"....."
"...Tic..."
"....."
"...Tac..."
"....."
Branco...
Azul...
Frio...
Nada...
Eternamente...
Até...agora
"...Tic..."
Naquela terra, não se sabe onde, não se sabe quando. Aquela terra fria parada. Campos e mais campos de gelo e neve interminável. Velhos como a terra, mas novos como o mais recente broto da primavera. Atemporais. Eternos. Um vasto oceano gélido, pontilhado por morros de neve e formações rochosas. Rochosas em termos, pois não se poderia dizer se eram rochas ou gelo.
Frio mortal e absoluto, sem a menor fagulha de calor, sem o menor vestigio de mobilidade. Frio e imobilidade que poderiam tornar um vulcão em cristais de gelo, e um relâmpago em uma pintura. Mas não haviam vulcões. Tampouco relâmpagos.
Tudo completamente congelado e imóvel, plano e frio por quilômetros e quilômetros. E todos esses quilômetros cortados apenas por fio. Um fino fio, se comparado às extensões planas, mas largo se comparado animais, pessoas, árvores ou casas. Animais? Pessoas? ÁRVORES? Conceitos sem valor e quase sem significado nessa terra de nunca. De volta ao fio, tão largo quanto um lago em seu ponto mais estreito. Chegando a duas milhas e meia de largura no meio da Planície Branca. Esse era Àgwën, O Rio que Jamais Correu. Descendo com suas águas perfeitamente imóveis ate não-desaguar nas galerias subterraneas de DunDuná, que ocupam extensões desconhecidas debaixo daquela terra, dando às água do rio imóvel um destino desconhecido a todos exceto Àquele que Dorme.
As águas congeladas em seu estado líquido do Àgwën vinham então da Fonte Que Não Jorra. Uma abertura entre pedras na parte nordeste dos Domínios Imóveis. Parte essa que era então a parcela norte das Montanhas Sem Nome. Essas monanhas percorriam o leste dos Dominios de Norte a Sul, não como uma muralha, pois não era tão fina. Montanhas enormes, brancas como nuvens e azuis como o céu, muitas vezes quatro delas lado a lado, desenhavam e formavam essa cadeia de montanhas, que nunca chegou a receber um nome, pois não era devido que tivessem.
Na base dessas Montanhas Inominadas, poucos quilômetros ao Sul do que poderia ser considerado o meio de sua extensão, descansava a Gruta das Luzes Infinitas, a segunda mais bela e mais amada criação d'Aquela que Dorme. Essa gruta, oculta entre as formações rochosas da base da montanha onde se encontra, e protegida pelo frio e pela paisagem invariável, nunca foi vista por ser algum desde sua criação, apenas por sua própria criadora. Que belezas haveriam lá dentro, e que maravilhas teriam inspirado seu nome?
A Oeste das Planícies, há uma elevação de quinhentos metros em relação ao nivel do solo delas, que percorre aproximadamente metade da extensão norte-sul do Domínio, começando a quatro quintos de sua extremidade norte, e descendo apartir daí. Em suas extremidades, tal elevação se conecta com a parte inferior através de uma inclinação íngreme. Mas no resto de sua extensão, ela apresenta um paredão de gelo dividindo os níveis de diferentes alturas. Um paredão de gelo tão polido e tão claro, que reflete com perfeição absurda qualquer coisa à sua frente, como o melhor dos espelhos. Daí seu nome, a Muralha de Espelhos.
Descendo, nas terras ao sul dos Domínios Estáticos, descansa solitaria a Torre de Vidro. Uma peça única, brilhante e translúcida de gelo, enterrada ninguém sabe o quanto no solo, que se erque setecentos metros acima do chão, com cem metros de diâmetro. Refletindo e refratando toda a luz do ambiente, por mais fraca que fosse, tornando-se resplandescente e quase transparente, como se feita de energia, ou vidro. Esse obelisco perfeitamente liso guarda a única não-entrada para os Domínios, sob o olhar observador de algum guardião não revelado em seu interior. A bela Torre de Vidro é a terceira favorita e terceira mais bela criação d'Aquele que Não se Move.
Ao norte, protegido e apoiado em sua face Boreal por uma cadeia de montanhas conhecidas por ninguém como as Montanhas sem Sombra, está o Palácio das Sombras Estáticas. Uma Obra prima de escultura, maior que a maior fortaleza construida por mãos humanas, no passado, presente ou futuro, feita apartir e um único bloco colossal de gelo, mais resistente que qualquer metal que possa ser extraído da terra, brilhante, linda, repleta de suas curvas complexas e angulosas, com construções e decorações em forma de projeções cristalinas e lâminas. Suas alas internas replenas de desenhos e escritos intricados em baixo relevo, esculturas e mosaicos feitos com peças únicas ou milhares de mínimos fragmentos de gemas e cristais de todos os tipos conhecidos, e de mais muitos desconhecidos.
Nos fundos do Palácio, guarnecido pelas muralhas fortificadas e pelos paredões das Montanhas sem Sombra, jás um amplo pátio, com mais que alguns quilômetros de extensão. E nesse pátio, o Jardim das Rosas Gélidas. A mais bela e amada criação da Que Não se Move. Um jardim espaçoso, repleto de flores com desde o tamanho de um elefante até o da cabeça de um alfinete, todas esculpidas com uma maestria absurda, em muitos formatos, podendo ser idênticas a uma flor real, ou distorcidas e dobradas, ou formadas por diversos cristais pontudos e lâminas curvas para formar as pétalas. E no centro do jardim, eternamente aberta e eternamente fria, a Rosa Congelada. A mais perfeita, admirável e deslumbrante peça única criada pela Deusa Estática. Uma rosa bela, brilhante, resplandescente e fria, congelada enquanto desabrochava, no perfeito instante mais adorável. A peça de maior orgulho dentro da criação de maior amor dO Imóvel.
E no centro do Palácio, uma sala. A Sala das Eras, como é chamada por ninguém.
E no centro da Sala, um Relógio, com desoito metros de raio, desenhado em baixo relevo no chão, dividido em sete mil áreas, cada uma dividida em treze faixas, cada dividida em vinte e oito pedaços, cada um dividido em quarenta e oito partes, cada uma dividida em trinta seções, cada uma com sessenta fragmentos ainda divididos em mil cada. Esse era o Relógio Primordial, e ele possuia um círculo em seu centro.
E no círculo, havia um pedestal.
E no pedestal, um pilar de Lapiz Lazuli de um metro e meio de altura.
E no topo do pedestal, flutuando a um pé da superficie cristalina, havia a Gema mais perfeita jamais criada. Imóvel, absolutamente fria, A Chama Congelada.
"...Tac..."
Um tênue brilho pareceu surgir na primeira e mais ínfima parte do Relógio.
"...Tic..."
Um flash e um choque de percepção.
"......Tac"
E um despertar atroz, súbito. Uma onda de percepção mental sentida através do Domínio Imóvel, e além dele, e em todos os locais naquele ponto do tempo.
E um pequena Chama Azul Bruxuleante brotou no Relogio, e começou a se mover. Primeiro lentamente, quase imperceptível, e acelerando mais e mais, até que se sua velocidade se estabilizou, e os segundos retornaram àquele fragmento de terra.
E oque não era chamado, foi chamado. E oque não corria, correu. E oque não desaguava, desaguou. E o movimento retornou às terras Imóveis. E O Rio que Nunca Correu, se chamou O Rio que Não Corria. E a Fonte que Não Jorra se tornou a Fonte que Não Jorrava. E Os Domínios Imóveis voltaram a ser móveis, e a existir no tempo. E mais uma vez puderam ser encontrados. E voltaram às mentes dos velhos bastante para se lembrarem deles.
Aquele cárcere sendo construido despertara a Chama Congelada. E ela mais uma vez chamava-se Crinous.E mais uma vez ela voltava ao movimento. E ela via o movimento feio do mundo mais uma vez. E ele a desagradava. E ela queria saber oque havia acontecido, e que construção era essa que podia haver a despertado. E ele estava furioso.
...........
Tic