Arrrr preguiça de sair quotando, mas vamos lá...
Quanto ao resto da discussão sobre a economia, eu não me sinto capaz de questionar um princípio básico jamais questionado pelos grandes mestres economistas, liberais, fisiocratas, protecionistas, de todo tipo. Na verdade, já chega a um ponto que eu realmente não conheço, por isso nem me alongo.
Mas esta opinião eu tenho mais ou menos fixa: o modelo capitalista por si só tem intrínseca a impossibilidade de igualdade, por sua inevitável concentração de riquezas. Se a maior parte dessa riqueza fosse arrecadada através dos impostos ou reinvestida por iniciativa privada em favor da economia do país, cujo Estado fosse capaz de garantir uma distribuição razoavelmente justa, aí poderíamos ter, talvez, uma sociedade diferente: sem igualdade, mas ao menos com dignidade. O problema é que esse último ponto nunca acontece, pois o próprio Estado se enfraquece induzido pelo sistema.
As privatizações são um bom exemplo: empresas surgem, recebem investimentos e crescem, tudo com dinheiro público; quando estão estabilizadas e gerando riquezas para o país, passam para o controle de um grupo monopolista que não reinveste os ganhos na nação.
Mas você reparou que eu só defini luta de classes, e não a defendi, certo? Sequer o próprio Marx propunha isso; foi apenas o método que ele concluiu inevitável para uma sociedade com pretensões igualitárias. Ele próprio dizia: "O que estou fazendo é ciência, não tem nada a ver com a moralidade." Seus escritos foram resultado de um longo trabalho científico, filosófico, sociológico, econômico... era um gênio: eu não tenho base suficiente para questioná-lo. Uma coisa que nos facilitaria para analisar se ele estava certo ou não seria observando a implementação prática do que ele dizia em algum país, mas não temos absolutamente nenhum exemplo.Caranthir disse:A luta de classes, ao meu ver, é um erro. Porquê luta pressupõe que, no fim, haja vitoriosos e derrotados. O proletariado vai derrotar a burguesia e viver feliz. Porra, pára com isso! Então eu vou ter que tirar de todo mundo o direito de posse só pra atender à uma outra parcela da população? Onde está a eqüidade que você defende logo abaixo? Eu sei que precisamos dar um jeito em que passa fome e vive em condições desumanas (eu propunha um modelo socialista no Vox Populi, lembra?), mas o caminho não é podar a liberdade dos outros de possuir, e sim estendê-la à quem não a tem. Não é restringir, mas sim possibilitar o acesso à mercados, lugares, etc.
Aí entramos nas especulações. Repito: eu pessoalmente não tenho a menor idéia do que aconteceria caso perdêssemos os instrumentos que nos definem classe dominante (concentração de renda e terra, maioria no parlamento, mídia, polícia...). Acho que não dá pra prever o resultado de uma revolução de tamanhas proporções.É exatamente isso, Eria: cria-se uma classe-única, não uma inversão de classes. Essa classe única é o proletariado-geral. Quem passa a fazer o papel de burguesia é o Estado. O Estado comando o povo e dita as regras. Muito parecido com o que a burguesia faz hoje em dia, não? Só que, no comunismo, isso é por "um bem maior e comum". Magneto total!
Olha só, Caranthir, você se contradisse. Primeiro disse que essa negligência à questão dos sem-terra é inerente ao capitalismo, depois disse que a culpa não é do sistema.Olha, Eria, calma lá. A sociedade capitalista TEM DE SER solidária com pesquisadores, órgãos públicos, institutos de pesquisa, porquê ela depende deles: ela depende de tecnologia para produzir mais e a custos menores, depende de isenções de impostos, etc. Agora, porquê ela não é solidária com os sem-terras? Porquê o capitalismo não precisa deles. Um bando de gente desqualificada e sem casa, quem iria querer um povo desse? O problema é esse: falta "humanidade" no coração dos dirigentes do capitalismo. Falta, sei lá, "caridade", amor mesmo. Falta respeito aos outros homens. Nisso eu concordo. Mas essa falta de respeito não é do sistema, e sim das pessoas que o dirigem!
Realmente, a educação seria o meio para promover a inclusão dos excluídos no sistema. Mas eliminaria os nossos problemas? Gostaria de fazer um estudo aprofundado sobre o assunto, pena que estou sem tempo. Por ora, não falo sobre o que não sei.Se todos as 6 bilhões de pessoas do mundo fossem qualificadas e produtivas, o capitalismo seria um MEGASISTEMA SUPERFODA. Só que os dirigentes não entendem isso, preferem investimentos à curto prazo para que eles mesmos os aproveitem em suas vidas, em detrimento dos frutos que seus filhos/netos/bisnetos poderiam colher no futuro.
Sublinhei a falha em seu discurso.Em momento algum eu disse isso. E, cara, você tem que enxergar o que tá dizendo: você está criticando o que as pessoas fazem, e não a caridade em si! A caridade pressupõe "dar de si sem pensar em si". O que nós fazemos no nosso dia-a-dia não é caridade, é "dar de si por pernsar em si". A caridade não é o caminho para a união de todos os povos e solução dos problemas do mundo, mas é muito mais do que um mero paliativo. Se todos nós contribuíssemos com os outros homens e com esse mundo sem esperar nada em troca, seríamos, no mínimo, criaturas melhores.
Sou a favor de certas liberdades. Outras provocam inevitavelmente o caos, e por isso existem leis. O problema é que leis são, também, um instrumento de dominação. Por isso sou pessimista em relação à possibilidade de uma harmonia social, e sigo pelo caminho de Marx. Não que eu defenda isso, mas é o que eu acho mais provável: necessariamente, haverá uma classe no poder.O estado é anatural, Eria. A ação do Estado restringe a liberdade humana! Eu sou defensor da liberdade em todos os sentidos, pra mim, quanto mais liberdade, melhor. Eu chego a considerar a liberdade com a única (ou uma das únicas) coisas naturais que existe em nossa sociedade. Quanto menos restringí-la melhor! É claro que isso provoca convulsões bizarras no sistema. Pessoas exploradas, etc. Mas a solução não é um Estado super-poderoso que vem educar todo mundo segundo os valores de alguns que foram elegidos como os "mais corretos", vulgo socialismo. Eu tenho que abaixar a cabeça e dizer que ainda NÃO SEI como regular um sistema como o que proponho: onde a liberdade dos seres seja plena. Obviamente que isso de "liberar geral" é utópico, surreal demais. Mas é o modo mais "natural" de se viver. As leis são criadas por nós, homens. Se elas não existissem, deveria haver um meio "natural" de não nos aniquilarmos a todos... O que eu ando buscando é isso: o modo mais natural de se viver, e como ele seria aplicável na nossa sociedade.
Calor humano não mata a fome nem aproxima um miserável da dignidade, mas não sou contra isso. Só acho que só um programa de grande escala de distribuição de riquezas e educação, como você mesmo propõe, é que pode produzir alguma mudança de fato. Caridade parece só servir pra amenizar a gravidade da nossa barbárie.Eria, a caridade é feita de homem para homem. A assistência, de Estado para homens. É óbvio que ela vai atingir mais gente porquê o aparato do Estado para fazê-la é maior! Mas, às vezes, uma pessoa ganha mais com uma visita sua à casa dela na favela e sua permanência lá por algumas horas do que com um cartão do Governo que serve para sacar dinheiro em um caixa-eletrônico todos os meses. Em outras palavras, a caridade "de homem pra homem" leva "calor humano", é algo humanitário mesmo. Por mais que ajude menos pessoas, é bom de se fazer. CLARO que, como já dizia Nietszche, isso atende a sua própria necessidade de fazer caridade, mas foda-se. Se você estiver ajudando os outros por se sentir bem com isso, quem liga?
Concordo, exceto por uma coisa: educação não é um processo capaz de modificar uma sociedade complexa como a brasileira rapidamente - é de longo prazo. De fato, deveria haver mais investimento no setor, mas há a necessidade de medidas compensatórias para as gerações que não alcancem o resultado do programa.Há outras maneiras de reduzir a desigualdade mais rapidamente: educação, educação, educação, educação, educação, educação, educação, educação... auxiliada por um Bolsa Família, que seja. Mas qualifique as pessoas e jogue-nas no mercado de trabalho que você vai ter muito mais sucesso do que apenas dar dinheiro para elas todos os meses. O Bolsa Família é bacana, ele obriga as crianças a estarem na escola e tals, mas do que adianta isso se as escolas públicas são lixo?
Quanto ao resto da discussão sobre a economia, eu não me sinto capaz de questionar um princípio básico jamais questionado pelos grandes mestres economistas, liberais, fisiocratas, protecionistas, de todo tipo. Na verdade, já chega a um ponto que eu realmente não conheço, por isso nem me alongo.
Mas esta opinião eu tenho mais ou menos fixa: o modelo capitalista por si só tem intrínseca a impossibilidade de igualdade, por sua inevitável concentração de riquezas. Se a maior parte dessa riqueza fosse arrecadada através dos impostos ou reinvestida por iniciativa privada em favor da economia do país, cujo Estado fosse capaz de garantir uma distribuição razoavelmente justa, aí poderíamos ter, talvez, uma sociedade diferente: sem igualdade, mas ao menos com dignidade. O problema é que esse último ponto nunca acontece, pois o próprio Estado se enfraquece induzido pelo sistema.
As privatizações são um bom exemplo: empresas surgem, recebem investimentos e crescem, tudo com dinheiro público; quando estão estabilizadas e gerando riquezas para o país, passam para o controle de um grupo monopolista que não reinveste os ganhos na nação.
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