que os militares "aceitam" o que o Presidente diz ou faz.

De um lado, eles colocam que "não podem fazer nada, pois o jogo democrático não permite que eles intervenham". De outro, eles não só "aceitam" como "operam" essas manifestações. E saem lucrando, reafirmando sua "vocação democrática".

"A partir daí, os outros poderes começam a reagir, invadindo atribuições. E o que começa a aparecer? A ideia de que são os outros poderes que passam dos limites da democracia. E isso de fato ocorre, pois replicam todos os mecanismos da "sinergia" que foram estabelecidos no passado. Há, assim, uma retroalimentação dessas posições. As Forças Armadas jogam nas duas pontas: no "vitimismo bolsonarista" e na "tolerância" e "respeito" ao jogo institucional, reafirmando sistematicamente estarem longe do golpismo.

Como essa sempre foi uma operação baseada em contradições, justamente o que não se busca é a "união nacional". Pelo menos até a hora em que tudo ficar tão insuportável, desorganizado e caótico, que o único jeito será apelar para que eles deem um jeito nessa situação.


BBC Brasil - Como você vê esse embates entre o governo e o poder Judiciário, especialmente com o STF a partir da instauração dos inquéritos das fake news e da investigação das denúncias feitas pelo ex-ministro da Justiça Sergio Moro?

Piero Leirner -
Em primeiro lugar, é bom observar que isso segue um padrão: o próprio governo cria uma situação que força uma interferência de outro poder no Executivo, e aí eles entram com a ameaça de "interferir na interferência". Ambos os lados acionam seus mecanismos para dizer que estão na "legalidade".

Desde o começo, o governo poderia simplesmente ter se recusado a entregar o vídeo da reunião ministerial e interromper o processo. O que o STF faria? Nada. Como nada fez quando Renan Calheiros se recusou a receber a notificação do STF de afastamento da presidência do Senado, em 2016, e, dois dias depois, o plenário derrubou a decisão monocrática de Marco Aurélio Mello.

Mas, nesse caso, o governo sabia que, para seus propósitos, era melhor escalar o conflito. E o STF? Agora o Tribunal se tornou a força moral de defesa da "civilização contra a barbárie". Todos os que são antigoverno apostam suas fichas no "padrão lavajatista", que voltou a ser acionado com a saída de Moro. A PF age a favor, age contra, e o que sobra? A ideia de que estamos em um embate final entre duas forças contrárias.

Isso, na linguagem militar, é chamado de "operação em pinça". Sabe aquela tática do "bom policial versus mau policial"? No final, quem se rende é o interrogado. Ou seja, todo mundo acaba aceitando o "reboot do Estado" porque não suporta mais essa situação. Ao que tudo indica, os militares vão forçar essa situação. Se não pela ação direta, pela caneta dos juízes.

BBC Brasil - Acho que aqui cabe a pergunta clássica, muito repetida desde a eleição de Bolsonaro: corre-se o risco de um golpe militar no Brasil?

Piero Leirner -
Depende de como você está considerando a ideia de "golpe". O que vejo aqui desde 2014? Uma série de intervenções feitas por militares e a construção de uma rede de outros agentes públicos que agiu em cooperação com eles, na tal "sinergia".

Para fazer isso, houve manipulação de informações, ingerências, operações não explícitas, ameaças e, acima de tudo, propaganda e muito bombardeio ideológico. Todo este processo foi executado, até o momento da eleição de Bolsonaro, com a preocupação de manter o discurso de que "as instituições estão funcionando", mas estavam "em risco" por conta do PT e dos "políticos".

Dilma Rousseff foi grampeada falando de dentro do Planalto. Uma falha de segurança no Palácio do Jaburu quase derruba Michel Temer (no grampo de Joesley Batista). Criou-se uma intervenção no Rio de Janeiro que travou o Congresso por quase um ano. Quem fez isso? Sempre parece ter partido de alguém de fora das Forças Armadas, mas os militares sempre estiveram indiretamente envolvidos, na órbita desses eventos.

Note que a invasão de um poder por outros começou lá atrás. Villas Bôas injetava a política dentro dos quartéis, afirmando que o Exército é uma instituição de Estado, não de governo. Isso é a invasão da política no poder armado. Depois, o poder armado instalou uma sucursal no STF, que ainda está presente com um general, o assessor da presidência Ajax Porto Pinheiro.

Agora o padrão se repete, mas Augusto Heleno (ministro-chefe do GSI) diz que isso causa "instabilidade". Então vamos voltar à pergunta: há sentido em se falar em "golpe", se esses movimentos partem dos mesmos setores do Estado que seguem no protagonismo das ações? A palavra "golpe" tem uma eficácia: dizer que há um rompimento institucional. Mas acho que ela também livra a cara de todos os atores que se mexeram nesse sentido até 2018. Ocorra o que ocorrer, prefiro pensar numa linha de continuidade.

BBC Brasil - Os militares aprovam, então, a forma como Jair Bolsonaro faz política, colocando as instituições brasileiras frequentemente em xeque?

Piero Leirner -
"Os militares", assim, no genérico, fica difícil de dizer. Mas os que estão no governo o apoiam, sim.

Há duas questões: eles percebem que as instituições estão sendo colocadas em xeque pelos militares? Ou, ao contrário, as instituições é que estão colocando eles em xeque? É preciso respondê-las dentro de um processo mais amplo, que parte, sobretudo, de "inversões de sinais", algo que se faz muito em "operações psicológicas", descritas em manuais de campanha militares.

Se voltarmos uma década, veremos que se propagou dentro das Forças Armadas a ideia de que elas estavam sendo atacadas pelos governos petistas na tentativa de controle da hierarquia, dos currículos das escolas militares, de interferência nos valores e missões da instituição e, especialmente, com a Comissão da Verdade. A partir daí, eles projetaram essa ideia para o todo, e aderiram à visão de que o PT visava a "divisão" do Brasil: em classes, raças, gêneros, "ideologias" etc.

Aí eles alardeiam: "as instituições foram colocadas em xeque". E o que fazer? Tomar o Estado e começar um processo de aparelhamento, exatamente o que eles alegavam que o PT promovia.

Aí, vamos para a segunda questão: foi o governo Bolsonaro que colocou as instituições em xeque, ou elas mesmas se colocaram, antes? Eu acho que o governo Bolsonaro é a projeção de instituições que primaram pela subversão de seus papéis: as Forças Armadas, onde a política entrou por uma porta e a disciplina saiu por outra, e o Judiciário, que resolveu mergulhar na política. Não é uma questão de se os militares aprovam ou não o governo: eles são o governo e Bolsonaro é o projeto deles.


BBC Brasil - O governo parece se apoiar nas Forças Armadas, mas também em setores ideológicos ligados a Olavo de Carvalho. Essa composição tem suscitado conflitos entre os militares e outros grupos. Como os militares enxergam essa outra ala?

Piero Leirner -
Para os militares, Olavo de Carvalho e sua entourage cumprem o mesmo papel de Bolsonaro: são incendiários convenientes. Servem para operar em contraste com a "ala racional", associada a eles próprios. Essa sensação de racionalidade se tornou tão ampla que parece ter conseguido transformar a tal "ala ideológica" em boi de piranha.

Obviamente, os militares perceberam que essa trupe tem a vocação de "homens-bomba". A única coisa que conseguem fazer, de fato, é produzir um enorme estrago, o que não é pouco. Atingem, sobretudo, áreas que são mais difíceis para os militares entrarem, como educação, relações internacionais, cultura. Aí, produzem uma "estratégia de abordagem indireta", uma espécie de terceirização de uma ação ofensiva. No jargão militar, isso se chama "cabeça de ponte", aqui atuando como "forças especiais ideológicas", atrás da linha do inimigo.

De quebra, os militares usam fragmentos do arsenal olavista para convencimento do próprio público, de que a conspiração comuno-globalista está batendo à porta no Brasil, colocando isso no âmbito de uma teoria de guerra de 4ª geração, as guerras assimétricas, irregulares, híbridas. Muito do campo de batalha está nas "operações psicológicas", em propaganda, informações e contra-informações. Não há contradição de fato, ela é só aparente. Para mim, não faz sentido se falar em "alas" no governo.

BBC Brasil - Recentemente, os militares também entraram em rota de colisão com o ministro da Economia, Paulo Guedes, ao propor um plano de gastos públicos para reativar a economia após a pandemia de covid-19. Há diferença de opiniões na condução da política econômica entre os militares e Guedes?

Piero Leirner -
Não me parece que tenham entrado, de fato, em rota de colisão com Guedes. Houve mais a apresentação de um "power point", do que um plano para recuperação da economia. No geral, e de forma bem resumida, diria que a maior parte dos militares é liberal, ou neoliberal, e está sintonizada com a ideia de que o Brasil tem um papel de "defesa mínima não provocativa" do capitalismo financeiro. Ou seja, acreditam que o país cumpre o papel indispensável de fornecedor de commodities em escala global, mesmo que sob controle estrangeiro, pois isso tem uma função geopolítica no mundo. E, para sustentar esse papel, concordam com uma ideia de "Estado mínimo".

BBC Brasil - Como os militares lidam com acusações de envolvimento da família Bolsonaro com milícias no Rio de Janeiro?

Piero Leirner -
Os militares em geral, não sei. Mas para alguns que estão no controle desse processo é só mais uma vantagem: possibilita um descarte em caso de "pânico", isto é, caso pareça que toda a ordem do Estado e da sociedade tenha naufragado com Bolsonaro. Não tenhamos ilusões: militares ocuparam a segurança pública do Rio de Janeiro em 2018, durante a intervenção federal determinada pelo governo Temer, com Braga Netto à frente. Hoje ele é o ministro-chefe da Casa Civil e até foi apelidado de "presidente operacional". Se não sabiam do que se tratava, mesmo com toda a unificação da inteligência que a intervenção providenciou, é sinal de que não sabem do mínimo para se pensar num projeto de país. "Inteligência", afinal, é isso, reconhecer o terreno onde se pisa.


BBC Brasil - Militares de baixa patente e policiais militares nos Estados têm se mostrado apoiadores fiéis do presidente da República. De alguma forma, isso ameaça o comando das Forças Armadas?

Piero Leirner -
Não são só militares de baixa patente que apoiam o governo e a própria figura de Bolsonaro. Diante disso, não creio que eles enxergam com maus olhos esses rompantes das PMs. Acho que há mais sintonia ideológica do que conflito de atribuições. Todos concordam que a disciplina saiu para dar uma volta, e assim todos fingem estar "disciplinados", porque estão na mesma "vibração", outro termo bastante utilizado no jargão militar.

BBC Brasil - Há tentativas abertas de formação de grupos paramilitares pró Bolsonaro, como é o caso do acampamento "300 do Brasil", montado recentemente em Brasília. O que isso significa?

Piero Leirner -
Se esses "grupos" vão ganhar força é difícil dizer. Vendo por alto, pode ser que apareça algum controle de militares, se assim precisar. Por enquanto, eles estão nessa guerra psicológica, deixando todo mundo com os nervos à flor da pele.

BBC Brasil - Os pedidos de impeachment contra Bolsonaro se intensificaram na Câmara dos Deputados. Como as Forças Armadas lidam com essa possibilidade?

Piero Leirner -
Na minha opinião, o impeachment, se vier, será porque chegou a hora do descarte desse "para-raios". Mas, para isso ocorrer, é preciso que a percepção do caos iminente seja absoluta. Tem de chegar ao ponto em que o tal "reboot do Estado" seja consenso. Se vier, vem com pacote de transformações mais abrangente.

Acho mais viável sustentar Bolsonaro nessa condição fraca e manipular a eleição de 2022, produzindo um repeteco de 2018 com uma "solução de consenso". Uma chapa composta por Sergio Moro e Santos Cruz, por exemplo, versus alguma ameaça petista de plantão. Se vão antecipar isso com Mourão, é difícil saber.

Precisamos ter noção de como estará o controle do Congresso e do Judiciário, com os tribunais superiores representando a caneta que irá decidir quem pode e quem não pode existir na política. Já o GSI deve ter o papel de abastecer todo esse processo com informações.

BBC Brasil - É possível imaginar como seria um governo Mourão?

Piero Leirner -
Até gostaria de pensar como seria esse cenário, mas só dá para arriscar algo vendo o desenho de uma saída de Bolsonaro, se ela ocorrer de fato. Tudo depende dessa avaliação de "ponto de ruptura", e como certos atores vão ser enquadrados. Ainda mais com esse imponderável da pandemia, e todos os seus desdobramentos no plano internacional.

Considerando que o consórcio que projetou a situação até aqui ainda está no controle, diria que um governo Mourão teria mudanças superficiais, embora todo mundo possa ficar aliviado com o aparente triunfo da "civilização" sobre a "barbárie".
 
Fazia tempo que não lia textão na Valinor e ser chamado de flamer, coisa que não via desde os tempos das salas de bate-papo do UOL e Terra deu aquela nostalgia.
Não faz o menor sentido eu ficar inundando o site se notícias a todo instante que sejam favoráveis ao governo, foi interessante na época das eleições. Mas já deu. O atual é incompetente? Certamente. Mas levou muitos para dentro que surfaram na onda e agora engrossam o centrão... para apoiar o governo outra vez. Senadores e Deputados que apoiavam a renovação, agora se disputam no tapa os cargos com os velhos conhecidos do Congresso.
E tive de voltar a ler e reler sobre o que é Fascismo. E conforme se apresentavam as características de um governo nessa linha ideológica, fui obrigado a rever minha opinião e dizer que o Fascismo está instaurado no Brasil há quase 30 anos.

 
Pô cara, eu tentei diálogo, mas pelo visto não vai ter como.

Postei acima a conexão que enxergo no governo Bolsonaro com fascismo, e vc simplesmente se quota?

Dizer que o Brasil é fascista há 30 anos é palpite de extremista. Se você não tá afim de conversar sobre, apenas fazer quote desse tipo, então realmente não há base para diálogo.

Os governos anteriores - PT inclusive - não compartilham dessas características que citei. Por mais que de forma longe da ideal, existia pelo menos uma intenção de fortalecimento das instituições - até mesmo quando Dilma não interviu na polícia federal quando foi diretamente e abertamente atacada.

Ainda dá pra mudar o voto e ir pra abordagem extremista? :rofl:
 
Sim. Quotei e você não leu. E mesmo que eu discorde dessa associação que faz entre fascismo e governo bolsonaro, não te classifico como esquerdista ou reduzir o tópico a ataques pessoais. É esse o nível dos membros da Valinor?
Muitas das características descritas sobre governos fascistas foram implementadas nos governos anteriores e até mesmo durante o Estado Novo, no qual foi consolidado a centralização do poder e dos recursos da União.
 
O estado novo era completamente fascista, mas não é esse o objeto de discussão. Quer dizer, nem tem um objeto de discussão aqui. O tema é “usuários do fórum Valinor” ou “fascismo no Brasil”?

Você tá off-topic já. Se quer discutir a condição dos atuais usuários do fórum Valinor, abra um tópico pra isso. Vou reportar como off-topic qualquer continuidade nesse assunto.
 
Tempos estranhos. Sou chamado de flamer e extremista de direita por questionar a insistência em associar o governo com o Fascismo, sendo que pra isso o Congresso e o Judiciário teriam de dizer amém para propor qualquer alteração que ele visasse cercear a liberdade das pessoas e empresas, estatizar a rodo e aumentar o Estado; mandar prender qualquer um que fosse contra o Estado. É bem o contrário, tanto o parlamento quanto o STF tem colocado freios no governo e cobrando com força o Executivo. Em que país fascista você veria tantos pedidos de impeachment, quebras de sigilos bancários e telefônico do Presidente e tendo o Judiciário que colocar um limite aos deputados? Se nenhum vingou foi por falta de embasamento.
Mas eu sou extremista. Pode ir lá reportar. Ou me cancelar, como preferir.
 
Votei na primeira opção. Há momentos em que eu até acho que a gente vai conseguir evitar o total colapso da democracia na base do diálogo. Mas, na maior parte do tempo, eu acredito que isso não será mais possível, o que me deixa mal, porque, apesar da fama de má, eu sou, na maior parte do tempo, uma pessoa muito de boa, que acredita que rir junto é melhor do que falar a mesma língua.

Acho que o diálogo pode funcionar para 90% dos imbróglios. Mas quando há a impossibilidade de dialogar, se afastar é a opção menos dolorosa. Menos dolorosa, não indolor. Eu não acredito que seja possível que um rompimento não provoque dor. Mesmo que, em algum tempo, ele possa trazer um certo alívio, no momento em que acontece, ele causa um impacto bem forte. Sempre que me afastei de pessoas pelas quais eu nutria afeto, foi ruim; mesmo quando me afastei daquelas de quem eu tinha a consciência de que, apesar de serem pessoas de quem eu gostava, não dava mais para conviver.

No âmbito político, eu já embarquei no discurso de que "se afastar e ficar na sua bolha não muda o mundo. A gente precisa conversar é com quem pensa diferente". Juro que já embarquei. E foi com a melhor das intenções; na maior parte das vezes, eu realmente adoto a postura de tentar dialogar.

Mas a gente tem uma necessidade quase patológica de colonizar o outro, e disfarça isso com a pretensão de "promover um diálogo com bons argumentos". Há pessoas que argumentam muito bem, de dentro das suas bolhas, com a proteção dos amigos que constituem a bolha, que vão se juntar para rechaçar quem pensa diferente e não aceita ser diminuído por pensar diferente. As fake news têm tido um papel determinante na força de sufocar discursos contrários ao governo e, com isso, impossibilitarem a existência do diálogo.

Diálogo é luta, e só funciona quando ambas as partes começam a substituir pedras por negociação, isto é, quando ambas as partes fazem concessões. Mas quando só uma das partes faz concessões, não há diálogo, há colonização, há submissão. É perigoso ser a parte que sempre faz concessões, porque de concessão em concessão, a gente acaba sumindo, acaba se esvaziando tanto da gente, que só consegue existir se viver a vida e os valores do outro. De concessão em concessão, os nossos direitos vão sendo tirados, e um governo totalitário vai se fortalecendo e abafando vozes dissonantes.
 
Tempos estranhos. Sou chamado de flamer e extremista de direita por questionar a insistência em associar o governo com o Fascismo, sendo que pra isso o Congresso e o Judiciário teriam de dizer amém para propor qualquer alteração que ele visasse cercear a liberdade das pessoas e empresas, estatizar a rodo e aumentar o Estado; mandar prender qualquer um que fosse contra o Estado. É bem o contrário, tanto o parlamento quanto o STF tem colocado freios no governo e cobrando com força o Executivo. Em que país fascista você veria tantos pedidos de impeachment, quebras de sigilos bancários e telefônico do Presidente e tendo o Judiciário que colocar um limite aos deputados? Se nenhum vingou foi por falta de embasamento.
Mas eu sou extremista. Pode ir lá reportar. Ou me cancelar, como preferir.
Eu tava reclamando da insistência em falar de usuários ou qualquer outra coisa. O tema do tópico é fascismo no Brasil, e iria reportar desvios desse tema. Nessa postagem você retornou ao tópico, o que é bom.

Bom, primeiro precisamos conciliar o que você postou antes com o que está falando agora. Eu disse extremista pois, segundo o pessoal do Mises, todo estado é em algum nível fascista. Essa ideia de que o Brasil é fascista há 30 anos é claramente absurda e somente se sustenta em estruturas extremistas como a do Mises.

Nós concordamos que o Brasil não é fascista agora - tanto isso é verdade que temos os processos de impeachment que você citou, as intervenções do STF, etc. O ponto desse tópico é sobre a possibilidade de virar.

Como você pode ver, algumas pessoas aqui pensam que a ideia é absurda; então não há a uniformidade de pensamento que você está denunciando.

A minha opinião é que o uso deliberado de simbologia fascista não é coincidência, e que isso é extremamente perigoso. Quer dizer, esse tipo de simbologia já foi subestimado diversas vezes na história, e em praticamente todas os resultados foram nefastos. Somado isso ao fato da aparente “incompetência” do governo ao tratar o problema do COVID que, aparentemente, é apenas mais um elemento criador de caos - conforme apontado na entrevista indicada pela @Ana Lovejoy

Em suma; algum dos pontos que citei, típicos de ideologias fascistas, não refletem os símbolos que o governo está criando? Você discorda que algum desses símbolos é típico de fascismo? Se sim, quais?

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@Melian
Pois é, acho que todos nós ficamos um pouco frustrados. No meu caso é o contrário: meu voto normal seria diretamente vinculado a ações mais radicais.

Depois de visitar algumas casas de ocupação de, digamos, “contra-cultura” em outros países, vi que no assunto de guerrilha urbana, as organizações antifa não estão para brincadeira.

Talvez por ignorância minha, mas desconheço qualquer estrutura similar no Brasil. Elas aparentemente foram sistematicamente desmontadas tanto pela polícia quanto pelo crime organizado. A impressão que me fica é que se formos para “vias de fato”, vamos tomar pau nas ruas, na mídia, na sociedade, etc.

Por isso flexibilizo a opinião na direção do diálogo - o único campo que acho que dá pra ganhar.
 
Se eu fosse comparar Bolsonaro com algum episódio histórico, seria com Hermes da Fonseca: militar eleito pelas urnas, levado ao poder por um partido dito conservador alternativo aos dois pólos de poder de então (Minas e São Paulo, café-com-leite). Era fã do período militar autoritário imediatamente anterior (República da Espada), e temia-se um regresso nesse sentido. Mas no fundo era só um fantoche do centrão da época (encabeçado por Pinheiro Machado). Fez um governo de merda e com viés autoritário (Política das Salvações), e os políticos que ficavam no seu entorno o negaram e se afastaram (como os presidentes Nilo Peçanha e Venceslau Brás), retornando à política do café-com-leite. Também tinha fama de burro, nepotista e uma esposa novinha.

Nesse sentido, concordo que Bolsonaro foi sobretudo fruto de um "consenso liberalizante", e esse consenso deve cuspí-lo. Até porque, diferente do Hermes, acho que Bolsonaro surfou na onda de um movimento legítimo, tanto do ponto de vista popular, quanto do ponto de vista técnico-reformista, e que há de durar. E não considero algo do assunto como análogo ao fascismo. Um aspecto que julgo crucial do fascismo é o corporativismo econômico. Fascismo de economia liberal ou fascismo de economia planificada (de viés marxista), é, para mim, uma contradição em termos - o fascismo fica no meio entre esses dois extremos. Coisas como partido único, culto a figuras heróicas, militarismo e nacionalismo se encontram também na Coréia do Norte, por exemplo. Eu definiria fascismo como "totalitarismo corporativista", e uma definição mais relaxada seria "autoritarismo corporativista", o que permitira embarcar o salazarismo e o franquismo, em que o corporativismo é de tipo mais orgânico, de baixo pra cima, mais parecido com a Doutrina Social da Igreja, e que permite que certos aspectos da vida não sejam englobados pelo Estado. Já Bolsonaro, Hermes e os ditadores de 64-85 estão fora dessa região do espectro político. E insistir em classicá-lo nessa forma é, a meu ver, um recurso retórico ou um desvio conceitual - mesmo considerando a dificuldade em se definir o conceito: por exemplo, os ditadores militares brasileiros nunca, até onde sei, são considerados fascistas, mesmo tendo em vista essa elasticidade conceitual.

Bolsonaro foi um fenômeno bizarro causado por legítimos anseios liberais, conservadores, reformistas, e que por sua bizarrice há de passar, na pior das hipóteses em 2023 com um novo representante, isso se os problemas não forem atenuados após a pandemia, sabe-se lá - talvez 2021-2 seja mais como 2018-9 do que como 2020. Seja como for, Bolsonaro só ainda está no poder pela rigidez de nosso presidencialismo, e não por poderosas forças antidemocráticas, que não existem em peso nem na população e nem nas elites. A esquerda mainstream encara o Bolsonaro como um fenômeno mais representativo e intrínseco do que ele realmente é, e respondem com fenômenos também bizarros e extremistas como os dos tais "antifas", que só não são tão bizarros como o Bolsonaro porque não estão no poder, e até um mês atrás eram tão underground quanto os skinheads. Os anseios e forças que levaram Bolsonaro ao poder levarão outro à mesma posição, não vejo nenhum estrato social convertendo-se em peso - seja ao petismo, ao cirismo ou ao movimento "antifa" - por causa das bizarrices do Bolsonaro, na medida em que o Bolsonaro foi uma tentativa de atalho para aqueles anseios se materializarem na presidência e não um resultado inevitável ou um aspecto intrínseco daqueles anseios. O que a esquerda deveria fazer é ir de encontro a esses anseios, assumir um viés econômico ortodoxo,[1] abandonar sectarismos e ser absolutamente confiante tanto na conciliação política e dialógica quanto na funcionalidade das instituições republicanas, e com esse norte enfrentar Bolsonaro quando preciso for. Se não por princípio ao menos por realismo: se forem apelar para a força, perderão tanto no embate em si quanto na reputação frente à população - duvido que o brasileiro veria nessa gente um movimento legítimo ou virtuoso...
 
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@Haran Alkarin
Concordamos que o ponto econômico é crucial, mas discordamos na mentalidade liberal brasileira.

Sobrea economia corporativista, concordamos que a política do Guedes ainda não está bem definida? A única grande reforma foi a da previdência; não há qualquer outra iniciativa radical na direção de uma economia liberal. Se esse tema não está resolvido, concorda que ele pode o ser nessa mudança radical de cenário causada pelo COVID? E que não necessariamente será para via liberal? Ou até mesmo caminhará para um corporativismo estatal?

Sobre a mentalidade liberal da população na forma de anseios políticos legítimos, aí iremos discordar. Por mais que exista uma bolha, há um profundo sentimento anti-estado, anti-brasil. Pouco se fala de liberdade de mercado, mas muito se fala de remover dinheiro e recursos do controle do estado. Percebe que há uma diferença?

Para ocorrer uma economia de fato liberal, diversas injustiças deveriam ser resolvidas antes - a começar pelo monopólio do crédito realizado pelos grandes bancos. Esse tipo de coisa sequer é discutido ou cogitado, apenas fala-se de desmontar o estado.

Há os que surfam nessa onda anti-brasil, como o partido Novo e o próprio PSL com seu campeão Paulo Guedes. Mas repare na diferença de expressividade absoluta entre Bolsonaro e Novo. Quer dizer, se de fato houvesse um anseio liberal legítimo, não teria sido ele direcionado ao Novo? Nesse caso, o que aconteceu?

No mais, achei a comparação com o Hermes da Fonseca ótima: por mais que uma abstração excessiva seja necessária por estarmos em períodos diferentes, contextos completamente diferentes, etc; ela ficou bem engraçada :D
 
Não compreendo bem porque você utiliza o termo "anti-Brasil", mas com respeito a essa tendência "anti-Estado", bem, vejo como uma manifestação dos anseios que me referi no meu post - anseios liberais, conservadores, reformistas. Desses três adjetivos, ora um prevalece, ora outro, dependendo da pessoa ou da agremiação, e me falta um termo para sintetizar esses anseios. No caso de "anti-Estado", pode ser uma manifestação menos refinada, mais popular... mas não vejo como uma manifestação oposta à tendência liberal. Pelo contrário né, pô, é quase um mantra da militância liberal a diminuição do Estado... É claro que um discurso mais elaborado poderia, por exemplo, acentuar a importância do Estado com respeito à educação ou à saúde... porém quem fala que o Estado tem que diminuir dificilmente tem como prioridade atacar o SUS ou as escolas públicas, então se trata mais de uma diferença de retórica do que uma diferença tão profunda de pensamento... Também a questão que você se referiu sobre crédito é algo que apareceria em um discurso mais elaborado, intelectualizado, não acho que essa questão ser pouco atacada nos anseios populares depõe contra o aspecto liberal desses anseios, se trata apenas de assuntos mais ou menos fáceis de entender, mais ou menos acessíveis ao público.... Aí entra a necessidade de um trabalho de divulgação "científica", como o Arthur do Val que popularizou a questão do FGTS. Se o Partido Novo foi tão minoritário, eu diria que foi porque ficou concentrado justamente nessa faceta mais intelectualizada do discurso. Também porque desde sempre, me parece, a ideia era mais divulgar o Partido do que concorrer a sério: João Amoedo não tinha perfil de presidenciável que, sem aparecer na TV e estreiando na vida pública, poderia viralizar.

Aquela reunião gravada me passou a impressão que o governo está firme com a agenda liberal, pelo menos na intenção. Mas digamos que seja só retórica, ou que o pessoal do Guedes perca apoio e seja substituído... mesmo se a agenda liberal se perder, acho que ainda assim tem um salto muito grande até cair em uma economia corporativista de tipo fascista. Por exemplo, ao que sei, a ditadura militar, mesmo sendo intervencionista, desenvolvimentista, permitia a organização de empresas e trabalhadores em um formato essencialmente o mesmo que o formato da Nova República, enfim, em um formato capitalista, de mercado, não-corporativista ou moderadamente corporativista. Mas aí precisaríamos discutir as distinções entre esses dois modelos intervencionistas, o quão distantes realmente são, o que é mais sutil e me falta bagagem. O @Fëanor, se deixar os artigos sobre cloroquina de lado, :hxhx: poderia falar melhor.
 
Pois é, acho que todos nós ficamos um pouco frustrados. No meu caso é o contrário: meu voto normal seria diretamente vinculado a ações mais radicais.

Depois de visitar algumas casas de ocupação de, digamos, “contra-cultura” em outros países, vi que no assunto de guerrilha urbana, as organizações antifa não estão para brincadeira.

Talvez por ignorância minha, mas desconheço qualquer estrutura similar no Brasil. Elas aparentemente foram sistematicamente desmontadas tanto pela polícia quanto pelo crime organizado. A impressão que me fica é que se formos para “vias de fato”, vamos tomar pau nas ruas, na mídia, na sociedade, etc.

Por isso flexibilizo a opinião na direção do diálogo - o único campo que acho que dá pra ganhar.

Entrei num grupo de pessoas declaradamente antifas no whatsapp e é ridículo. Me parece mais uma panelinha onde ninguém podia falar uma linha que fuja do padrão de pensamento dos líderes da panelinha, se não era sumariamente banido, sem direito de contestação, explicação e ainda virava meme e piadinha depois. Bando de criancinha se achando os salvadores do Brasil. Não conseguiriam nem brigar com os moleques da rua de cima, pelo nível. Nem em campo intelectual, nem em campo ativo. A "resistência" no Brasil é uma piada, uma reunião de pós-adolescente que não cresceu e se reune em panelinhas onde todo mundo pensa igual e vive pra xingar, debochar e zoar os coleguinhas dos quais eles discordam. Nesse ponto, a extrema-direita é infinitamente melhor: eles são ridículos? SÃO. Mas não rejeitam novos membros por discordâncias bobas. Só é proibido "esquerdismo", mas eu vi uma menina ser banida do grupo e virar chacota porque entraram num debate e ela foi acusada de dar carteirada por dizer que era formada em História.

Outra babaquice pós-mod é o ódio explícito aos sulistas. Ninguém com DDD do PR, SC e RS podia se manifestar sem ser diretamente atacado ou diminuído, mesmo que estivesse concordando com o assunto. Eu mesma fui questionada porque meu DDD é de Porto Alegre e tive que me defender dizendo que era carioca. Aí praticamente me interrogaram acerca de qual bairro eu era e o porquê de eu ter trocado o RJ pelo Sul e casado com um NAZISTA. Esse é o nível. E pelo tom dos admins do grupo, é essa a regra em outros grupos do mesmo estilo. Anteontem, um dos admins simplesmente removeu TODO MUNDO. Sem explicação, sem nada. No próprio grupo do Facebook, o admin principal fala "pensou diferente de mim, é ban e sem direito de reclamação".

Então, sim, frente ao sentimento de grupo e união, organização e coalizão dos extremistas de direita, qualquer filho da puta que se intitule resistência vai tomar um pau porque outros que também se intitulam resistência só vão apoiar quem for de sua panelinha ou vai exigir um currículo de militância pra ver se o mesmo pode entrar na panelinha e ser digno de ajuda.
 
Outra babaquice pós-mod é o ódio explícito aos sulistas. Ninguém com DDD do PR, SC e RS podia se manifestar sem ser diretamente atacado ou diminuído, mesmo que estivesse concordando com o assunto. Eu mesma fui questionada porque meu DDD é de Porto Alegre e tive que me defender dizendo que era carioca. Aí praticamente me interrogaram acerca de qual bairro eu era e o porquê de eu ter trocado o RJ pelo Sul e casado com um NAZISTA. Esse é o nível. E pelo tom dos admins do grupo, é essa a regra em outros grupos do mesmo estilo.

No twitter e em algumas páginas da esquerda "memeira" tá em voga essa mania de fazer chacota com o sul ou com os sulistas. É legal, é cool, é ser debochado, huehue shitpost. Ao invés de união contra um inimigo comum, preferem continuar separando, dividindo, segregando. No final não são muito diferentes daqueles que dizem combater.

Digitei "sulista" no twitter e alguns dos primeiros tweets que apareceram para mim são estes:


 
Que o Sul do Brasil é motivo de chacota, não é de agora. Ganhou destaque negativo na época do plebiscito pela separação dos três estados para formar a República dos Pampas, se não me engano era esse o nome. E recuando mais para trás, durante a Segunda Guerra, muitas famílias de imigrantes de descendência alemã e italiana que fugiam da Europa foram muito discriminados por aqui.

E Twitter nunca foi referência para nada. A pessoa não precisa enfiar a cabeça no bueiro para saber que tipo de merda corre por lá.
 
Então, eu achei que não ia além do meme. Achei que era aquela piada típica tipo "tinha que ser branco!" ou "tinha que ser homem!", em que você usa um termo simplista pra debochar da branquitude/machismo, respectivamente. Que o Sul é um dos maiores antros dos extremistas e tá cheio de nazipardo se achando alemão, todo mundo sabe. Mas me surpreendeu ver que a galera tá DE FATO vivendo o meme e invalidando posicionamentos e pontos em debates só porque a pessoa é sulista ou mora no sul, como é meu caso. Aí toda a essência da palavra "resistência" se esvazia e me dá mais ranço de qualquer tentativa pacífica de diálogo.
 
Devia ter caminhado pela Independência ou Cidade Baixa na época dos punks contra skinheads. Tenta pensar num cara negro tentando advinhar qual daqueles grupos de cútis branca era racista e supremacista. Pra mim era tudo arruaceiro e chapados e nem esperei saber qual grupo saiu vencedor.
Claro, foi um caso extremo e só depois de começar a ir em festas de heavy metal pude conversar com punks e até carecas. Uma camiseta preta de uma banda de metal opera milagres.
 
Não compreendo bem porque você utiliza o termo "anti-Brasil", mas com respeito a essa tendência "anti-Estado", bem, vejo como uma manifestação dos anseios que me referi no meu post - anseios liberais, conservadores, reformistas.
Veja bem, não existe um anseio liberal legítimo.

A sua leitura de “anti-estado” no lugar de “anti-Brasil” soa como leitura conveniente. Como você apontou, temos dois grupos relevantes: de intelectuais com ideologia e de massa. Estamos obviamente falando do segundo, e nele é absurdo assumir que o entendimento geral existe sobre as possibilidades de redução do aparato do estado e suas implicações.

No Brasil existe a falsa visão de que há super impostos contra pessoas. Quando um político promete “reduzir” essa carga, não há de se confundir isso com uma ideologia anti-estado: a pessoa recebe bem a ideia pela possibilidade de pagar menos e receber mais! É importante destacar que, enquanto o cidadão quer de fato pagar menos impostos, ele não está disposto a abrir mão dos benefícios trazidos pelo estado - especialmente nas atuais circunstâncias onde a importância do SUS está evidenciada.

Tanto Bolsonaro quanto partido novo surfaram nessa onda de falácia política populista de reduzir tributação sem explicar muito quais seriam os impactos na vida do brasileiro: cursos profissionalizantes, acesso universal à educação, bolsa família, regulamentação de preço de combustíveis, e por aí vai.

Te sobram duas alternativas: ou os anseios liberais residem em uma clara contradição, ou eles existem só numa elite ideológica.

É por isso que insisto na leitura anti-Brasil e como essa falaciosa tendência liberal se aproveitou disso para tentar incubar ideias de estado mínimo. Aparentemente fracassaram; até hoje não se discute seriamente as ideias essencialmente liberais.

Existe uma relação muito complicada entre o brasileiro e o Brasil. O abandono do estado é tão intenso em regiões carentes que se cria naturalmente uma antagonização - e essa se estende para outras classes sociais. A ideia de pagar impostos raramente se traduz, no campo de entendimento, em benefícios para os cidadãos - eles são pagos com a eterna impressão de que uma mega máquina de corrupção está sendo financiada. Acredito que o @Mercúcio pode falar melhor sobre isso - se não me engano foi o objeto de estudos dele.

Se o Partido Novo foi tão minoritário, eu diria que foi porque ficou concentrado justamente nessa faceta mais intelectualizada do discurso. Também porque desde sempre, me parece, a ideia era mais divulgar o Partido do que concorrer a sério: João Amoedo não tinha perfil de presidenciável que, sem aparecer na TV e estreiando na vida pública, poderia viralizar.
Discordo. O partido novo manteve um discurso extremamente populista, inconsistente e contraditório. O papo de “liberal na economia, conservador nos costumes”, convenhamos, não é nem um pouco intelectual. A única coisa que houve foi a apropriação populista do elemento anti-brasil que citei acima.

A (falta de) consistência de discurso do novo começa a ficar evidente em episódios como Amoedo falando que desconhecia que o Salles, membro do seu partido, tinha virado MINISTRO. Apenas após a crescente impopularidade do governo Bolsonaro que Amoedo deu conta de que seu partidário era MINISTRO, e então o afastou do partido.

Aquela reunião gravada me passou a impressão que o governo está firme com a agenda liberal, pelo menos na intenção. Mas digamos que seja só retórica, ou que o pessoal do Guedes perca apoio e seja substituído... mesmo se a agenda liberal se perder, acho que ainda assim tem um salto muito grande até cair em uma economia corporativista de tipo fascista. Por exemplo, ao que sei, a ditadura militar, mesmo sendo intervencionista, desenvolvimentista, permitia a organização de empresas e trabalhadores em um formato essencialmente o mesmo que o formato da Nova República, enfim, em um formato capitalista, de mercado, não-corporativista ou moderadamente corporativista. Mas aí precisaríamos discutir as distinções entre esses dois modelos intervencionistas, o quão distantes realmente são, o que é mais sutil e me falta bagagem. O @Fëanor, se deixar os artigos sobre cloroquina de lado, :hxhx: poderia falar melhor.
Eu fiquei com outra impressão: a aparente liberdade de discurso do Guedes na verdade significa que ninguém se importa ao ponto de ninguém nem mesmo contrapor. Deixa ele ficar falando as besteiras dele ali enquanto a imagem do Guedes ainda é importante e detém capital político. Passo a acreditar que o Guedes exerce influência na prática somente quando começar a ver as reformas saírem do discurso.

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@Lissa
Pois é. Eu tenho uma impressão extremamente negativa desses movimentos.

O Ciro Gomes promete que se houver tentativa de golpe, que ele irá mobilizar “um pessoal da periferia” e parar os militares. Não sei se é blefe, mas talvez de fato existam organizações mais estruturadas do que essas que conhecemos.

É maluco rejeitar alguém num movimento desse tipo apenas pela pessoa ser do sul. Quer dizer, restam poucas dúvidas de que o Sul é o epicentro do movimento neo-nazi-tupiniquim - e seria esse o principal motivo para ter uma presença antifa maior por aí.
 
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