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Clube de Leitura 14º Conto - Mujique Marei (Dostoiévski)

Molly Bloom

Vadí? Nevadí.
Conforme indicações e enquete, o conto escolhido para a 14ª edição do Clube de Leitura é Mujique Marei, do Dostoiévski.

A discussão começa no próximo sábado, 23/02/2019.
Enquanto isso, fique à vontade para escrever sobre o autor, edições disponíveis, entre outros assuntos relacionados, evitando referências a pirataria e sites suspeitos.

Lembrando que todos podem participar da discussão, sempre levando em conta as Regras e Diretrizes do Clube de Leitura.
 
A edição que eu tenho do conto em tela se encontra no livro "Contos Reunidos", que foi lançado pela Editora 34. A tradução de Mujique Marei foi feita diretamente do russo pela psicóloga paulistana Priscila Marques.

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O conto O Mujique Marei foi escrito por Fiódor Dostoiévski em 1876 e consta no Diário de Um Escritor.

É uma narrativa com passagens autobiográficas de seu tempo na prisão, em que recorda um episódio acontecido com ele durante sua infância, quando ele tinha nove anos de idade.
 
Adorei o conto. A ideia do enquadramento da cena como uma memória na prisão foi bem acertada porque conversa com os temas religiosos do autor. Fiodor agora se encontra num momento crítico de sua vida e experimenta o inferno da prisão russa, cercado de outros tantos ali condenados por diferentes motivos, justiçáveis ou não. O mundo da prisão é seu mundo, um mundo onde a violência é arbitrária mas constante. O resgate da lembrança, no entanto, faz ele perceber que nem tudo é ruim. Num mundo onde tudo parece conspirar para o mal, os marginalizados e excluídos ainda têm forças para resistir e não soçobrar - por que não ele, então? A dignidade que ele quer manter se espelha na figura de um simples mujique, menosprezado, que o conforta emocionalmente. O mujique redime o mundo representado no lobo que o garoto pensou ouvir sobre. A memória não só o conforta - pois coloca o mujique como um ideal russo - como o faz compreender melhor o sofrimento do detento polonês - afinal, o sofrimento que Mirecki sofreu nas mãos dos russos justifica seu ódio por eles.

Aliás, dica para entender um pouco mais sobre Mirecki: http://www.ruf.rice.edu/~sarmatia/405/254tokar.html
É um trecho das memórias de Simon Tokarzewski, detento que passou pelo mesmo período na prisão que Dostoievski.
 
Também gostei do conto. Dostoiévski consegue em poucas páginas nos emocionar com uma história singela. Além disso, o autor, intencionalmente, coloca uma recordação no centro de outra, combinando-as; compreendemos que se trata de dois acontecimentos, que compõe uma recordação, pois um dos acontecimentos (o primeiro) está apenas dentro de outro, mais tardio em termos temporais, mas sem o qual não haveria necessidade de recordar o primeiro.

Enfim, apesar de um texto curto, ele é profundo e emocionante.
 
Em tempo: o conto supreendeu-me pela simplicidade (não num sentido ruim, mas sim na ideia de ser singelo frente a outros textos que li do autor). No meio de uma festa um tanto violenta em uma prisão, o narrador se resguarda e relembra um acontecimento da sua infância. Se no início a atmosfera era de que algo ruim estava prestes a acontecer, ao final, temos um desfecho leve, em que o protagonista consegue avaliar toda aquelas pessoas que considera inicialmente destetáveis por outra perspectiva. E isso só é possível porque as compara com um mujique que conhecera aos nove anos e o ajudara em uma situação de medo. Gostei especialmente do trecho em que ele afirma que nem se lembrava mais do mujique, mas, de repente, a memória chega a ele em pormenores, em um momento que dela necessitava - aí está a questão: se ele não tivesse se lembrado desse momento teria reagido de forma diferente?
 

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