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Flow (Straume, 2024)

Queria ter escrito e postado isso ainda no Sábado, logo depois de voltar do cinema, mas enfim ... O filme demorou para sair nos cinemas brasileiros, só dia 20/02 mesmo, e demoramos mais ainda para ver. Ele também já tinha saído em plataformas streaming e há cópias para baixar em tudo quando é lugar, mas era questão de honra pessoal ver esse na tela grande e garantir que uns trocadinhos dos nossos ingressos chegassem aos criadores. Também fiz questão de fugir de quase todos os detalhes da história até a hora, mesmo vendo notícias da produção por todo lado, mas deu certo e o hype (indesejado) que eu criei acabou muito bem atendido.

Os pontos principais já são conhecimento comum, ainda mais com a leva de prêmios puctamente merecidos, incluindo o Oscar de ontem, mas vale a pena repetir alguns: o que começa como uma história de sobrevivência logo vira um conto de liderança e companheirismo, especialmente marcante porque o filme rejeita atalhos e soluções fáceis; não tem falas ou mesmo uma única palavra escrita -- o que não impediu o cinema daqui de classificar como "Dublado", algo que, como apontou a @ohtori, está tecnicamente correto (o melhor tipo de correto) --, os personagens não são fisicamente antropomórficos nem fazem gestos "humanos"; a expressão fica por conta de movimentos e olhares, e não tem um momento sequer que ela deixe a desejar, nem mesmo num trecho onde os animais precisam decidir se arriscam a segurança de todos a bordo para resgatar outro grupo. O filme faz bem em respeitar a inteligência da plateia e não cair na cilada do overbuilding, vários elementos da ambientação ficam para nós deduzirmos mesmo, e simplesmente funciona.

Como repetido aqui e acolá, o filme foi criado com o Blender, um software livre da mais alta estirpe que você pode baixar agora mesmo, mas não levem essa frase levianamente. Enquanto o Blender é usado em partes de produções "grandes" há tempos e um filme normal usaria um programa para a modelagem, outro para fazer o rigging e o movimento, um pacote inteiro para criar e testar shaders, um programa diferente para renderização, outro para mixar o áudio, outro para edição... e sei lá mais quantos outros. Podem contar alguns milhões de dólares em software proprietário aí. Mas esse não é um filme normal, os criadores fizeram tudo isso no Blender e, antes que alguém questione, a produção foi bem rápida (aqueles cinco anos que citam por aí começaram a contar desde a pré-produção, busca do financiamento, etc. a produção em si foi coisa de menos de um ano). Outro ponto bem relevante aqui foi a escolha artística do nível de realismo: o Blender tem vários renderizadores e a saída do filme foi feita com o EEVEE, uma escolha incomum, mas deu um toque visual que evita o Vale da Estranheza e passa bem longe daquele ultrarrealismo vazio dos filmes pseudo-live-action recentes da Disney. Não houve uma storyboard de produção ou, vendo de outro jeito, o próprio Blender foi usado pra isso. Também não tem cenas deletadas -- tudo que foi renderizado foi pra tela.

O filme custou € 3,5 milhões e dos longas indicados ao Oscar acho que só Ainda Estou Aqui custou menos que isso (mas testou com preguiça de conferir rs). Se ainda aprece muito, vale lembrar que Divertidamente 2, com 12 minutos a mais, custou US $200 milhões! Não cheguei a comparar o tempo descontando os créditos, mas como os créditos de Flow são curtinhos, não duvido que a diferença de tempo de tela "real" seja inferior a isso. Nesse momento, o Rotten Tomatoes aponta 97% de aprovação de crítica e 98% de público. Taí um dinheirinho muito bem usado!

Tem umas referências legais para quem quer mais detalhes da produção, como essa entrevista com o diretor no site do Blender, e uma outra (mirror) com o diretor de animação. O diretor também fez um AMA no Reddit há uns vinte dias, respondendo outra leva gigante de perguntas.

Tem também essa palestra muito legal do diretor de animação na Blender Conference no final de outubro passado:



Assim dá pra entender a recepção e as homenagens a filme, né? Incluindo essa estátua no centro de Riga (que, convenhamos, é uma cidade bonita pra burro e cheia de referências a gatos também):

cat.webp
(fonte)


Uma homenagem mais espontânea de lá:

post476495079_18483608566062111_6184329275088323028_n.webp
(fonte: foto do Instagram, então vai um link alternativo pra ninguém ter que abrir aquela desgraça)




No Oscar, Flow também estava concorrendo a Melhor Filme Internacional, junto com Ainda Estou Aqui, o que é sempre interessante para uma animação (ainda mais porque a categoria de longas animados foi uma politicagem criada para que eles não competissem com outros filmes) e eu não ficaria menos feliz se ele ganhasse esse também, no máximo com um pouco de medo de andar na rua depois de falar isso abertamente rs. Mas no fim cada um saiu com uma estatueta e, pra dispersar qualquer impressão de mágoa, olha aqui o Zilbalodis‬ postando uma fotinho junto com o Salles, ambos com os prêmios inéditos para seus respectivos países:


Salles e Zilbalodis.webp

(fonte)







Minha nota: aquele meme que eu postei aí enquanto tava enrolando pra escrever esse post. Assistam no cinema enquanto puderem porque esse merece.

E já pais de gatos podem querer saber do destino do protagonista antes:
Podem assistir de boas que ele sobrevive e não é ferido em nenhum momento do filme S2. Eu não tenho psicológico pra esse tipo de coisa, então também só vi depois de procurar esse spoiler.
 
Também entrei em catarse quando assisti ao filme na quarta-feira passada em uma sala de cinema. Absurdamente lindo. Uma das melhores animações que já tive o prazer de assistir.

Um outro aspecto que me chamou a atenção é que, ao contrário das animações mainstream mais recentes (esp. da Pixar-Disney), o filme não subestima a inteligência do espectador, ainda que esse espectador possa ser uma criança. As coisas não precisam ser mastigadas, explicadas, explicitadas, moralmente didáticas — tudo fica no campo do subjetivo, do sugerido, mas ainda assim permitindo que o espectador interprete o filme da maneira que o conteúdo preenche seu íntimo — o que é aquela cena poeticamente linda do pássaro senão um convite à subjetividade, à interpretação, ao subconsciente?

Especial demais.
 
Eu vim aqui postar essa mesmo :D mas com um link pro post dele lá no Céu de Brigadeiro.

Pra quem quer acompanhar as coisas que o Passareco Morto se recusa a mostrar sem login, vale lembrar que o Nitter voltou a funcionar e dá pra ver os posts por lá tranquilamente, tem um monte de instâncias atualizadas já. Na dúvida só troque o "x.com" por "xcancel.com" nas URLs.
 

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