fcm disse:
Já a esquerda brasileira não tem perdão!
Como não é possível colocarmos todo mundo no mesmo balaio, vou aproveitar a dinâmica que o Mercúcio adotou, quando foi responder, e vou personalizar a coisa, embora eu saiba que política seja coletividade.
Sermos de Esquerda não significa que concordemos em tudo, não é, mesmo? Mas, como pessoa que votou no candidato do PT no primeiro e no segundo turnos, eu não preciso de perdão. Votei no candidato que escolhi, ideologicamente. E eu sei que muita gente tem receio de ter o nome atrelado ao PT ou coisa do tipo. Bom, eu não tenho, eu não fico em cima do muro e, desde que comecei a postar no fórum, jamais tive problema em admitir que sou petista; militante desde os seis, e filiada desde os dezesseis.
(E, tanto não confundo alhos com bugalhos, que o Fúria e eu nos damos bem, na maior parte do tempo. Teve a vez que ele falou "Eu odeio petista", e eu respondi com um: "Eu odeio quem odeia petista; questão de autopreservação". Mas ficou nisso. Ele não me odeia. É migo!
Ah, sim, também sou amicíssima do TT1 que, no passado, era defensor ferrenho do PSDB. Hoje, o posicionamento político dele está mais pelos caminhos do Centro, e coisa e tal. E também adoro conversar com você, fcm, SOBRE O GALO! MAS EU TENHO RAZÃO SOBRE O CAZARES. E TENHO DITO! HAHAHA).
Votei no Lula, em 2002 (MEU PRIMEIRO VOTO, PRA FAZER BRILHAR NOSSA ESTRELAAAA! Tá, jingle de outro ano, mas dá para entender), nos dois turnos e, em 2006, nos dois turnos. Votei na Dilma, em 2010 e 2014, em ambos os turnos. Foram votos ideológicos, o que não significa que eu não tivesse ressalvas, especialmente no que tange ao segundo pleito disputado pela Dilma.
A verdade é que eu milito no PT porque o partido é bastante diverso. E isso é tanto uma qualidade quanto um problema. Sempre serei de Esquerda (acho que sou mais de Esquerda do que o PT, que tá cada vez mais centrista e fisiológico - OLHA A MINHA LUCIDEZ, AQUI, GENTE!), mas não sei se permanecerei filiada ao PT até o fim da vida. E, se eu desfiliar, embora não vá parar de lutar por direitos e coisa e tal, não vou pra outro partido. Vou adotar a postura da miga Xuxa:
Então, de novo, não quero, e não preciso, de perdão por ter votado no projeto político que eu achei mais plausível.
fcm disse:
Como votar no PT depois de anos de pilhagem, ex-presidente preso e outro impedido.
Não vou repetir o que o Mercúcio disse sobre o processo de impeachment da Dilma e sobre a prisão do Lula.
Então, passemos para outro ponto: como achar que tá tudo bem não votar no PT para votar num cara que defende a ditatura? QUEM PODERIA IMAGINAR QUE A BARCA BOLSONARO COMPORTARIA OS VIÚVOS DA DITATURA, NÃO É, MESMO? NÃO FOI ELE QUE JUSTIFICOU O VOTO NO IMPEACHMENT DO MODO MAIS PERVERSO DO MUNDO, NÉ? "Pela memória de Brilhante Ustra, o terror de Dilma Rousseff"?
O cara justifica o voto no impeachment com um elogio à memória de um torturador que enfiava rato na vagina das mulheres. MAS NÃO PODE CHAMAR O MISÓGINO DE MISÓGINO! NÃO PODE CHAMAR O BOLSONARO DE LIXO HUMANO, PORQUE, NÉ, NOSSA, VOCÊS ESTÃO EXAGERANDO! Uma atitude como a do Bolsonaro não deve ser resumida a um simples caso de quem pensa diferente. É mais um caso de quem pensa que tem de eliminar o diferente. E há um abismo ético entre discordar politicamente de uma pessoa e louvar o cara que tentou eliminá-la, por ela se opor a um regime de tortura, medo, dor e supressão de direitos básicos.
fcm disse:
Poderiam ter votado no Ciro, Marina e até no Alckmin para bater Bolsonaro, mas ficaram iludidos e acreditando até o fim no partido mais corrupto da história desse país (alô PSDB? Fiquei na dúvida).
Iludida é o caralho! (Não tô te xingando, fcm, cê é migo! Tô xingando o vocábulo que você utilizou). É mesquinho dizer que quem votou no PT o fez porque estava iludido. Eu não estava iludida, eu estava decidida. Quando você diz que o voto no PT é fruto de uma ilusão, você assume que as pessoas que votaram não tinham consciência da escolha que estavam fazendo. Repito o que já disse, em diversas oportunidades, neste fórum: eu me responsabilizo pelas minhas escolhas, e não as faço sem pensar, sem refletir.
Eu votei no Haddad (a quem sempre admirei - POLITICAMENTE, GENTE! NOSSA, VOCÊS, VIU?), nos dois turnos, porque vivi e vi as conquistas do povo pobre sob os anos de Governo petista. Votei no candidato do PT porque, quando presidente, Lula transformou o BNDES no terceiro maior banco de fomento do mundo, com mais recursos que o Banco Mundial e BIRD somados. Este dinheiro gerou um aquecimento e direcionamento da produção do país como não se via desde Getúlio e JK. Lula reproduziu o modelo rooseveltiano - coisa que FHC desdenhou quando governo federal, seduzido pela agenda inglesa, que deu no que deu - e financiou os gastos dos trabalhadores, criando um imenso mercado consumidor que era promessa histórica do país. A fome, no Brasil, entre 2005 e 2015, foi reduzida em 50%, segundo a ONU (SE EU NÃO TIVESSE NENHUM OUTRO MOTIVO PARA VOTAR NO PT, ESSE BASTARIA. À ÉPOCA, O BRASIL SAIU DO MAPA DA FOME!). Nos anos do PT no Governo Federal, fortalecemos (os que existiam) e criamos programas federais que alteraram o perfil do Brasil (Minha Casa, Minha Vida; Praças da Juventude; Mais Educação; Mais Médicos; Estações de Tratamento de Esgotos; extensões universitárias, entre outros). O Nordeste foi transfigurado com recursos do BNDES e Bolsa Família, e por aí vai.
E quando eu falo sobre os avanços conquistados durante os anos em que o Brasil foi governado pelo PT, eu não ignoro os erros de gestão, os erros de alianças, os erros de condução econômica, o erro de cortar na carne dos movimentos sociais, o erro de ignorar direitos que conquistamos a duras penas, o erro de tornar a vida da população indígena mais difícil, o erro de insistir num extrativismo predatório que provoca inúmeros desastres ambientais, deixa pessoas desabrigadas, entre outros.
Mas, tem, também e, aqui, eu cito o Renato Janine, a verdade difícil de engolir: "Se o Lula não tivesse feito o pacto com o capital, com a Carta aos Brasileiros, ele não teria chegado ao Governo ou, chegando ao Governo, não teria governado. Todos os avanços do Governo Lula foram em função de uma política de conciliação de classes."
Sim, a mentalidade de DCE faz com que acreditemos que "não tá certo", "não é assim", "o certo é quebrar a porra toda e começar de novo". Mas eu não sei se gritar que o Lula traiu tudo o que defendia é ingenuidade ou cretinice gratuita. Tem de se trabalhar com a realidade que se apresenta e, nela, ou ele fazia concessões ou a miséria continuaria a exterminar pobres. "A definição de miséria é você ganhar menos do que o necessário para manter a suas condições de vida, é você estar morrendo mais depressa do que deveria morrer." (Janine, de novo).
Às vezes, para garantir a sobrevivência, é necessário deixar o purismo, os absolutos, de lado. Absolutos, por definição, não são questionados, não são tensionados, não são deslocados, porque eles independem das relações, existem por si (reconheço a ingenuidade, e até mesmo o simplismo, da abstração do absoluto que faço aqui e reforço que ela, em momento algum, pretende se igualar à abstração do absoluto de Hegel). O que eu quero dizer é que, bem, eu quero a Revolução, mas, enquanto ela não vem, o povo precisava comer, o povo precisava estudar, o povo precisava de um mínimo de dignidade.
Eu não acho que a luta de classes acabou. Assim como tenho certeza de que não superamos a lógica do extrativismo predatório. E também não concordo plenamente com o Bauman quando ele diz que o antagonismo não é mais entre classes, mas de cada pessoa com a sociedade. Mas acho que tem algo que não devemos desprezar na reflexão dele. Eu acredito que o antagonismo entre o indivíduo e a sociedade é uma intensificação da estratificação social. Mas isso é assunto pra outro post. (Lembrei do Bauman porque, mais cedo, tava lendo uma entrevista dele).
A burguesia não era fiel ao projeto político de inclusão adotado pelo Governo Lula. Ela ficou no barco enquanto tava lucrando. Quando a crise chegou (uma hora, a coisa tinha de colapsar), ela pulou fora. E aí reside uma das maiores dificuldades do governo Dilma: ela não foi a cola de que o Governo de Coalizão precisava para continuar a funcionar.
Aqui, sobre a Dilma, eu preciso falar um trem. Sim, o texto já tá enorme, mas eu não vou parar de escrever, agora. Vocês, por outro lado, podem parar de ler. (O podem, aqui, não significa que vocês precisam da minha permissão para alguma coisa, claro que não precisam! Quer dizer que vocês têm a capacidade de escolher e tal).
A Dilma, apesar de sinalizar, desde a campanha de 2010, a simpatia pela causa feminista, foi pressionada, durante os quatro anos do seu primeiro mandato, a ponto de recuar em questões inegociáveis quando se fala em direitos da mulher (a política de conciliação cobra um preço caro). No pleito de 2014, ela acenou de maneira mais intensa, que priorizaria os direitos da mulher no seu segundo mandato. (Sonhei com uma composição paritária nos ministérios? Sonhei, porque eu sou meio Alice, gente hahahaa) 2014 foi, também, o ano em que o conservadorismo teve um significativo fortalecimento no Congresso.
Entretanto, acho importante ressaltar o empenho da Dilma em, mesmo que pouco (não tô me contentando com migalhas, apenas estou tentando reconhecer o que tem de ser reconhecido!), tentar implementar medidas voltadas para a mulher. Ela não criou o Bolsa Família e, na verdade, acho que já podemos superar essa baboseira de "paternidade" do programa, não? O ponto é que ela manteve uma das preocupações básicas do programa: o benefício ficar no nome da mulher. Com isso, a mulher conseguia uma pequena, mas simbolicamente imensa, independência financeira do marido. Se vocês pesquisarem um pouquinho, vão encontrar inúmeras mulheres que, por causa do Bolsa Família, conseguiram se livrar de relacionamentos abusivos.
Mas, quando comecei a falar sobre a Dilma, foi para falar de algo maior do que ela: a questão de gênero. O PT tem paridade de gênero. Foi aprovada no Congresso de 2011. E já valeu pras eleições internas do partido, em 2013. Foi fácil aprovar? Não. Foi absurdamente difícil. Não se enganem, o machismo não é privilégio de gente conservadora. Todos nós, durante o nosso processo de socialização, somos expostos ao machismo. Ele é estrutural. Que eu saiba, nas eleições de 2014, o PT era o único partido brasileiro que já havia aprovado a paridade de gênero, os demais partidos faziam o uso da lei de cotas, 30%. (Isso deve ter mudado, de lá pra cá. Não pesquisei).
Por que eu tô levantando esta questão? Porque se a gente realmente acredita na política como instrumento de transformação social, a gente tem de exigir a paridade de gêneros. O Brasil é o campeão sul-americano de desigualdade de gênero na política. Sim, nós temos a menor taxa de representação feminina no parlamento. E a conscientização da necessidade da paridade é algo que tem de começar internamente. Os partidos precisam se organizar neste sentido. E se não conseguirem fazer isso "por si", eles devem recorrer ao apoio dos movimentos sociais, que estão bem mais preparados para este debate. Há coletivos feministas espalhados por todos os cantos do país. E eles têm muito a acrescentar ao debate sobre o processo de inclusão da mulher na política.
Toda essa fala sobre paridade, e coisa e tal, parece desconectada do resto do meu post, mas não está. No pleito de 2018, o país elegeu, para o cargo de Presidente, um candidato que elogia torturador que enfiava rato na vagina das mulheres, como método de tortura. Então, falar sobre o lugar que a mulher ocupa, ou deveria ocupar, no nosso sistema de democracia representativa, é algo mais do que urgente. (E eu estou falando de um lugar mais confortável do que o que muitas das mulheres que estão na política ocupam: eu sou uma mulher cis, heterossexual e branca).
E, vejam bem: eu estou apontando para o tratamento dispensado à Dilma, enquanto mulher, pelo cara que, hoje, ocupa a presidência. Isso não significa que eu esteja legitimando os erros de condução do governo dela por ela ser mulher. Não queiram fazer essa associação porque ela, em momento algum, foi sugerida pelo que venho falando, até aqui, neste post.
E, voltando ao ponto (FINALMENTE, NÉ? DEUS ME DIBRE! COMO FALA, ESSA MELIAN!): o porquê de ter gente da Esquerda que não votou no Ciro, na Marina, no Boulos, whatever. Eu já disse, em outro tópico, que SEMPRE vou defender que, no primeiro turno, o voto seja ideológico e, no segundo, COMO FOR POSSÍVEL PARA A MANUTENÇÃO DO ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO. Se o Ciro, a Marina, o Boulos ou, até mesmo o Alckmin, estivesse disputando o segundo turno, contra o Bolsonaro, eu votaria, sem choro e sem drama, em qualquer um deles. Sim, no Alckmin. Eu sei diferenciar um político com ideologias com as quais eu tenho sérias divergências de um político com FORTES inclinações fascistas.
Mas, no primeiro turno, votei, com a mente e com o coração, no Haddad, sim, porque ele foi o melhor Ministro da Educação que já tivemos no país. (O melhor, não sem falhas.) Além disso, eu reafirmo: o meu compromisso primeiro é com o ser humano. Antes de ter qualquer ligação com o PT, o que me move, na esteira de Riobaldo, é "decifrar as coisas que são importantes". E a mais importante delas, para mim, é o ser humano.
Olha, essa coisa de modéstia nunca foi pra mim. Naquelas dinâmicas de escola, quando a gente tinha de dizer uma característica marcante de algum colega de sala, 99% das pessoas apontavam a inteligência e a solidariedade como as minhas características mais notáveis.
O ProUni não me fez mais ou menos inteligente. Ele foi um processo importante para que eu pudesse realizar um dos meus sonhos (sim, pois é, eu sonhava em ser professora, e morrer de fome hahaha). Eu sei que, dentro da faculdade, o mérito foi meu. Todos os esforços foram meus. Formei em primeiro lugar da turma (com direito a medalha de ouro, obrigada! Ah, sim, fui destaque acadêmico no segundo período do curso. Ah, fui CONVIDADA para ser monitora de literatura, quando eu ainda estava no primeiro período do curso de Letras. Beijo para o povo que diz que bolsista não consegue acompanhar os demais alunos!) pelo meu esforço. Mas o ProUni me manteve na faculdade.
Eu não tinha a menor condição de pagar a faculdade de Letras, que é (ou, pelo menos era, em 2005, quando ingressei na universidade) o curso mais barato. Eu tinha dificuldade para pagar passagem para ir estudar, o que acabei driblando com o meu talento para cozinhar. Eu vendia beijinho e brigadeiro na faculdade, para pagar passagem, e coisa e tal.
"Ah, mas você poderia ter feito UFMG". Sim, claro que eu poderia, se eu não precisasse pegar dois ônibus para ir estudar, se eu não precisasse trabalhar para me sustentar. Se eu não estivesse um cadinho ocupada tentando SOBREVIVER, né? Amo e defendo a gratuidade das universidades públicas, mas isso não significa que eu não ache que o PROUNI tenha sido importantíssimo para muita gente que, em outras condições, não teria como ter uma formação universitária. (E, ó, não tô nem aí se vocês não gostam de ouvir falar sobre luta de classes, mas quase tudo é uma questão de classe, sim. Beijos).
Btw, também tive bolsa no Mestrado. (JÁ ESTÁVAMOS NO GOVERNO DILMA). Fui bolsista da CAPES.
E, nossa, eu amo/sou escola pública (estudei, do Ensino Fundamental ao Médio, em escola pública). E acho uma dádiva poder "devolver" o que o Estado gastou com a minha educação para a sociedade. Acho que foi o Gilberto Freyre que falou algo como: "sem um fim social, o saber será a maior das futilidades", não foi? Eu gosto de aprender, mas para construir, para ajudar, para ensinar. Eu sou maluca pela Educação. E, em qualquer lugar do Brasil que eu estiver (eu lá sei se, amanhã ou depois, eu me canso, de vez, dessa cidade, e vou para qualquer outro canto do país?), sempre vou querer lecionar.
Já falei sobre mil coisas, aleatórias, neste post. Isso porque eu esperei passar a irritação com o "A Esquerda não tem perdão por ter votado no PT", hein? Imaginem se eu não tivesse esperado!
Agora, acho que eu deveria ter passado o tempo que demorei para escrever este post pensando sobre o Tubarão Tapete! Muito amor pelo Tubarão Tapete. Cês já imaginaram os peixes tudo encenando Aladdin, no fundo do mar? (Gente, não estou bêbada, faz séculos que não bebo, só estou sendo eu, isto é, levemente desorientada hahahaha).
Tá, para terminar, vai esta preciosidade do Cortázar:
SEJAM REALISTAS: PEÇAM O IMPOSSÍVEL
(Faculdade de Letras, Paris)
Não fazemos outra coisa,
o impossível é o pão em cada boca,
uma justiça de olhos lúcidos,
uma terra sem lobos, um encontro
com cada fonte ao final do dia.
Somos realistas, companheiro, vamos
de mãos dadas do sonho à vigília.