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Bacanal Grande Sertão: Veredas — Fui, vi, vivi e venci

Também tenho essa impressão lendo Grande Sertão, parece que ele necessita de certa vocalização, nem que seja interna, do contrário perde a oralidade e se torna até meio... monstruoso. É complicado, porque os silêncios entre as elipses e orações, por exemplo, me remetem sempre a Dostoievski, um espaço vazio, um negativo onde o silêncio precisa ressoar e, para tanto, é preciso recuar o sentido da pura intelecção, é preciso deixar de imaginar e se deixar invadir pela concretude das palavras e dos silêncios, o espaço da oralidade.
 
Bethânia + Literatura é, sempre, uma boa combinação.



Ainda não me organizei para ler uns parágrafos, hoje. Mas, fiquem tranquilos, que não vou passar um único dia sem ler um cadinho.
 
Também tenho essa impressão lendo Grande Sertão, parece que ele necessita de certa vocalização, nem que seja interna, do contrário perde a oralidade e se torna até meio... monstruoso. É complicado, porque os silêncios entre as elipses e orações, por exemplo, me remetem sempre a Dostoievski, um espaço vazio, um negativo onde o silêncio precisa ressoar e, para tanto, é preciso recuar o sentido da pura intelecção, é preciso deixar de imaginar e se deixar invadir pela concretude das palavras e dos silêncios, o espaço da oralidade.
Compreendo o paralelo de Rosa com Dostoiévski, embora acredite que tu tenhas ligeiramente deslocado o eixo original da questão. Tentarei explicar-me melhor.

A prosa desleixada de Dostoiévski é sua marca registrada, e como tal pode tomar forma de virtude ou vicio dentro do texto, dependendo do gênero que se trate. Nas novelas ("Notas do subsolo", "Sonho de um homem ridículo, "A dócil") e narrativas breves, cujo caráter é o de tensão concentrada, o estilo de escrita epilético do Dostô cai perfeitamente e prende o leitor com um "mata-leão" estilístico: seco, rasteiro e violento; em romances extensos ("Os demônios", "Irmãos Karamazov") este estilo mata-leão tende a degenerar em algo sufocante, desconfortável e hostil, tornando irregular a própria qualidade das obras, e a narrativa, desta maneira, oscila num ritmo de montanha russa ( :D olha só!). Em ambos os casos o deixar-se "invadir pela concretude das palavras e dos silêncios, o espaço da oralidade" é notável, embora creio que nem sempre desenvolvido consciente e exitosamente pelo autor. Atrevo-me a dizer: o apelo estilístico causado por Dostoiévski se dá à revelia do próprio Dostoiévski.
Com Rosa, porém, tudo é detalhadamente lapidado, da primeira até a última frase, cada qual prenhe de significado, onde não apenas os eventos e pensamentos descritos, mas as próprias palavras parecem querer insinuar algo por si mesmas. Como entender que esta obsessão pela construção sintática possa, ao mesmo tempo e sem prejuízo para nenhum dos lados, ser índice do comprometimento do autor em face a fala sertaneja "bruta", enquanto expressão máxima da língua largada do jagunço?
Erich Auerbach, no seu estudo acerca da representação da realidade na literatura ocidental, pode oferecer-nos uma pista. Ao analisar uma cena do banquete entre mercadores incultos que alimentam ambições mesquinhas, composta por Petrônio no primeiro século da era cristã, Auerbach faz o seguinte comentário:

Cenas como, por exemplo, o discurso do vizinho de mesa, ou a disputa entre Trimalção e Fortunata, mostram, certamente, um pensamento dos mais baixos e vulgares, mas o fazem com um tal refinamento de motivos entrecruzados, com tantos pressupostos sociológicos e psicológicos, que nenhum público popular suportá-lo-ia. E o baixo estilo da linguagem não está destinado, certamente, ao riso [leia-se aqui "interesse"] de uma grande multidão, mas é o elegante condimento para o gosto de uma elite social e literária que observa as coisas de cima [...]

Coloquei alguns excertos em negrito afim de demonstrar o quão equivocadas são certas defesas que algumas pessoas insistem em levantar a favor do Guimarães Rosa, dizendo que o povão não o aprecia unicamente por motivos de baixa instrução formal, sendo que na verdade o próprio fato de alguém receber uma formação escolar superior já transforma-o numa espécie de pária dentro da camada popular, elevando-o a uma elite, se não social, ao menos "literária", acadêmica e/ou cientifica. Infelizmente este fenômeno fica ofuscado pelo receio de qualificar algo como provindo de determinado "elitismo", devido as conotações pejorativas associadas a tal termo numa sociedade democrática (muitíssimo imperfeita, é claro, mas democrática).
Até aqui nada falei de novo, pois minha problematização surge justamente no momento em que alguns membros desta suposta elite rejeitam a proza roseana através de argumentos capciosos e discursos apologéticos do gênero "um escritor que trabalhe com material popular deve escrever de forma simples e inteligível para todos!", concebo existir nestas reivindicações aspectos que ultrapassam a mera opinião.
Voltemos novamente a Dostoiévski, sabendo ser muita profícua uma comparação entre os dois mestres, porquanto depara-se com exigências distintas de leitura, ambas cumuladas de uma carga de oralidade que, entretanto, são acionadas cada uma de uma forma. A locução informal e, digamos, "nervosa" (penso sobretudo nas "Notas do Subsolo") do Dostô, é percebida de forma imediata, bastando decodificarmos as frases de suas obras para notarmos que não são "beletristas" em sentido lato, muito pelo contrário, parecem jogadas, escritas como com pressa, sem (pelo menos aparentemente) considerações de estilo ou ritmo da narrativa, transparecendo, isto sim, uma ânsia quase mistica por transmitir ideias ou eventos que praticamente nunca são recepcionadas pelo autor, mas se impõe, sem mais nem menos, na corrente do texto.
Em Guimarães Rosa há o reverso: o beletrismo é evidente, o apuro com cada minúscula passagem é assombroso, trata-se, não obstante, de uma locução informal extremamente pesada, na qual o mero ato de decodificar orações/identificar neologismos e figuras de linguagem/perceber os elementos orais -- NÃO BASTA para revivificar no leitor a plena percepção da voz (em todos os sentidos) poética (roseana) sertaneja (popular) presente no texto. É necessário ativar de forma mediata, através da vocalização (ou declamação), o caráter popular da prosa do "Grande Sertão...".

"...é preciso... se deixar invadir pela concretude das palavras e dos silêncios, o espaço da oralidade..." -- invadir é exatamente o ponto paradigmático: em Dostoiévski esta invasão, esta imersão na língua alheia é possível sem um pio, na tão somente pura atenção de nossa leitura; em Rosa esta invasão só é efetiva quando esgarçarmos a própria voz afim de tonificar a de Riobaldo, pois Rosa pede mais do que nossa identificação/simpatização com a trama ou os personagens -- ele exige também uma incorporação na fala de Tatarana, como se tivéssemos de nos deixar possuir totalmente pela ficção. Tal leitura implica numa performance pessoal e isolada do leitor.
Desde Walter Benjamin sabe-se que o romance moderno pressupõe um leitor solitário, refastelado em sua intimidade silenciosa com um livro em mãos, enquanto a narrativa tradicional, representada pelos contos/anedotas/fábulas/canções/causos populares propagados de boca em boca, direcionam-se diretamente a ouvintes que compartilham um horizonte de crenças e concepções comuns, possibilitando, desta forma, a transmissão da experiência -- transmissão esta ausente ou irreconhecível na ligação isolante do leitor com o romance moderno. Esta, segundo Benjamin, seria a crise da narrativa e, por conseguinte, da própria experiência a partir do séc. XVII.

Rosa tentou (terá conseguido?) distensionar tal dicotomia, utilizando-se, para tanto, do elemento dos dois mundos (popular e literário -- oral e escrito) em vistas de fundi-los harmonicamente, propiciando seu móbil duradouro (a palavra escrita) enquanto suporte integrado com sua mais plena expressão (a declamação ou vocalização).
Nada se perde ao lermos Dostoiévski numa biblioteca pública, mas é frustante ler Rosa em tais condições.
 
Eita que o nível subiu aqui!
E a tendência é subir ainda mais, porque as pessoas que ainda não começaram a leitura da obra, terão o privilégio de contar com toda esta discussão, introdutória e pertinente, como amparo para a leitura.


Quem diria que, dez anos depois da melhor época do Literatura, conseguiríamos reativar o trem todo, né? Tô muito empolgada com o fato de, nos últimos dias, o Literatura ter sido a parte mais movimentada do fórum. :pula:
 
Compreendo o paralelo de Rosa com Dostoiévski, embora acredite que tu tenhas ligeiramente deslocado o eixo original da questão. Tentarei explicar-me melhor.

A prosa desleixada de Dostoiévski é sua marca registrada, e como tal pode tomar forma de virtude ou vicio dentro do texto, dependendo do gênero que se trate. Nas novelas ("Notas do subsolo", "Sonho de um homem ridículo, "A dócil") e narrativas breves, cujo caráter é o de tensão concentrada, o estilo de escrita epilético do Dostô cai perfeitamente e prende o leitor com um "mata-leão" estilístico: seco, rasteiro e violento; em romances extensos ("Os demônios", "Irmãos Karamazov") este estilo mata-leão tende a degenerar em algo sufocante, desconfortável e hostil, tornando irregular a própria qualidade das obras, e a narrativa, desta maneira, oscila num ritmo de montanha russa ( :D olha só!). Em ambos os casos o deixar-se "invadir pela concretude das palavras e dos silêncios, o espaço da oralidade" é notável, embora creio que nem sempre desenvolvido consciente e exitosamente pelo autor. Atrevo-me a dizer: o apelo estilístico causado por Dostoiévski se dá à revelia do próprio Dostoiévski.
Com Rosa, porém, tudo é detalhadamente lapidado, da primeira até a última frase, cada qual prenhe de significado, onde não apenas os eventos e pensamentos descritos, mas as próprias palavras parecem querer insinuar algo por si mesmas. Como entender que esta obsessão pela construção sintática possa, ao mesmo tempo e sem prejuízo para nenhum dos lados, ser índice do comprometimento do autor em face a fala sertaneja "bruta", enquanto expressão máxima da língua largada do jagunço?
Erich Auerbach, no seu estudo acerca da representação da realidade na literatura ocidental, pode oferecer-nos uma pista. Ao analisar uma cena do banquete entre mercadores incultos que alimentam ambições mesquinhas, composta por Petrônio no primeiro século da era cristã, Auerbach faz o seguinte comentário:

Cenas como, por exemplo, o discurso do vizinho de mesa, ou a disputa entre Trimalção e Fortunata, mostram, certamente, um pensamento dos mais baixos e vulgares, mas o fazem com um tal refinamento de motivos entrecruzados, com tantos pressupostos sociológicos e psicológicos, que nenhum público popular suportá-lo-ia. E o baixo estilo da linguagem não está destinado, certamente, ao riso [leia-se aqui "interesse"] de uma grande multidão, mas é o elegante condimento para o gosto de uma elite social e literária que observa as coisas de cima [...]

Coloquei alguns excertos em negrito afim de demonstrar o quão equivocadas são certas defesas que algumas pessoas insistem em levantar a favor do Guimarães Rosa, dizendo que o povão não o aprecia unicamente por motivos de baixa instrução formal, sendo que na verdade o próprio fato de alguém receber uma formação escolar superior já transforma-o numa espécie de pária dentro da camada popular, elevando-o a uma elite, se não social, ao menos "literária", acadêmica e/ou cientifica. Infelizmente este fenômeno fica ofuscado pelo receio de qualificar algo como provindo de determinado "elitismo", devido as conotações pejorativas associadas a tal termo numa sociedade democrática (muitíssimo imperfeita, é claro, mas democrática).
Até aqui nada falei de novo, pois minha problematização surge justamente no momento em que alguns membros desta suposta elite rejeitam a proza roseana através de argumentos capciosos e discursos apologéticos do gênero "um escritor que trabalhe com material popular deve escrever de forma simples e inteligível para todos!", concebo existir nestas reivindicações aspectos que ultrapassam a mera opinião.
Voltemos novamente a Dostoiévski, sabendo ser muita profícua uma comparação entre os dois mestres, porquanto depara-se com exigências distintas de leitura, ambas cumuladas de uma carga de oralidade que, entretanto, são acionadas cada uma de uma forma. A locução informal e, digamos, "nervosa" (penso sobretudo nas "Notas do Subsolo") do Dostô, é percebida de forma imediata, bastando decodificarmos as frases de suas obras para notarmos que não são "beletristas" em sentido lato, muito pelo contrário, parecem jogadas, escritas como com pressa, sem (pelo menos aparentemente) considerações de estilo ou ritmo da narrativa, transparecendo, isto sim, uma ânsia quase mistica por transmitir ideias ou eventos que praticamente nunca são recepcionadas pelo autor, mas se impõe, sem mais nem menos, na corrente do texto.
Em Guimarães Rosa há o reverso: o beletrismo é evidente, o apuro com cada minúscula passagem é assombroso, trata-se, não obstante, de uma locução informal extremamente pesada, na qual o mero ato de decodificar orações/identificar neologismos e figuras de linguagem/perceber os elementos orais -- NÃO BASTA para revivificar no leitor a plena percepção da voz (em todos os sentidos) poética (roseana) sertaneja (popular) presente no texto. É necessário ativar de forma mediata, através da vocalização (ou declamação), o caráter popular da prosa do "Grande Sertão...".

"...é preciso... se deixar invadir pela concretude das palavras e dos silêncios, o espaço da oralidade..." -- invadir é exatamente o ponto paradigmático: em Dostoiévski esta invasão, esta imersão na língua alheia é possível sem um pio, na tão somente pura atenção de nossa leitura; em Rosa esta invasão só é efetiva quando esgarçarmos a própria voz afim de tonificar a de Riobaldo, pois Rosa pede mais do que nossa identificação/simpatização com a trama ou os personagens -- ele exige também uma incorporação na fala de Tatarana, como se tivéssemos de nos deixar possuir totalmente pela ficção. Tal leitura implica numa performance pessoal e isolada do leitor.
Desde Walter Benjamin sabe-se que o romance moderno pressupõe um leitor solitário, refastelado em sua intimidade silenciosa com um livro em mãos, enquanto a narrativa tradicional, representada pelos contos/anedotas/fábulas/canções/causos populares propagados de boca em boca, direcionam-se diretamente a ouvintes que compartilham um horizonte de crenças e concepções comuns, possibilitando, desta forma, a transmissão da experiência -- transmissão esta ausente ou irreconhecível na ligação isolante do leitor com o romance moderno. Esta, segundo Benjamin, seria a crise da narrativa e, por conseguinte, da própria experiência a partir do séc. XVII.

Rosa tentou (terá conseguido?) distensionar tal dicotomia, utilizando-se, para tanto, do elemento dos dois mundos (popular e literário -- oral e escrito) em vistas de fundi-los harmonicamente, propiciando seu móbil duradouro (a palavra escrita) enquanto suporte integrado com sua mais plena expressão (a declamação ou vocalização).
Nada se perde ao lermos Dostoiévski numa biblioteca pública, mas é frustante ler Rosa em tais condições.
Nossa, sim, perfeito. Eu não quis comparar os dois mestres nem equalizar suas experiências de oralidade, apenas identificar um ponto em comum no que se refere à experiência como leitor. A experiência, per se, da leitura será notavelmente diferente, mas o que quero chamar atenção é particularmente para o teu penúltimo parágrafo: é um ponto que quero abordar no meu tópico do Rosa, a questão do teatro popular e sua relação com a narrativa mítica, como o épico desborda das páginas não apenas enquanto construção formal e tentativa mitopoética, mas como reflexo natural da experiência orgânica do sertanejo. Esse é um ponto em que os críticos derrapam, porque vivem encastelados nos seus labirintos técnico-formais e muito poucos deles possuem aquela extensão interdisciplinar do olhar, principalmente em direção à etnografia, antropologia social e história das religiões. Se o tivessem, como o Rosa, perspicaz e universal que era, saberiam identificar como esse espaço de oralidade sertaneja e popular, nascida da confluência dos mundos primitivos afro-indígenas, da tradição católica popular lusitana (e, poderíamos até dizer, da experiência judaica sefaradi e suas distantes origens persas e babilônias), é o elemento fundamental de construção de um universo realmente vivo, com a palavra viva da experiência poética desse povo, saberiam que não se constrói narrativas com vocabulários chupados de conversas informais com boiadeiros (embora isso seja necessário também), mas principalmente de todo um modo de vida tradicional centrado na contação de histórias, na narracionalidade da experiência, na vida vivida como experiência narrativa, como espaço e tempo de permanente acontecimento.

Se formos tratar de Dostoievski, veremos que a objetificação é maior, até pelo maior lapso temporal e cultural, suas fontes estão na sátira menipeia, no romance romano, na tradição satírica, na cultura carnavalesca e igualmente popular do imaginário medieval europeu que um Rabelais soube captar com tanta maestria. Trata-se de um caleidoscópio de influências culturais diferentes, heterogêneas, que Dostô captou e transformou em ambiente de uma oralidade atemporal, atemporalidade advinda da carnavalização que irrompe na cena pública de escândalo, onde os segredos da corte, as hipocrisias, as mentiras, são todas reveladas e o centro da cena se presta a um fim ideológico (por mais que sua composição seja polifônica): o irrompimento da verdade que grita no tecido contínuo da história, o grito profético.

São oralidades diferentes também porque se prestam a funções diferentes. Dostô pretende rasgar profeticamente o tecido da história rasgando as convenções, inclusive estilísticas e caracterológicas, para trazer o rasgo profético da verdade pública do carnaval. Já o carnaval de Rosa é outra coisa, é mais sutil mística, que se esconde debaixo do já rasgado sertão. O sertão é uma coleção, um surto quase de rasgos proféticos, de milagres, de irrompimentos de divindades gritando contra a injustiça, a fome, a violência, e todo esse espaço vazio, quase negativo, só precisa ser arranjado por Rosa, e essa é a genialidade de seu trabalho: não causar atritos e rasgos artificiais, mas o de revelar naturalmente como esse rasgo é tão profundo e natural no seu sertão narrativo e metafísico que a diferença entre texto escrito e vida narrada some, e mais do que sermos transportados, como secados, tornados miseráveis, e violentados pelo texto, na crueza e secura do seu simples irrompimento enquanto texto. Toda a liberdade artística do Rosa está concentrada nessa capacidade ímpar de desmontar o leitor enquanto leitor.

Arre, se ficar falando assim. Tópico, tópico, preciso fazer o tópico!!!
 
Pessoas, ando relapsa com este projeto. Desculpem-me. Vou me organizar para voltar a conversar com o Riobaldo. Não desistam de mim e, claro, não desistam do projeto, porque Grande Sertão é amor.
 
Oi, migues do sertanal! Três anos depois, volto ao tópico para dizer que, neste ano, encarei a empreitada de reler o livro. Durante a leitura, até, aproximadamente, a metade do livro, eu estava, tal qual Riobaldo — nosso Hamlet sertanejo — sob o signo da dúvida. Parecia que o sertão não queria falar comigo como outrora. Mas aí a canção de Siruiz (a estrela Sirius?) começou a guiar, profetizar e espelhar meus caminhos de leitura, tal qual a vida de Riobaldo e, quando percebi, no momento em que o diabo estava na rua, no meio do redemunho, eu estava chorando. Foi o ponto de inflexão.

Riobaldo parou de narrar e, das entranhas ambíguas do significado do seu nome, rio e inútil, saltou para a outra significação: a de barragem. Desse lugar de significação, ele represou minhas lágrimas e me explicou que, assim como o sertão é dentro da gente, as veredas também o são, mas, às vezes, elas transbordam pelos nossos olhos.​
 
parar de beber para esticar meus anos de vida e garantir que estarei por aqui para ler a tradução da entrekin (já tem quanto tempo que ela tá trabalhando nisso?) :beam:
 
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