Rebeca celebra vitória; bons resultados do Brasil são acompanhados de vinheta famosa na GloboImagem: Xinhua/Cao Can
O mundo dos esportes olímpicos têm duas superpotências: Estados Unidos e China. E um grupo de potências, países que ganham algo entre 27-30 e 60-65 medalhas no total e ocupam quase sempre o top 10 do Quadro: Grã-Bretanha, França, Alemanha, Itália, Austrália, Japão, Coreia do Sul, além da Rússia, atualmente banida. E aí vem um terceiro escalão, e é nele que o Brasil se encontra.
Sobre o topo, a China substituiu a Rússia de forma definitiva a partir dos Jogos de Pequim-2008. Cuba foi quem deixou de ser potência. A Holanda é o país que está saltando do terceiro para o segundo escalão e não é absurdo já considerá-la por ali. A Alemanha está caindo, a França deu um salto enorme em casa e talvez tenha se beneficiado mais do que outros da ausência da Rússia.
No terceiro grupo, junto com o Brasil, a turma que ganha entre 15 e 20 e poucas medalhas, estão Canadá, Hungria, Espanha, temos a nítida entrada da pequena Nova Zelândia (20 medalhas pela segunda vez seguida), e a Ucrânia sempre esteve ali, mas é lógico que a guerra terá um preço esportivo. Países como Polônia, Suécia, Dinamarca, Turquia, Suíça e, agora, Cuba, constantemente ficam atrás do Brasil no total de medalhas.
Se olharmos para esta fotografia, podemos nos perguntar: dá mesmo para esperar mais do Brasil? Não é normal que nosso lugar no universo do esporte seja fora do top 10, em algum lugar do escalão que vai do 11o ao 20o lugar? Me parece mais do que normal. Acho até bom demais, considerando a monocultura que vivemos. O dia a dia pertence ao futebol, só ao futebol. Acho mais preocupante para a Espanha, por exemplo, estar neste patamar do que o Brasil.
O Brasil não estava sequer no terceiro escalão até o salto dado em Atlanta-96. De Barcelona a Atlanta, o pulo foi de 3 a 15 medalhas. O que explica? Possivelmente, como sempre, uma mistura de coisas. O Plano Real estabilizou nossa economia, o país cresceu com governos democráticos, apesar de nenhum deles ter colocado o esporte no topo das prioridades, o COB passou a ter gestão mais próxima do profissional e isso impulsionou as federações que fizeram boa gestão de recursos. De 2008 para cá, tivemos, no total de medalhas: 17, 17, 19, 21 e 20.
Para dar o salto de 20 a 30 medalhas, de 3, 5 ou 7 ouros para mais de 10, não é o investimento no alto rendimento que resolverá. Para virar potência olímpica e se colocar ao lado de nações bem mais ricas e com sociedades organizadas e consolidadas (todas as que citei no primeiro parágrafo), o investimento em alto rendimento precisa estar de mãos dadas com o investimento na base. E investir na base significa colocar o esporte no centro do sistema educacional do país e ampliar o investimento em educação.
Vejam bem. Não é por causa do Quadro de Medalhas que precisamos ter investimento em educação. É para ter um país melhor, mais decente, mais inclusivo, pujante, moderno. Se isso acontecesse, seria ótimo. E, se a educação desse as mãos ao esporte, melhor ainda. No meu ponto de vista, isso é pura utopia. Um sonho. Então devemos manter os pés no chão e entender que nossa realidade é mesmo o terceiro escalão. Que é, diga-se, nossa realidade no mundo, não só esportivo.
Se olharmos para o desempenho de países como México, África do Sul, Índia, a própria Argentina e países menores da Europa, estamos bem à frente. Não é se conformar com pouco. É, repito, entender nossa realidade como país.
Vamos imaginar, por exemplo, que Medina, algum boxeador e mais alguém tivessem sido ouro e acabássemos com seis em Paris. E aí, estaria tudo maravilhoso? Oras, a realidade seria a mesma do Quadro com o qual terminamos. Os três ouros e a classificação final no Quadro não são um grande problema. As 20 medalhas são o que importam para medir o desempenho do Brasil, além, claro, da quantidade de atletas em finais, de gente que competiu em condições de chegar no alto e não só para fazer número. E é um desempenho estável, como já demonstrei.
Gosto também da distribuição de medalhas por 10 modalidades. Rebeca Andrade puxou a fila, mas não somos um país dependente de só um ou outro esporte, um ou outro atleta. Todos os países têm algum “segredo” na hora de somar medalhas. Vejam os Estados Unidos, a maior potência do planeta. Das 126 medalhas conquistadas, 62 delas (a metade) vieram exclusivamente do atletismo e da natação. Juntas, as duas modalidades que mais dão medalhas nos Jogos foram responsáveis por 22 dos 40 ouros americanos. A China domina totalmente saltos ornamentais, tiro e tênis de mesa. O Japão ganhou 11 dos 20 outros entre luta e judô.
Para romper o top 10 na marra, o Brasil poderia apostar em alguma fabriquinha de medalhas. Mas e aí? Isso nos faria melhores como país? No meu ponto de vista, seria um erro crasso fazer isso só para melhorar no ranking. Outra coisa é escolher algumas modalidades e colocá-las no centro de políticas públicas e, repito, educacionais.
Não gosto do discurso de que o Brasil fracassou em Paris ou está caindo, que somos isso ou aquilo. Somos o que somos. Um país grande, populoso, de renda mal distribuída, IDH sofrível, mas que tem dinheiro suficiente para se colocar no grupo logo abaixo das potências olímpicas. Não está mal. Poderíamos ser o Canadá ou a Austrália, que têm desempenho muito superior, principalmente considerando o tamanho das populações? Poderíamos. Seria ótimo, não? Ser um Canadá ou uma Austrália…
O mundo dos esportes olímpicos tem duas superpotências: Estados Unidos e China. E um grupo de potências, países que ganham algo entre 27-30 e 60-65 medalhas no total e ocupam quase sempre o top 10 do Quadro: Grã-Bretanha, França, Alemanha, Itália, Aust
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