Primeiro: eu NÃO voto no PSDB ou PFL
Pelo contrário. Marx defende exatamente o que você diz: a luta de classes; e você sabe disso, mas aparentemente confundiu marxismo e os falsos exemplos de comunismo que temos. Segundo ele, existem a burguesia (classe dominante) e o proletariado (classe dominada). Ao contrário dos socialistas utópicos, que acreditavam que a burguesia adquiriria consciência social e distribuiria a sua riqueza para garantir a igualdade, ele dizia que o proletariado só conseguiria a ascensão num confronto direto com a burguesia.
A luta de classes, ao meu ver, é um erro. Porquê luta pressupõe que, no fim, haja vitoriosos e derrotados. O proletariado vai derrotar a burguesia e viver feliz. Porra, pára com isso! Então eu vou ter que tirar de todo mundo o direito de posse só pra atender à uma outra parcela da população? Onde está a eqüidade que você defende logo abaixo? Eu sei que precisamos dar um jeito em que passa fome e vive em condições desumanas (eu propunha um modelo socialista no
Vox Populi, lembra?), mas o caminho não é podar a liberdade dos outros de possuir, e sim estendê-la à quem não a tem. Não é restringir, mas sim possibilitar o acesso à mercados, lugares, etc.
Daí meu conhecimento falha sobre o que ele diria ser a conseqüência disso: se o resultado direto seria a igualdade ou uma inversão de classes, de modo que o ex-proletariado se tornasse a classe dominante e a ex-burguesia a classe dominada. Infelizmente não consegui terminar O Capital.
É exatamente isso, Eria: cria-se uma classe-única, não uma inversão de classes. Essa classe única é o proletariado-geral. Quem passa a fazer o papel de burguesia é o Estado. O Estado comando o povo e dita as regras. Muito parecido com o que a burguesia faz hoje em dia, não? Só que, no comunismo, isso é por "um bem maior e comum". Magneto total!
E nossa sociedade é muito solidária, com os pesquisadores, órgãos públicos, institutos de pesquisa, fodam-se os sem-terra.
Olha, Eria, calma lá. A sociedade capitalista TEM DE SER solidária com pesquisadores, órgãos públicos, institutos de pesquisa, porquê ela depende deles: ela depende de tecnologia para produzir mais e a custos menores, depende de isenções de impostos, etc. Agora, porquê ela não é solidária com os sem-terras? Porquê o capitalismo não precisa deles. Um bando de gente desqualificada e sem casa, quem iria querer um povo desse? O problema é esse: falta "humanidade" no coração dos dirigentes do capitalismo. Falta, sei lá, "caridade", amor mesmo. Falta respeito aos outros homens. Nisso eu concordo. Mas essa falta de respeito não é do sistema, e sim das pessoas que o dirigem!
Se todos as 6 bilhões de pessoas do mundo fossem qualificadas e produtivas, o capitalismo seria um MEGASISTEMA SUPERFODA. Só que os dirigentes não entendem isso, preferem investimentos à curto prazo para que eles mesmos os aproveitem em suas vidas, em detrimento dos frutos que seus filhos/netos/bisnetos poderiam colher no futuro.
Então você acha que a caridade nos torna uma nação mais solidária e justa, rumo à dignidade das pessoas que vivem abaixo da linha de pobreza? A gente doa por pena, velho, e porque não nos custa nada.
Em momento algum eu disse isso. E, cara, você tem que enxergar o que tá dizendo: você está criticando o que as pessoas fazem, e não a caridade em si! A caridade pressupõe "dar de si sem pensar em si". O que nós fazemos no nosso dia-a-dia não é caridade, é "dar de si
por pernsar em si". A caridade não é o caminho para a união de todos os povos e solução dos problemas do mundo, mas é muito mais do que um mero paliativo. Se todos nós contribuíssemos com os outros homens e com esse mundo sem esperar nada em troca, seríamos, no mínimo, criaturas melhores.
[quoteConcordo plenamente com você. Então posso presumir que você é a favor das cotas para alunos de escolas públicas em universidades, certo?[/quote]
Depende. Eu sou a favor mesmo é de cotas para alunos de baixa-renda, o que pressupõe estudo em escolas públicas. Mas tem alunos de baixa-renda que conseguem bolsas em colégios particulares, aí não sei como ficaria...
É aí que entra o papel do Estado. Sem sua ação, a luta de classes, caso fosse efetivada, conservaria o sistema antigo: ou exatamente igual ao que era ou com o opressor tornando-se oprimido e o oprimido tornando-se opressor. Aqui volto a dizer que meu conhecimento de Marx falha, pois não sei qual ele dizia ser a conseqüência da luta de classes.
O estado é anatural, Eria. A ação do Estado restringe a liberdade humana! Eu sou defensor da liberdade em todos os sentidos, pra mim, quanto mais liberdade, melhor. Eu chego a considerar a liberdade com a única (ou uma das únicas) coisas naturais que existe em nossa sociedade. Quanto menos restringí-la melhor! É claro que isso provoca convulsões bizarras no sistema. Pessoas exploradas, etc. Mas a solução não é um Estado super-poderoso que vem educar todo mundo segundo os valores de alguns que foram elegidos como os "mais corretos", vulgo socialismo. Eu tenho que abaixar a cabeça e dizer que ainda NÃO SEI como regular um sistema como o que proponho: onde a liberdade dos seres seja plena. Obviamente que isso de "liberar geral" é utópico, surreal demais. Mas é o modo mais "natural" de se viver. As leis são criadas por nós, homens. Se elas não existissem, deveria haver um meio "natural" de não nos aniquilarmos a todos... O que eu ando buscando é isso: o modo mais natural de se viver, e como ele seria aplicável na nossa sociedade.
De qualquer forma, defendo a concessão gradativa efetuada pelo Estado, como por medidas compensatórias com perspectivas de ganho a longo prazo. Assistência social se distancia de caridade nesse ponto, porque atinge uma população em grande escala,
Eria, a caridade é feita de homem para homem. A assistência, de Estado para homens. É óbvio que ela vai atingir mais gente porquê o aparato do Estado para fazê-la é maior! Mas, às vezes, uma pessoa ganha mais com uma visita sua à casa dela na favela e sua permanência lá por algumas horas do que com um cartão do Governo que serve para sacar dinheiro em um caixa-eletrônico todos os meses. Em outras palavras, a caridade "de homem pra homem" leva "calor humano", é algo humanitário mesmo. Por mais que ajude menos pessoas, é bom de se fazer. CLARO que, como já dizia Nietszche, isso atende a sua própria necessidade de fazer caridade, mas foda-se. Se você estiver ajudando os outros por se sentir bem com isso, quem liga?
é constante e obedece a um planejamento. Falem mal do Bolsa Família, mas foi o Banco Mundial quem concluiu que o programa foi fator decisivo para a redução da desigualdade no país.
Há outras maneiras de reduzir a desigualdade mais rapidamente: educação, educação, educação, educação, educação, educação, educação, educação... auxiliada por um Bolsa Família, que seja. Mas qualifique as pessoas e jogue-nas no mercado de trabalho que você vai ter muito mais sucesso do que apenas dar dinheiro para elas todos os meses. O Bolsa Família é bacana, ele obriga as crianças a estarem na escola e tals, mas do que adianta isso se as escolas públicas são lixo?
Acho que lhe faltou uma boa dose de bom-senso ao achar que a igualdade pode ser atingida sem a eqüidade. A eqüidade é um princípio básico da Sociologia, que pode ser entendido assim: se você tem dois grupos, um mais forte que o outro, e fizer concessões iguais a ambos, você vai simplesmente manter a ordem. Mas se você concede mais ao desfavorecido, torna a balança social mais equilibrada. Se isso não favorece em nada à já privilegiada, é óbvio que ela será contra.
Cara, isso é muito inviável. Se você tem uma empresa com 150 funcionários que produz cerca de 15 mil de reais por mês e uma associação de moradores composta de 150 pessoas, destinar à empresa 25 mil de reais e à associação 75 mil só porquê a associação é "mais fraca" que a empresa é algo impensável. Não se trata de ajudar quem é mais forte ou fraco, mas possibilitar que os fortes mesmo auxiliem os fracos. De que maneira? Possibilitando que essa empresa empregue mais 150 funcionários. Aí a associação de moradores estaria numa boa! A lógica é tornar as indústrias/comércios em geral mais produtivas, qualificar todo mundo, por todo mundo pra trabalhar e deixar todo mundo rico. Nivelar por cima, não por baixo, apenas dando uma de Robin Hood.
Não sei você, mas eu não consigo enxergar nenhuma maneira de aumentar a renda dos pobres sem diminuir a dos ricos,
Você está sendo mega-imediatista. Há muitos jeitos, um deles eu citei na resposta ao quote acima. Mas demora, não é tirar bilhões dos ricos hoje, dar pros pobres e dizer "vão, filhos, construam suas casas e melhorem de vida!". Primeiro porquê eles vão gastar tudo em CDs de funk (ok, brincadeira =P). A meta deve ser se empenhar e melhorar a vida de geral dando oportunidade pra eles no mercado e tals. Aí eles mesmo vão se ajudar.
Discurso bonito, Caranthir, mas infelizmente distante de uma realidade palpável. Não vou defender o socialismo, repito, mas o capitalismo está longe de ser um modelo que se aproxime da possibilidade de atender às necessidades do todo. Ele permite a concentração ilimitada de riquezas, e a lógica mister da Economia é: se algo inflaciona, algo está em deflação - i.e, se alguém lucra, alguém está pagando por isso.
Cara, nada a ver esse argumento seu. Primeiro que, se alguém lucra, outros lucram. A menos que o cara que esteja lucrando guarde todo o dinheiro debaixo do colchão e não invista em nada. Se eu tenho uma empresa e lucrei 100 milhões de reais ano passado, vou investir o máximo que puder do lucro para, no ano que vem, lucrar 200 milhões. Quem ganha com isso? TODO MUNDO QUE TEM CONTATO COMIGO: fornecedores (vou comprar mais e de mais gente), funcionários (vou contratar mais e pagar melhor pra ter mais produtividade), sociedade (vou empregar mais gente), governo (vou pagar mais impostos, aumentar a área física da minha empresa, etc.). Isso de "se alguém lucra, alguém está pagando por isso" não existe nem aqui nem no comunismo. Se alguém lucra e não é maluco de pegar todo o dinheiro pra si (nenhum capitalista faria isso, só o Tio Patinhas), muita gente vai ganhar com isso!
E não importa o sistema, Eria, atender a necessidade do todo não tem nada a ver com mudar a maneira como as pessoas podem possuir coisas e tudo o mais. Se tivermos o comunismo só pra dar dinheiro pra quem não pode conseguí-lo no mercado de trabalho pelo fato de ser desqualificado, então teremos um sistema assistencialista. Ponto final. Agora, eu defendo a implantação do comunismo e de qualquer outro sistema se for por um único motivo: para possibilitar a evolução da nossa sociedade. O que quero dizer com isso? É o seguinte: eu defendo a implantação de um outro sistema se ele, ao invés de apenas me proibir de acumular capital, me der as ferramentas para que eu me qualifique e possa criar, compartilhar e expandir conhecimento com outros homens. Conhecimento, técnica, tecnologia é o que nos permitirá avançar social, econômica e tecnologicamente, é isso que todos buscam hoje. É disso que precisamos. E só há uma maneira de fazer tudo isso de modo rápido: com 6 bilhões de mente pensando afinadamente e brilhantemente ao mesmo tempo.