O motivo de postar esse trecho foi mais esclarecer que, para falarmos em raças, é essencial que haja uma diferença genética significativa entre membros de uma mesma espécie, algo que o Esgaroth estava ignorando sumariamente em seus posts.
Concordo plenamente que a definição do quanto de diferença estamos falando é essencial para que essa definição faça sentido, mas também não sei como determinar essa quantidade de forma mais precisa. Me parece razoável que a razão entre a variabilidade genética/variabilidade total citada no artigo da wikipedia-pt varie de espécie para espécie, já que o tamanho do código genético e a associação dos genes com os fenótipos deve variar bastante quando analisamos espécies distintas. Mas estou apenas conjecturando, não sou da área e posso estar falando besteira.
Achei
um artigo interessante sobre a questão das raças humanas, especificamente. Eu acabei me perdendo nos termos técnicos que eles usam, vou transcrever a conclusão apenas (quem se interessar pode ler o artigo e traduzir um pouco do biologiquês que tem lá
):
"Conclusão: inexistência de raças do ponto de vista biológico
Como vimos acima, três linhas separadas de pesquisa molecular fornecem evidências científicas sobre a inexistência de raças humanas. A primeira é a observação de que a espécie humana é muito jovem e seus padrões migratórios demasiadamente amplos para permitir uma diferenciação e conseqüentemente separação em diferentes grupos biológicos que pudessem ser chamados de “raças”. A segunda é o fato de que as chamadas “raças” compartilham a vasta maioria das suas variantes genéticas. A terceira é a constatação de que apenas 5- 10% da variação genômica humana ocorre entre as “raças” putativas. As evidências levam à conclusão de que raças humanas não existem do ponto de vista genético ou biológico."
** Posts duplicados combinados **
Outro trecho extremamente interessante do artigo:
"Assim como no caso de marcadores genéticos moleculares, é também possível fazer a partição da variabilidade humana usando características morfológicas mé- tricas. Por exemplo, Relethford (1994) mostrou que apenas 11-14% da diversidade craniométrica humana ocorre entre diferentes regiões geográficas e que 86-89% ocorrem entre indivíduos de uma mesma região. Quando esse mesmo autor fez a partição da variabilidade global da cor da pele, porém, ele observou um quadro diferente: 88% da variação ocorria entre regiões geográficas e apenas 12% dentro das regiões geográficas (Relethford, 2002)! A explicação é que a cor da pele é uma característica genética especial, porque é muito sujeita à seleção natural. Dois fatores seletivos contribuem para adaptar a cor da pele aos níveis de radiação ultravioleta (UV): a destruição do ácido fólico, quando a radiação ultravioleta é excessiva, e a deficiência da vitamina D3 (raquitismo), quando a radiação é insuficiente para a síntese na pele (Jablonski & Chaplin, 2000; 2002). Inúmeros estudos mostram que há uma significativa correspondência geográfica entre os níveis de UV e o grau de pigmentação da pele das várias populações humanas.
A cor da pele é determinada pela quantidade do pigmento melanina na derme, que é controlada por apenas quatro a seis genes, dos quais o mais importante parece ser o gene do receptor do hormônio melanotró- pico (Sturm et al., 1998; Rees, 2003). Esse pequeno número de genes é insignificante no universo dos cerca de 25.000 genes que existem no genoma humano.
Da mesma maneira que a cor da pele, algumas outras características físicas externas, como o formato da face, a grossura dos lábios e a cor e a textura do cabelo, são traços literalmente “superficiais”. Embora não conheçamos os fatores geográficos locais responsáveis pela seleção dessas características, é razoável inferir que, assim como a pigmentação da pele, tais caracteres morfológicos também espelhem adaptações ao clima e outras variáveis ambientais de diferentes partes da Terra. Assim como a cor da pele, as características morfológicas humanas dependem da expressão de um nú- mero pequeno de genes e refletem a variação em apenas alguns milhares entre os bilhões de nucleotídeos no genoma humano.
Em resumo, as diferenças icônicas de “raças” correlacionam-se bem com o continente de origem (já que são selecionadas), mas não refletem variações genômicas generalizadas entre os grupos."
Ou seja, a cor da pele, que costuma ser uma das características mais usadas para separar seres humanos em diferentes raças é determinada por algo entre 4 e 6 genes, dentre 25 000 (vinte e cinco mil!) genes que compõem o genoma humano. Ou, simplificando mais ainda, todas essas características que a gente usa pra separar ou rotular humanos em diferentes raças não se traduzem em nenhuma variabilidade genética.
Biologicamente falando, a máxima 'Somos todos iguais' faz um sentido danado.