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Monteiro Lobato na mira do CNE

Olá pessoal, leiam o parecer na integra antes de fazerem comentários e julgamentos. http://portal.mec.gov.br/cne

Uma nota explicativa como já é feita sobre outros temas na obra de Monteiro Lobato, como meio ambiente e a caçada à animais como a onça pintada, não pode ser considerada censura ou veto.

E por que não, o mesmo tipo de nota sobre a questão racial??

Porque a sugestão de uma nota explicativa sobre os estereótipos racistas e a inclusão da discussão na formação de professores está sendo considerada como censura??

Cresci lendo e amando Monteiro Lobato, mas não posso negar que também foi pelas obras dele que tive as primeiras percepções sobre o ser negra como algo negativo e mais próximo de animais do que de seres humanos, seres ridículos, bestas sem inteligência e etc.

Nossas crianças merecem ao menos que os professores tenham conhecimento do quanto mal esse tipo de estereótipo faz para a formação e identificação das crianças negras e possam fazer e propor uma leitura crítica desse clássico tão importante para a literatura infantil, de maneira a não incidir negativamente sobre seu pertencimento étnico-racial.

É esse o cuidado que o parecer sugere.

Quais são as críticas sobre as notas explicativas em relação aos cuidados com os animais??
 
Porque a sugestão de uma nota explicativa sobre os estereótipos racistas e a inclusão da discussão na formação de professores está sendo considerada como censura??
Porque a nota postada aqui diz o seguinte:

Um parecer do colegiado publicado no "Diário Oficial da União" sugere que o livro "Caçadas de Pedrinho" não seja distribuído a escolas públicas, ou que isso seja feito com um alerta, sob a alegação de que é racista.
Não fala apenas sobe uma nota explicativa, mas também em bloquear o acesso dos alunos de escola pública à obra de Monteiro Lobato.
 
Olá pessoal, leiam o parecer na integra antes de fazerem comentários e julgamentos. http://portal.mec.gov.br/cne

Uma nota explicativa como já é feita sobre outros temas na obra de Monteiro Lobato, como meio ambiente e a caçada à animais como a onça pintada, não pode ser considerada censura ou veto.

E por que não, o mesmo tipo de nota sobre a questão racial??

Porque a sugestão de uma nota explicativa sobre os estereótipos racistas e a inclusão da discussão na formação de professores está sendo considerada como censura??

Cresci lendo e amando Monteiro Lobato, mas não posso negar que também foi pelas obras dele que tive as primeiras percepções sobre o ser negra como algo negativo e mais próximo de animais do que de seres humanos, seres ridículos, bestas sem inteligência e etc.

Nossas crianças merecem ao menos que os professores tenham conhecimento do quanto mal esse tipo de estereótipo faz para a formação e identificação das crianças negras e possam fazer e propor uma leitura crítica desse clássico tão importante para a literatura infantil, de maneira a não incidir negativamente sobre seu pertencimento étnico-racial.

É esse o cuidado que o parecer sugere.

Quais são as críticas sobre as notas explicativas em relação aos cuidados com os animais??
Mas então todos os livros de literatura infantil da época ou anteriores terão que vir com essa nota explicativa. Engraçado que a leitura dos livros de Lobato não tornou várias pessoas que leram a obra quando crianças anteriormente racistas. Racismo é mais um preconceito que vem de família, por assim dizer, do que aprendido em livros. O que eu observo é que há uma tendência moderna em considerar crianças como seres desprovidos de qualquer senso crítico e querer entregar para elas tudo mastigado. Ou então o CNE quer suprir (com excesso de zelo) a lacuna que vários pais andam deixando no que diz respeito a responsabilidade pela educação de seus filhos.

Desenhos censurados... musicas infantis censuradas... Policiamento ideológico descarado... Se inventarem de alterar qualquer coisa na obra do ML eu entro com uma ação contra o CNE. Um mínimo de respeito é necessário.
 
Última edição:
Sendo eu 1/8 angolana, acho uma tremenda paranóia esse negócio de ver racismo em tudo quanto é lugar.
eu li quase tudo do Lobato quando era criança, e nunca me senti "ofendida", pelo amor de Deus, são só historinhas, e nada mais.
 
Li o parecer que foi feito a partir de uma denúncia no DF e de simples nota explicativa tem muito pouco, já que uma das providências a ser tomada pela Coordenação-Geral de Material Didático do MEC será:

a) a necessária indução de política pública pelo Governo do Distrito Federal junto às
instituições do ensino superior – e aqui acrescenta-se, também, de Educação Básica – com
vistas a formar professores que sejam capazes de lidar pedagogicamente e criticamente com o
tipo de situação narrada pelo requerente, a saber, obras consideradas clássicas presentes na
biblioteca das escolas que apresentem estereótipos raciais. Nesse caso, serão sujeitos dessas
políticas não só os docentes da rede pública de ensino, mas, também, aqueles que atuam na
rede particular. É importante lembrar que, de acordo com o requerente, a obra literária em
questão está sendo adotada por uma escola da rede particular de ensino e, de acordo com a
Coordenação-Geral de Material Didático do MEC, o mesmo título faz parte do acervo
distribuído pelo Programa Nacional Biblioteca da Escola;
b) cabe à Coordenação-Geral de Material Didático do MEC cumprir com os critérios
por ela mesma estabelecidos na avaliação dos livros indicados para o PNBE, de que os
mesmos primem pela ausência de preconceitos, estereótipos, não selecionando obras
clássicas ou contemporâneas com tal teor;
c) caso algumas das obras selecionadas pelos especialistas, e que componham o acervo
do PNBE, ainda apresentem preconceitos e estereótipos, tais como aqueles que foram
denunciados , a
Coordenação-Geral de Material Didático e a Secretaria de Educação Básica do MEC deverão
exigir da editora responsável pela publicação a inserção no texto de apresentação de uma nota
explicativa e de esclarecimentos ao leitor sobre os estudos atuais e críticos que discutam a
presença de estereótipos raciais na literatura. Esta providência deverá ser solicitada em
relação ao livro Caçadas de Pedrinho e deverá ser extensiva a todas as obras literárias que se
encontrem em situação semelhante.

Ora, grande parte de nossa obra literária brasileira é permeada por preconceitos, estereótipos e demais desigualdades, dentro ou fora do âmbito escolar. Concordo que os professores e Pedagogos devam trabalhar tais assuntos em sala de aula, mas discordo da utilização de intrumentação técnica baseada termos subjetivos para definir o que é bom ou não para o aluno. Senão, cada vez que alguém se sentir incomodado ou ofendido com tal obra, não sobrará muitos livros na bliblioteca.
 
Mensagem antiga minha com material relevante pra esse assunto que agorinha mesmo estou usando pro meu trabalho de faculdade. Agradecimentos devidos a Éomer pela preciosíssima citação do Memórias da Emília mostrando a profundidade da ambiguidade de Lobato a respeito do assunto, ambiguidade esta que, numa certa medida ( imensamente menor em relação a Lobato), também se aplicava a Tolkien ( cf artigo publicado em Tolkien Studies 07).

As partes referentes a Lobato estarão em negrito.

Ilmarinen
Humano Saltitante



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Re: Sobre ananos, meões e traduções
Citação:
Post Original de Lingwilóke
Como eu disse, é uma paixão danada... Por exemplo, se no leitor anglófono o epíteto Dark Lord evoca de alguma maneira a Lúcifer e há todo um contexto que não só confirma mas também reforça isso, não é necessário saber que em tal carta Tolkien chamou Sauron de daemon e Melkor de diabolous.
.
Aí é que a gente meio que se engana, sabia, que com todos esses elementos, Dark Lord, menção a uma encarnação humana de "Maleldil" ( o equivalente de Ilúvatar nessa obra de Lewis) na Terra, etc, etc , etc a maioria dos críticos literários jornalísticos* ingleses da época não pegou o subtexto religioso e filosófico de Out of the Silent Planet? Ou fingiu que não para poder criticar o livro e suas idéias dissimulando a percepção de seu conteúdo religioso e sua relevância. E podemos ver que até aqui no Brasil, foi a conta de se alterar Dark Lord de Senhor das Trevas ou similar pra Senhor do Escuro e tem muito leitor brasileiro que fica míope e deixa de ver todas as alusões bíblicas do SdA só porque leva ao pé-da-letra o comentário de Tolkien sobre o repúdio à Alegoria e a confunde totalmente com Analogia.

*( por essas e outras que eu andei discutindo na Wiki em inglês, com a qual contribuo, dizendo que dar excessivo valor a coisas acadêmicas e textos jornalísticos como fontes secundárias ao mesmo tempo em que se menosprezam webpages confiáveis é um erro)

Dê uma olhada nessa discussão histórica do Orkut, apesar do deletamento de diversas mensagens, inclusive do pobre católico inteligente que começou o tópico e foi recebido a pedradas ( o orkut intepreta mensagem de perfil deletado como se fosse spam e some com elas )e vc verá que o fanatismo das pessoas que não querem ver o simbolismo já começa a parecer o da Santa Inquisição que eles mesmos tanto gostam de criticar. Alguém ai lembra de Fëanor?

Citando Nietzsche cujas influências sobre Tolkien estão sendo estudadas cada vez mais:
Citação:
"""Aquele que luta com monstros deve acautelar-se para não tornar-se também um monstro. Quando se olha muito tempo para um abismo, o abismo olha para você" - Nietzsche (Além do Bem e do Mal)""
E isso era algo que o próprio Tolkien não queria senão não teria feito tanta analogia nas cartas pra explicar sua mitologia pros outros, não teria reconhecido a influência da Virgem sobre a Galadriel, não teria chamado Melkor de Diabolus e nem Elendil de figura "estilo Noé" etc,etc..

Num sentido eu até entendo: minha geração foi uma que pegou Tolkien para ler quando ele era "cult", era um hábito esquisito ler o autor aqui no Brasil. Eu cresci dos quinze aos 19 anos sem conviver com nenhum outro leitor de Tolkien até entrar na faculdade Daí com as traduções literárias "populares" da Martins Fontes o hábito de se lê-lo foi disseminado. Mas o brasileiro meio que está vivendo um vácuo de crença, por um lado é a abordagem evangélica fundamentalista que parece que tenta enfiar o Gospell pela goela dos outros a qualquer preço e que chega a dizer que católico não é cristão por causa de fanatismo doutrinário e arrogância, por outro é o materialismo desmesurado dos nossos dias e a perda de valores morais, tornando tudo sem sentido e sem gosto.

Como a onda de popularização de Tolkien aqui no Brasil acompanhou a propaganda cinematográfica e o culto que as atuais bandas de Rock dão ao autor ( começando pelo disco temático do Blind Guardian e agora chegando a dezenas de bandas novas com nomes tolkienianos), eu já reparei que muito fã novo brasileiro, jovem e até não tão jovem, tende a pegar Tolkien como nova "religião". E ser igualmente fundamentalista em se interpretá-lo ao pé da letra, achando que tudo o que ele diz para todo mundo ,toda hora reflete sempre "a verdade" dos fatos. Haja vista a proporção cõmica que o assunto das asas dos balrogs atingiu entre a gente com o brasileiro chegando a forjar justificativas não acolhidas em nenhum lugar em inglês, disseminando boatos e lendas urbanas para justificar uma intepretação só em um assunto onde qualquer exame literário atento da matéria mostra que Tolkien deixou a questão dúbia , provavelmente, de propósito

Esse pessoal fica com uma tendência de ficar perplexo e até de se revoltar na hora que descobre que Tolkien embutiu propositalmente ( "inconscientemente na redação mas conscientemente na revisão" como ele mesmo alegou), um simbolismo "católico-cristão" na sua obra, porque, de repente, é como se descobrissem que Tolkien tem uma faceta que parece fazer dele mais um "evangélico", só que disfarçado, tentando doutriná-los com um "cavalo de tróia" literário.

É irônico que isso aconteça com Tolkien porque foi C.S.Lewis que confessou que queria que Narnia fosse "teologia infiltrada" por debaixo dos narizes dos "dragões vigilantes". Isso tudo reflete um descompasso que nossa sociedade global tem sofrido em relação à época de Tolkien e Lewis. Na época deles, os fanáticos eram os caras que não tinham uma religião e colocavam Nietzsche e Wagner e a ciência positivista num trono ou numa "Torre Negra", Como aqueles famosos do "Heil Hitler"!!Eram eles que tentavam doutrinar os outros e preconizavam a disseminação do culto da ciência e do método experimental como a panacéia pra resolver tudo. Era esse povo que estava por cima.

Aqui no Brasil , Monteiro Lobato foi um intelectual, agnóstico ou ateu e positivista que embutia idéias assim nos seus livros, ainda bem que ele era bondoso, inteligente e culto demais para ir tão longe nessas idéias na literatura infantil do Pica Pau Amarelo . Mas dê uma olhada em O Presidente Negro e você ficará assustado com o fato de que ele podia, por exemplo, advogar a esterilização da raça negra aceitando uma versão mitigada da mesma doutrina racialista dos nazistas. Então a obra literária de Tolkien e Lewis era uma forma de reação contra essa doutrina predominante na época. Só que hoje o pêndulo oscilou pro outro lado.

Os fanáticos atuais são , por exemplo, os mesmos religiosos cristãos puritanos que, nos EUA, baniram o ensino de Darwin e da teoria da evolução no ensino secundário, os mesmos que endossam dois mandatos do presidente Bush e os mesmos que apoiam uma invasão do Iraque com o fajuto e absurdo argumento de se querer encontrar armas de "destruição em massa" num país já pobre e claudicante depois de anos de embargo econômico.Basicamente o lado de Lewis e Tolkien ganhou a Guerra e se perverteu , virando exatamente a mesma coisa que eles combatiam e usando suas crenças como pretextos pra justificar sua fome de poder, ganância e arbitrariedade. Então, não é pra menos que a juventude atual esteja em busca de "religião alternativa" e tenda meio que a tentar ignorar o simbolismo religioso de Tolkien, de J.K .Rowling, da Stephanie Meyer de Crepúsculo ( que faz a mesma coisa que Lewis, a saga inteira de Bella e Edward é smuggled theology também).

Por aí a gente vê uma coisa, fanático que é fanático mesmo, seja de que procedência ou tendência que for, não faz obra literária pra passar adiante ideologia pessoal e doutrinar os outros, zealots são pessoas que não querem que leitores aprendam a decodificar simbolismo, porque pra fazer isso eles têm que fazer uma coisa que mina sua base de poder, deixar os outros pensarem por conta própria e até ensinar metodologia pra fazer isso.

É sempre bom mesmo ficar de olho pra não se deixar influenciar mas o perigoso , muitas vezes, não é ser derrotado por "eles" é se tornar igualzinho a "eles"*no processo de se fazer a resistência. Foi o que aconteceu com Fëanor, tá vendo que dá pra se usar a filosofia de Nietzsche literariamente e como ensinamento para nossas vidas sem virar ateísta ou agnóstico?

Foi isso daí que transformou os EUA e Israel no tipo de força que são hoje, politicamente perniciosos e corruptos, e com a maior parte da população totalmente crente de que tudo que eles fazem é para o "bem maior" e ignorante dos efeitos da política externa deles sobre o mundo.

Passar a reconhecer a importância do simbolismo e das crenças cristãs subjacentes à obra de Tolkien não vai fazer lavagem cerebral em ninguém assim como eu posso ler o Presidente Negro de Monteiro Lobato ( livro que ficou fora de catálogo durante décadas porque a doutrina racialista caiu do pedestal) e não sair querendo esterilizar nenhum negro até, porque, se eu fizesse, deveria ter que começar esterilizando meu tatataravô paterno e , provavelmente, me apagando da existência ...
__________________
So great is the bounty with which he has been treated that he may now, perhaps, fairly dare to guess that in Fantasy he may actually assist in the effoliation and multiple enrichment of creation.

Tolkien no ensaio "On Fairy Stories"
Edição mais recente por Ilmarinen : 01-12-2009 em 10:18
 
Última edição:
Achei no Facebook e é excelente pra reproduzir aqui como uma reflexão legal sobre o tema:

Gerson Steves
Carta Aberta à Exma. Sra. Nilma Gomes, Ministra da Igualdade Racial.

Pensei muito antes de decidir escrever esta carta aberta à senhora. Trata-se de falar um pouco do que aprendi com Monteiro Lobato ainda menino. Foi pela televisão, vendo os históricos episódios ainda em preto e branco (olha que ironia!) na TV Bandeirantes, que tomei contato com a obra e pedi para lê-la. Depois, já molecão, quase adolescente, pude assistir à deliciosa primeira adaptação feita pela TV Globo tendo as doces Zilka Salaberry e Jacyra Sampaio como Dona Benta e Tia ‘Nastácia, respectivamente. Confesso que a terceira produção, com Nicette Bruno e Dhu Morais eu não me interessei em ver.

Aprendi com Lobato sobre mitologia grega e seu comparativo com a mitologia brasileira (africana e indígena). Aprendi com ele sobre a natureza, os animais e as plantas e a possibilidade deles serem mais que nosso alimento, serem nossos amigos. Foi com Lobato que aprendi a fabular e a contar histórias, a soltar a imaginação no exercício que a palavra propõe: colocar imagens em ação! Com ele aprendi sobre quitutes e remendos, sobre a gente do mato e da fazenda.

Tataraneto de escravos que sou, de minha avó paterna ouvia as histórias que ela, antes de mim, ouvira de seus antepassados escravos. Ela que foi babá de barões do café, cozinheira de industriais de São Paulo e lavou a roupa suja da elite que jogava nos cassinos clandestinos da Rua 24 de maio. Ela era uma gorda parda que contava ‘causos’ da fazenda, das linhas de trem, dos primos e filhos bastardos que os brancos faziam nas meninas pardas das fazendas. Ouvia histórias de assombração! Ela fazia compotas de todas as frutas que a senhora, Ministra, pode imaginar. Mas não foi com ela que aprendi a palavra compota.

Essa palavra – compota – aprendi com a mãe de minha mãe, uma portuguesa católica fervorosa de olhos azuis. Filho de operários que sou, dessa avó ouvi fábulas de La Fontaine e contos de Grimm. Coisas dos tempos em que os animais falavam e os objetos tinham vida. Essa avó tinha sentido estético e, em sua casinha de imigrante portuguesa que teve que se virar na máquina de costura, ela emendava retalhos e fazia maravilhas de arte!

Com Monteiro Lobato aprendi isso. Dona Benta é um braço da nossa cultura: europeia e branca, capaz de falar de mitologia e exercer o bom senso e a lógica racional num piscar de olhos. Tia ‘Nastácia é pura intuição, é nossa herança negra de sacis e quitutes, de simpatias e feitiços, de magia e amor!

Sobre a tão decantada Emília, alvo dos que pretendem julgar a obra de Lobato meramente racista, há que se lembrar que ela era feita de pano e forrada de macela, não tinha miolos e muito menos coração. Seus pares, Pedrinho e Narizinho (ele, mais moleque da terra e ela, mais sinhazinha do nariz empinado), adoravam engambelar a boneca faladeira que abria invariavelmente sua “torneirinha de asneiras”. Emília tinha sonhos de grandeza, queria ser marquesa e acabou casada com um leitão. Era fruto da sociedade monarquista e escravocrata que o Brasil há poucas décadas havia abandonado. Emília não respeitava os animais, não ligava para as regras de convivência e estava pouco se lixando para os outros. Ela queria aparecer, ter dinheiro em sua canastra e, em certa feita, enfrentou até a obra de Deus querendo mudar a natureza!

Finalmente, quero lembrar que foi Lobato que introduziu personagens negros na literatura infanto-juvenil por meio das figuras de Tio Barnabé (nosso querido preto velho) e do Saci - a quem Pedrinho queria inicialmente como escravo e de quem ficou amigo de aventuras!

Ora, Ministra, não precisamos banir Monteiro Lobato da escola. Precisamos, sim, ter professores capazes de fruir a obra com nossas crianças do mesmo modo que tentei fazer agora com a senhora!

Não seja mais um fantoche de pano forrado de macela, por favor!
 
Sem dúvida, a obra funciona porque tem contraste entre personagens. É a dinâmica da chave entre relações. Cada um deles é marcante e tem um passado a contribuir que deve ser contado e é bom que seja assim, porque existe a diferença entre um personagem ser bem construído e eu querer vê-lo como o exemplo da minha vida a ser seguido. Por exemplo, pegando o anime de Naruto:

A personagem Sakura é controversa, complexa e complexada e isso é ótimo para colocar em histórias, gera tensão sexual no trio Naruto, Sasuke e Sakura que produz problemas que dão oportunidade ao aprofundamento de personagem. E a partir disso na qualidade de personagem eu a acho uma idéia muito interessante mas não a vejo como exemplo depois que ela pisou na bola em Shippunden e eu a curto atualmente apenas como personagem e menos como pessoa. Evangelion é do mesmo jeito com Shinji, Rei e Asuka produzindo tensão um no outro, imperfeitos, mas só podem ser aproveitados se tiverem leitores com a cabeça no lugar que não elejam obras como propaganda ideológica. E quem vai formar esse leitor é que vai ter que explicar ao aluno que as pessoas são maiores que os problemas delas.

A literatura brasileira está cheia de maus exemplos que são bons personagens, Macunaíma é um deles. O duro é ter que suportar essa onda de interpretação unidimensional de um texto grande, porque quem faz isso é leitor amador, "verde" que ouve uma expressão pela primeira vez e a põe em prática. Já é hora das pessoas serem menos automáticas.
 
Olá pessoal, leiam o parecer na integra antes de fazerem comentários e julgamentos. http://portal.mec.gov.br/cne

Uma nota explicativa como já é feita sobre outros temas na obra de Monteiro Lobato, como meio ambiente e a caçada à animais como a onça pintada, não pode ser considerada censura ou veto.

E por que não, o mesmo tipo de nota sobre a questão racial??

Porque a sugestão de uma nota explicativa sobre os estereótipos racistas e a inclusão da discussão na formação de professores está sendo considerada como censura??

Cresci lendo e amando Monteiro Lobato, mas não posso negar que também foi pelas obras dele que tive as primeiras percepções sobre o ser negra como algo negativo e mais próximo de animais do que de seres humanos, seres ridículos, bestas sem inteligência e etc.

Nossas crianças merecem ao menos que os professores tenham conhecimento do quanto mal esse tipo de estereótipo faz para a formação e identificação das crianças negras e possam fazer e propor uma leitura crítica desse clássico tão importante para a literatura infantil, de maneira a não incidir negativamente sobre seu pertencimento étnico-racial.

É esse o cuidado que o parecer sugere.

Quais são as críticas sobre as notas explicativas em relação aos cuidados com os animais??
1984, manda lembranças. ¬¬
 
Vai ter nota explicativa para todos os livros? Pela lógica, deveria. Uma coida é fazer uma aula crítica na escola sobre p livro, outra é colocar essa tarja preta para idiotas.
 


<<
O texto está lá, praticamente por inteiro, mas frases inadequadas foram mudadas, assim como a representação de alguns personagens. A popular Tia Nastácia foi modificada cirurgicamente. Retiramos todas...

Leia mais em: https://veja.abril.com.br/cultura/o...ZQi18kuJy_nuNjmabAX8q1LjZA4k00t5cDXUIOGz1B32U
 
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