Concordo com você, Roy. Mas discordo do ponto de Frodo ser "escravo" do Ane. O próprio Gollum usou o Anel por 500 anos, e apesar de desejá-lo intensamente, ele não era de todo seu escravo. As maiores provas disso são que ele não contou a Sauron tudo o que sabia, Sauron que era por direito dono do Anel e senhor de seu poder; e que ele ajudou Frodo de boa vontade no início.
Um dos pontos que diferencia SdA da maioria de outras obras é a ênfase no livre-arbítrio. Frodo optou por tomar o Anel para si, e o que causou esse fato não foi a vontade de Sauron, mas o desejo de Frodo de usar os poderes contidos no Anel (não importando as intenções que ele tivesse, ele optou por tentar controlar a jóia de Sauron). Da mesma maneira que ele optou por ser o Portador do Anel no conselho de Elrond, e optou por oferecer o Anel a Galadriel.
Danilo, como sempre, vc dá ampla qualidade ao debate com seus ótimos argumentos! Eu não os anulo nem se tivesse conhecimento acima do bem o do mal. Mas, vale ressaltar a abrangência da natureza e, ainda mais, as variáveis mesmo de alguém que conseguiu suportar o Anel quando este exerceu sobre seu portador um poder ainda mais intenso (no caso de Frodo). Uma das coisas que a gente nota é que o Anel não reage homogeneamente em todos os casos. Quando seu portador se mostra mais sábio e forte (sob qualquer aspecto) mas, no entanto, menos apto a usufruir totalmente de seus poderes (pela falta de um componente de "suscetibilidade à maldade pela índole", pelo menos inicialmente), o Anel acaba exercendo um poder ainda mais avassalador sobre ele.
Lembremos que o Anel, apesar de não ser Senhor de si mesmo e, assim, poder ter qualquer senhor capaz de dominá-lo suficientemente através de uma relação de atributos eminentes, era completamente MAU. Não vou entrar, é claro, no mérito ético e moral do uso que o portador faria do Anel, seja Frodo, seja Gollum, Bilbo ou qualquer outro que viesse a possuí-lo. Mas acho mesmo que, no caso do Anel cair em mãos mais "nobres", seria preciso exercer uma força corruptiva maior, como aconteceu no caso de Frodo, ainda que sutilmente o fato tenha ocorrido e nos tenha dado a impressão de que Frodo ainda tinha o livre-arbitrio, ele não o tinha mais como atitude viável. Não num determinado momento em que suas forças e crenças foram corroídas à exaustão!
No fim, pode ser um simples hobbit ou um grande maia como Gandalf a ter a posse do Um para si, mas mais cedo ou mais tarde, o Anel escravizaria seu portador, de diferentes maneiras, de acordo com a natureza de cada ser .No caso de Gollum, pelo modo como se deu, o Anel exerceu um domínio diferente, pois as condições eram diferentes. Passou a maior parte do tempo escondido de todos. No caso de Frodo, é nítida a falta de livre-arbítrio ( OU, PELO MENOS), da capacidade do livre-arbítrio mudar o que iria acontecer no fim. Em outros casos, notamos que o Anel é capaz de dobrar seu portador facilmente e sem demora ( Sméagol, pelo seu espírito fraco!). Trata-se não de uma questão de uma escravidão absoluta e clicherizada, mas de uma escravidão estrategicamente imposta pelo Anel. Aí não vamos entrar no mérito da "inteligência" do Anel, mas apenas que colocamos como relevante o fato de que a maldade do Anel não anula o livre-arbítrio, apenas o subjuga.
Ser escravo não significa que a vontade de se ver livre já não existia; neste caso, até mesmo Gollum desejava ver-se livre. Então, não é o fato do Anel escravizar o seu portador (mesmo totalmente, no caso do momento derradeiro de Frodo nas Fendas do Orodruin), que o mesmo é destituído de suas capacidades de escolha. Apenas creio que o Anel subjuga o portador de diferentes maneiras, de acordo com sua força e natureza. Subjugaria até mesmo Saruman, Elrond ou Galadriel, pelo menos, no fim ( e, quando digo, no fim, quero dizer, depois que seus portadores, tendo feito usufruto para o bem, subestimassem a natureza completamente maléfica do artefato!).
Acho que concordamos num ponto: o poder absoluto corrompe! Claro que no caso do Anel, ainda que desse ao portador grande poder, não se tratava de um "poder absoluto", mas que, por ter uma natureza invariavelmente má, dobraria todo ser que tivesse dentro de si uma certa dose de bondade, como no caso de um hobbit, de um humano ou mesmo de qualquer maia. No caso de um Vala, creio que somente Morgoth poderia controlá-lo, pois sua natureza maléfica não seria, obviamente, componente corruptível como a natureza benéfica de qualquer outro ser, não importando a raça de que fizesse parte, podendo um Elrond, Galadriel, Gandalf ou Frodo.