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Jane Eyre (Charlotte Brontë)

Eu acho que consegui me lembrar mais ou menos onde estava. Eu não sei bem como chegou no ponto em que chegou, mas parece que eu parei no momento em que o Richard ia embora às quatro da manhã. Toda a lembrança dos acontecimentos que culminaram no seu ferimento ficaram anuviadas, mas decidi prosseguir com a leitura. Agora, estou no momento em que a Jane vai visitar a tia, que está adoentada.

Mas quero falar sobre algo que aconteceu antes disso: a conversa que a Jane teve com o Sr. Rochester após a ida do Richard. Nossa, eu não me lembrava de o Sr. Rochester ser tão irritante. Acho que até já tive uma quedinha por ele. (Tenho fé que essa minha história de dedo podre para homem ficou no passado. hahahaha).

Mas como ele é manipulador, babaca, escroto, meu Deus do céu! O fato de saber que a Jane tem um certo fascínio por ele faz com que seu ego seja massageado. Por isso, ele a quer por perto.
 
@Melian, você me deixou com vontade de prosseguir também com a leitura Jane Eyre.

Bora, Spartaco!

Para te animar, vou colocar umas passagens do livro, aqui, de que gosto, muito, só para você se lembrar da perspicácia da Jane e sentir vontade de prosseguir com a leitura:

Quando o Sr. Rochester fez cosplay de Madame Melian e começou a "ler a sorte" do povo que estava em sua casa, adorei o diálogo inicial entre ele e a Jane:

- Por que não estremece?
- Porque não estou com frio.
- Por que não está pálida?
- Porque não estou doente.
- E por que não se consulta comigo?
- Porque não sou tola.
(p. 230).


E tem uma fala da Jane que, para mim, grita: ESTÉTICA DA RECEPÇÃO! Acho que é uma das minhas falas preferidas do livro (e eu já deixei claro o quanto amo esse livro!): "a ansiedade do ouvinte ativa a língua do narrador". (p.233). É ISSO, GENTE! A experiência literária se dá a partir do pacto: alguém que fala para alguém que escuta. Alguém que narra, para alguém que lê. E a ansiedade do ouvinte será saciada ou frustrada conforme o seu conhecimento de mundo e as conexões que ele poderá estabelecer entre o que lê e o mundo em que vive.
 
Bora, Spartaco!

Para te animar, vou colocar umas passagens do livro, aqui, de que gosto, muito, só para você se lembrar da perspicácia da Jane e sentir vontade de prosseguir com a leitura:

Quando o Sr. Rochester fez cosplay de Madame Melian e começou a "ler a sorte" do povo que estava em sua casa, adorei o diálogo inicial entre ele e a Jane:

- Por que não estremece?
- Porque não estou com frio.
- Por que não está pálida?
- Porque não estou doente.
- E por que não se consulta comigo?
- Porque não sou tola.
(p. 230).


E tem uma fala da Jane que, para mim, grita: ESTÉTICA DA RECEPÇÃO! Acho que é uma das minhas falas preferidas do livro (e eu já deixei claro o quanto amo esse livro!): "a ansiedade do ouvinte ativa a língua do narrador". (p.233). É ISSO, GENTE! A experiência literária se dá a partir do pacto: alguém que fala para alguém que escuta. Alguém que narra, para alguém que lê. E a ansiedade do ouvinte será saciada ou frustrada conforme o seu conhecimento de mundo e as conexões que ele poderá estabelecer entre o que lê e o mundo em que vive.

Voltei a ler @Melian, e justmente a parte que você citou acima é a parte que mais ou menos onde tinha parado de ler. Estou agora para começar o capítulo XXII e você?
 
Voltei a ler @Melian, e justmente a parte que você citou acima é a parte que mais ou menos onde tinha parado de ler. Estou agora para começar o capítulo XXII e você?

Vou começar o capítulo XXIII, Spartaco. E quero dar umas esbofeteadas no Sr. Rochester. :rofl:Eu não me lembrava de ele ser tão mesquinho.
 
Uma coisa que posso comentar, já que você já passou do capítulo em que os fatos em questão são relatados, é o seguinte: a gente sempre quer acreditar que as pessoas vão se tornar pessoas melhores, ao longo da vida, mas a tia da Jane foi uma pessoa mesquinha e cruel até o último segundo de vida.

As primas da Jane, tanto a que virou freira quanto a que se casou com um homem rico, mesmo com todo o acesso que tiveram ao conhecimento, permaneceram tão limitadas! O primo, então, nem se fala! Aliás, é sintomático que pouco se fale sobre a morte dele. Se hoje, o suicídio ainda é um tabu, imagine naquela época?
 
Como estou lendo outros livros concomitantemente, ontem terminei de ler o capítulo do malfadado casamento de nossa heroína.

@Melian, o que você achou desse capitulo?
 
Como estou lendo outros livros concomitantemente, ontem terminei de ler o capítulo do malfadado casamento de nossa heroína.

@Melian, o que você achou desse capitulo?

Eu estava louca que você chegasse no capítulo vinte e seis para que eu pudesse falar sobre ele. É o seguinte: uma coisa que eu observei, na releitura, é que, da primeira vez que li o livro, eu achei enfadonha toda aquela conversa da Jane sobre O TRONCO DO CASTANHEIRO RACHADO, que acontece no capítulo 25, quando a nossa heroína está angustiada, às vésperas do casamento. Da primeira vez que li o livro, eu não captei a simbologia daquela explicação, mas, dessa vez, já sabendo o que esperar, a ideia do tronco se abriu para mim.

Ela fala, assim, sobre o tronco: "As duas partes não tinham sido separadas uma da outra, pois estavam presas à base firme, às fortes raízes. Mas toda a vitalidade fora destruída. A seiva já não podia circular e os galhos imensos já estavam mortos."

Quando a gente se depara com o que acontece no capítulo do casamento, acaba por ler essa passagem de outra maneira:

o tronco, em ruínas, representa o casamento do Sr. Rochester com Bertha Mason que, embora existisse no papel, já não o era mais na prática. Ele estava ligado à esposa pelas raízes da lei e da fé, mas a vitalidade do casamento fora embora. Os frutos, as castanhas, que poderiam vir do casamento-tronco, não viriam, porque os galhos estavam mortos.

Uma rápida olhada na simbologia do castanheiro mostra que, na China, ele foi incorporado à tradição como um sinal de previdência, já que seus frutos servem de alimento para o inverno. Se deslocarmos a ideia da previdência para a narrativa, podemos compreendê-la como previsão do futuro, ou seja, o castanheiro antecipa, para a Jane e para o leitor, o mistério que será desvelado no capítulo do casamento.
 
TERMINEI, GENTE!

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Spartaco, não vou te marcar, aqui, para não correr o risco de você acabar tomando spoilers, mas não leia os comentários abaixo antes de terminar de ler o livro, ok?

ainda dando continuidade neste livro.. já que li bem devagar... alguém pode discutir isso abaixo comigo:
pq raios o pessoal que abrigou ela eram primos dela? ficou muito forçado ou eu perdi alguma coisa do caminho que ela fez e que isso teve relacionamento com a origem dela? ou foi pura sorte mesmo?

Bom, com pouco de atraso, se olharmos para esse episódio com os olhos da razão, parece, mesmo, forçação de barra. Mas, é sempre bom nos lembrarmos de quem é a Jane Eyre: uma cristã, temente a Deus e que, em nome de sua afeição por Ele, negou o desejo e abandonou o seu amado. Então, durante a sua agonia (nossa, dessa vez, acho que por causa da quarentena, os quatro dias que a Jane passou andando sem rumo foram mais difíceis de ler - foram angustiantes, mesmo), a Jane, ao abandonar o amor de sua vida, por não aceitar viver com ele como amante, não sabe qual será o seu próximo passo, não sabe que caminho seguir. Ela chega, então, num lugar de passagem, um lugar que dava acesso a outros lugares: Whitcross.

Minha edição de Jane Eyre é simples, sem comentários, então, eu não tinha me ligado na coisa toda, da primeira vez que li o livro. Dessa vez, como estávamos fazendo uma leitura conjunta, quando cheguei nessa parte, fui pesquisar Whitcross, porque eu queria ter uma visão melhor da encruzilhada em que nossa heroína se encontrava. Foi batata! No Reino Unido, o Pentecostes - não sei se todo mundo aqui está familiarizado com o termo, porque eu sei que é errado assumir que todo mundo tem conhecimento dos termos do mundo cristão e tal. Pentecostes é o nome dado à comemoração da descida do Espírito Santo, entre os Apóstolos, no oitavo domingo depois da Páscoa - é chamado de Whitsun.

A partir disso, é interessante ler Whitcross como uma encruzilhada, que lembra a cruz de Cristo. A situação de Jane remonta, ainda, a peregrinação e as errâncias dos Filhos de Israel no deserto, no Êxodo. Mas o ponto, aqui, é a descida do Espírito Santo. Naquela encruzilhada, cujo nome lembra o Pentecostes, Jane escolhe um caminho. Na ocasião, ela escolheu um caminho aleatório, para não ter de lidar com a presença de outras pessoas. E se a escolha foi feita por auxílio do Espírito Santo? Aqui, repito, a Jane era Cristã, e abriu mão do desejo de seu coração em prol dessa fé. Além disso, não seria a primeira vez que UMA FORÇA MAIOR se comunicava com a Jane. Afinal, ela sonhou com a ruína de Thornfield, o que acabou por se confirmar, no decorrer da narrativa.

St John chato pra caramba.. Jane Eyre casca grossa!

Adoro a Diana e a Mary (elas leem Schiller, gente!), e sempre achei o St. John chato, insuportável! Mas, dessa vez, pensei em conceder-lhe o benefício da dúvida. Algo que eu consegui avançar, nessa leitura, é no aguçamento da compreensão da personalidade dele e, por consequência, da personalidade do Sr. Rochester: por mais que seja bizarro o St. John querer se casar apenas para ter uma esposa que lhe pudesse servir durante sua missão, ele, pelo menos, não mentiu quanto ao que intencionava. Nesse sentido, foi mais honesto do que o Sr. Rochester que, apesar de ser fervoroso em demonstrar seu amor à Jane, mentiu para ela.

Entendo que a situação do Sr. Rochester era ruim, e entendo que ele tenha se apaixonado pela Jane. O que acho lamentável é que ele tenha mentido para ela. E se ele se importava tanto assim com ela, por que a condenaria - aos olhos da fé dela, do contexto religioso que lhe era caro - a uma vida indigna? É por isso que eu acho fascinante a redenção dele (mesmo que seja em forma de um "castigo", o que é ruim): dizendo que entendia que tinha errado por quase ter feito com que a Jane fosse cúmplice de um bígamo.

Por outro lado, nesse sentido, St. John não evoluiu na narrativa. Ele poderia, muito bem, permanecer fiel ao que acreditava sem ser rígido e cruel. Ele queria fazer a Jane se sentir culpada por amar o Rochester, dizendo, na carta que deixara antes de viajar, para ela não ceder à tentação. Ela não deveria ceder à tentação de procurar pelo Sr. Rochester, a quem amava, mas deveria aceitar se submeter aos desejos dele, St. John, mesmo que isso lhe custasse a vida? Isso não é lá muito cristão.

Uma coisa que eu acho interessante, é o fato de que o tronco de castanheiro volta a aparecer no fim da história. Dessa vez, o sentido dele é deslocado, ele não se refere, mais, ao casamento do Sr. Rochester com a Bertha; agora, o patrão de Jane reclama, para si, a simbologia dos destroços da árvore: Sou como aquele castanheiro que o raio calcinou no Pomar de Thornfield - disse ele, afinal. - Que direito tem uma ruína como eu de pedir a uma madressilva em flor que cubra de frescor sua decadência?

Quanto à Jane, nossa, que mulher fantástica! Ela é uma pessoa tão coerente com o que acredita que, mesmo que eu não concorde com todas as suas decisões, consigo compreender o que a levou a tomá-las. É impossível não respeitar uma pessoa que preza pela liberdade de sua mente, mesmo num contexto quase insuportável. Acho de uma genialidade ímpar quando o Sr. Rochester a chama de anjo e tudo o mais e ela não se comove, mas, quando ele a chama de bruxinha, coisinha, ela se sente melhor. Ela tem seus sonhos, mas finca o pé na realidade, e prefere uma dura verdade a mentiras. E, verdade seja dita: que puta química que há entre ela e o Sr. Rochester, não é? O livro perde muito quando ele não está na narrativa. Nem de longe os diálogos da Jane com o St. River se igualam aos diálogos dela com o Sr. Rochester.

E eu acho aquele final bonito demais da conta, quando a Jane começa a falar sobre como é viver com o seu marido: Estar juntos para nós significa, ao mesmo tempo, ter toda a liberdade da solidão e toda a alegria da companhia. Conversamos, creio, o dia inteiro. Conversar um com o outro é para nós como pensar, só que em voz alta e de forma mais animada. Confio inteiramente nele, e ele em mim. Nós nos encaixamos de maneira absoluta, e o resultado é uma harmonia perfeita.

Enfim, eu amo demais da conta Jane Eyre! E ele só ficou melhor com a releitura. Além disso, é sempre bom lembrar que eu voltei a logar na Valinor justamente por ser informada - pela Bel - que havia um grupo de pessoas lendo Jane Eyre e, como eu amo o livro, não pude resistir ao ímpeto de participar da leitura.
 
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só pra dar uma salva de palmas pra @Melian que destrincha maravilhosamente os livros!
Quero ver quando formos para Clarice :clap: :clap: :clap: :clap: :clap:
 
Gente, eu sempre dou uma olhada no livro: "Jane Eyre: edição comentada e ilustrada: Uma autobiografia (Clássicos Zahar)". Como já mencionei, a minha edição é simples, sem comentários e sem ilustrações. Sou louca por essa edição da Zahar, mas o preço dela é bastante salgado (sessenta reais!). Por isso, estou sempre de olho para ver se aparece uma promoção.

E não é que, ontem, enquanto navegava pela Amazon e procurava, inutilmente, por uma promoção, percebi que essa edição tem um spoiler enorme na capa! :o
 
Sim! Como é que acham tranquilo colocar um spoiler desses na capa? hahahaha
 
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@Melian tenha calma, só ontem que cheguei no capítulo XXX. Essa coisa que querer ler vários livros ao mesmo tempo dá nisso.
 
Tranquilo, Spartaco. Leia no seu ritmo. Eu entendo o desespero que é ler vários livros ao mesmo tempo. Sempre faço isso. hahaha

Após muitas idas e vindas, terminei nesta semana o livro. Realmente é muito bom; só demorei por estar lendo outros ao mesmo tempo, como já disse anteriormente.

Da próxima vez que fizermos alguma leitura coletiva, espero cumprir o cronograma. :yep:

Abraços.
 
estive conversando com uma britânica hoje para dar aquele up no inglês e mencionei Jane Eyre.
Ela por ser feminista e contemporânea falou que Rochester foi machista e racista com a primeira esposa.
Chegou a mencionar que uma autora chamada Jean Rhys escreveu um livro com a visão da primeira esposa (me fugiu o nome dela) aquela que ficou presa no sotão e que é bem interessante.
Dei uma pesquisada agora e vi que tem a tradução pra português de Portugal mas no Brasil não tem.

Nome do livro: Wide Sargasso Sea
Tradução PT_PT: https://www.bertrandeditora.pt/produtos/ficha/vasto-mar-de-sargacos/1801422
 

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