Que legal, mesmo sem combinar, parece que nossa leitura está no mesmo ritmo. Também estou nessa parte, e também acho que fica muito claro, no livro, a diferenciação entre as classes sociais.
Mas voltando um pouquinho: o bacana da Jane é que ela passa da condição de órfã paupérrima para uma mulher que tem sua independência financeira, e acho que essa condição - e o estudo que ela recebeu nos anos em que esteve no Instituto - privilegiam suas digressões. Adoro, por exemplo, aquela parte em que o Sr. Rochester está conversando com ela e diz: "Deixando a superioridade fora das discussões, quero então que você concorde em receber ordens minhas de vez em quando, sem ficar zangada ou ofendida pelo meu tom de comando. Concorda?" Assim que ele faz a pergunta, ela começa a pensar criticamente na situação: "Eu sorri. E pensei cá comigo que o Sr. Rochester era mesmo uma pessoa singular. Ele parecia esquecer que me pagava trinta libras por ano para receber ordens". Ele fala que o sorriso estava ótimo, mas pede que ela responda. Então ela fala que poucos patrões perguntariam aos seus assalariados se eles ficariam ou deixariam de ficar zangados ao receber ordens. Então, ele fala: "Assalariados? O quê? Então você é minha assalariada? Ah, sim, de fato, eu havia esquecido o pagamento. Bem, então, partindo de um princípio mercenário, concorda em me deixar fazer umas bravatas?" Mesmo que o tom do Rochester seja de deboche, o que ele paga para Jane é quase nada, se compararmos à riqueza que ele possui. Então, no caso dele, é fácil esquecer que paga a Jane e é fácil, também, ignorar a relação de poder entre "patrão" e "funcionária". (Gente, não quero, de modo algum, com isso, ser anacrônica. Eu entendo o contexto do livro e coisa e tal. Só acho bacana, quando possível, mostrar que mesmo que relate uma época anterior à nossa, algumas das reflexões que o livro nos proporciona podem ser úteis como chave de leitura para muitas coisas vigentes em nosso tempo). Aí ela dá uma resposta firme, que só a Jane poderia dar: "Não, senhor, não partindo desse princípio. Mas se ficar estabelecido que o senhor desconsiderou a questão do pagamento, e de fato se importa em saber se um subordinado seu se sente bem, então concordo inteiramente".