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Ulysses - James Joyce
Sombras vegetavam silentes na paz da manhã flutuantes da escada ao mar para onde olhava. Na praia e mais além embranquecia o espelho d'água, pisado por pés lépidos e leves. Seio branco do mar turvo. Parelhas de pulsos, dois a dois. Mão tangendo as cordas de harpa
fundindo-lhe os acordes geminados. Palavras pálidas do pélago aos pares rebrilhando na turva maré.
Uma nuvem começou a cobrir o sol lenta, toldando a baía de um verde mais fundo. Restava atrás dele, vasilha de águas amargas. A canção de Fergus: eu cantei sozinho na casa, segurando os longos acordes sombrios. Sua porta estava aberta: ela queria ouvir minha música. Calado por pavor e pena fui até sua cabeceira. Ela chorava em seu leito miserável. Por causa daquelas palavras, Stephen:
o amargo mistério do Amor.
Onde agora?
Seus segredos: velhos leques de plumas, cartões de dança debruados, polvilhados de almíscar, rosário de contas de âmbar em sua gaveta trancada. Uma gaiola pendurada na janela ensolarada de sua casa quando era menina. Ela ouviu o velho Royce cantar na pantomima de Turko o terrível e riu com outros quando ele cantou:
Pois afinal
Eu tenho a tal
Invisibilidade.
Alegria fantasmática, recolhida redobrada: almiscarada.
E já não mais cisme e desvie.
Recolhida redobrada na memória da natureza com brinquedos que eram dela. Lembranças tomavam seu cérebro que cismava. O copo de água da torneira da cozinha quando ela recebera o sacramento. Uma maçã sem coração, cheia de açúcar mascavo, assando para ela no fogão em uma noite escura de outono. Suas unhas desenhadas vermelhas do sangue dos piolhos esmagados das camisas das crianças.
Em um sonho, calada, viera-lhe ela, o corpo gasto na mortalha larga exalando um odor de cera e de jacarandá, seu hálito curvado sobre ele com mudas palavras secretas, um vago odor de cinzas úmidas. Seus olhos baços, fitando fixos, dentre os mortos, por abalar e dobrar minha alma. Só em mim. A velafantasma
para iluminar sua agonia. Luz fantasmal sobre o rosto torturado. Seu hálito rouco ruidoso esbatendo-se em pânico, quando todos rezavam de joelhos. Seus olhos em mim por me fazer ao chão. Liliata rutilantium te confessorum turma circumdet: iubilantium te virginum chorus excipiat.
Assombração! Mascador de cadáveres!
Não, mãe. Deixe-me estar e me deixe viver.
Ulysses - James Joyce