Aldamar disse:
Tens razão, exagero meu dizer que eram apenas ornamentos. Mas no fundo elas são apenas uma criação, bem como as Silmarilli.
Sim, ele foi egoísta. Mas será que poderíamos considerar ganância simplesmente querer de volta o que é seu? Mas de qualquer modo, minha frase foi apenas para refutar o comentário que ele seria um tolo.
Você acaba assinalando outro dos problemas do Fëanor. Ele fez as Silmarilli, teve a mestria e perícia para conseguir colocar a luz das Árvores nas jóias, logo tinha um certo "direito" sobre elas. Mas a luz, que era a essência das Silmarilli, não era sua, tinha sido criada pelos Valar. Ele apenas as colocou dentro de um um objecto seu, mas aquilo que lhes dava vida e beleza não lhe pertencia. Um dos Valar, Yavanna, chega a comentar isso, dizendo mais ou menos que ele se deixa levar pelo seu egoísmo e se esquece de a quem deve a graça das suas obras.
Por isso, quando os Valar lhe pediram para devolver as Árvores à vida (sendo até simpáticos demais talvez) ele tinha a obrigação de aceder ao pedido.
Ora, mas a própria levada dos Eldar a Valinor foi uma intercessão violenta no livre-arbítrio dos elfos. É claro que eles podiam escolher permanecer avari, mas a opinião de seus líderes foi fortemente influenciada pelos Valar, e na hora de escolher, a maioria acreditou nos líderes. Seria a mesma coisa que viver em uma colméia de abelhas. Tens tudo de que precisa, mas está preso, mesmo assim, à ordem natural do lugar.
Oiça, isso não faz sentido algum. Eles tinham total liberdade de escolher se iam ou não, mas por os Valar os tentarem convencer de que era melhor partirem estavam a interferir na sua liberdade?
Quando eles chegaram podiam fazer o que bem lhes apetecia (dentro das leis naturais e democráticas que há em qualquer lugar civilizado), podiam até partir que em circunstâncias normais os Valar não levantariam um dedo contra isso.
A comparação a uma colmeia também não tem grande lógica neste contexto, o que insectos cujo comportamento é exclusivamente determinado pelos genes têm a ver com os seres sábios e habilidosos que são os Elfos? Não percebi.
E afinal, todos nós vivemos num mundo com uma certa "ordem natural".
Têm de existir regras, senão cada um faz um que quer. E Valinor não era excepção a isso, aliás, até teria menos "leis" que outros sítios, uma vez que durante muito tempo não houve mal no lugar e se vivia em harmonia.
E diz, em relação à viagem dos Elfos para Aman, que "a maioria
acreditou nos líderes". Como se os estivessem a convencer a fazer algo mau: "Vamos para a terra da luz, onde a escuridão de Melkor está ausente, onde poderemos prosperar e viver em bem-venturança." Nessa altura, aqueles a quem a ideia agradou foram, aqueles que preferiam as florestas de Beleriand ou as planícies escuras para lá das Montanhas Nebulosas ficaram. Simples, sem obrigações ou restrições à sua vontade.
Eu gosto de personagens que não são heróis. Até porque ser um verdadeiro herói exigiria uma dose de altruísmo que não cabe à maioria dos heróis supracitados.
O "herói perfeito", digamos, é altruísta e faz tudo o que pode em defesa dos outros. Mas a maior parte dos heróis não tem necessariamente essa característica. Pelo contrário, muitos são movidos por questões egoístas como vingança. O que os distingue é que se preocupam em lutar contra o mal e injustiças, em trazer o bem a outros (mesmo que às vezes dêem prioridade ao que lhes interessa pessoalmente). Fëanor não era assim; para além do egoísmo dos seus motivos, tomou partido em actos terríveis e claramente maus como matar os da sua raça e deixar o seu povo ao abandono numa terra em que eram exilados.
Não dá pra gostar de um personagem desses... ele não tem... carísma.
Atenção que também não é bem assim. Não gosto dele de jeito nenhum enquanto "elfo", a sua personalidade é demasiado desequilibrada e os seu actos demasiado nocivos e prepotentes. Mas é um óptimo personagem, um dos melhores do
legendarium. E era um indivíduo bastante carismático sim; não é à toa que conseguiu convencer milhares de Elfos a tomarem parte nas suas atitudes.