Parafraseando o Morgs...
Roy discursa...
Vamos colocar os pingos nos "is".
Eru deu aos Ainur plena capacidade de criarem através da matéria preexistente de Eä. Melkor veio da Mente de Ilúvatar, mas suas ações malignas, e seus pensamentos, são manifestações independentes de Eru. Faz parte do potencial dos fëar dos Ainur. Mas tanto as boas ações quanto as más, tanto os pensamentos harmônicos quanto os dissonantes, originam-se do potencial dado a cada um dos Ainur. Cada um deles não veio a existir já com um destino traçado. Se Eru soubesse do futuro, qual sentido haveria no livre-arbítrio? O “jogo” de Eru foi esse: não se imiscuir do conhecimento prévio sobre os fatos vindouros concernentes a cada um de seus Filhos e dos Ainur e não exatamente dos acontecimentos no tempo e espaço. Todos os dons dos Ainur tinham potenciais específicos de subcriação (essa palavra não existe, hehe) , cabia a cada um deles tomar parte de suas potencialidades para subcriar e viver em harmonia. Deveriam, é verdade, conciliar as diferenças.
A inconciliação por parte de Melkor foi algo natural, apesar de danoso a Arda. É incorreto ter certeza de que Eru sabia que Melkor se desvirtuaria. E se o mal e o bem na verdade representarem forças antagônicas que sempre existiram no Todo do cosmos, independentemente de Eru? Eu compactuo da teoria de vários universos, ou multiverso, de Michael Moorcock. Eu sei que o que interessa é o que Tolkien criou. Mas ele não proibia que os leitores imaginassem sabe-se lá o quê, desde que não desrespeitasse as informações explícitas e implícitas do livro. O que dá margem a imaginações não considero como sendo contra o que Tolkien escreveu. O Caos ( do qual o mal é feito, no modo como interpreto) é que deu sentido às estruturas cósmicas organizadas. Quer dizer, mesmo antes dos Ainur existirem, o mal já fazia parte do Todo que constitui as energias do Cosmo. Tolkien não abordou sobre o assunto, claro, assim como o Cristianismo também não. Mas acho que é muito improvável que todas as coisas existentes tiveram um início. O mal sempre é, assim como o bem. E nenhuma consciência existe sem dualidade. Eru provavelmente poderia fazer algo ruim SE quisesse, mas em hipótese alguma ele teve a intenção de criar Melkor já pensando “É cara...to afim de colocar um pouco de emoção no jogo” ...e..pimba, Eru apertou o botãozinho do mal em Melkor na Grande Música. Não é uma questão de ter sido gerado. Já que fora dos círculos físicos e da matéria densa de Arda, não existe tempo a ser contado, logo, não existe início para nada. As coisas sempre foram parte do Todo do cosmos, uma sinergia de forças, através da qual o Caos impulsionou uma “vontade de organização”. E essa vontade de organização era boa aos olhos de Eru, enquanto que parte do Caos que sempre é, era mantido inalterado por Eru. Eru não proibiu que o Caos (energias não trabalhadas) influenciasse nas potencialidades dos Ainur, pois mais uma vez o livre-arbítrio era uma regra, na verdade,cósmica, e não somente de Eru. E assim Ilúvatar nada podia fazer com o fato de que através do livre-arbítrio as energias do Caos fossem manifestadas pelas energias potenciais de Melkor. Teoria minha, anyway. É uma questão de equilíbrio dentro de espíritos em evolução. O mal é necessário para a evolução. Isso correntes religiosas das mais diversas e misticas sustentam.
O livre-arbítrio teria, para mim, uma condição autoimposta por Eru, de esconder o futuro de si mesmo e deixar que suas criações tomassem o rumo que desejassem. Em nenhuma parte do Legendarium é dito ou sugerido que Eru conhece o futuro de seus Filhos (na verdade eu posso estar errado sobre isto). Agora, o fato de Melkor encontrar a sua fonte mais remota em Eru (como é dito no Ainulindalë), nada diz sobre a progênie dos atos em si. A essência de Melkor não é a parte "ruim" de Eru. Nossa maneira de ver pode dar a entender que Eru tinha uma parte ruim, mas tal interpretação é equivocada e unilateral, já que os humanos, na condição em que se encontram, são os mais suscetíveis a erros de compreensão e comportamento sobre questões mais elevadas que fogem à capacidade dos Edain e dos Eldar, de entenderem de maneira mais ou menos clara a natureza de Eru.
Melkor não era um Vilão clichê, o que significa dizer que ele não era mau pq amava e sentia prazer na dor, no sofrimento e na escuridão, não era dessa forma que o mal era sustentado. A única coisa que Melkor "amava" era a ideia de possuir a Chama Imperecível, cuja posse lhe era impossível, pois estava com Eru. Essa essência distorcida de Melkor só o é de acordo com a ótica daqueles que seguiram um caminho natural de harmonia e cooperação. Embora Eru tenha mostrado sua Ira na segunda dissonância de Melkor, tomo tal narração como metáfora para explicar as diferenças entre os Valar. E só assim, com essa demonstração clara de descontentamento de Eru ( ou de “esclarecimento” aos Ainur), os outros saberiam que Melkor escolhera um outro caminho (e TINHA ESSE DIREITO, embora arcasse com as consequências), mas nem por isso Eru o impediu de descer aos planos físicos de Eä.
Nos meus 7 anos de Valinor, já acompanhei tudo quanto é discussão sobre Melkor, livre-arbítrio e Chama Imperecível. Até hoje há bons argumentos para apontar que Melkor era mau independentemente de Eru ou dos Valar, assim como há argumentos para apontar que Melkor só era mau pq os outros Valar não o apoiaram em suas vontades ou pq Eru tinha uma parte ruim. Eu acho que cada Vala é único, e seus pensamentos, desejos e subcriatividade não preexistiam na mente de Eru. Pois Eru é onipotente o suficiente para fazer com que os Valar desenvolvessem potencialidades por conta própria, seja para destruir ou para criar, para unir esforços ou para seguir um caminho individualista. Melkor só passou a ser mal absoluto segundo a nossa visão (e a de Tolkien) e segundo a intolerância dos outros Valar que não queriam ouvi-lo, embora Melkor não tenha tido a capacidade de ouvir os outros Valar e absorver o trabalho harmonioso como algo realmente bom, mas sim como limitador de suas potencialidades. Agora, os seus atos só devem ser julgados por Eru. Porque não temos o poder e toda a compreensão para julgar.
O conceito de mal absoluto é um grande clichê, pq, já que o mal é absoluto, ele nunca muda, o que vai contra a teoria universal de movimento e transformação constantes e inexoráveis. Tudo está constantemente em transformação. Inclusive, se há um espírito, este está suscetível a transformações, mesmo que demorem milhões de anos. Se bem que no mundo espiritual não há tempo nem espaço. Eru tem total consciência de que em toda a existência de Arda, não se terá perdido nada, pois a morte do hröa e o sofrimento advindo disso nas lutas de Morgoth contra os que se opunham a ele, serviria para um crescimento dos envolvidos, sejam bons ou maus. Não compactuo da ideia de que os maus pagarão com a condenação eterna. Pois creio que é uma questão de evolução. Os maus poderiam ter uma outra existência e repetir todo o processo para atingir uma evolução de fëa, , assim como acontece com o Deus cristão, que pode planejar outros mundos para seus filhos depois que estes morrerem na Terra. A destruição completa do espírito é impossível, pois se espírito é um tipo de energia, ela vai pra algum lugar, se transforma, mas não simplesmente "deixa de existir" completamente. E pelo fëa ser eterno, seria muito dura uma pena de condenação eterna por algo feito num determinado e relativamente curto espaço de tempo.
Mas o mal é conhecido quando FORÇAS e VONTADES COLETIVAS são preteridas em prol de um individualismo infrutífero. Assim, o único bem que conhecemos, é a harmonia do coletivo, que trabalha satisfazendo o desejo da maioria. Já o mal tem por característica não ouvir a maioria, e seguir um individualismo destrutivo. Mas Morgoth assim agia não pq gostava, mas pq a sua compreensão era diferente da compreensão dos demais Valar. O fato de ter sido o único a rebelar-se entre os Valar, não significa automaticamente que ele seja o criador do mal, ou que isso já fazia parte de Eru para que os bons frutos fossem glorificados e aumentados em esplendor e grandiosidade. Isso é uma interpretação dos Filhos de Ilúvatar.
Eu considero Morgoth um mal, pq vai contra uma harmonia que acredito fazer bem a todos. No entanto, não posso julgá-lo culpado e condená-lo, pois eu teria que ser um Ser superior a Melkor em espírito e igual ao seu criador (Eru). Por isso não concordo que qualquer um, seja Eruhini ou mesmo Ainur, o julgue pelo caminho que escolheu, já que TODOS estão sujeitos a cometerem erros e a seguirem um caminho tortuoso.