Smaug
Cacho
Autores: Smaug; Fëanor ¥
Apresentação:
Dois membros da Heren Quentaron estiveram presentes na 2ª edição da HobbitCon, que se realizou no dia 15 de novembro de 2005, na Casa de Bruxa, em Santo André-SP. Por estarem presentes, puderam acompanhar as palestras, as apresentações de músicas celtas, conferir os sorteios, as exposições e muito mais.
Achamos que seria uma oportunidade legal de contar como foi este evento, especialmente para aqueles que não puderam ir, e portanto produzir um artigo. Mas para não ficar só na escrita, também temos várias fotos deste evento Tolkieniano que são citadas ao longo do artigo.
Ah, este especial também é o artigo de número 50 do grupo. Esperamos que gostem, boa leitura!
O que é HobbitCon?
HobbitCon (Con de Convenção) é um evento que visa reunir vários fãs de Tolkien, para participar de palestras, concursos, ouvir histórias, entre outras coisas, organizado pela Federação Tolkiendili Brasileira. Opa, mas o que é essa FTB? Esse órgão é composto de 8 comunidades e sociedade Tolkienianas: Valinor, Dúvendor, O Pônei Saltitante, O Condado, Heren Hyarmeno, Amon Hen, O Conselho Branco, e Sociedade Tolkien Brasileira. Portanto, é um evento para todos os fãs do professor Tolkien, desde os admiradores dos filmes até os mais estudiosos.
Até o momento são 2 edições, a primeira foi em 17 de janeiro de 2004, que reuniu quase 800 pessoas na Oficina Cultural Oswald de Andrade, em São Paulo - SP, e a 2ª ocorreu há pouco, em 15 de novembro de 2005, reunindo cerca de 250 pessoas. Como entrada ou "ingresso", é necessário levar 1 kg de alimento não perecível. Tudo o que é arrecadado, é revertido para instituições.
As três palestras da HobbitCon se realizaram na Sala do Mago, a primeira à direita de quem entra, na Casa de Bruxa. Como era pequena e um tanto abafada, algumas pessoas chegaram a acompanhar pela janela, no lado de fora! Mesmo assim, as conversas dos palestrantes com o público presente foram muito agradáveis e interessantes, pois todos são grandes conhecedores de Tolkien, e foi impossível não sair de lá sem ter acrescentado algo em seu conhecimento “tolkieniano”, ou “celta”, como o caso da palestra de Cláudio Quintino. Vamos a elas:
As Cartas de J.R.R. Tolkien
A primeira palestra do dia foi sobre o novo livro de Tolkien, que chega ao Brasil em breve, pela editora Arte & Letra “As Cartas de J.R.R. Tolkien”. Conduzida por ninguém mais que o seu próprio tradutor, Gabriel O. Brum, e com a participação especialíssima do jornalista Reinaldo “Imrahil” Lopes.
Gabriel iniciou falando da idéia da tradução, de sua “estupefação com o convite para o trabalho”, como conta em seu blog, proposto por Thiago Marés (o editor), e disse que aceitou fazê-la “após recolhido o queixo”, como disse na palestra. Explicou das negociações com a Harper Collins, a editora inglesa do Tolkien, e desse processo inicial. E seguiu falando de uma maneira geral como foi a tradução, a diferença da escrita e linguagem de carta para carta, de algumas dificuldades quando Tolkien usava gírias ou expressões antigas, e assim por diante.
O palestrante trouxe o seu exemplar The Letters of J.R.R. Tolkien numa pasta, e até comentou que agora encontra-se em estado deplorável de tanto manuseio. E deixava um ar de suspense para os futuros leitores a cada vez que terminava de comentar algo de curioso das cartas, dizendo “bom, vocês verão isso nas cartas”. Mas este relatório vai antecipar algumas coisas, como dois nomes “hobbitescos” que irão figurar na carta 214, por exemplo.
Depois do conhecido “Onzenta e um” (111), o novo nome que segue este estilo é “Anoante”. Em inglês é escrito byrding, e Gabriel esclarece: “Ela vem do anglo-saxão byrd, que significa ‘nascimento’ (e daí o birth em inglês moderno). Ou seja, byrding nada mais é do que ‘aniversariante’, mas dito da maneira habitualmente tosca que um Hobbit empregaria”. Significa então que Anoante é uma palavra empregada pelos hobbits para dizer quando uma pessoa está fazendo aniversário.
E que tal o novo sobrenome de uma família hobbit que se chama “Lombarreiro”? Mas como assim? Vamos explicar: este nome vem do inglês Clayhanger, que pode ser decomposto em dois: “Clay” = barro + “hanger” = cabide. Tolkien certamente não se prendeu ao significado mais banal da palavra, e usou o seu estilo mais arcaico, que poderia ser entendido como “declividade embarrada e com árvores”. Porém, como o tradutor explicou, é um sobrenome no mínimo bizarro, e ele precisava descobrir algo mais apropriado para ficar “hobbit”. Evidente que o pessoal da sala deu risadas. Mas a decisão final foi omitir o “árvores” que não ocorre visualmente no nome, e trocar “declividade” por “lomba” somando com “barreiro” (ao invés de barro ou barroso, nomes comuns no português).
E até podemos dizer que esta foi uma feliz escolha, assim como o caso “Valfenda” que seria um “Vale na Fenda”, mas virou uma palavra só. Ah sim, a hobbit que terá esse sobrenome é Lália. E até foi contada a história que acontece com ela, narrada nas cartas, que é muito curiosa e engraçada, porém demoraria para descrever, por isso como diria o palestrante, “vocês verão isso nas cartas”.
Passando para outra curiosidade, Gabriel disse que mudou Ranger, que nas traduções da Martins Fontes é “Guardião” para “Andarilho”. Ele explicou que ‘Andarilho’ se encaixa melhor ao contexto da Obra e ao papel dos Dúnedain, e que ‘Guardião’ só deveria ser usado no caso de um sentido puramente inglês, onde um indivíduo protege um parque real ou uma floresta.
Mas como o tempo estava acabando, a vez foi passada para o jornalista Reinaldo Lopes que leu uns trechos das Cartas. Uma delas foi escrita 1 dia depois da explosão da bomba atômica, em que Tolkien comentava sobre racismo e nazismo. Nela, podemos observar um lado bastante pessoal do professor, chocado com a guerra, mas sem perder as esperanças.
Fotos:
Gabriel palestrando.
Palestra das “Cartas”.
Gabriel palestrando, 2.
Reinaldo lê um trecho engraçado das cartas.
Smaug (da Heren Quentaron) com o tradutor Gabriel.
Reinaldo, Marreco (Thain da Toca ES) e Gabriel.
Mitologia Celta e Tolkien
A segunda palestra do dia foi com Cláudio ‘Crow’ Quintino, que, como disse Reinaldo Lopes, “sem dúvida é o maior especialista de mitologia celta do país”. Ele é autor de "O Livro da Mitologia Celta", e fez um show de palestra mostrando relações da mitologia celta com as obras de Tolkien. Foram muitas informações passadas aos ouvintes, portanto aí vão algumas.
Cláudio começou explicando o que é mitologia. Disse que as pessoas associam mitologia com mito e que como um mito seria algo falso, mitologia também o é. Mas na verdade ele frisou que mitologia é a história de um povo contada sob o ponto de vista de um outro povo, e que portanto não deve ser interpretada como uma história falsa. Contou que, para os celtas, a natureza era algo da maior importância. Eles davam valor para tudo que existia nela, como os cursos dos rios, e comentou como um celta se sentiria “mal” nos dias de hoje ao ver tanta poluição. E após uma breve introdução sobre “mitologia”, perguntou se até aí estava entendido o assunto, como ninguém questionou, ele prosseguiu.
Quintino comentou que leu O Senhor dos Anéis com 15 anos e que durante um bom tempo só lia esta obra, pois sempre que terminava ele começava novamente. Brincou que não precisamos ser “fanáticos”, embora ele mesmo tenha admitido que fazer tatuagens com nem 20 anos de um livro que recém conheceu, e escondido dos pais, talvez seja um tanto “fanatismo”. (Cláudio tem uma tatuagem da árvore de Gondor no braço esquerdo). E muitos caíram na graça.
Mas aí fez uma abordagem da relação do rei Arthur com o rei Aragorn. Mostrou como as histórias dos personagens são semelhantes: no início são simples, mas com o tempo precisam reconhecer o seu valor e resgatar suas espadas para conquistar um reinado. E no meio disso, rola o romance de Arthur com Guinevere, assim como Aragorn com Arwen. A espada de Arthur estava fincada na pedra, e só ele poderia tirá-la dali, do mesmo modo que só Aragorn poderia empunhar a espada Narsil/Andúril restaurada e enfrentar Sauron. Até fez uma explicação lingüística: Arthur é a composição de Arth (Herói) + gwr (Urso) = "Herói Urso".
O palestrante, num certo ponto, contou uma história celta que lembra muito Númenor, e que poderia ter inspirado Tolkien. Pois na mitologia celta há uma ilha muito além das terras firmes, à oeste do continente europeu, onde vivem pessoas, que se chama Breasil – inclusive, como comentou, pode ser uma origem lingüística para o nome “Brasil”, ao invés da conhecida história do “pau Brasil”.
Cláudio também falou que a primeira palestra que ele deu foi em 1989, que tinha como tema “Tolkien e Música”. Mas o tempo foi se esgotando, pois logo em seguida haveria a palestra sobre “Sexo e Amor na Terra-média”, então ele disse que foi um prazer estar ali e recebeu uma salva de palmas.
Fotos:
Quintino Palestrando.
E a palestra continua...
Smaug (da Heren) com Cláudio.
Marreco e Claudio.
Sexo e Amor na Terra-média
E a terceira e última do dia foi sobre um tema muito curioso nas obras do professor: Sexo e Amor. Os palestrantes foram Reinaldo Lopes, João “Mandos”, e Gabriel Brum, sentados em cadeiras ao lado de Rosana “Shelob” Rios (uma das organizadoras do evento) que tecia alguns comentários. Foi estabelecido 10 minutos para cada um, para que todos tivessem chance de falar.
Reinaldo começou falando sobre a “ciência” na Terra-média. De como seria se tentássemos explicar as relações entre os sexos, e o comportamento de determinadas raças deste continente imaginário, usando a ciência do nosso mundo. Na certa realidade com fantasia dariam em algo no mínimo bizarro ou curioso. E deu. A primeira raça analisada foram os terríveis Orcs. Oras, pelas explicações de Reinaldo, eles bem que poderiam ser fêmeas! Claro, basta analisarmos a semelhança com a organização “social” deles com insetos como as formigas. Estes pequenos insetos dividem-se em ‘trabalhadoras’, as ‘formigas-soldado’ e a ‘formiga-rainha’.
Se isso não convenceu, vale uma lida na matéria do próprio palestrante que saiu na revista Galileu de outubro, que trata do mesmo assunto. E agora algo que deixaria o anão Gimli furioso: seria ele uma “Gimla”? Se for outra idéia absurda, o jornalista explica: na raça dos anões, tanto os homens quanto as mulheres têm barba (por incrível que pareça), e possuem características físicas quase idênticas. Reinaldo também comentou que a relação das famílias Anãs poderia ser “poliândrica” (quando uma mulher tem vários maridos), visto que a maioria dos personagens anões são machos.
Feitas as explicações do Reinaldo, João “Mandos” assumiu a palestra. Sua fala se deu em cima das “Leis e Costumes entre os Eldar”, ou seja, da relação amorosa entre os elfos. Comentou que uma característica que predomina nas obras de Tolkien é o fato de um casamento élfico ser para toda vida, com a exceção de Finwë e Míriel. Assim como o casamento não era obrigado, só se casavam aqueles que realmente se amavam.
A palestra chegou na reta final, e a vez foi do Gabriel, que fundamentou suas falas nas opiniões do próprio Tolkien. Citou a carta 43, em que o professor fala ao filho Michael sobre sexo. E também comentou sobre algumas críticas da época em que o Senhor dos Anéis foi lançado, como a reclamação ao fato de não haver sexo ou a vontade dos personagens de fazê-lo. Explicou que para o contexto da obra, não era necessário mostrar cenas de sexo, e as relações amorosas eram demonstradas através do “amor cortês”, característico das novelas de cavalaria.
Deixou claro que sexo não era um tabu para Tolkien, pois o próprio chegava a dizer “que o casamento era o melhor modo de ‘temperança sexual’, comparando-o com um bom vinho que deve ser desfrutado aos poucos, e não abusado em ‘bebedeiras’”, como explica Gabriel.
E foi isso. O tema “Sexo e Amor” foi lançado, cada um dos palestrantes contou um pouco sob os seus pontos de vista. Após isso, foi aberto o espaço para as perguntas e discussão.
Foto:
Os palestrantes e o público.
Casa de Vairë
Um dos destaques da HobbitCon ficou por conta da Casa De Vairë, evento do Conselho Branco onde há contação de histórias. O local escolhido para sediar a Casa de Vairë foi uma árvore que oferecia uma sombra aconchegante, como pode ser visto nessa foto: aqui.
Foram contadas oito histórias, onde teve-se a prensença de contadores veteranos e novatos, sendo que uma das histórias foi contada por duas pessoas simultaneamente ("As aventuras de Frodo, Sam, Merry e Pippin na Terra-média" , por Luthúriel e Elfhelm).
A maioria dos contadores eram da Toca-SP, o que não siginfica que o evento não contou com gente mais do que especial de outro estado. Aqui o destaque fica pra Cláudia "Nísire", Coordenadora da CdV da Toca-RJ, que contou com maestria a passagem de Aragorn, Gimli e Legolas pela Senda dos Mortos.
Vale a pena lembrar o grande destaque da Casa De Vairë, que ficou para o veterano Mandos: um pedido inusitado de casamento que ele fez à Sheila "Vairë", logo após contar a história de Beren e Lúthien.
Histórias contadas e seus contadores:
* As aventuras de Lúthien e Beren – A busca pelas Silmaril - João "Mandos"
* A queda de Melkor - Nilda "Alcarinquë" Azevedo
* As aventuras das Águias na Terra-média - Thingol
* As aventuras de quatro hobbits na Floresta Velha - Sara "Gythien" Souza
* As aventuras de Frodo e Sam - Luana "Luthúriel" Navarro e Elfhelm
* As aventuras de Pipin e Merry - Luana "Luthúriel" e Elfhelm
* Aventuras nas Sendas dos Mortos - Claudia "Nísire" Mazza
* A batalha de Pelennor - Luana "Luthúriel"
Concurso de Fantasias
Uma das características dos fãs de carteirinha, como os de Tolkien, é de quando admiram as vestes de um personagem (retratado tanto em filmes como em ilustrações ou no seu imaginário), ele resolve confeccionar e vestir uma fantasia o mais semelhante possível do original. É o que aconteceu neste evento. Foi um concurso onde fãs se vestiram desde altos elfos, passando por hobbits, até arqueiros, como o pequeno Manwë.
Mas os ganhadores foram Douglas Costa, vestido de Thranduil, o rei da Floresta das Trevas, e Cláudia “Nísirë”, fantasiada de viúva do Boromir. Os ganhadores receberam um kit de prêmios, entre eles, actions figures da Gulliver.
Apresentação de Música Celta
A Hobbitcon contou com o show de Música Celta da banda Olam Ein Sof. O dueto, composto pelo casal Marcelo Miranda e Fernanda Ferreti, apresentou-se diversas vezes, com um belo repertório, ao som de violões, vocal e percussão. O público assistiu as apresentações maravilhado com a qualidade e beleza das músicas. A banda Olam Ein Sof, cujo nome significa "Mundo dos infinitos" já possui dois álbuns. Para quem quiser dar um conferida e saber mais obre a banda, o site oficial deles é: http://www.olameinsof.com/.
Estandes Temáticos
Haviam também diversos estandes, disponibilizando produtos relacionados à temática Tolkienana, como cartazes de filmes, miniaturas, livros de RPG, e até fantasias para os mais ousados. Desde uma varinha de Harry Potter, até uma espada orc podiam ser comprados por lá. Para quem tinha algum dinheiro guardado, foi uma ótima oportunidade para aumentar a sua coleção, ou quem sabe até mesmo para iniciar uma.
Sorteio de Brindes:
Durante o dia, vários sorteios, desde a parte da manhã até o encerramento, foram realizados. Cada visitante recebia um número na entrada pelo qual concorria. Os brindes eram vários: cards importados, chaveiros de personagens dos filmes, livros de RPG, jogos, CDs de bandas (como a "The Hobbeats"), entre outros. Destacam-se uma espada Orc, o machado anão de Gimli, e um escudo de Rohan, todos réplicas muito bem feitas das usadas nos filmes. Lembrando que os brindes foram conseguidos graças as doações dos associados e empresas, como a Sci-Fi News ou a editora Devir. O anúncio no microfone era feito pela simpática Rosana "Shelob" Rios. Com certeza os ganhadores sairam felizes, e quem não ganhou também, pois o clima foi muito alegre.
Arena de Eva - Luta de Espadas:
Durante a HobbitCon, nos fundos da Casa da Bruxa, foi construído um verdadeiro campo de duelos, onde batalhas épicas entre homens, elfos e orcs aconteciam: a Arena de Eva.
O pessoal duelava usando espadas de espuma, simulando um combate real. As regras eram simples: toque nas pernas ou nos braços perdia um ponto. No tronco perdia dois. Se perdesse dois pontos, era considerada uma vida. Se tocasse na cabeça ou nos "países baixos", o ponto era revertido pra quem tomou o golpe.
O pessoal se divertiu a valer duelando com as espadinhas. O único problema é que do outro lado tinha um verdadeiro samurai, que descia lenha em todo mundo, e meio que monopolizava uma das espadas, já que ele era inderrotável (se é que essa palavra existe de fato). Mas o que valeu, no fim das contas, foi a diversão.
Fabiano "Skywalker" atacando na luta de espadas.
Veja também:
Relatório de 2 palestras no blog de Gabriel O. Brum.
Breve relatório da HobbitCon, por Reinaldo Lopes.
Álbum de fotos da HobbitCon.
1ª HobbitCon, no site da Devir.
Fotos
Agradecemos à colega Ariadne "Idril" Rodrigues, que colaborou com a parte das contações de histórias da Casa de Vairë. E à Fabiano "Skywalker" Neme, colaborando com a parte da Arena de Eva!
Apresentação:
Dois membros da Heren Quentaron estiveram presentes na 2ª edição da HobbitCon, que se realizou no dia 15 de novembro de 2005, na Casa de Bruxa, em Santo André-SP. Por estarem presentes, puderam acompanhar as palestras, as apresentações de músicas celtas, conferir os sorteios, as exposições e muito mais.
Achamos que seria uma oportunidade legal de contar como foi este evento, especialmente para aqueles que não puderam ir, e portanto produzir um artigo. Mas para não ficar só na escrita, também temos várias fotos deste evento Tolkieniano que são citadas ao longo do artigo.
Ah, este especial também é o artigo de número 50 do grupo. Esperamos que gostem, boa leitura!
2ª HobbitCon - 2005
O que é HobbitCon?
HobbitCon (Con de Convenção) é um evento que visa reunir vários fãs de Tolkien, para participar de palestras, concursos, ouvir histórias, entre outras coisas, organizado pela Federação Tolkiendili Brasileira. Opa, mas o que é essa FTB? Esse órgão é composto de 8 comunidades e sociedade Tolkienianas: Valinor, Dúvendor, O Pônei Saltitante, O Condado, Heren Hyarmeno, Amon Hen, O Conselho Branco, e Sociedade Tolkien Brasileira. Portanto, é um evento para todos os fãs do professor Tolkien, desde os admiradores dos filmes até os mais estudiosos.
Até o momento são 2 edições, a primeira foi em 17 de janeiro de 2004, que reuniu quase 800 pessoas na Oficina Cultural Oswald de Andrade, em São Paulo - SP, e a 2ª ocorreu há pouco, em 15 de novembro de 2005, reunindo cerca de 250 pessoas. Como entrada ou "ingresso", é necessário levar 1 kg de alimento não perecível. Tudo o que é arrecadado, é revertido para instituições.
Palestras
As três palestras da HobbitCon se realizaram na Sala do Mago, a primeira à direita de quem entra, na Casa de Bruxa. Como era pequena e um tanto abafada, algumas pessoas chegaram a acompanhar pela janela, no lado de fora! Mesmo assim, as conversas dos palestrantes com o público presente foram muito agradáveis e interessantes, pois todos são grandes conhecedores de Tolkien, e foi impossível não sair de lá sem ter acrescentado algo em seu conhecimento “tolkieniano”, ou “celta”, como o caso da palestra de Cláudio Quintino. Vamos a elas:
As Cartas de J.R.R. Tolkien
A primeira palestra do dia foi sobre o novo livro de Tolkien, que chega ao Brasil em breve, pela editora Arte & Letra “As Cartas de J.R.R. Tolkien”. Conduzida por ninguém mais que o seu próprio tradutor, Gabriel O. Brum, e com a participação especialíssima do jornalista Reinaldo “Imrahil” Lopes.
Gabriel iniciou falando da idéia da tradução, de sua “estupefação com o convite para o trabalho”, como conta em seu blog, proposto por Thiago Marés (o editor), e disse que aceitou fazê-la “após recolhido o queixo”, como disse na palestra. Explicou das negociações com a Harper Collins, a editora inglesa do Tolkien, e desse processo inicial. E seguiu falando de uma maneira geral como foi a tradução, a diferença da escrita e linguagem de carta para carta, de algumas dificuldades quando Tolkien usava gírias ou expressões antigas, e assim por diante.
O palestrante trouxe o seu exemplar The Letters of J.R.R. Tolkien numa pasta, e até comentou que agora encontra-se em estado deplorável de tanto manuseio. E deixava um ar de suspense para os futuros leitores a cada vez que terminava de comentar algo de curioso das cartas, dizendo “bom, vocês verão isso nas cartas”. Mas este relatório vai antecipar algumas coisas, como dois nomes “hobbitescos” que irão figurar na carta 214, por exemplo.
Depois do conhecido “Onzenta e um” (111), o novo nome que segue este estilo é “Anoante”. Em inglês é escrito byrding, e Gabriel esclarece: “Ela vem do anglo-saxão byrd, que significa ‘nascimento’ (e daí o birth em inglês moderno). Ou seja, byrding nada mais é do que ‘aniversariante’, mas dito da maneira habitualmente tosca que um Hobbit empregaria”. Significa então que Anoante é uma palavra empregada pelos hobbits para dizer quando uma pessoa está fazendo aniversário.
E que tal o novo sobrenome de uma família hobbit que se chama “Lombarreiro”? Mas como assim? Vamos explicar: este nome vem do inglês Clayhanger, que pode ser decomposto em dois: “Clay” = barro + “hanger” = cabide. Tolkien certamente não se prendeu ao significado mais banal da palavra, e usou o seu estilo mais arcaico, que poderia ser entendido como “declividade embarrada e com árvores”. Porém, como o tradutor explicou, é um sobrenome no mínimo bizarro, e ele precisava descobrir algo mais apropriado para ficar “hobbit”. Evidente que o pessoal da sala deu risadas. Mas a decisão final foi omitir o “árvores” que não ocorre visualmente no nome, e trocar “declividade” por “lomba” somando com “barreiro” (ao invés de barro ou barroso, nomes comuns no português).
E até podemos dizer que esta foi uma feliz escolha, assim como o caso “Valfenda” que seria um “Vale na Fenda”, mas virou uma palavra só. Ah sim, a hobbit que terá esse sobrenome é Lália. E até foi contada a história que acontece com ela, narrada nas cartas, que é muito curiosa e engraçada, porém demoraria para descrever, por isso como diria o palestrante, “vocês verão isso nas cartas”.
Passando para outra curiosidade, Gabriel disse que mudou Ranger, que nas traduções da Martins Fontes é “Guardião” para “Andarilho”. Ele explicou que ‘Andarilho’ se encaixa melhor ao contexto da Obra e ao papel dos Dúnedain, e que ‘Guardião’ só deveria ser usado no caso de um sentido puramente inglês, onde um indivíduo protege um parque real ou uma floresta.
Mas como o tempo estava acabando, a vez foi passada para o jornalista Reinaldo Lopes que leu uns trechos das Cartas. Uma delas foi escrita 1 dia depois da explosão da bomba atômica, em que Tolkien comentava sobre racismo e nazismo. Nela, podemos observar um lado bastante pessoal do professor, chocado com a guerra, mas sem perder as esperanças.
Fotos:
Gabriel palestrando.
Palestra das “Cartas”.
Gabriel palestrando, 2.
Reinaldo lê um trecho engraçado das cartas.
Smaug (da Heren Quentaron) com o tradutor Gabriel.
Reinaldo, Marreco (Thain da Toca ES) e Gabriel.
Mitologia Celta e Tolkien
A segunda palestra do dia foi com Cláudio ‘Crow’ Quintino, que, como disse Reinaldo Lopes, “sem dúvida é o maior especialista de mitologia celta do país”. Ele é autor de "O Livro da Mitologia Celta", e fez um show de palestra mostrando relações da mitologia celta com as obras de Tolkien. Foram muitas informações passadas aos ouvintes, portanto aí vão algumas.
Cláudio começou explicando o que é mitologia. Disse que as pessoas associam mitologia com mito e que como um mito seria algo falso, mitologia também o é. Mas na verdade ele frisou que mitologia é a história de um povo contada sob o ponto de vista de um outro povo, e que portanto não deve ser interpretada como uma história falsa. Contou que, para os celtas, a natureza era algo da maior importância. Eles davam valor para tudo que existia nela, como os cursos dos rios, e comentou como um celta se sentiria “mal” nos dias de hoje ao ver tanta poluição. E após uma breve introdução sobre “mitologia”, perguntou se até aí estava entendido o assunto, como ninguém questionou, ele prosseguiu.
Quintino comentou que leu O Senhor dos Anéis com 15 anos e que durante um bom tempo só lia esta obra, pois sempre que terminava ele começava novamente. Brincou que não precisamos ser “fanáticos”, embora ele mesmo tenha admitido que fazer tatuagens com nem 20 anos de um livro que recém conheceu, e escondido dos pais, talvez seja um tanto “fanatismo”. (Cláudio tem uma tatuagem da árvore de Gondor no braço esquerdo). E muitos caíram na graça.
Mas aí fez uma abordagem da relação do rei Arthur com o rei Aragorn. Mostrou como as histórias dos personagens são semelhantes: no início são simples, mas com o tempo precisam reconhecer o seu valor e resgatar suas espadas para conquistar um reinado. E no meio disso, rola o romance de Arthur com Guinevere, assim como Aragorn com Arwen. A espada de Arthur estava fincada na pedra, e só ele poderia tirá-la dali, do mesmo modo que só Aragorn poderia empunhar a espada Narsil/Andúril restaurada e enfrentar Sauron. Até fez uma explicação lingüística: Arthur é a composição de Arth (Herói) + gwr (Urso) = "Herói Urso".
O palestrante, num certo ponto, contou uma história celta que lembra muito Númenor, e que poderia ter inspirado Tolkien. Pois na mitologia celta há uma ilha muito além das terras firmes, à oeste do continente europeu, onde vivem pessoas, que se chama Breasil – inclusive, como comentou, pode ser uma origem lingüística para o nome “Brasil”, ao invés da conhecida história do “pau Brasil”.
Cláudio também falou que a primeira palestra que ele deu foi em 1989, que tinha como tema “Tolkien e Música”. Mas o tempo foi se esgotando, pois logo em seguida haveria a palestra sobre “Sexo e Amor na Terra-média”, então ele disse que foi um prazer estar ali e recebeu uma salva de palmas.
Fotos:
Quintino Palestrando.
E a palestra continua...
Smaug (da Heren) com Cláudio.
Marreco e Claudio.
Sexo e Amor na Terra-média
E a terceira e última do dia foi sobre um tema muito curioso nas obras do professor: Sexo e Amor. Os palestrantes foram Reinaldo Lopes, João “Mandos”, e Gabriel Brum, sentados em cadeiras ao lado de Rosana “Shelob” Rios (uma das organizadoras do evento) que tecia alguns comentários. Foi estabelecido 10 minutos para cada um, para que todos tivessem chance de falar.
Reinaldo começou falando sobre a “ciência” na Terra-média. De como seria se tentássemos explicar as relações entre os sexos, e o comportamento de determinadas raças deste continente imaginário, usando a ciência do nosso mundo. Na certa realidade com fantasia dariam em algo no mínimo bizarro ou curioso. E deu. A primeira raça analisada foram os terríveis Orcs. Oras, pelas explicações de Reinaldo, eles bem que poderiam ser fêmeas! Claro, basta analisarmos a semelhança com a organização “social” deles com insetos como as formigas. Estes pequenos insetos dividem-se em ‘trabalhadoras’, as ‘formigas-soldado’ e a ‘formiga-rainha’.
Se isso não convenceu, vale uma lida na matéria do próprio palestrante que saiu na revista Galileu de outubro, que trata do mesmo assunto. E agora algo que deixaria o anão Gimli furioso: seria ele uma “Gimla”? Se for outra idéia absurda, o jornalista explica: na raça dos anões, tanto os homens quanto as mulheres têm barba (por incrível que pareça), e possuem características físicas quase idênticas. Reinaldo também comentou que a relação das famílias Anãs poderia ser “poliândrica” (quando uma mulher tem vários maridos), visto que a maioria dos personagens anões são machos.
Feitas as explicações do Reinaldo, João “Mandos” assumiu a palestra. Sua fala se deu em cima das “Leis e Costumes entre os Eldar”, ou seja, da relação amorosa entre os elfos. Comentou que uma característica que predomina nas obras de Tolkien é o fato de um casamento élfico ser para toda vida, com a exceção de Finwë e Míriel. Assim como o casamento não era obrigado, só se casavam aqueles que realmente se amavam.
A palestra chegou na reta final, e a vez foi do Gabriel, que fundamentou suas falas nas opiniões do próprio Tolkien. Citou a carta 43, em que o professor fala ao filho Michael sobre sexo. E também comentou sobre algumas críticas da época em que o Senhor dos Anéis foi lançado, como a reclamação ao fato de não haver sexo ou a vontade dos personagens de fazê-lo. Explicou que para o contexto da obra, não era necessário mostrar cenas de sexo, e as relações amorosas eram demonstradas através do “amor cortês”, característico das novelas de cavalaria.
Deixou claro que sexo não era um tabu para Tolkien, pois o próprio chegava a dizer “que o casamento era o melhor modo de ‘temperança sexual’, comparando-o com um bom vinho que deve ser desfrutado aos poucos, e não abusado em ‘bebedeiras’”, como explica Gabriel.
E foi isso. O tema “Sexo e Amor” foi lançado, cada um dos palestrantes contou um pouco sob os seus pontos de vista. Após isso, foi aberto o espaço para as perguntas e discussão.
Foto:
Os palestrantes e o público.
No evento...
Casa de Vairë
Um dos destaques da HobbitCon ficou por conta da Casa De Vairë, evento do Conselho Branco onde há contação de histórias. O local escolhido para sediar a Casa de Vairë foi uma árvore que oferecia uma sombra aconchegante, como pode ser visto nessa foto: aqui.
Foram contadas oito histórias, onde teve-se a prensença de contadores veteranos e novatos, sendo que uma das histórias foi contada por duas pessoas simultaneamente ("As aventuras de Frodo, Sam, Merry e Pippin na Terra-média" , por Luthúriel e Elfhelm).
A maioria dos contadores eram da Toca-SP, o que não siginfica que o evento não contou com gente mais do que especial de outro estado. Aqui o destaque fica pra Cláudia "Nísire", Coordenadora da CdV da Toca-RJ, que contou com maestria a passagem de Aragorn, Gimli e Legolas pela Senda dos Mortos.
Vale a pena lembrar o grande destaque da Casa De Vairë, que ficou para o veterano Mandos: um pedido inusitado de casamento que ele fez à Sheila "Vairë", logo após contar a história de Beren e Lúthien.
Histórias contadas e seus contadores:
* As aventuras de Lúthien e Beren – A busca pelas Silmaril - João "Mandos"
* A queda de Melkor - Nilda "Alcarinquë" Azevedo
* As aventuras das Águias na Terra-média - Thingol
* As aventuras de quatro hobbits na Floresta Velha - Sara "Gythien" Souza
* As aventuras de Frodo e Sam - Luana "Luthúriel" Navarro e Elfhelm
* As aventuras de Pipin e Merry - Luana "Luthúriel" e Elfhelm
* Aventuras nas Sendas dos Mortos - Claudia "Nísire" Mazza
* A batalha de Pelennor - Luana "Luthúriel"
Concurso de Fantasias
Uma das características dos fãs de carteirinha, como os de Tolkien, é de quando admiram as vestes de um personagem (retratado tanto em filmes como em ilustrações ou no seu imaginário), ele resolve confeccionar e vestir uma fantasia o mais semelhante possível do original. É o que aconteceu neste evento. Foi um concurso onde fãs se vestiram desde altos elfos, passando por hobbits, até arqueiros, como o pequeno Manwë.
Mas os ganhadores foram Douglas Costa, vestido de Thranduil, o rei da Floresta das Trevas, e Cláudia “Nísirë”, fantasiada de viúva do Boromir. Os ganhadores receberam um kit de prêmios, entre eles, actions figures da Gulliver.
Apresentação de Música Celta
A Hobbitcon contou com o show de Música Celta da banda Olam Ein Sof. O dueto, composto pelo casal Marcelo Miranda e Fernanda Ferreti, apresentou-se diversas vezes, com um belo repertório, ao som de violões, vocal e percussão. O público assistiu as apresentações maravilhado com a qualidade e beleza das músicas. A banda Olam Ein Sof, cujo nome significa "Mundo dos infinitos" já possui dois álbuns. Para quem quiser dar um conferida e saber mais obre a banda, o site oficial deles é: http://www.olameinsof.com/.
Estandes Temáticos
Haviam também diversos estandes, disponibilizando produtos relacionados à temática Tolkienana, como cartazes de filmes, miniaturas, livros de RPG, e até fantasias para os mais ousados. Desde uma varinha de Harry Potter, até uma espada orc podiam ser comprados por lá. Para quem tinha algum dinheiro guardado, foi uma ótima oportunidade para aumentar a sua coleção, ou quem sabe até mesmo para iniciar uma.
Sorteio de Brindes:
Durante o dia, vários sorteios, desde a parte da manhã até o encerramento, foram realizados. Cada visitante recebia um número na entrada pelo qual concorria. Os brindes eram vários: cards importados, chaveiros de personagens dos filmes, livros de RPG, jogos, CDs de bandas (como a "The Hobbeats"), entre outros. Destacam-se uma espada Orc, o machado anão de Gimli, e um escudo de Rohan, todos réplicas muito bem feitas das usadas nos filmes. Lembrando que os brindes foram conseguidos graças as doações dos associados e empresas, como a Sci-Fi News ou a editora Devir. O anúncio no microfone era feito pela simpática Rosana "Shelob" Rios. Com certeza os ganhadores sairam felizes, e quem não ganhou também, pois o clima foi muito alegre.
Arena de Eva - Luta de Espadas:
Durante a HobbitCon, nos fundos da Casa da Bruxa, foi construído um verdadeiro campo de duelos, onde batalhas épicas entre homens, elfos e orcs aconteciam: a Arena de Eva.
O pessoal duelava usando espadas de espuma, simulando um combate real. As regras eram simples: toque nas pernas ou nos braços perdia um ponto. No tronco perdia dois. Se perdesse dois pontos, era considerada uma vida. Se tocasse na cabeça ou nos "países baixos", o ponto era revertido pra quem tomou o golpe.
O pessoal se divertiu a valer duelando com as espadinhas. O único problema é que do outro lado tinha um verdadeiro samurai, que descia lenha em todo mundo, e meio que monopolizava uma das espadas, já que ele era inderrotável (se é que essa palavra existe de fato). Mas o que valeu, no fim das contas, foi a diversão.
Fabiano "Skywalker" atacando na luta de espadas.
Veja também:
Relatório de 2 palestras no blog de Gabriel O. Brum.
Breve relatório da HobbitCon, por Reinaldo Lopes.
Álbum de fotos da HobbitCon.
1ª HobbitCon, no site da Devir.
Fotos
Agradecemos à colega Ariadne "Idril" Rodrigues, que colaborou com a parte das contações de histórias da Casa de Vairë. E à Fabiano "Skywalker" Neme, colaborando com a parte da Arena de Eva!
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