1-12-2009, 21:49
Ilmarinen
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Re: Significado do presente de Galadriel a Gimli
Citação:
Post Original de Finwe-Curufinwe
Meu caro Ilmarinen, é exatamente esse problema que temos aqui. Freud dizia que os instintos sexuais são o centro da vida psíquica humana; na minha opinião é exatamente isso que Tolkien tenta desvincular na sua obra. Peço desculpas pelo texto longo que apresentarei (muitos não carregam os livros de Tolkien como bíblias):
Tanto Fëanor quanto Gimli foram hábeis ouríves, amavam as gemas, mas acima de tudo amavam tudo o que é belo. Sentir-se atraído por algo de extrema beleza, é diferente de querer possuí-la para fins libidinosos.
Depende exatamente do que vc considera fins "libidinosos" Tolkien usa o termo "lust" o tempo inteiro ao se referir aos desejos de Morgoth e toda hora fica implícito que ele e Fëanor foram se tornando cada vez mais parecidos.
Concordo que Gimli e Fëanor têm similaridades mas as diferenças falavam muito mais alto Tanto é que a própria Galadriel deu aos dois tratamento completamente oposto. E, no meu entender, ela tratava Fëanor como tratava porque via que o pedido dele pelos seus cabelos tinha um grande viés de "concupiscência" em todo sentido pré-sexual ( afinal se vamos sair de Freud, "libido" pode ter um espectro muito mais amplo), de paixão desenfreada, ciosa, ciumenta, dominadora. Galadriel tratou ambos distintamente porque Fëanor, quando lhe fez o pedido,
tinha muito mais a alma estereotipada de um anão do que o próprio Gimli.
Ele não era assim até seus meio-irmãos nascerem mas,depois que ele deixou de ser a menina dos olhos de Finwë( apesar de continuar sendo o favorito), a impressão que dá é que o elfo foi "ladeira abaixo" e, no fim, depois da morte de Finwë que parecia ser a única coisa que ele amava mais do que o trabalho das suas mãos, passou a ter o senso de pragmatismo utilitário e cobiça ciumenta dos próprios direitos e posses no nível dos mais exagerados dos membros da raça dos Anões. Ou será que vc não reparou que Thorim Escudo de Carvalho era praticamente um Fëanor anão?
Dê uma olhada na conversa de Aulë e Yavanna sobre os senões da raça dos Anões no início do Silmarillion e pense em quantos daqueles atributos negativos não eram aplicáveis a Fëanor à medida em que ele se degradava.
thy children will have little love for the things of my love. They will love first the things made by their own hands, as doth their father. They will delve in the earth, and the things that grow and live upon the earth they will not heed. Many a tree shall feel the bite of their iron without pity.'
Vou deixar uma coisa bem clara aqui!! Eu ADORO Fëanor!! Ele é disparado, concorrrendo com Beleg e Maedhros, meu personagem élfico predileto mas Tolkien dotou-o , sim, de uma série de defeitos de caráter gravíssimos e, no contexto do que foi mostrado nos livros, parece sim, lícito presumir que o amor sófrego de Fëanor pelo trabalho de suas mãos e a origem dessa obsessão parecem remeter para sentidos libidinosos em todos os aspectos negativos da palavra ( inclusive um complexo de Édipo hiper mal resolvido). E não digo isso por achar que Tolkien enfatizava só a questão de tara sexual nele(antes fosse o caso) mas acho, sim, que isso era parte da coisa toda. Fëanor agia como se fosse lustful o tempo todo,.
Ele padecia de concupiscência no sentido teológico escolástico mesmo (que não diz respeito só ao sexo) mas a intemperança e luxúria em geral.
Essa é a raiz do amor em todas as formas. A possibilidade de alcançar abundância ilimitada é a tentação do ser humano. que é um eu e possui um mundo. O nome clássico para esse desejo é concupiscentia, "concupiscência" - o desejo ilimitado de atrair a realidade toda para o próprio eu. Este desejo refere-se a todos os aspectos da relação que o ser humano estabelece consigo mesmo e com seu mundo. Refere-se tanto à fome física como ao sexo, tanto ao conhecimento como ao poder, tanto à riqueza material como aos valores espirituais. Mas esse sentido todo-abrangente da concupiscência frequentemente foi reduzido a um sentido muito especial, a saber, ao desejo do prazer sexual. Inclusive teólogos como Agostinho e Lutero, que consideravam o pecado espiritual como básico, tenderam a identificar concupiscência com desejo sexual.
Em tudo ele queria a preeminência: no amor do pai, na fama, status, riqueza, de tudo isso Fëanor era cioso e agia sempre como se não fosse se aplacar com nada.
Galadriel via que o amor de Fëanor pela beleza era muito mais centrado na "posse" da beleza do que na sua preservação como modo de partilha e de abnegação pelos seus contemporâneos ou gerações futuras. Para ele, possuir a beleza dos cabelos da Dama Dourada dos Noldor era um troféu para seu status e proeminência entre os Eldar.
Nesse contexto, vc pode até não ver Fëanor como libertino ou luxurioso no sentido carnal, embora a leitura da obra dê margem a essa interpretação também, mas no que diz respeito a todos os demais sentidos da palavra luxúria, Fëanor iria atender todos os critérios sem muita dúvida. No caso dele, a questão de "fim libidinoso" passa a ser de mera semântica e nisso a "lust" dele e a de Melkor eram iguais.
Mas apelar para uma análise incorreta e infundada da obra, para desmerecer aquele que foi o Maior dos Elfos, como Tolkien daria a Fëanor esse título se para o próprio autor "o [principal] sintoma da decadência do homem é o desvio sexual"?
Nunca, jamais, creio, passou pela cabeça de Tolkien a noção de que, mesmo que isso pudesse ser o maior sintoma de que esse pudesse ser o maior pecado do qual um ser criado poderia ser culpado. Se eu fosse vc, jamais pegaria essa carta "carola" de Tolkien onde ele tentava exortar os filhos dele na castidade católica para servir de parâmetro na priorização dos valores morais no compasso de Tolkien.
Ele tendeu a colocar a continência sexual completamente fora da proporção nessas cartas e elas não são representativas daquilo que se vê na obra dele. Trocentos personagens humanos dele tinham uma moral decadente ou falha mas ele nunca dava ênfase ao "desvio sexual".
Se fosse por esse raciocínio, o que seria mais lógico seria procurar mesmo taras sexuais no Fëanor pq
ele era repleto de decadência moral. Se o desvio sexual era sintoma disso, então ele devia estar cheio. E, mesmo assim, poderia ser o maior dos elfos, assim como Morgoth era o maior de todos os valar no seu início.
Ela é o tipo de carta que nunca deve ser lida sem se julgar o contexto. Fëanor era, sim, o maior dos elfos, mas pode ter certeza de que ele tinha praticamente um sumário de todos os tipos de vícios dos quais um elda era capaz e luxúria não parece estar fora das possibilidades da lista, muito pelo contrário. A sua noção de que uma coisa precisaria excluir a outra é um silogismo que não parece bater com a forma com que Tolkien via a realidade.
Um cara que no fim foi capaz de abandonar o meio-irmão pra morrer num ermo gelado ou voltar humilhado para os Valar ( uma coisa que ele mesmo preferiria morrer a fazer) era perfeitamente capaz de ser, também, o Calígula dos Elfos (nos padrões "continentes" deles seja lá o que for que isso implicasse) ainda mais considerando sua prolificidade sexual incomum e o fato de que parece que ele se separou de Nerdanel ainda em Valinor e antes do Escurecimento e não por causa de sua vinda para a Terra Média.
Aliás, vamos checar quais eram mesmo as virtudes ímpares dele:
Neither did they mourn more for the death of the Trees
than for the marring of Feanor: of all Melkor's works the most
wicked.For Fëanor was made the mightiest in all parts of body and mind: in valour, in endurance, in beauty, in understanding, in skill, in strength and subtlety alike: of all the Children of Eru, and a bright flame was in him. The works of wonder for the glory of Arda that he might otherwise have wrought only Manwë might in some measure conceive.
Em nenhum lugar se vê apreço pela beleza em si mesma, generosidade, sabedoria ou continência sexual. Lembra muito o que Xavier falou para Jean Grey possuída pela Fênix Negra:
"Poder sem restrições, conhecimento sem sabedoria, idade sem maturidade, paixão sem amor".
Fëanor era, praticamente, um gêmeo élfico de Melkor nas suas origens e,
se continuasse como estava e não tivesse morrido, parecia que iria acabar num nivel de degeneração semelhante.