Compreendo o argumento, mas discordo totalmente. A seguir-se esse raciocínio, como é que depois se diferenciam, dentro da obra, as várias línguas? Quando Tolkien opta por 'traduzir' ou 'adaptar' alguns nomes daquilo que seria o Common Speech para o Inglês (Rivendell, por exemplo) mas deixa outros nomes (ou poemas inteiros) nas línguas 'originais' (Quenya ou Sindarin), o que é que o tradutor faz? Passa o Inglês para Português, o Sindarin para Galaico-Português e o Quenya para Latim?
Claro que os livros devem ser traduzidos, não faz sentido nenhum privar as pessoas de tudo o que está escrito em todas as línguas que as pessoas não dominam. No caso concreto das obras de Tolkien, não faço ideia da qualidade das traduções para Português porque felizmente nunca experimentei nenhuma (nem de Portugal nem do Brasil). Mas uma boa tradução é também uma forma de nos pôr em contacto com a língua do autor, e não só com a sua obra. No caso concreto de Tolkien, custa-me a crer que haja muitos tradutores habilitados a fazer bem aquilo que dizes, que seria recriar o mesmo 'feeling' do original para outra língua (neste caso, o Português).
O facto de Bag End ter passado a Bolsão prova o meu ponto: supondo que Bolsão é Português (duvido, mas vou aceitar que sim) não é certamente o mesmo nível de Português que equivale a Bag End em Inglês. Bag End é Inglês normalíssimo, Bolsão será (quanto muito) um regionalismo. Para mim, e creio que para qualquer português, lembra mais um bebé que passa a vida a devolver ao mundo os alimentos que lhe dão (não sei se no Brasil também se usa, mas aqui quando um bebé regurgita o leite que acabou de mamar diz-se que bolsou).
Seja como for, tudo indica que o mais importante da obra de Tolkien resistiu às malfeitorias dos coitados dos tradutores (não lhes gabo a sorte!). Se não fosse assim, não estaríamos aqui a partilhar o nosso afecto por Arda e pela Middle-earth (Terra-média? Terra Média?) com o Atlântico inteiro pelo meio, certo?
Saravá e namarië, pessoal!