Por partes; Gandalf de certa forma foi um covarde, não dos maiores, mas foi. E sua, digamos assim, (e desviando das pedras
) "covardia" o livrou de muitas enrascadas. No entanto, frente ao chamado de Manwë, ele teve orientação, encontrou, até que enfim, liderança e aconselhamento do quê fazer. Ele veio pra TM, junto com uma serpente e foi muito malandro, se esquivando de vários perigos e mandando outros cumprirem suas obrigações ao invés de se meter de cara. Deu de frente com um balrog velho e mais covarde ainda, talvez o maior covarde de todos os balrogs e então, matou-o, com muito custo.
Nunca enfrentou Sauron diretamente pois não era idiota e sabia que mesmo com o velho Maia destituído de grande parte de seu poder, ainda era imensamente mais poderoso e de fëa mais intenso. Gandalf não conseguiu enfrentar, ou ousar enfrentar um nazgûl! Quando poderia ou deveria fazê-lo, deu graças ao incidente entre Faramir e Denethor, com um "Ufa! Graças a Eru!" para desviá-lo de enfrentar o Nazgûl King!
Há, contudo, uma grande diferença. Gandalf, diferente de Fëanor, aprendia com seus erros. Se o mago tivesse se afogado no seu orgulho (como aconteceu com Saruman, por crer que conseguiria chegar ao Anel antes de Sauron), as coisas teriam ido muito diferente.
Mas a maior das diferenças entre os dois e o que me leva a crer que Gandalf não era covarde, mas Fëanor sim o era, é que Gandalf foi bem-sucedido. Em Arda, os Poderosos (não os do lado Negro, veja bem) têm uma grande compreensão do funcionamento do mundo. E sendo assim, eles entendem que os fracos para sempre serão fracos, a menos que aprendam a lutar por aquilo que é certo (essa ótica está presente ao longo de toda a obra do Professor). Por isso, Elrond, Galadriel, Glorfindel, Círdan, Gandalf e mais uma pá de personagens que eu não tenho paciência para citar não agiam tão diretamente sobre os eventos da Terra-média.
Gandalf fazia de tudo para salvar os Povos Livres da loucura que os acometia com o desespero. Thorin, por exemplo, desejava assimilar um exército, e marchar contra a toca de Smaug. Simplesmente absurdo. Denethor, em seu pânico, acreditou que Faramir estava morto, e por isso não desejava perecer nas mãos dos orcs, mas sim acabar com sua própria linhagem de uma forma "digna" ou "honrosa". Ele se sacrificou (heroicamente) contra o balrog, pois de outra maneira a Demanda jamais obteria sucesso, e o Anel passaria às mãos do Maia corrompido, fazendo assim surgir um novo Senhor do Escuro, muito mais poderoso que o anterior. E, mais importante, salvou Faramir, um personagem justo e valoroso, de uma morte certa. Pode parecer que ele saiu correndo de medo do Rei dos Bruxos. Mas o Rei foi morto, afinal, pela coragem de Éowyn. Pela força dos 'fracos', por assim dizer.
Enquanto isso, Fëanor decidiu resolver tudo com suas próprias mãos. Assassinou os Teleri por eles lhe negarem as obras de suas vidas, da mesma maneira que Fëanor negou a Yavanna as suas. Abandonou o irmão covardemente, pois sabia que a hoste de Fingolfin era mais numerosa, e temia que, uma vez longe dos Valar, o irmão fosse subjugar-lhe as forças. Isso é um demonstrativo das inclinações de Fëanor, a trairagem, pois ele cria que, por ele próprio ser assim, todos os outros deveriam pensar sob a mesma ótica, e todos os seus atos seriam feitos para atingir esses tipos de objetivos: a ascensão por meio da traição (esse foi o mesmo erro que Sauron cometeu).
E, uma vez em Beleriand, ele cria-se mais que capaz de enfrentar o Senhor do Escuro, majestoso e invicto em seu trono em Angband. No entanto, foi barrado prematuramente por sua presunção, e, acima de tudo, sua tolice.
Fëanor, impensadamente, se atirou em busca do que por direito era dele! E não se importou com a segurança ou mesmo seu futuro. É inaceitável dizer que ele era covarde, pois só ele enfrentou uma tropa de balrogs de 1ª, se matou algum ou não, dadas as proporções, seu feito foi de mais coragem do que mandar outyros irem à sua frente ou em seu lugar como muitos outros grandes Reis fizeram.
Não acho que ele duraria muito mais tempo, mesmo se tivesse escapado da emboscada, pois como ele viu depois, não seria possível os Noldor, sozinhos, vencerem as muralhas de Morgoth. Mas em Mandos ele pode dizer: Eu tentei, diferente de vocês, que ficaram aquí escondidos enquanto Morgoth se dizia o maioral!!
Os objetivos do Noldo não eram tão 'nobres' quanto você faz parecer, parceiro.
Nesse momento, Fëanor fez um juramento terrível. Seus sete filhos colocaram-se imediatamente a seu lado e fizeram juntos o mesmo voto, e vermelhas como sangue brilharam suas espadas desembainhadas à luz dos archotes. Fizeram um voto que ninguém deveria quebrar, e que ninguém deveria fazer, nem mesmo em nome de Ilúvatar, conclamando as Trevas Eternasa caírem sobre eles, se não o cumprissem. E como testemunhas nomearam Manwë, Varda e a montanha abençoada de Taniquetil, jurando perseguir até o fim do Mundo com vingança e ódio qualquer Vala, demônio, elfo ou homem ainda não nascido, ou qualquer criatura, grande ou pequena, boa ou má, que o tempo fizesse surgir até o final dos tempos, quem quer que segurasse, tomasse ou guardasse uma Silmaril, impedindo que eles delas se apoderassem.
(O Silmarillion; Da fuga dos noldor)
Esse trecho expressa bem o verdadeiro desejo do coração de Fëanor. Vingança. Ódio. O sentimento de posse de Fëanor em relação às Silmarilli é pior que o dos anões com relação à Pedra Arken. Pior porque fez de fato com que elfos, homens e anões se matassem mutuamente pela posse de tal tesouro tão cobiçado por todos.
Ele não queria mostrar para todos que não temia nada ou ninguém. Só desejava vingança, contra todos que ele cria que o haviam lesado, ou que o lesariam no futuro. Alguém duvida que Fëanor marcharia contra Doriath assim que soubesse que uma Silmaril estivesse lá? Ou será que hesitaria, como seus filhos hesitaram, de matar Lúthien apenas pela posse da pedra? Será que Fëanor pouparia Elrond e Elros, quando do ataque dos Portos do Sirion? Será que ele permitiria a seus filhos possuírem as pedras, se por acaso conseguisse delas se apoderar? Não. As Silmarils eram para Fëanor o que o Um Anel é para Sauron.
Por isso o Noldo é um covarde. Concordo quando você diz que seria ainda mais covardia mandar outros atacarem Angband por ele, mas discordo quando você diz que ele o fez por pura coragem. Errado. Ele o fez por presunção, por tolice.
Na verdade, se Fëanor desejava de fato concretizar sua vingança e se atirar numa missão inconcretizável, que ele o fizesse. Mas o grande problema aqui é que ele não só fez isso, mas também arrastou todo um povo junto com ele, multiplicando, alargando, elevando ao quadrado toda a dor e sofrimento pelos quais os Noldor haviam passado até então. E ele não arrastou somente os Noldor "comuns". Coagir os próprios filhos a fazerem o Juramento com o pai não é um ato que eu creia estar abaixo de Fëanor. Por isso, eu o condeno.
Thingol era um grande Rei, e prudente! Ele tinha os conselhos de uma Grande Maia, uma que poderia fazer frente a Sauron. E portanto, sabia que seu povo, somente com seu armamento artesanal não seria frente nem mesmo para os Noldor.
A vantagem de Thingol seria atacar em seu território, mas como fazer isso e liberar suas fronteiras??
Acho que o termo covarde está sendo usado com sentido diferente por aquí, meu Caro Amigo!
Turgon era aconselhado por Ulmo, que para mim é o maior dos Valar! E Turgon não era besta de, depois de tanta desobediência, ir contra os "avisos" de Ulmo. Afinal, Ulmo tinha muito mais conhecimento e ousadia do que os outros Valar, e foi o único que ainda prestou auxílio para os Noldor e demais elfos contra Morgoth. E mesmo assim, Turgon ao ser avisado de grandes perigos, desobedeceu Ulmo.
Se Thingol também não tivesse se deixado dominar pelo desejo às Pedras, Doriath duraria mais que qualquer reino élfico em Beleriand. O mesmo vale para Turgon, e Orodreth. Ambos estavam eles próprios tornando-se orgulhosos, e com isso condenaram os seus respectivos povos também. Mas ao menos mantiveram-se fiéis a eles até o fim. Não instaram para com os seus: "Vingue-me, Tuor! Nem que tenhas que morrer por isso!" Permitiram que os seus vivessem, pois viram que haviam cometido erros que custaram-lhe as vidas, a muitas vidas de seus súditos também.
Ulmo não foi o único a auxiliar os Noldor. Os ents quase não entram na história do Silmarillion, mas o mesmo vale para o Senhor dos Anéis. Com certeza, foi graças a eles que os orcs não chegaram a Ossiriand, mantendo os reinos pacíficos dos Elfos Verdes em calma paz, como sempre foram. As águias auxiliavam os Noldor tanto quanto podiam: mantinham Turgon informado dos eventos exteriores a Gondolin, e mantinham a cidade ainda segura, mesmo quando Húrin denunciou não-intencionalmente a localização próxima do Reino Oculto. Yavanna e Aulë criaram o Sol e a Lua, para que os Exilados percebessem que os Valar não os abandonaram, embora os Noldor os tenham negado.
Quanto aos ataques e morte de elfos por elfos, foi decorrência de insensatez e ganância de ambos os lados. Covardia geral, mesmo dos Grandes Líderes, que esperaram para um estar à beira do desastre para auxiliar o outro. No caso a pior das covardias, a gerada pela fraquesa!
Insensatez por parte dos Teleri? Não faz sentido. Covardia? Eles rechaçaram Fëanor e companhia três vezes apenas com arquinhos finos, enquanto os poderosos Noldor com suas espadas brilhantes e escudos e elmos e armaduras maravilhosas precisaram de pelo menos três vezes o número dos defensores Teleri para derrotá-los.
Atacar Menegroth também foi patético. Se esgueiraram na calada da noite, no Inverno, sem serem notados ou esperados. Mataram mulheres, crianças, assassinaram Dior, Nimloth, Eluréd e Elurín.
E os Portos do Sirion então? Eram compostos de refugiados, a maioria fugitivos de Gondolin e Menegroth que não eram guerreiros. O ataque aos Portos foi talvez o pior dos atos dos Filhos de Fëanor, e com certeza teria sido pior se o príncipe ainda estivesse vivo.
E os filhos, covardes como eram, sabiam não ter forças para atacar Morgoth, por isso voltaram-se contra os elfos mais fracos que eles próprios.
Entendí sim, Amigão! Mas todas essas tragédias foram decorrente das mentiras que Morgoth já havia espalhado em Valinor, entre os elfos... Se os Valar, mesmo tendo errado ao levarem os Elfos para seus domínios, os tivessem liberado para retornar com maior facilidade para a Terra-Media, talvez, algum caminho ou ponte invisível como fizeram depois, ou coisa assim, teriam tornado as coisas diferentes.
Melkor soube usar muito bem os erros dos Valar para benefício próprio, assim como aos próprios Valar.
Melkor soube enganar os Valar e os Noldor, sim. Mas acho que ele não disse aos elfos nada que eles não quisessem ouvir, ou que de que eles não 'desconfiassem'. Eles teriam deixado os Noldor partir, mas como seus corações eram conta a partida dos elfos, eles não fizeram nada para auxiliá-los nisso. E eles não interfiririam com nenhum dos atos de Fëanor, para mostrar a ele que eles não o impediriam, apesar de saberem que seus atos são cruéis e impensados.
Portanto, acho desproporcional culpar somente a Fëanor, como um único culpado por todos os males da TM, e esquecer por completo os verdadeiros culpados.
É como se você tivesse filhos, não falasse para eles não mexerem com fogo e vivesse num cozinha ou num braseiro. Uma hora ou outra, um de seus filhos escaparia para mexer no fogo, que sempre foi atraente...
"Verdadeiros culpados"? Nem mesmo Melkor, que desfigurou Arda e consolidou a inquietuda nas almas dos Noldor, pode ser chamado de único responsável. Não há vítimas, todos são culpados em sua própria medida. Uns com certeza mais que outros, contudo, outros que cometem erros mas com boas intenções, não devem ser culpados, mas compreendidos e perdoados, a menos, claro, que não demonstrem reconhecer o erro cometido e aprender com ele. Frodo reconheceu seu erro, e mostrou louvavelmente que aprendeu com ele, poupando Saruman da morte apenas por vingança. Por isso, o hobbit merece mais respeito que qualquer Príncipe ou Grande Rei sobre a face de Arda.
Sem dúvida não se deve culpar Fëanor sozinho pelos Fratricídios e pelas Guerras de Beleriand. Contudo, de todos os que têm culpa nestas histórias, ele e seus filhos são os que acumulam mais culpa.