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Autor da Semana Fiódor Dostoievski

[h=3]Joseph Frank, Biógrafo de Dostoiévski, Fala da Aceitação de Sua Obra no Brasil e Comenta Sobre a Fé Ortodoxa do Famoso Romancista Russo.[/h]

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"Não tenho certeza de o que significa perguntar "qual era o tipo de cristianismo de Dostoiévski?". Ele se considerava um membro fiel da Igreja Ortodoxa Russa, cujos dogmas, deve-se lembrar, são muito mais fluidos que os da Igreja Católica Apostólica Romana.Quanto ao significado do sofrimento na existência humana, é importante lembrar que Dostoiévski falava em "sofrimento moral", decorrente do fracasso em cumprir a lei de Cristo. Não se referia ao "sofrimento" causado pela privação material. No documento citado, ele escreveu que "o homem luta na terra por um ideal oposto à sua natureza", e esse ideal exige que sacrifique seu ego às pessoas ou a outra pessoa. Quando deixa de fazê-lo, "sofre e chama isso de pecado". Mas ele acreditava que esse sofrimento era "compensado pela alegria celestial de cumprir a lei, isto é, pelo sacrifício"."


"O objeto principal de Dostoiévski, no início dos anos 1860, era combater o que considerava os efeitos desintegradores das doutrinas do niilismo russo. Para tanto precisava mostrar todas as suas conseqüências malignas. Em certo sentido, do seu ponto de vista, ele mostrava o bem, pois continuava mostrando a luta interna dos personagens contra suas próprias idéias. Também se deve ter em mente que, na única declaração de próprio punho que temos sobre suas convicções religiosas, redigida enquanto ele velava o corpo de sua primeira mulher, escreveu que "amar ao homem como a si mesmo, segundo o mandamento de Cristo, é impossível. A lei da personalidade na terra não o permite. O ego atrapalha". Era a luta contra esse ego que constituía "o bem" para Dostoiévski."


"Certa vez Dostoiévski disse que, se alguém o convencesse de que Cristo era contrário à "verdade", preferiria ficar com Cristo a ficar com "a verdade" (o que supostamente significa a verdade da razão). Seu artigo foi escrito, devemos lembrar, quando os russos sofriam perdas terríveis durante a Guerra Russo-Turca."
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O Mito de Sísifo e Dostoiévski

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Criação do Absurdo: Kirilov


Como estudo de caso, Camus analisa as obras de Dostoiévski. E em particular, ele olha para "Os Possessos" (às vezes traduzido como Os Demônios). De acordo com a Camus, Dostoiévski começa a partir daquele momento, obcecado com raciocínio absurdo. Para Dostoiévski, existe um Deus, uma vida após a morte e a vida tem um significado, caso contrário, vida não tem sentido, tudo o que fazemos é inútil, e a vida é pouco mais que uma piada cruel. Ele é um escritor moderno, com preocupações absurdas, está essencialmente interessado em metafísica e o sentido da vida, mas ele é um artista e não um filósofo, pois ele examina como esses problemas afetam a vida das pessoas, ao invés de apenas tratá-las como conceitos abstratos.

Kirilov é um personagem de Os possessos que comete o que ele chama de um "suicídio lógico". Para que a vida valha a pena viver, Deus deve existir, e ainda assim ele está convencido de que Deus não pode existir. Seu suicídio é, essencialmente, uma revolta contra a idéia de que Deus não existe. Ele é um personagem absurdo em que sua ação é motivada pela revolta e é feito com o espírito de liberdade. E ainda assim, ele comete suicídio. Camus diz que este suicídio, no entanto, não é um ato de desespero, mas um ato criativo em que Kirilov espera que, em certo sentido, "tornar-se Deus".

O raciocínio de Camus começa com a afirmação peculiar que, se Deus não existe, então Kirilov é Deus. Em uma cosmovisão cristã, tudo depende da vontade de Deus e tudo o que fazemos é no serviço de Deus. Se Deus não existe, no entanto, fazemos tudo de livre e espontânea vontade, e nossas ações servem apenas nós mesmos. Em um mundo sem Deus, nós ocuparíamos a posição que Deus teria segurado.

O problema, porém, é que, mesmo em um mundo sem Deus, a maioria das pessoas continuam a viver com a esperança e são incapazes de aceitar a liberdade que eles herdaram. No mundo contemporâneo, não existe uma maneira que os povos possam viver com liberdade. No entanto, como Kirílov pretende mostrar, é possível a morrer com esta liberdade. Seu suicídio é essencialmente uma tentativa de sacrificar a si mesmo e para mostrar ao mundo a liberdade absurda de que todos nós temos, de modo que aqueles que seguem a ele pode ser capaz de viver mais livremente.
No personagem de Kirilov, os problemas que ele aborda, Dostoiévski nos apresenta uma visão de mundo absurdo. No entanto, finalmente, Dostoiévski, se afasta das conseqüências do absurdo e salta para a fé. Seu último romance, Os Irmãos Karamazov, termina com Aliocha afirmando que existe uma vida após a morte. Embora Dostoiévski lutou com temas absurdos, ele finalmente colocou sua fé em Deus. Neste sentido, conclui Camus, ele é mais um existencialista do que um absurdista.


"Se existe Deus, então a vontade é sua, e eu não posso sair de sua vontade. Se não existe, a vontade é toda minha, e é meu dever de proclamar a vontade própria"
"Vontade própria? E por que é o seu dever?"
"Porque a vontade se tornou todo o meu ser. Como que ninguém neste planeta, tendo acabado com Deus e confiando na vontade própria, nunca se atreveu a proclamar a vontade ao seu ponto máximo? É como se um homem pobre, recebeu uma herança , ficou com medo, e não se atreve a chegar perto do saco, pensando que ele é fraco demais para ele próprio. Quero proclamar vontade própria. Posso ser o único, mas vou fazê-lo.
"Faça isso, então."
"É meu dever me matar, porque o ponto máximo da minha vontade própria é - me matar ... matar alguém seria o ponto mais baixo da minha vontade própria, e há você todo ali. Eu não sou você: quero o ponto mais alto, e me matar... é meu dever de proclamar a descrença”, Kirillov estava andando pelo quarto. "Para mim, nenhuma idéia é maior do a da inexistência de Deus. A história da humanidade está do meu lado. O homem não tem feito outra coisa senão inventar Deus, para que possa viver sem se matar; é isto que se encontra toda a história do mundo até o agora . Só eu, pela primeira vez na história do mundo, não quis inventar Deus. Deixe-os saber de uma vez por todas ".

- Fiódor Dostoiévski, Os Demônios



"Você finalmente entendeu! Kirillov gritou extasiado. Assim pode ser entendido, se mesmo alguém como você compreende! Você compreende agora que para a salvação de todos é preciso provar este pensamento. Quem vai provar isso? Eu! Não entendo como, até agora, um ateu podia saber que Deus não existe e não se matar ao mesmo tempo. Reconhecer que não há Deus, e ao mesmo tempo, não a reconhecer que você se tornou Deus, é um absurdo, caso contrário, você deve necessariamente se matar. Uma vez que você entende isto, você é o Rei, você não vai se matar, mas sim, viver na maior glória. Mas, aquele que é o primeiro, deve necessariamente se matar, caso contrário, quem irá começar e provar isso? Sou eu que vou necessariamente me matar, a fim dar início e provar isso. Deus está contra a minha vontade, e eu sou infeliz porque é o meu dever de proclamar a vontade própria. Todo mundo é infeliz, porque todo mundo tem medo de proclamar a vontade própria. É por isso que o homem tem sido tão infeliz e pobre até hoje, porque ele estava com medo de proclamar o ponto principal da auto-vontade e foi obstinado a viver apenas nas margens, como um adolescente. Estou terrivelmente infeliz, porque eu estou com muito medo. O medo é a maldição do homem ... Mas eu vou proclamar a vontade própria, é meu dever acreditar que eu não acredito. Vou começar, e no final, deixarei aberta a porta. E salvarei. Apenas esta maneira salvará todos os homens e na próxima geração irá transformá-los fisicamente. Na forma física presente, tanto quanto eu tenho pensado, não há possibilidade para o homem sem o seu antigo Deus. Por três anos tenho buscando o atributo da minha divindade, e descobri-lo: o atributo da minha divindade é – a vontade própria Isso é tudo, desta maneira posso demonstrar a questão principal de minha insubordinação e mina nova assustadora liberdade. Por isso é muito assustador. Me matarei para mostrar provar minha insubordinação e a minha nova assustadora liberdade ".
- Fiódor Dostoiévski, Os Demônios

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Juntamente com Kierkegaard e Nietzsche, Dostoiévski é frequentemente citado como uma das grandes inspirações do século XIX para o movimento existencialista. Assim como Camus, Dostoiévski é um escritor com preocupações filosóficas. A grande preocupação dos primeiros trabalhos de Camus é precisamente a determinação de como uma pessoa pode viver com plena consciência do absurdo. Dostoiévski retorna novamente para o problema da fé, e todas as implicações do que seria como viver em um mundo sem Deus. Eles compartilham uma consciência de que muitas pessoas podem chegar ao absurdo ou até a não-existência de Deus em um nível intelectual. Mas isso é uma questão diferente, viver as consequências dessa afirmação.

A diferença que se pode ver entre Dostoiévski e Camus é que Dostoiévski, conclui que não podemos viver sem fé, enquanto Camus acredita que pudermos. Em Crime e Castigo, o protagonista, Raskólnikov, comete um assassinato, a fim de testar os limites da sua própria liberdade. Depois, é atormentado pela culpa, em última análise, confessa, e experimenta uma conversão no epílogo. Em Os Irmãos Karamazov, o ateísmo de Ivan Karamazov o leva, última análise, a loucura, enquanto seu irmão mais novo, Aliocha, que ardentemente quer acreditar, emerge em melhores condições.

Raskólnikov, Ivan Karamazov, e Kirilov são diferente da maioria dos ateus em que querem viver de acordo com seus princípios. Para eles, não é o suficiente afirmar que são livres e continuar vivendo como antes. Eles devem solucionar como uma vida sem Deus seria diferente e tentam viver de acordo com essa regra. Para Raskolnikov, este caminho leva ao assassinato, por Ivan leva à loucura e para Kirilov o suicídio. Camus, igualmente, quer que seus personagens vivam plenamente a filosofia que ele cria. Meursault e Calígula, dois dos protagonistas de Camus criados na mesma época que ele escreveu O Mito de Sísifo, não basta aceitar o absurdo de suas vidas em um nível intelectual. Camus também usa eles para mostrar como uma vida, conscientemente absurda, pode ser diferente da norma.

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Grande parte dessa diferença entre Camus e Dostoievski, no entanto, pode ser explicada por sessenta ou setenta anos de história e um clima cultural diferente. Eles não precisam ser vistos como contraditórios. Na Rússia de Dostoiévski, a vida sem Deus pode ter parecido impossível, enquanto que na de Camus França, a vida sem Deus pode até ter parecido necessário. Na discussão de Os Demônios por Camus, ele certamente parece aceitar que o suicídio era a única alternativa para a fé em Deus naquele momento.
Camus inclui este capítulo pois pretende saber se um escritor que aceita os princípios absurdista deve necessariamente permanecer fiel a esses princípios. Em Dostoiévski, ele parece concluir que é possível a um escritor de reconhecer o absurdo e não viver de acordo com esse princípio. Na primeira parte de O Mito de Sísifo, Camus mostra que os filósofos existencialistas, como Jaspers, Kierkegaard e Chestov reconheceu os princípios absurdistas, mas, em seguida, pularam para a fé, ao invés de escolher a aceitar esses princípios. Neste capítulo, ele mostra que o que é filosoficamente verdadeiropara aqueles pensadores também é verdadeiro para Dostoiévski como escritor. Uma sensibilidade absurda não implica necessariamente em uma ficção absurda.

Original: http://www.sparknotes.com/philosophy/sisyphus/section9.rhtml
 
Entrevistas

Domingo, 28 de fevereiro de 2016

A presença de Deus nas obras de Dostoiévski. Entrevista especial com Elena Vássina

“No que diz respeito aos quatro principais romances de Dostoiévski — Crime e castigo (1866), O idiota (1869), Os demônios (1872) e Os irmãos Karamázov (1879) —, todos eles tratam da relação do ser humano com Deus”, destaca a professora.



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Fiódor Dostoiévski
Imagem: livrosepessoas.com

Ao analisar as quatro obras fundamentais de Fiódor Dostoiévski, Crime e castigo (1866), O idiota (1869),Os demônios (1872) e Os irmãos Karamázov (1879), a professora de Literatura Russa da Universidade de São Paulo, Elena Vássina constata, em entrevista concedida por e-mail à IHU On-Line, que todas elas abordam a relação do homem com Deus.

Pode-se falar, inclusive, de uma intensificação da presença de Cristo na obra do autor russo a partir dos anos 1850, após sua experiência de comutação da pena de morte em trabalhos forçados na Sibéria. Para personagens como Raskólnikov, de Crime e castigo, a punição se dá como “um processo interno, uma catástrofe espiritual e na necessidade de uma purificação interna, de contrição”, observa Vássina. Já em O Idiota, a figura paradoxal do Príncipe Míchkin, que metaforiza Cristo, é a “personificação do sentimento de ilimitada compaixão e de incondicional amor ao próximo”.

De acordo com a pesquisadora, “Dostoiévski sabe que não há como prevenir o desencadear catastrófico dos acontecimentos: apesar do amor ao próximo ser nutrido pelo Príncipe Míchkin com tanta abnegação, nem ele consegue impedir as forças do caos que, no final de contas, triunfam, levando a narrativa ao desfecho trágico”.

Elena Vássinaé professora nos cursos de graduação e pós-graduação em Letras Russas na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo - USP. Aprendeu a falar português em Moscou, e o faz com fluência e um elegante sotaque, como na ocasião em que falou com a revista IHU On-Line em 2006, na edição intitulada Dostoiévski: nas profundezas da alma humana e da literatura.

É graduada e mestra em Letras pela Universidade Estatal de Moscou; doutora em Artes pelo Instituto Estatal de Pesquisa da Arte (Rússia), com a tese Principais tendências de desenvolvimento do teatro brasileiro dos anos 70; e pós-doutora também pelo Instituto Estatal de Pesquisa da Arte. É uma das organizadoras das obras Cadernos de Literatura e Cultura Russa (São Paulo: Ateliê Editorial, 2004); Tipologia do simbolismo nas culturas russa e ocidental (São Paulo: Humanitas, 2005); O cadáver vivo (São Paulo: Peixoto Neto, 2007); e Teatro russo: literatura e espetáculo (Cotia/São Paulo: Ateliê Editorial, 2011).

Confira a entrevista.


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Foto: Youtube.com / UNIVESP

IHU On-Line - Em entrevista [1] concedida à IHU On-Line em 2006, a senhora afirmou que Dostoiévski [2] liga o Ser a Deus, e que toda sua obra projeta a eternidade. A partir disso, qual é o lugar de Deus na obra de Dostoiévski?


Elena Vássina - No que diz respeito aos quatro principais romances de DostoiévskiCrime e castigo (1866), O idiota(1869), Os demônios (1872) e Os irmãos Karamázov (1879) —, todos eles tratam da relação do homem com Deus.

Raskólnikov, [3] de Crime e castigo, desce ao inferno dos sofrimentos de consciência para depois encontrar um caminho iluminado pelo amor ao próximo que o leva à ressurreição.

No romance O idiota, Dostoiévski tenta criar uma imagem do homem “absolutamente belo” como uma manifestação da beleza crística.

Em Os demônios, ao contrário, o escritor mostra a situação quando os homens se associam às forças demoníacas de destruição. E no romance Os irmãos Karamázov, no romance-síntese, Dostoiévski faz suas personagens e seus leitores refletirem sobre uma das questões cruciais de toda a sua obra: “se Deus não existe, tudo é permitido”.

Certamente, a fé de Dostoiévski passou pela prova de fogo quando, em 1849, ele foi preso e condenado à pena de morte por causa de sua participação no Círculo Petrashevski [4]. E o momento decisivo era quando o escritor estava esperando o momento da execução e sentiu que logo em seguida “estaria com Cristo”. No último minuto foi lida a ordem do czar Nikolau I, [5] que comutava a pena capital para prisão e exílio.

Logo depois de ter cumprido a pena de quatro anos de trabalhos forçados na Sibéria, no início de 1854, Dostoiévskiescreve a carta à sua amiga e “correspondente espiritual” Natália Fonvízinam, confessando que, apesar de ser “um filho do século da falta de fé e de dúvidas”, ele compôs para si “o símbolo da fé no qual tudo está claro e sagrado. Esse símbolo é muito simples: acreditar que não há nada mais belo, mais profundo, mais simpático, mais racional, mais corajoso e perfeito do que Cristo, e não só não há, como eu ainda afirmo com um amor cioso que não pode haver. Além disso, se alguém provasse que Cristo está fora da verdade e se realmente a verdade estivesse fora de Cristo, eu gostaria mais de ficar com Cristo do que com a verdade.” [6]

Por isso, a presença de Cristo se torna tão importante na obra de Dostoiévski a partir da década dos anos 1850. Mas não se deve esquecer, como Dostoiévski anota já no final de sua vida, no seu caderno de 1881: “... não é como menino que eu creio em Cristo e o confesso, mas minha Hosana passou pelo crisol das dúvidas.” [7]

IHU On-Line - Em linhas gerais, como o sagrado e o Mal se expressam na literatura de Dostoiévski?

Elena Vássina - Por meio de suas personagens (Raskólnikov, Kiríllov [8], Verkhovénski [9], Ivan Karamázov [10]), personagens que sempre personificam as ideias, Dostoiévski analisa o mecanismo moral do nascimento do mal que abrange diferentes esferas da vida humana. Mas, ao mesmo tempo, no universo artístico do escritor, que é marcado pelas oposições polares, sempre existe a possibilidade de caminho que poderia levar à luz e ao amor divinos (Sônia Marmeládova [11], Príncipe Míchkin [12], Aliocha Karamázov [13], starets [14] Zózima).

Raskólnikov mata, derrama o sangue violando o mandamento “não matarás”, pondo em dúvida o caráter incondicional, absoluto do mandamento. Do ponto de vista da razão comum, ele matou uma pessoa e o castigo veio de fora. Mas no romance não existe castigo de fora. Rodion Raskólnikov poderia perfeitamente se livrar da responsabilidade pelo crime cometido e livrou-se de fato, porque no final de contas ninguém conseguiu provar sua conivência com o assassinato da velha agiota.

Mas Dostoiévski faz a sua personagem sentir toda a dimensão trágica do crime: “Não foi a velha que eu matei, eu matei a mim mesmo. Sim, acabei comigo para o fim dos séculos.” Resulta que o assassinato é um tiro no seu próprio corpo. O mandamento “não matarás” não é uma proteção mecânica, mas a profunda estrutura moral interna, dada ao ser humano. O castigo chega a Raskólnikov na forma de um processo interno, uma catástrofe espiritual e na necessidade de uma purificação interna, de contrição.

Dostoiévski ensina a responsabilidade pessoal. Ele não aceitava a justificativa comum de pessoas serem vítimas do meio. Pondo a culpa de nossos dramas e fracassos no mundo mal feito, abre-se mão voluntariamente do nosso dom principal — a liberdade.

IHU On-Line - Em específico, como a figura de Jesus aparece em suas obras, de forma direta ou figurada?

Elena Vássina - A figura de Jesus está presente em muitas obras de Dostoiévski: na maioria das vezes, é um intenso diálogo das personagens com os mandamentos de Cristo, as citações e referências ao Novo Testamento, mas, por exemplo, na Lenda do Grande Inquisidor (Os irmãos Karamázov) Jesus aparece como um interlocutor silencioso do Inquisidor. Já no romance O Idiota (em seguida, vou falar deste livro mais detalhadamente) encontramos o outro olhar paradoxal de Dostoiévski de Jesus: Ele aparece no quadro de Hans Holbein [15] “Cristo morto”, uma imagem tão impressionantemente forte que até faz o príncipe Míchkin confessar a Rogójin: “Por causa desse quadro outra pessoa ainda pode perder a fé.”

IHU On-Line - No caso do Príncipe Míchkin, protagonista de O Idiota, em que aspectos ele é uma metáfora de Jesus Cristo?

Elena Vássina - O romance O Idiota, de Dostoiévski, apresenta-se como um amplo campo artístico de intensa batalha entre duas forças polares: de um lado, estão os geradores de caos, representados pelas personagens atormentadas pelas paixões, quase sempre egocêntricas, e pelos desejos orgulhosos; do outro lado, a ação se movimenta pela força do amor que visa unir tudo e todos em harmonia, igual àquela que transparece na forma do romance, ou seja, na concepção e tessitura artística da narrativa. O princípio harmônico (que sempre transcende nas obras de Dostoiévski), além de definir a composição do romance, realiza-se, par excellence, na criação da personagem principal: o Príncipe Lev Nikoláievitch Míchkin, o Idiota.

Paradoxalmente, é na imagem artística do próprio IDIOTA que, ao se tornar uma personificação do sentimento de ilimitada compaixão e de incondicional amor ao próximo, está concebida a ideia central e a mais valiosa dessa obra deDostoiévski.

O escritor definiu o conceito de seu romance logo no início do trabalho, em janeiro de 1868; na carta a sua sobrinha,Sofia Ivánova, ele escreve:

A ideia do romance é aquela minha velha e cara, mas a tal ponto difícil, que durante longo tempo não tive coragem de tocá-la... A ideia central do romance é representar um homem absolutamente belo. No mundo não há nada mais difícil do que isso, especialmente agora. Todos os escritores, não somente nossos, mas até os estrangeiros, que se propuseram a criar uma imagem do absolutamente belo, sempre se deram por vencidos. Porque esse objetivo é imenso. O belo é um ideal, mas o ideal, seja o nosso, seja o da Europa civilizada, ainda está longe de ser elaborado. No mundo há somente uma personalidade absolutamente bela: Cristo, e a existência dessa personalidade infinita e imensamente bela certamente já é um milagre absoluto”.

Uma criatura “absolutamente bela”

Logo as primeiras páginas do romance fazem-nos mergulhar, junto com o Príncipe Míchkin (essa criatura “absolutamente bela”), no caos do mundo dominado pelo mal, pelo espírito de separação e pela trágica dualidade entre material e celestial, o que fica apresentado por toda uma série de personagens.

Mas no percurso da via dolorosa do mundo criado no universo artístico dostoievskiano, descobrimos, como Rogójin,Nastássia Filíppovna, Agláia, entre muitos outros, a imensa sede de amor e de compaixão — aqueles que transbordam do coração do Idiota e que são percebidos por todos, queiram eles ou não, em sua presença. Além de profunda compaixão, o Príncipe é dotado de profunda liberdade interior (seria difícil não se lembrar: “Eu não sou deste mundo” — João, 8: 23) e apresenta-se como uma irresistível força de atração para todos, revelando a sede espontânea do ser humano para o ideal. Mas, ao mesmo tempo, quase todos que se aproximam do Príncipe o humilham, machucam e fazem sofrer o tempo todo.

Dostoiévski sabe que não há como prevenir o desencadear catastrófico dos acontecimentos: apesar do amor ao próximo ser nutrido pelo Príncipe Míchkin com tanta abnegação, nem ele consegue impedir as forças do caos que, no final de contas, triunfam, levando a narrativa ao desfecho trágico.

O romance O Idiota eleva-se às alturas da verdadeira tragédia ao apresentar a inevitável “predestinação” do ser humano quando ele começa a se alinhar com o Mal e perde sua liberdade, afundando-se no caos... Mas Dostoiévskinão seria um grande gênio se a sua obra não resultasse em uma fortíssima catarse que nos transforma e nos eleva àtranscendência, ao deslumbramento pela luz Divina que ilumina as trevas da materialidade humana.

IHU On-Line - Em que medida o Discurso do Inquisidor, uma das partes mais famosas de Os Irmãos Karamázov, expressa os tensionamentos religiosos que perpassam seus enredos?

Elena Vássina - Do Diário de um escritor, de 1873, Dostoiévski escreve: “É bem possível que as ideias de todos os líderes do pensamento progressivo sejam filantropos e magnânimos. Mas parece-me indubitável que se a todos esses grandes ensinadores de hoje for dada a possibilidade de destruir totalmente a velha sociedade e construir uma nova, surgirão trevas, um tamanho caos, tão grosseiro, cego e desumano, que toda essa estrutura do mundo vai ruir sob as maldições da humanidade antes de ser terminada. Uma vez repudiado Cristo, a mente humana pode chegar a resultados surpreendentes. Isso é um axioma.”

No seu livro A visão do mundo de Dostoiévski, o filósofo russo Nikolai Berdiáev [16] apontou que “todos os pensamentos de Dostoiévski sobre o ser humano levavam ao problema da liberdade, às vias de sua realização no mundo, à questão da liberdade do homem de fazer sua escolha e das consequências dessa escolha. Na criação deDostoiévski existe um único tema — o trágico destino do homem, a liberdade do destino do homem. O amor é somente um dos momentos nesse destino.” E nesse sentido, a “Lenda sobre o Grande Inquisidor” é o resultado do desenvolvimento desse tema na obra do escritor.

Na opinião do Grande Inquisidor, assumir a responsabilidade e usar da liberdade dada por Deus está acima das forças humanas. Então, para fazer os homens se sentirem felizes, o Inquisidor “renova” o Cristianismo: ele substitui a liberdade por “autoridade”, o Espírito por “milagre”, a verdade pelo “mistério”. Agora as personalidades eleitas, inteligentes e fortes resolvem os problemas dos homens. “Para que Você veio nos incomodar? Pois Você veio justamente para incomodar e Você mesmo sabe disso” — diz o Inquisidor a Cristo que novamente veio ao mundo. Em resposta, Cristo dá um beijo no ancião nonagenário, vestido de batina de monge. O Inquisidor liberta Cristo, que fora encarcerado e Lhe diz na despedida: “Vá embora e não volte mais... não volte mesmo... jamais, jamais!”

“Somente agora, quando conseguimos vencer a liberdade, pela primeira vez tornou-se possível pensar na felicidade do homem” — diz o Inquisidor de Dostoiévski. “E as pessoas ficaram alegres por novamente serem levadas como rebanho e porque de seus corações fora tirado o terrível dom que lhes causava tantos sofrimentos...”

Cristo continua calado, ele permanece na sombra. A positiva ideia religiosa não encontra sua expressão verbal. Facilmente pode ser expressa somente a ideia sobre a imposição. Assim, na Legenda encontram-se temas que sempre estiveram no centro da obra de Dostoiévski: a liberdade e a imposição. O potencial destrutivo dos protagonistas que “raciocinam” e a força daqueles que vivem obedecendo às leis do coração, e não do “raciocínio”.

IHU On-Line - Por outro lado, como personagens como Piotr Verkhovénski (Os Demônios) e Ivan Karamázov e Smierdiákov [17] (Os Irmãos Karamázov) expressam o contraponto ao sujeito temente a Deus?

Elena Vássina - Talvez a melhor explicação do caminho contrário aos princípios do amor divino ao próximo, nós encontramos no seguinte episódio de Os irmãos Karamázov quando Dostoiévskidescreve como Ivan “declarou em tom solene que em toda a face da terra não existe absolutamente nada que obrigue os homens a amarem seus semelhantes, que essa lei da natureza, que reza que o homem ame a humanidade, não existe em absoluto e que, se até hoje existiu o amor na Terra, este não se deveu à lei natural, mas tão só ao fato de que os homens acreditavam na própria imortalidade”.

Ivan Fiódorovitch acrescentou, entre parênteses, que é nisso que consiste toda a lei natural, de sorte que, destruindo-se nos homens a fé em sua imortalidade, neles se exaure de imediato não só o amor como também toda e qualquer força para que continue a vida no mundo. E mais: então não haverá mais nada amoral, tudo será permitido, até a antropofagia.

Mas isso ainda é pouco, ele concluiu afirmando que, “para cada indivíduo particular, por exemplo, como nós aqui, que não acredita em Deus nem na própria imortalidade, a lei moral da natureza deve ser imediatamente convertida no oposto total da lei religiosa anterior, e que o egoísmo, chegando até ao crime, não só deve ser permitido ao homem, mas até mesmo reconhecido como a saída indispensável, a mais racional e quase a mais nobre para a situação”.

IHU On-Line - No caso de Raskólnikov, de Crime e Castigo, até que ponto se pode falar em sua “ressurreição” espiritual em função do amor que nutria pela prostituta Sônia?

Elena Vássina - Certamente, a prostituta Sônia desempenha um papel importantíssimo no processo da salvação deRaskólnikov, é ela que lhe fala sobre a necessidade de confissão: “Vai agora, neste instante, para em um cruzamento, inclina-te, beija primeiro a terra, que tu profanaste, e depois faz uma reverência a todo este mundo, em todas as direções que quiseres, e diz a todos, em voz alta: ‘Eu matei’. Então Deus te mandará vida mais uma vez”.

É a partir daqui que começa o caminho da ressurreição de Raskólnikov, igual a de Lázaro. E o epílogo do romance quando Raskólnikov se lança aos pés de Sônia e começa a chorar e abraçar os joelhos dela celebra a culminância epifânica da salvação espiritual da personagem a quem neste momento é dado o dom divino de sentir o amor não apenas para Sônia, mas para todo o próximo.

IHU On-Line - Em que aspectos a questão da culpa é recorrente nas obras desse escritor e qual é o peso do Cristianismo por trás dessa concepção?

Elena Vássina - Dostoiévski não fala da culpa, porque no universo religioso russo, em geral, e na religiosidade deDostoiévski, em particular, não existe o conceito da culpa (que, eu creio, é um conceito muito mais difundido na cultura ocidental), mas existe a noção básica do pecado. O mais importante para Dostoiévski é que o pecado está dentro da própria natureza humana e não vem de fora, como ele escreve em seu Diário de um escritor, de 1877: “Está claro e evidente que o mal se esconde mais profundamente no homem do que imaginam os curandeiros-socialistas; que em nenhum sistema social é possível eliminar o mal, que a alma humana fica a mesma e que a anormalidade e o pecado provém dela mesma...”

Por Márcia Junges

Notas:

[1] Trata-se da entrevista Dostoiévski: nas profundezas da alma humana e da literatura, concedida à IHU On-Line, nº edição 195, de 11-09-2006, disponível em http://bit.ly/1bLNqec. (Nota da IHU On-Line)

[2] Fiódor Mikhailovich Dostoiévski (1821-1881): um dos maiores escritores russos e tido como um dos fundadores do existencialismo. De sua vasta obra, destacamos Crime e castigo, O Idiota, Os Demônios e Os Irmãos Karamázov. A esse autor a IHU On-Line edição 195, de 11-09-2006, dedicou a matéria de capa, intitulada Dostoiévski. Pelos subterrâneos do ser humano, disponível em http://bit.ly/ihuon195.

Confira, também, as seguintes entrevistas sobre o autor russo: Dostoiévski e Tolstoi: exacerbação e estranhamento, com Aurora Bernardini, na edição 384, de 12-12-2011, disponível em http://bit.ly/ihuon384; Polifonia atual: 130 anos de Os Irmãos Karamazov, de Dostoievski, na edição 288, de 06-04-2009, disponível em http://bit.ly/ihuon288; Dostoiévski chorou com Hegel, entrevista com Lázló Földényi, edição nº 226, de 02-07-2007, disponível em http://bit.ly/ihuon226. (Nota da IHU On-Line)

[3] Rodion Românovitch Raskólnikov: personagem principal do livro Crime e Castigo, de Dostoiévski, publicado em 1866. Ele também é referido no romance pelo dimunutivo de seu primeiro nome, Ródia ou Rodka. O nome Raskólnikov, o mais usado na narrativa, provém da palavra raskolnik que significa cisão ou cisma, caracterizando o personagem como cindido e atormentado. (Nota da IHU On-Line)

[4] Círculo Petrashevski: grupo de discussão literária formado por intelectuais progressistas em São Petersburgo, organizado por Mikhail Petrashevski, um seguidor do socialista utópico francês Charles Fourier. A maior parte de seus integrantes se opôs à autocracia do czar e ao sistema de semi-servidão. Entre os componentes do grupo estavam os escritores Dostoiévski e Saltykova, além dos poetas Pie-Shchedrin e Shcheyev, Maikov e Taras Shevchenko. Nicolau I, preocupado com a possibilidade de que a Revolução de 1848 propagar-se pela Rússia, confundiu o grupo com uma revolucionária organização subversiva. O círculo foi banido em 1849 a seu mando, seus membros foram detidos e alguns fuzilados. (Nota da IHU On-Line)

[5] Czar Nicolau I (1796-1855): imperador da Rússia (1825-1855), filho de Paulo I. Instaurou um governo absolutista, conquistou Erevan à Pérsia (1828), fez da Polônia uma província russa (1830), defendeu a Turquia contra o Egito, mas morreu antes do fim da Guerra da Crimeia. Durante seu governo tentou eliminar os movimentos nacionalistas, perpetuar os privilégios da aristocracia e impedir o avanço do liberalismo. Também reprimiu a insurreição decembrista em 1825 e apoiou a Áustria no controle da revolta húngara de 1848, o que lhe valeu o epíteto de o guarda da Europa.

Em 1830, depois de reiteradamente negar-se a aceitar os limites constitucionais fixados pelo congresso polaco, foi deposto como rei da Polônia pelo chamado Levante de Novembro. Nicolau respondeu aniquilando os insurrectos e anexando a Polônia como província russa. Teve uma política expansionista que começou com a Guerra da Criméia.

Faleceu em São Petersburgo em 1855, antes que britânicos e franceses, aliados do Império Otomano na guerra, triunfassem no cerco de Sebastopol, abrindo o caminho às reformas efetuadas por seu filho Alexandre II. (Nota da IHU On-Line)

[6] Достоевский Ф. М. Полн. собр. соч.: В 30 т. Т. 28. Кн. 1. Л., 1985, с. 176. (Nota da entrevistada)

[7] Idem, vol.27, 1984, p. 86. (Nota da entrevistada)

[8] Personagem da obra Os Demônios (1872), de Dostoiévski. (Nota da IHU On-Line)

[9] Personagem da obra O idiota (1868), de Dostoiévski. (Nota da IHU On-Line)

[10] Ivã Fiodórovith Karamázov: personagem de Os irmãos Karamázov, obra do escritor russo Fiódor Dostoiévski. Era um intelectual e niilista que “doutrinou” o meio-irmão Smierdiákov, criado da casa, de que “tudo é permitido”. O diálogo conhecido como Grande Inquisidor, no qual essa afirmação é feita, acontece entre Ivã e Aliéksiei, o filho religioso. Sobre Dostoiévski, confira a edição 195 da IHU On-Line, de 11-09-2006. (Nota da IHU On-Line)

[11] Sonya Marmeladova: é a principal heroína da novela famosa por Dostoiévski - Crime e Castigo (1866). Esse romance psicológico foi escrito nos anos 1865-1866 e até hoje continua a ser popular e bem-sucedido. O romance é popular não só na Rússia, mas em todo o mundo. Marmeladova Sonya e Raskolnikov são os dois personagens principais da novela. (Nota da IHU On-Line)

[12] Príncipe Míchkin: personagem principal do romance O idiota. Ao longo da obra, o Príncipe mostrará ser honesto, bondoso e romântico, mas terá problemas com isso, pois os outros acham que isso é ser idiota. Príncipe Míchkin morou na Suíça por vários anos para tratar de sua idiotia, quando precisou voltar à Rússia para reclamar uma herança, estando praticamente curado. Na Rússia, conhece uma parente distante e afeiçoa-se a ela. Dostoiévski nesse livro fala do nacionalismo russo e do catolicismo eslavo. Com o Príncipe, ele tenta resgatar uma figura pura e quase santa de uma sociedade russa que talvez tenha existido. O livro é considerado o mais típico de seu estilo, com abundantes personagens, análises psicológicas, histórias e humor. (Nota da IHU On-Line)

[13] Aliocha: personagem principal do romance Os irmãos Karamazov. No entanto, o próprio autor revela que este homem nada tem de herói, no sentido convencional do termo. Passa quase despercebido durante grande parte do enredo, mas há uma chave para compreender a razão que levou Dostoiévski a colocá-lo como “herói”. É o único personagem que não julga ninguém. É esta uma das grandes lições do mestre russo: a maioria dos homens cede sempre à tentação de julgar. Aliocha, pelo contrário, ouve, compreende e nunca faz juízos de valor sobre os outros. É assim uma espécie de guardião da sensatez perante as loucuras e paixões dos Karamazov. (Nota da IHU On-Line)

[14] Starets: pessoa que desempenha função de conselheiro e mestre nos mosteiros ortodoxos. Sua sabedoria remonta tanto à experiência quanto à intuição. Acredita-se que através da prática ascética e uma vida virtuosa, o Espírito Santo lhes oferece dons especiais, incluindo a habilidade de curar, realizar profecias e se constituir como guia e direção espiritual efetiva. (Nota da IHU On-Line)

[15] Hans Holbein (1497-1543): pintor alemão, conhecido como Hans Holbein, o Jovem. Uma de suas obras mais conhecidas é O Cristo morto, datada de 1521. (Nota da IHU On-Line)

[16] Nikolai Alexandrovich Berdiaev (1874-1948): religioso e filósofo político russo. Era devoto do Cristianismo Ortodoxo, mas frequentemente criticava a instituição da Igreja. Um inflamado artigo publicado em 1913 criticando o Santo Sínodo da Igreja Ortodoxa Russa levou-o a ser acusado do crime de blasfêmia, recebendo a punição de exílio perpétuo na Sibéria. Vieram a Primeira Guerra Mundial e a Revolução Bolchevique, que impediram que o assunto fosse posteriormente julgado.

Em setembro de 1922, Berdiaev selecionou um grupo de 160 proeminentes escritores e universitários, intelectuais que o governo bolchevique considerava objetáveis, tendo forçado-os ao exílio no chamado 'philosophers ship'. Em geral, eles não eram partidários nem do Czarismo nem do regime dos bolcheviques, preferindo formas menos autocráticas de governo. Foram incluídos os que defendiam a liberdade pessoal, desenvolvimento espiritual, ética cristã, e um caminho informado pela razão e guiado pela fé. (Nota da IHU On-Line)

[17] Smierdiákov: filho do pai Karamázov com uma moradora de rua, e portanto meio irmão de Aliocha, Ivã e Dimitri, é o criado na mansão da família. Epilético e não reconhecido como membro do clã, é o perpetrador do assassinato do patriarca após ser “convencido” por Ivã de cometer o parricídio. (Nota da IHU On-Line

Fonte: http://www.ihu.unisinos.br/entrevis...oievski-entrevista-especial-com-elena-vassina
 
Acabei de adquirir o livro Diário de um escritor (1873): Meia carta de um sujeito de Dostoiévski (editora Hedra). Trata-se da primeira parte de uma série de artigos escritos pelo mestre russo, iniciados em 1873 e publicados semanalmente no jornal O Cidadão.

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Para reavivar o presente tópico, gostaria de mencionar que a importância de Dostoiévski não pode ser subestimada: de Herman Hesse a Marcel Proust, de William Faulkner a Alberto Camus, de Franz Kafka a Gabriel García Márquez - virtualmente qualquer grande escritor do século XX não escapou a sua influência. Influenciou decisivamente na literatura do século XX, particularmente o existencialismo e o expressionismo.

Isso se deve pelo motivo principal de Dostoiévski ter criado uma obra de imensa vitalidade e um poder quase hipnótico devido as mais variadas características, como as cenas febrilmente dramatizadas, onde os personagens estão frequentemente comprometidos na atmosfera escandalosa e explosiva, a procura de Deus, o problema da injustiça e o sofrimento do inocente; tudo isso frequenta a maioria de seus romances, novelas e contos.

Quanto aos personagens, eles podem ser colocados em categorias diferentes: o humilde e modesto (príncipe Myshkin, Sonya Marmeladova, Alyosha Karamazov), o niilista (Svidrigailov, Smerdyakov, Stavrogin), os libertinos cínicos (Fiódor Karamazov), os intelectuais rebeldes (Raskolnikov, Ivan Karamazov) são alguns exemplos.

Por fim, gostaria de acrescentar que Dostoiévski segue sendo um dos meus autores preferidos, devido, principalmente, a ele ter criado personagens memoráveis e narrativas apaixonantes.
 
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Feito.

Ainda falando de Dostoiévski, ele fez surgir uma literatura que escapa dos limites de toda uma época, quer do ponto de vista histórico-social e geográfico, quer do ponto de vista literário, apontando infinitamente para a modernidade. Creio que nenhum outro escritor em seu tempo fez isso, pois ao tentar redefinir e assimilar, na estrutura de suas obras, a nova posição do indivíduo no mundo, ele cria uma forma inédita, capaz de exprimir uma nova visão do homem e de sua realidade.

Por tudo isso, Dostoiévski teve grande influência no processo de evolução da literatura mundial.
 
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Reavivando este tópico para dizer que a Editora 34 está lançando este mês Contos reunidos de Dostoiévski; trata-se de uma coletânea reúne 28 contos do mestre russo, do primeiro ao último ano de sua trajetória como escritor. Todos eles em traduções diretas do russo. Neste livro foi utilizada aqui uma concepção ampla de "conto", que inclui também breves novelas, narrativas autônomas dentro de romances e peças jornalísticas com viés ficcional. Para quem é fã de Dostoievski, um grande lançamento.
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Segue o sumário do livro Contos reunidos de Dostoievski:

Apresentação, Fátima Bianchi............................................................ 7

Como é perigoso entregar-se a sonhos de vaidade (1846)...................................... 29

O senhor Prokhártchin (1846)........................................................... 51

Romance em nove cartas (1847)........................................................ 77

Um coração fraco (1848)................................................................... 89

Polzunkov (1848)............................................................................... 127

Uma árvore de Natal e um casamento (1848).................................... 141

A mulher de outro e o marido debaixo da cama (1860)........................................... 149

O ladrão honrado (1860)................................................................... 187

O crocodilo (1865)............................................................................. 203

O sonho de Raskólnikov (extraído de Crime e castigo, 1866)............................................ 239

Vlás (1873)........................................................................................ 245

Bobók (1873)..................................................................................... 259

Meia carta de “uma certa pessoa” (1873).......................................... 277

Pequenos quadros (1873)................................................................... 287

Pequenos quadros (durante uma viagem) (1874)................................ 297

A história de Maksim Ivánovitch (extraído de O adolescente, 1875).............................................. 317

Um menino na festa de Natal de Cristo (1876).................................. 329

Mujique Marei (1876)........................................................................ 335

A mulher de cem anos (1876)............................................................. 341

O paradoxalista (1876)...................................................................... 347

Dois suicídios (1876).......................................................................... 353

O veredicto (1876)............................................................................. 357

A dócil (1876).................................................................................... 361

Uma história da vida infantil (1876).................................................. 401

O sonho de um homem ridículo (1877).............................................. 407

Plano para uma novela de acusação da vida contemporânea (1877)................................................... 427

O tritão (1878)................................................................................... 433

O Grande Inquisidor (extraído de Os irmãos Karamázov, 1880)................................. 439

Apêndice

A mulher de outro (1848).................................................................. 463

O marido ciumento (1848)................................................................. 479

Histórias de um homem vivido (1848)............................................... 507

Domovoi............................................................................................ 529

Cronologia de Dostoiévski................................................................. 533

Sobre os tradutores............................................................................ 547
 
Esse ano em cannes um filme russo adaptado de um conto do tio Dostô vai estar em competição, em inglês chamaram de A gentle creature, e creio ser adaptado do conto A dócil, presente naquele livro duas historias fantásticas pela 34. De todo modo, deixo aqui o link com infos do filme no imdb para quem estiver interessado poder lembrar, quando o filme estiver disponível. http://m.imdb.com/title/tt5618752/
 
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Indico uma produção da TV Russa feita em 2003, dirigida por Vladimir Bortko, em 10 episódios, sobre a obra literária ''O Idiota'', de Fiódor Dostoiévski. A série apresenta a história e os delírios do Príncipe Míchkin, personagem principal do livro e brilhantemente interpretado pelo ator Yevgeny Mironov. Ele fica obcecado pelo amor de Nastácia Filíppovna (Lidiya Velezheva), uma moça esnobe, explosiva e cheia de caprichos.

Essa minissérie é a versão cinematográfica mais completa e fidedigna já realizada até o momento do livro do mestre russo. Além disso os atores são brilhantes e o figurino idem. Um presente do diretor Vladimir Bortko aos amantes da obra de Dostoiévski.

A produção é tão minuciosa quanto os próprios textos do escritor, riquíssima em detalhes e com uma sequência cronológica perfeita, muito fiel ao livro.
 
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Anna Grigorievna Dostoievskaia (nascida Snitkina) nasceu em 12 de setembro de 1846. Memorialista, estenógrafa, assistente e segunda esposa de Fiódor Dostoiévski (desde 1867). Ela também foi uma das primeiras mulheres filatelistas na Rússia. Ela escreveu dois livros biográficos sobre seu marido: Diário de Anna Dostoievskaia (1867), que foi publicado após sua morte, e Memórias de Anna Dostoievskaia, publicado em 1925.

Anna começou a trabalhar para Fiódor Dostoiévski como estenógrafa durante a elaboração do romance O Jogador, era 4 de outubro de 1866. Um mês depois eles ficaram noivos e se casaram. E sabe como Dostoiévski pediu sua amada em casamento? Com muita criatividade. Nas Memórias, Anna descreve como o escritor iniciou sua proposta de casamento descrevendo o enredo de um novo romance imaginário.

Um velho pintor, na história inventada por ele, se apaixona por uma moça chamada Anya. Dostoiévski perguntou a ela se era possível uma moça tão jovem se apaixonar pelo pintor, sendo ele bem mais velho. "Coloque-se no lugar dela por um momento. Imagine que eu sou o pintor, confessei a você e pedi que você fosse minha esposa. O que você responderia?" Anna disse: "Eu responderia que te amo e te amarei para sempre".
 
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Atualizando meu tópico, e provavelmente meu preferido, para dizer que senti progressivamente uma mudança de preferência, passei a gostar menos dos personagens santos e mais dos 'demoníacos', como Svidrigailov, Stavroguin e Smierdiakov. Outra coisa: não concordo com colocá-los ao lado dos niilistas, como Raskolnikov e Ivan, são tipos estruturalmente diferentes de tipos humanos, de vozes.
 
Glória ao Eterno!
Amen veamen.

Vou explicar isso elaborando sobre um ponto muito pouco falado das obras de Dostoievski: os crimes sexuais.

Stavroguin é um personagem tipicamente demoníaco, no sentido de que não possui feições ou comportamentos humanos, não age como se espera de um ser humano. Parece não possuir sentimentos, não frequenta a vida social, e sua relação com os membros mais ativos do círculo de conspiradores está sempre no fio da navalha, oscilando entre suspeita de traição ou de indiferença covarde, quase como se tivesse retornado outro da época em Moscou. E ele realmente retornou outro. O mesmo pode ser dito de Svidrigailov, que possui uma face e modos encantadores, sendo o gentleman bon-vivant que é, notório por suas aventuras sexuais escandalosas e história igualmente escandalosa de traição, propostas indecentes e calúnias em que enreda a si mesmo, seu casamento estável e a figura altiva, poderosa e bela de Avdótia Romanovna, mas, contrariamente a tudo isso, suas aproximações evasivas e cautelosas da mesma Dúnia por quem é apaixonado e o diálogo inconsciente e subterrâneo com Raskolnikov o transportam para o centro nevrálgico do romance, para longe de qualquer convencionalismo.

Essa transformação pela qual ele passa está relacionada ao mesmo processo traumático de violação sexual, particularmente, o de violação infantil, abuso sexual infantil, em que Svidrigailov se vê envolvido. Em nenhum ponto isso está claro na trama, mas o sonho do demônio de Crime e castigo o revela, para quem tiver olhos para ver, da mesma forma críptica que em Os demônios: alusões, memórias, fofocas. Ambos, Stavroguin e Svidrigailov, se vêem às voltas, muito por conta de associações, com um caso específico: uma cena de cunho sexual, envolvendo uma mulher, uma menina, menor de idade. Daí a recorrência, no sonho de Svidrigailov, de imagens infantis e idilícas, quase como se fôssemos transportados a um chalé francês do século XVII ou a um sarau inglês do século XVIII, mas, em meio ao sonho, há uma cena de morte, um cadáver sendo velado, um caixãozinho (remetendo ainda mais, mas já de modo mórbido, à infância e inocência da pequenez do recipiente), e nele a figura serena e imperturbável de uma existência que provavelmente se sentiu algum dia mais ligada a brincadeiras infantis e inocentes que ao tipo de 'jogo' que a mente febril de Svidrigailov associava a 'relação' distante que se estabeleceu entre eles. Morte por estrangulamento? A morte seria um símbolo de que Dostô se utilizou para expressar o horror que sentia por essa relação doentia, incapaz de cunhar alguma outra que fosse, àquela época, aceitável e, para ele, comparável a tal horror? Ou o demônio que atormentou tanto Dúnia havia consumado seu crime, e tentado ocultá-lo, com aquela morte? O assassinato o perturbaria mais do que o primeiro crime?


Parece que o primeiro caso faz mais sentido, porque a morte não é pouco tratada em Dostoievski, e geralmente é coberta, até a dos seres mais desprezíveis, pela aura sagrada do rito fúnebre ou da justiça divina. A morte da velha se cobre de arbitrariedade e terror ideológico, repetido pelas ameaças do círculo de conspiradores em Os demônios, mas mesmo aqui ela é tratada de forma justificada, cumprindo uma função, mas ela parece 'displaced' no caso dessas visões de Svidrigailov. A cena logo se transmuta, a partir do rosto da menina, para a realidade de penúria e miséria moral de uma noite chuvosa em uma estalagem de São Petersburgo, mas não antes do demônio acordar aterrorizado, porque a face inocente da menina morta, escondida no canto do seu quarto, se transformar em uma face odiosa: cheia de luxúria, prazer, de alguém realmente gozando de forma bem pouco infantil um prazer de dor e amor, amor violento, sem amor, amor-desamor. O rosto dela se abre num esgar, um sorriso realmente demoníaco, revelando que a luxúria que leva à violação, à sedução, parte da criança, da vítima, e não do sedutor, o que pode indicar um procedimento de eliminação inconsciente da culpa, mas é algo também inserido na dinâmica, já bem mais estudada, em que Raskolnikov tem seu duplo formado, pelo mesmo processo dialógico que estrutura a narrativa e toda a poiesis artística de Dostô, em Svidrigailov. Há uma relação direta entre morte e vergonha sexual, morte e escândalo sexual, sempre o sexo, da forma devassa como é vivida pelo demônio, a morte se torna símbolo do horror com que Dostô retrata a perda da inocência, da liberdade, da forma sexual original, pura, dessas vítimas, se torna um modo de encobrir a dor da vítima, até de torná-la suportável ao leitor, mesmo quando a dor, através da consciência do criminoso, grita de dentro do livro.

Com Stavroguin, outro demônio, uma situação parecida. Há o encontro com uma vítima para o abate, uma associação mais ou menos involuntária com tipos diversos de abusadores, o nublamento da consciência do crime de violação pela embriaguez (social, jurídica, cultural, não menos que etílica), e a transformação visual do rosto da vítima em algoz, uma desfiguração da face da inocência, após a perpetração do ato, uma deformação que torna a vítima uma espécie de monstro sedutor, cujos encantos não podem ser resistidos pelos pobres homens, até que se percebe que é a alma do abusador consciencioso que está desfigurada, apodrecida, envilecida, mortificada. Novamente, a morte aparece como solução poética (e não é algo típico de Dostoievski abafar horror algum, por pior que seja, por licença poética alguma), porque o horror encerrado aqui só pode ser resolvido pela forma kirillóvica de assassinato de D'us: o suicídio. É a única solução, para todos os demônios, quando a consciência já não consegue suportar a mancha do crime que era tão hediondo, vil que nem assassinos como Raskolnikov julgavam ser possível de ser purgado.

Em resumo, a dinâmica do demônio, estritamente relacionada ao horror do crime de abuso infantil, se relaciona, na estranheza de seus gestos e trejeitos, hábitos e fala, modo de vida e discurso, a uma desfiguração essencial da natureza humana por algo mais que o crime: a animalização, a barbárie, a destruição do ser mais profundo do homem a partir do nível mais abjeto e odioso de violência que existe: o rompimento da inocência da criança pela privação forçada da liberdade sexual. O monstro é aquela criatura que baniu D'us de si não pela negação intelectual das Escrituras ou pela violência revolucionária (que, por mais reprovável moralmente que seja, ainda é espiritual e profundamente humana na sua idealidade política), mas pela destruição interna da humanidade em si, pela expulsão do Cristo interior, o máximo reino da liberdade, através da escravização às paixões mais baixas, culminando na destruição do mesmo Cristo no Outro. E que Outro mais maximamente Outro que existe, na constituição da subjetividade do indivíduo, que a criança, que mal é um ser humano ainda? Cabalisticamente, diríamos que a neshamá (espírito) aqui se perdeu para sempre entre as cascas (qliphot) da Criação, e o demônio representa a face mais radical de perversidade, o rol seleto de seres destinados à aniquilação no Juízo, pois a Terra, purificada e perfeita de toda mácula, não pode suportar tal carga de malignidade, mas ela tem lá sua beleza... ainda vou desenvolver isso depois, mas a beleza da perversidade está nos limites que ela quebra.
 
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O Oleg Almeida comentou no canal dele um pouquinho sobre a nova edição de O Duplo, que na tradução dele ficou como O Sósia. No vídeo ele explica porque acha que essa é a melhor tradução para o título:

ahh, que legal! Bom ver a cara de um tradutor da Martin rsrs

na seriedade agora, fiquei curioso pra ver o que o tradutor tem a falar do trabalho dele vertendo Dostô :)
 
O Oleg Almeida comentou no canal dele um pouquinho sobre a nova edição de O Duplo, que na tradução dele ficou como O Sósia. No vídeo ele explica porque acha que essa é a melhor tradução para o título
Eu tenho essa obra na tradução do Paulo Bezerra, que saiu pela Editora 34. Quem já leu as duas traduções sabe dizer se há diferenças substanciais, além do título?
 
Eu tenho essa obra na tradução do Paulo Bezerra, que saiu pela Editora 34. Quem já leu as duas traduções sabe dizer se há diferenças substanciais, além do título?
A edição da Martin Claret foi lançada há muito pouco tempo. Dias, semanas atrás. Acho difícil que no momento alguém a tenha lido.
 

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