Reconstituição do Vela
ou
Explanação da teoria mais popular, para quem não entende de aviação
ou ainda
"titio Vela explicando o que já não é novidade de um jeito que até um orangotango vai entender"
[Estou postando no mesmo estilo literário dos meus livros. Isso me assusta. Será que caminho em direção à Prímula?!?]
Primeiro, antes de entrar no mérito de aquaplanagem, permitam-me deixar claro que num sistema anti-travamento, por exemplo, freio ABS, em nenhum momento a roda chega a derrapar. Isso porque assim que a aquaplanagem acontece, o sistema destrava a roda pra que ela volte a girar e recuperar o atrito com o solo. Esse sistema impede que a frenagem seja tão eficiente como numa pista seca. Assim, a existência da aquaplanagem faz com que o veículo freie mais devagar ao invés de derrapar. Se o pneu não derrapou, é lógico que não haverá marcas de água fervente ou whatever. O fato da pista permitir aquaplanagem *diminui a velocidade de frenagem*.
Segundo, não sei se todos sabem o que é um reversor, digo isso pq alguém já me contou que "tinha uma coisinha lá no avião que era pra ter dois e tinha um". Então melhor explicar: cada turbina do avião tem um sistema que coloca abas na frente da saída da turbina direcionando o ar para a frente. Seria como colocar uma cartolina na frente do ventilador: desvia o ar. O efeito é parecido com virar a turbina ao contrário, só que não tão eficiente. É uma espécie de freio-a-turbina.
O manual do airbus diz que o avião até pode operar sem, mas o meu bom senso me diz que isso é tão estúpido quanto operar sem
flap.
Terceiro, não sei se todos sabem como funcionam os procedimentos de pouso e decolagem, mas vamos lá: a pista não é feita para ser usada por inteiro num pouso/decolagem. Usa-se apenas uma parte dela. Não sei a medida exata para o caso de jatos, mas para aviões monomotores o correto é decolar e pousar usando apenas um terço da pista, e todo o tempo que o avião estiver sobre a pista, mesmo que fora do chão, deve manter abaixado o trem de pouso ("rodinhas"). Por quê? Porque se durante a decolagem algo sair errado, o piloto simplesmente reduz a velocidade, abaixa o avião e pousa denovo. Os outros dois terços de pista estão lá pra isso. Da mesma forma, no pouso, se não houver condições seguras, o piloto simplesmente aumenta a velocidade e decola novamente. Os outros dois terços de pista também estão lá pra isso. Esses procedimentos são
corretos.
Ok, vamos à reconstituição. Não tem nada novo aqui, apenas vou mastigar a teoria que eu considero mais provável:
O avião desceu.
Em primeiro lugar, o reversor não estava "nos trinques", como a própria empresa admitiu: um deles estava travado para não ser usado. Logo, o avião não contou plenamente com essa ferramenta para reduzir sua velocidade. Teve que contar com os pneus.
A pista foi entregue prematuramente sem o sistema de drenagem. Logo, havia uma camada anormal de água na pista. Essa camada de água causou aquaplanagem e o sistema de freio com o solo foi bem menos eficiente.
Assim, as duas formas de freio estavam prejudicadas, o avião não contava com nenhum freio decente.
O piloto, percebendo, pode ter tentado arremeter, ou seja, decolar na pista restante, dar a volta e pousar denovo. Mas a pista é curta e não permitiu esse tipo de manobra, acabando antes que o avião tivesse chance de subir.
A roda esquerda tocou a grama, e forçando esse lado do avião para trás, girou em direção à rua.
Com velocidade alta por não ter tido nenhum sistema eficiente de freio (e possivelmente acelerado numa tentativa de arremeter), o avião se chocou contra o prédio da própria empresa, ao lado de um posto de gasolina.
Com o choque, o posto de gasolina explodiu.
Logo, a culpa não seria ônus exclusivo de alguém. Foi mesmo uma puta lei de
Murphy.
Nota: sobre arremeter, não tenho informações pra saber se o piloto acelerou na pista, seria necessário ver com calma as filmagens das câmeras e a caixa preta. Mas é uma hipótese.