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Garr - A Criação

Tá dá! Pelo menos uma maldita vez, antes do prazo dado. :lol:


Nifelheim estremecia cada vez mais violentamente, enquanto Samael permanecia de braços abertos, e a colossal massa branca descia em direção aos Finerim ali reunidos. A gravidade dos dois corpos atraía um ao outro, e a força resultante faria em pedaços qualquer ser presente que não as próprias divindades.

Com um constante e infindável estalar, as areias do deserto eram destruídas e reduzidas a minúsculas partículas. As nuvens se agitavam no céu, sendo atraídas pelo terrível empuxo, descendo e circulando a lua até desaparecem, enquanto os gases que compunham suas estruturas eram violentamente condensados, e então destruídos.

Quando ela por fim parou de se aproximar, Samael abriu seus olhos, e, estendendo sua mão em direção a Aracnel, fez um gesto para que ele desse início ao seu trabalho.

Um brilho de satisfação surgiu nos olhos do Senhor dos Insetos. Ele já havia aguardado tempo demais. Dando suas costas à rocha colossal, e fincando suas patas na areia branca do deserto, ele ergueu o abdômen, e incontáveis fios negros saltaram em direção à estrutura, cobrindo seu branco fantasmagórico com o negro oriundo das trevas mais profundas de Garr.

Hallgrimr soube então que era sua hora, e cresceu até sua cabeça roçar nas estrelas do firmamento. O gigantesco corpo de ferro erguia-se como um colosso sobre o da lua, enquanto sua enorme barba flamejante brilhava como um sol no Reino dos Mortos. As duas esferas, a de metal e a de luz, eram agora minúsculos pontos em uma mão que poderia arrancar montanhas de seus berços. Dançando, elas agora seguiam seu caminho até o corpo principal da prisão, se colocando uma sobre a outra, de acordo com a vontade do Artífice.

O martelo de Hallgrimr se ergueu lentamente acima de sua cabeça, enquanto o Finerim deixava de lado todos os outros pensamentos e focava sua vontade na obra que estava prestes a ajudar a criar. Com a velocidade de um raio e a força de mil gigantes, o martelo desceu, golpeando metal, luz, trevas e matéria espiritual.

O trovão resultante ecoou por todo o Reino Espiritual, e o terror já teria tomado seus habitantes, não fosse a presença de Samael em seus corações, apaziguando-os.

Enquanto isso, o Deus da Morte sentia as rachaduras que se alastravam pelo corpo principal da lua, conforme o martelo do Artífice se chocava com sua superfície. Luz, Trevas e metal agora escorriam para dentro dela, encontrando seu caminho nas fissuras abertas.

Era hora de dar o próximo passo. Tocando o coração de sua irmã, uma porta se abriu entre os domínios de ambos, e Daevaorn soube então que chegara sua vez. Por meio de sua vontade e controle, a energia pura e caótica da Vida adentrou em Nifelheim, brotando do chão como árvores iridescentes de pura energia, crescendo até alcançar a lua e envolve-la em sua essência. A força vital de Garr agora preenchia o corpo celeste, encontrando seu caminho entre as fissuras causadas pelos golpes de Hallgrimr.

Sete vezes mais seu martelo caiu sobre a lua, e então ela não mais parecia ser uma lua, mas sim uma estrela, pois o fogo irrompeu de cada abertura, e no momento seguinte nada mais havia além de uma grande esfera incandescente, um pequeno sol no qual luz e trevas dançavam em meio às cruéis e descontroladas chamas.

Assim como Samael esperava, ele não poderia unir tão facilmente elementos tão contraditórios em sua existência. Não era a coexistência deles que ele almejava, mas sua verdadeira união em uma única coisa. Para tal, ele necessitaria de um elo, algo que fosse comum a todos eles, a raiz de toda a existência. De outro modo, a esfera de caos absoluto que haviam criado entraria em colapso, e a sorte estaria sorrindo para todos se apenas Nifelheim fosse consumida.

A preocupação agora estampava as feições dos Finerim ali presentes, pois sabiam qual era o perigo daquela obra, e o que ela faria com eles e com todo aquele Reino, na vaga suposição de que Garr e muitos outros planos não fossem atingidos também.

Mas Hallgrimr gargalhava de alegria, pois não apenas tinha à sua frente uma criação que em breve seria maior do que todos eles, de certa maneira, mas como também sabia de cada detalhe dos planos de Samael. Tolo seria o Senhor dos Mortos se desejasse que o Artífice trabalhasse às cegas em uma obra de tal magnitude.

E duplamente tolo ele seria se, ciente do problema desde o princípio, não tivesse já em suas mãos aquilo de que necessitasse. Algo presente na origem de cada um deles, a centelha que os tornava não apenas irmãos entre eles, mas sim de toda a criação: a Luz de Nor’jahal.

Segurando seu martelo com ambas as mãos, e o elevando o máximo que pôde acima da cabeça, o sorriso desaparecia do rosto de Hallgrimr, dando lugar a uma furiosa expressão de determinação inigualável, enquanto o Finerim se preparava para colocar todo o seu espírito naquele que seria o último golpe.

O Cetro resplandecia na mão esquerda de Samael, e sua Luz preenchia o coração dele e de seus irmãos. Sim, até mesmo o de Aracnel, pois a Luz de Nor’jahal não era meramente luz, e sim a centelha primordial de toda a Criação.

E essa mesma Luz agora abraçava a caótica estrela, como uma mãe que segura
uma criança em prantos, na esperança de acalmá-la. E então, com um urro que fez tremer cada montanha de Nifelheim, Hallgrimr desceu seu martelo, e uma luz sem igual cobriu o Reino dos Mortos, enquanto em Garr os humanos assistiam maravilhados as estrelas da constelação de Libra, a Balança do Senhor dos Mortos, resplandecerem como sóis noturnos.

E assim como a luz veio, ela também se foi, e, por um breve momento, parecia que havia levado a obra dos Finerim junto dela, pois onde antes se encontrava o maciço corpo celeste, se via apenas o céu de Nifelheim. Ainda assim, Samael sorria com satisfação e um leve orgulho podia ser visto nos olhos de Hallgrimr, e logo em seguida os demais também perceberam. Seus olhos se maravilhavam enquanto as cores que preenchiam o céu, a terra e a própria essência dos Finerim ali reunidos começavam uma lenta e infinita dança, entrelaçando-se, unindo-se e então se separando novamente, dando à luz à cores que nem mesmo aqueles olhos divinos haviam testemunhado ainda. Quando o Senhor dos Mortos ergueu seu Cetro e a Luz de Nor’jahal se juntou à dança, os corações dos Finerim pararam, e muitos deles souberam que jamais veriam espetáculo tão belo novamente, pois em breve sua criação estaria preenchida apenas pela essência profana de Horfael. O pesar teria os tomado, não estivessem deleitados pela beleza sem igual que agora presenciavam.

A miríade de cores que jamais veriam novamente tornava clara agora a forma de sua obra, e ainda assim as divindades não compreendiam sua natureza. Ela era e não era. Era física, espiritual, e ainda assim nenhuma das duas coisas. O que quer que haviam criado, era algo ainda único no universo em que conheciam, e apenas o próprio Nor’jahal, que tudo sabe acerca daquilo que existe e daquilo que não existe, assim como daquilo que deveria ser e daquilo que não deveria ser, dela tinha conhecimento absoluto. Dentre os Finerim, apenas Samael, em cuja morada ela havia sido construída, e Hallgrimr, que a modelara, detinham uma compreensão aproximada da verdadeira essência de sua criação, e tal conhecimento guardariam para eles. Por enquanto, ficariam apenas gratos por tal feito não poder ser repetido sem a ajuda de todos os seus irmãos.

Pela segunda vez, Horfael causava tormento ao Deus da Morte, pois se antes ele corrompera a maior dádiva de seu Pai, agora ele também mancharia a mais bela obra feita pelas mãos dos Finerim. Sua primeira, e talvez a última, em conjunto.

Mas, ainda que desejasse admirá-la por eras mais, ele sabia que havia chegado a hora de lacrar aquela divindade amaldiçoada de uma vez por todas. Quem sabe um dia ele descobrisse uma maneira de destruir Horfael permanentemente, e eles poderiam admirar sua criação novamente, mas, até lá, ela seria o preço que pagariam para remover aquela ameaça de Garr.

Samael chamou então por Kai'ckul, e uma abertura se fez na fina parede que separa os dois mundos, pois tanto os Sonhos quanto os Espíritos caminham lado a lado, e por vezes reflexos de um mundo poderiam se fazer vistos no outro. O próprio deus, sempre sereno e impassível, se fez presente junto da abertura, enquanto a cela onírica que continha seu odiado prisioneiro se aproximava lentamente em direção ao Reino Espiritual. Conforme ela atravessava os domínios, a cela se transformava em correntes de um branco fantasmagórico e sinistro, eco dos sentimentos do Deus da Morte para com o Deus Insano.

Agora, a esfera voltava a se esvaziar de sua cor, pela vontade de Samael. Ele não permitiria que nem mesmo uma mísera centelha da Luz de seu Pai fizesse companhia ao seu odiado inimigo. E se o seu ódio era grande, o que ele via nos olhos de Horfael poderia consumir em chamas sua própria existência. À cada uma das divindades ali presentes ele lançou um olhar cheio de fúria e desprezo, e então explodiu em gargalhadas, como se soubesse de algo que eles ainda não sabiam, como se aquilo fosse meramente um incômodo, pelo qual eles pagariam dez, cem, mil vezes mais caro.

Se era apenas prepotência, ou medo, os Finerim ainda não sabiam dizer. Mas, qualquer que fosse a surpresa que ele preparara, se de fato houvesse alguma, ela seria caçada e aniquilada com força total, pelo menos por parte do Deus da Morte. Tão logo aprisionasse a divindade insana, seria a vez de seus seguidores prestarem contas, no Reino dos Mortos. E, para eles, não haveria brandura na justiça de Samael.

Impassíveis, os deuses assistiam enquanto as correntes arrastavam Horfael para dentro de sua eterna prisão, em meio a gargalhadas histéricas. E, uma vez mais, o coração de todos se contorceu, pois a maravilha de antes dera lugar a um redemoinho de caos e malícia, a vermelhidão insana pulsando como o coração de uma besta saída das profundezas do Abismo.

Havia apenas mais um passo sobrando: colocar a prisão nos céus de Garr, onde ela estaria para todo o sempre sob o olhar de todos os Finerim. Era um ponto sem retorno, onde nenhum deles tinha autoridade absoluta, e portanto jamais teriam poder sobre sua criação novamente. Lá ela permaneceria, imutável, até que Nor’jahall ou um poder maior que o de todos eles decidisse pelo contrário.

E assim, após as luas gêmeas de Garr cruzarem seus caminhos em meio à noite
repleta de estrelas, uma corona de vemelhidão doentia iluminou seus contornos conforme se afastavam, como cortinas que se abriam para o despontar de sua pequena e maliciosa irmã bastarda.

Nascia, naquele momento, o símbolo de terror que viria a assombrar os céus de Garr por gerações e eras ainda incontáveis, tanto nos pesadelos mortais quanto nas preocupações dos imortais que sobre eles governavam: a Lua Vermelha, o Olho de Horfael.

Aprisionado ele estaria para todo o sempre, mas jamais esquecido.
 
Última edição:
Zyon observava o trabalho de seus irmãos com excitação e entusiasmo. Sabia que a criação da Lua seria um marco a ser lembrado, tanto pelos seres de Garr quanto pelos Finerim, como o primeiro esforço conjunto.

Mais do que isso, o deus da guerra sabia que isso acarretaria mais aventuras, o que há muito ansiava, já que se fosse por ele, a prisão não seria necessário, pois que pena melhor para Horfael do que a espada de Zyon perfurando seu peito?

Mas não havia tempo para ponderar sobre as aventuras, ou quão desafiante seria enfrentar Horfael, pois naquele momento, toda a concentração estava na nova criação, e assim se fez necessário. Era de fato uma criação incrível, não só pelo fato de conter os poderes de todos os Finerim, mas havia algo mais. Ela emitia uma sensação extremamente nostálgica para Zyon, como se naquele momento, outro de seus irmãos estivesse sendo criado.

E a energia emitida por ela era magnífica. O Finerim a sentia pulsando por todo seu corpo. Até seu Fanwë sentia o poder da nova criação, pulsando em energia e emitindo um único e longo piado.

E então Horfael entrou. Zyon se controlou como nunca antes para não sumonar sua espada e partir ao encontro do Deus Insano. Era uma lástima algo tão belo e imponente ser corrompido com o poder de Horfael. Mas o Finerim sabia que este era o propósito da prisão e que, se perdesse o controle e atacasse seu irmão, receberia a desaprovação dos ali presentes.

E, assim que Horfael foi lacrado dentro da lua-prisão, tudo se acabou. O silêncio era perceptível quando uma luminescência avermelhada começou a aparecer sobre a superfície da lua, mas o principal objetivo estava alcançado. Horfael estava preso.

Zyon sabia que alguns de seus irmãos ainda emprestariam seus poderes para assegurar a permanência de Horfael na prisão, mas sua parte já estava feita, assim como a de Samael. Portanto, aproximou-se do irmão e disse:

- Samael, meu irmão, o que nós fizemos hoje será glorificado por toda a história como o dia em que Horfael, o feiticeiro louco, foi aprisionado por seus irmãos. Não só isso foi obtido hoje, mas também um novo tipo de criação foi adicionada à Garr. Porém, possúo ainda assuntos a tratar, e já me vou. Mas antes, gostaria de discutir sobre algumas de minhas criações. Como já sabe, meus Fanwës tiveram suas primeiras crias, menos majestosas que minhas criações primárias, como essa que está presente – e Zyon aponta para o gigante pássaro dourado que ajeitava suas penas, enquanto fagulhas elétricas se soltavam dos lugares em que seu bico encostava – mas pretendo atribuir a elas, com o auxílio de sua progenitora, a criação das tempestades em Garr. Porém, como este é seu domínio, realmente não faço idéia quanto tempo elas viverão, já que não serão eternas como os primogênitos. Por isso venho aqui lhe perguntar, meu irmão, será possível que tenham uma vida longa, comparada com os outros seres de Garr, para se incumbirem da função a elas destinadas?
 
Aracnel tinha dado sua conrribuição para a prisão, porém não foi a contribuição que todos prentendiam, mas ninguém ali percebeu, todos estavam entertidos demais fazendo suas determinadas funções para observar o que os demais faziam de modo detalhado e perceber algo tão sutil, Aracnel não usou todo seu poder, sequer usou um quarto dele com suas teias negras envolvendo a prisão e reforçando-á, como havia acertado com Horfael como faria, estava ali no momento que Aracnel usou de seus poderes o ponto fraco da prisão que Horfael com o tempo poderiam rompê-lo e escapar de onde foi aprisionado, ninguém sabia mas Horfael se libertaria antes do imaginado por todos, a falha nas habilidades de Aracnel impostas na prisão serve como uma peça importante de uma construção, se uma delas falha todas as demais também falhariam e tudo estaria perdido e essa era intenção de Aracnel e foi feita O escorpião-aranha gigante sorriu ao final da obra prima, para todos aparentava que era um sorriso de alegria por aprisionar Horfael, mas não, era um sorriso de deboche de seus irmão e assim que tudo ficou pronto ele dirigiu-se aos demais Finerim e falou:


-Finalmente aprisionamos a loucura de Horfael, usei muito de meu poder para garantir que a prisão tivesse a maior resitência possivel para deter Horfael e estou consideravelmente exausto meus irmão, preciso voltar a meu lar e descansar para continuar com minhas responsabilidades...


Dito isso Aracnel desapareceu como sempre faz, derretendo-se com uma sombra e desaparecendo de volta a seu castelo nas profundezas.
 
Crinous observava a todo o espetáculo, com apenas o mais leve toque de interesse em suas feições. Sua aparência externa raramente tinha muito a ver com oque sentia por dentro, oque, somado a uma quase incapacidade de sentir emoções fortes (exceto, muito ocasionalmente, ira, prazer ou tristeza) garantia que ele(a) não demonstrasse muita reação a coisa alguma. Mas nesse momento, estava de fato surpreso(a) com a criação que estava em curso. Seus irmãos estiveram ocupados todo esse tempo, aparentemente.
A Chama Gélida pensou por um minuto, oque pode significar tanto dias quanto uma fração de segundo para os outros seres, que estão fixados num ponto do tempo. Ele não sabia se seria uma boa idéia aprisionar Horfael. Seus objetivos nunca foram exatamente constantes, tampouco semelhantes aos de seus irmãos. Provavelmente seria bom contribuir para a segurança daquela prisão, e depois pensar a respeito. Se desejasse que o prisioneiro fugisse, poderia simplesmente não fazer sua proteção, afinal, antes ou depois não querem dizer muita coisa para ele(a).
O homem foi puxado para o cárcere pelas correntes, e ele(a) pôde ver o riso ecoando dele. Louco. Só podia ser. Tudo pareceu estar mais devagar, até que o movimento fosse quase imperceptível. E a foma pequena, magra e andrógina se ergueu no ar com suas asas gélidas, a túnica desfeita mais uma vez. Seria precisa canalizar uma boa parcela de poder de seu corpo principal para esse avatar, e isso poderia demorar mais do que o tempo que faltava para a prisão ser lacrada, oque seria um problema sério se o fluxo do tempo não fosse manipulável. Mas ele era.
A própria realidade pareceu se distorcer ao redor do pequeno humanóide, enquanto uma quantidade massiva de poder era transferido para ele, e o Cristal no Palácio vibrou com uma intensidade desconcertante, no esforço de ejetar tal poder a tal distância. A esfera de distorção atingiu um tamanho equivalente a uma pequena casa, antes de parar de crescer, e começou a se contorcer, todo aquele poder latente se convertendo em uma distorção no fluxo temporal. Uma distorção focada numa área, num ponto. Um foco de atemporalidade. O avatar fez um gesto, e a esfera foi arremessada para a prisão, entrando na câmara que viria a conter Horfael, e uma vez lá, explodiu. Toda a câmara se cobriu de uma cristal azul profundo, que cresceu em lâminas apartir das paredes, até que as extremidades se unissem no meio, tomando todo espaço. Todo aquele espaço foi removido do fluxo do tempo. Uma área enorme no espaço, com a capacidade de se deslocar com a prisão, mantida a 0 absoluto e sem qualquer passagem de tempo, na verdade, removida completamente do tempo real. Céculos ou segundos, não faria diferença, lá tudo seria o mesmo. Sem qualquer energia ou movimento, era oque o frio absoluto determinava. Sem qualquer progressão, regressão, ou ligação com o nosso tempo, era oque a estase temporal ditava.
Uma vez que a sala se criou, o tempo acelerou denovo, e as corrente continuaram a puxar Horfael. Os cristais que enchiam a sala se retraíram, abrindo espaço para que ele entrasse, e depois se fecharam, deixando apenas o espaço mínimo que ele precisa ocupar. Crinous abaixou os braços e planou lentamente até o chão. Sua asas se fecharam na túnica leve e ele(a) se sentou, exausto(a) do esforço de guiar tanto poder com um avatar. Seu corpo principal precisaria de pouco descanso, mas o avatar não poderia fazer muito mais coisa antes de repousar. Perguntas deveriam ficar para outra hora, mas esclarecimentos se faziam necessários quanto à sua parte.
-Minha parte está feita. Energia alguma pode existir naquele espaço sem calor que eu criei, e ele foi removido completamente do fluxo temporal. O tempo lá simplesmente não passa. Devo avisar, porém, que não sei a extensão do poder do prisioneiro. Se o poder dele for muito próximo do meu ou superior, a estase não vai funcionar perfeitamente. A própria existência dos Finerim distorce o modo como o tempo corre, e o força a progredir, como se o poder que temos exigisse da existência uma evolução, e portanto eu não posso manter o tempo parado para um Finerim que possuir um poder próximo ao meu, apenas deixa-lo absurdamente lento. Eu não sou o próprio, tempo, apenas seu guia , e portanto não posso mudar suas regras. Apenas a Nor'jahall pertence tal autoridade. Mas a ausência de calor deve reduzir ao mínimo qualquer energia que corra pelo seu corpo, dificultando qualquer ação, e a lentidão será o bastante para que precisemos de dias no mundo de fora para que qualquer diferença se faça dentro da câmara, a não ser que ele se prove mais forte que eu possa imaginar. Se nada mais, isso ainda torará impossível ou impraticável a fuga, quando somado à resistência eu espero que tenham conferido ao cárcere. Agora preciso descansar. Esse esforço foi demasiado para um avatar, mesmo esse corpo tendo sido apenas um condutor. Me encontrem em meu palácio se quiserem tratar de algo, tenho certeza que conseguem encontrá-lo.
Dito isso, o avatar ficou imóvel, e pareceu estar congelando, tornando-se uma escultura de cristal, e tornando-se cada vez mais translúcido, até de desfazer no ar, retornando sua essência para o Espelho de onde saíra.
 
Samael ouviu as preocupações de seus irmãos, assim como sentiu as intenções de Aracnel, por meio de seus atos. O Deus da Escuridão teria enganado qualquer um deles se estivessem em algum local neutro, mas ali era Nifelheim, a morada do Senhor dos Mortos, e apenas Nor'jahal detinha poder para ludibriar os sentidos de um Finerim dentro de seu Domínio.

Não que ele se importasse, afinal, quaisquer que fossem seus planos, a natureza daquela prisão era singular, e um pouco a menos de poder de uma divindade não faria diferença alguma diante da combinação de todos os outros, e da própria Luz de Nor'jahal. Se havia qualquer ponto fraco naquele cárcere, apenas seu Pai o conhecia, e somente o tempo diria se Horfael conseguiria ou não escapar.

Virando-se para seus irmãos, ele lhes responde:

"Zyon, meu irmão, ainda que seja de fato um dia glorioso, também é um dia triste, pois por mais que meu coração transborde indignação diante das afrontas de Horfael, ele também lamenta que nossa primeira obra em conjunto tenha como finalidade aprisionar um de nossos irmãos, ainda que de outra estirpe. Mas deixemos este assunto de lado, pois temos coisas mais importantes para tratar."

"Quanto ao seu pedido, meu irmão, não me importo em realizá-lo. Apenas gostaria de saber se dispõe de tempo para vir até meu palácio e tratar da questão em detalhes, uma vez que também precisamos cuidar dos ovos que Tulyas nos concedeu."

"Crinous, não há o que temer. O poder de todos nós é equivalente, e a prisão que construímos contém a força de vários entre os Finerim, além da própria Luz de nosso Pai. Se há possibilidade de uma fuga, ela irá requerir poderes maiores do que os nossos. De qualquer maneira, apenas o tempo nos dará uma resposta correta."
 
Handriel estava entra os primeiros Finerim despertos. Ele assistiu a criação dos mortais de Gärr e se encantou por estes. O desejo de evolução e sobrevivência deles deixava Handriel maravilhado, e tal senso de sobrevivência levou os mortais ao desejo pelo conhecimento. Quando percebeu isso o Finerim exerceu a escolha dada por Nor'jahal e definiu seu domínio; ele se tornava a divindade das ciências e passava indiretamente ajudar os humanos ensinando as bases do conhecimento que levaram Gärr a glória.

E foi nessa glória que nasceu um humano intrigante aos olhos de Handriel, para esse humano o conhecimento não era apenas um modo de evolução mas dava a ele um desejo estranho, uma ganância nascia dentro daquele humano e Handriel desejava saber aonde isso levaria. O humano eventualmente se tornou mago através do estudo da ciência arcana, seu conhecimento e poder cresciam a cada ritual que era feito. Em pouco tempo o mago começou a ter discípulos que acabavam por se oferecer a ajudar aquele mago nos seus desejos. A cada dia aquela aura que atraia Handriel a esse homem se tornava mais forte, contudo o Finerim nunca conseugiu perceber os reais desejos do mago.

Quando o Mago atingia sua velhice ele finalmente tinha reunido os materiais para o maior de todos os rituais; o sangue de um dragão, o dedo do filho de um Deus, a cabeça do filho de um Rei, treze fogueiras gigantescas acesas, um caldeirão mágico de grande poder, e dúzias de outros itens aparentemente menos importantes, mas sem os quais o rito falharia. Handriel observou os atos daquele que se auto denominou "O Sangrento" enquanto ele fazia um ritual desconhecido a Handriel, possivelmente de própria autoria do Mago. Quando os mantras, feitos e sacrifícios cessaram Handriel podia perceber claramente o que tinha acontecido. O plano do Sangrento, o desejo que intrigava Handriel havia se concretizado. O Finerim olhava atônito enquanto os ajudantes do Sangrento se matavam ou fugiam, e os que restavam eram tomados pela loucura. Tudo como efeito da chegada de uma nova divindade a Gärr!

O Sangrento tentou lutar contra aquele que tinha vindo. O Desejo final do Sangrento, de se tornar uma divindade, havia falhado. A parte final de seu plano, a de tomar posse do poder da divindade que apareceria em sua frente falhou e o humano em vão tentava lutar contra algo infinitamente superior a ele. Foi quando Handriel enviou mensageiros aos Finerins, avisando do intruso e comunicando que iria entrar em combate com ele até que seus irmão chegassem para ajudar a defender Gärr, contudo os mensageiros nunca chegaram, a luta nunca se iniciou e Handriel nunca teve a chance de destruir aquilo que o conhecimento aliado a ganância trouxe a Gärr.

A divindade insana ascendeu aos céus e iniciou uma magia extremamente poderosa, Handriel podia reconhecer isso e não teve outra opção senão usar todo o seu poder para se defender de qualquer ataque que viria disso, quando a magia foi lançada ela abalou as fundações de Gärr e transportou o mundo de volta ao seu início, antes do despertar de Handriel. Ele percebia que agora não existia mais ninguém que pudesse combatê-lo sem ser uma luta interminável, tampouco existiria motivo para seus irmão se aliarem a ele quando despertasse, o Deus insano havia triumfado em seu intento e agora fazia parte de Gärr, deturpando tudo o que de belo e maravilhoso tinha existido em Gärr.

Handriel se viu forçado a fugir, não por medo de ser morto mas porque se aproximava o tempo em que ele despertaria, e a existência de dois do mesmo ser em um único mundo podia trazer complicações maiores do que as que Horfael já havia feito, a vingança deveria ser exervida pelo novo Handriel, aquele que despertaria nesse novo mundo. Ele deveria odiar essa divindade assim como o antigo odiava, ele deveria dedicar sua existência ao conhecimento, as ciências, e a impedir que o Deus extrangeiro tivesse qualquer sucesso. Handriel localizou onde seu corpo repousava no sono preparatório que Nor'jahal concedeu sobre os Finerim, e colocando a mão sobre sua fronte ele transferiu o conhecimento e memórias que tinha sobre o mundo antigo, o nascimento e vida do Sangrento e a existência do Deus insano. O corpo do novo Finerim mal suportou tal técnica em um estágio tão imaturo de sua pré-existência, deixando marcas de briga e ferimentos pelo seu corpo, que precisariam ser curados antes de terminar a maturação desse Finerim. Tendo terminado sua obra e garantido a perpetuação de seu desejo, o velho Handriel lançou-se para fora de Gärr e foi buscar morada em outro local, onde a mera presença dele não era nociva ao mundo.

Enquanto isso, em Gärr, os demais Finerim desperavam, descobriram sozinhos as intenções vis de Horfael e o aprisionaram em uma Lua, foi só então que Handriel despertou, alheio a tudo isso. Ao contrário de seu anterior ele contemplou as memórias que carregava consigo e escolheu seu domínio instantes depois de ter despertado. Ele não mais seria apenas a divindade das ciências, mas tamvém dos votos, pois havia definido em seu âmago que apenas os que desejam se comprometer a ajudar os outros eram dignos dos conhecimentos da ciência.

E tendo feito sua escolha, ele viaja por sobre Gärr, para ver o quanto diferente ela estava, e em seguida vai em direção ao poder de seus irmãos, esperando que eles não tivessem sido afetados pelo poder do Deus invasor.
 
Após escutar seu irmão, Zyon se pronuncia:

- De fato, Samael, de fato. Creio que visitar seu palácio seja o mais prudente a se fazer, já que lá poderemos discutir melhor tais assuntos, além de já estar em seus domínios. Lá também veremos o que fazer com os ovos, já que, com a prisão acabada, estes requerem atenção imediata.

E, dizendo isso, Zyon vira para o Fanwë e, com uma única ordem, o animal alça vôo, retornando aos palácios de Zyon desta vez não acompanhado do Finerim, que espera ser transportado à morada de seu irmão.
 

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