VIOLÊNCIA ATINGE 33% DAS MULHERES DO MUNDO
Anistia Internacional divulga relatório e lança campanha para conter abusos contra o sexo feminino no planeta
LONDRES. Uma em cada três mulheres do planeta será espancada, abusada sexualmente, estuprada, mutilada, assassinada, escravizada ou sofrerá algum outro tipo de violência ao longo de sua vida. O alarme foi disparado ontem pela Anistia Internacional (AI) no relatório “Está em suas mãos. Pare a violência contra as mulheres”, cuja divulgação marcou o início de uma campanha mundial da organização de direitos humanos em favor do sexo feminino.
Os números, compilados de estatísticas da ONU, da Organização Mundial de Saúde, de organizações governamentais e de ONGs, são assustadores. Uma em cada 5 mulheres
sofre estupro ou tentativa
No total, um bilhão de mulheres são sujeitas à violência desde o nascimento à morte, muitas vezes por parte de familiares ou amigos.
— Isto não é algo que acontece só às outras pessoas. Acontece com você, seus amigos, e sua família — alertou a secretária-geral da AI, Irene Khan, ao lançar a campanha. — Até que nós todos, homens e mulheres também, digamos “não, não vou permitir que isto aconteça”, o fenômeno não desaparecerá.
Entre os crimes mais comuns apontados pela organização está o estupro: uma em cada cinco mulheres é vítima ou sofre uma tentativa. Segundo a AI, o estupro passou a ser usado como arma de guerra psicológica em conflitos armados, com “um impacto devastador e desesperador sobre as mulheres que vai bem além da violência inerente à guerra”.
Nos Estados Unidos, por exemplo, a cada 90 segundos ocorre um estupro. Na França, chega a 25 mil por ano o número de vítimas desse crime. E as estatísticas podem estar revelando apenas a ponta do iceberg, já que muitas mulheres deixam de registrar o crime para evitar o estigma social que ele imprime nas vítimas.
Outro número preocupante é o relativo à prostituição infantil. O relatório indica que anualmente dois milhões de meninas entre 5 e 15 anos são forçadas a vender seus corpos por dinheiro, e diz que a indústria do tráfico de mulheres rende US$ 7 bilhões em todo o planeta.
A secretária-geral da AI pede uma ação mundial para conter a violência contra as mulheres e culpou os efeitos da globalização pelo enorme índice de pobreza que persegue as mulheres, piorando ainda mais suas condições de vida.
— Os governos estão falhando em tomar providências contra o real terror de nosso mundo que milhões de mulheres enfrentam a cada dia — criticou ela.
Circuncisão e infibulação: 135 milhões de vítimas
Um dos exemplos de como a miséria pune as mulheres mais do que os homens é a epidemia de Aids, que na África Subsaariana tem no sexo feminino 60% dos infectados com o vírus HIV. Outro aspecto ressaltado pelo relatório da AI é a prática da extirpação do clitóris, a chamada circuncisão feminina, e da infibulação, a costura dos lábios vaginais: cerca de 135 milhões de mulheres já foram submetidas a uma das duas práticas e o número cresce à razão de dois milhões de novas vítimas anualmente.
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